Apaixonados - O Filme

3/07/2016 01:37:00 AM |

Nunca imaginei que um dia gostaria de ver algo que parecesse tanto com um capítulo de novela no cinema. Digo isso pois sempre reclamei de longas novelescos, mas isso ocorre mais quando um filme tenta não parecer uma novela, mas quando já vem com essa proposta e agrada bem, certamente dá para acompanhar e agradar com o resultado. E "Apaixonados - O Filme" logo pelo pôster é possível ver que o que nos entregariam seria esquetes soltas mas que seriam interligadas pela mesma proposta: o amor no Carnaval. E felizmente nada do que é apresentado acontece de forma forçada, mas claro que de certa maneira tudo é bem improvável de ocorrer num dia-a-dia comum, mas ainda assim, como a proposta do longa é mostrar amores carnavalescos improváveis, o resultado agrada bastante quem for disposto, e principalmente, gostar do estilo.

O longa nos mostra que três casais se encontram e se unem em pleno Carnaval, tentando ficar juntos em meio a diversos conflitos que surgem tendo a maior festa do Brasil como cenário - e muitas vezes como causa. Cássia é a porta-bandeira de uma escola de samba e além de se dividir entre as responsabilidades carnavalescas e a preocupação com o pai, que está internado, ela se envolve com o médico Léo. Outro casal improvável se forma com Soraia, uma cabeleireira da comunidade, e Hugo, jovem abastado que é controlado pelo pai. O terceiro casal é formado pelo americano Scott, que odeia samba e não consegue deixar o Rio de Janeiro, com a vendedora Uitinei, que faz de tudo para conquistá-lo.

Se nos dois longas anteriores de Paulo Fontenelle, eu reclamei que ele apenas nos apresentava os personagens e não desenvolvia bem a história, pela primeira vez posso dizer que aqui aconteceu exatamente o inverso (e não de uma forma ruim), pois não somos apresentados praticamente a nada de cada personagem, eles apenas surgem na história através de acontecimentos, e o desenrolar é o romance e todo o andamento da história, e isso funciona bem, pois não somos obrigados à saber de como foi a vida da porta-bandeira até o momento que seu pai é internado, não precisamos saber o motivo da cabeleira em não querer desfilar (embora seja contado rapidamente por uma pessoa), e não precisamos também saber de onde surgiu a vendedora de latinhas no bloco, muito menos os lados opostos de como o médico resolveu querer buscar seu amor após brigar com sua namorada (e se o romance já estava desgastado), se o gringo que veio trabalhar e ficou preso no meio da loucura que é o Carnaval, e mesmo não gostando de samba resolve viver um dia diferente, e até mesmo se um playboy mimado vai resolver viver sua vida após encontrar o amor em uma moça de periferia, como disse não precisamos saber de nenhum antecedente para viver aquele dia com aquelas pessoas, pois se precisássemos, aí sim teríamos de ter uma novela completa, mas a proposta do diretor e roteirista não é essa de fazer uma novela, mas sim, isso o que acabei de dizer: termos o momento carnavalesco e o romance que dali poderia ocorrer. E sendo assim, o filme agrada e muito com boas músicas encaixando bem com os momentos, e atores empenhados em viver cada cena, agradando na medida do possível para que assim como ocorre num desfile de Carnaval, o ensaio completo ocorra e os jurados vejam que tudo o que foi feito no ano inteiro valeu a pena para dar boas notas. Além disso, o diretor soube captar bem cada momento com ângulos próximos sem precisar exagerar na cenografia, principalmente para manter o desfile da Grande Rio normal, sem que o enredo do desfile precisasse encaixar com sua trama, ou seja, união de duas artes nacionais sem quebrar nenhum dos lados.

Falar da atuação aqui é algo que até poderia ser complexo, pois como disse, ao meu ver, tudo que ocorre na trama é algo completamente impossível de acontecer, mas dizem as más línguas que em muitos carnavais surgem amores eternos, e nos créditos até nos é mostrado um desses casos, portanto vou aceitar como um padrão e vou falar um pouco de cada um dos protagonistas. Nanda Costa é uma das atrizes que mais tem se destacado nas novelas, séries e ultimamente tem trabalhado bem no cinema também, virando uma artista mais completa, e sua Cássia embora faça dramalhão demais sobre desfilar ou não, com direito a cara triste e tudo pelo pai estar doente, se mostra bem dinâmica nas cenas que precisou mostrar mais expressão, e isso mostra que pode encaixar bem em papéis mais trabalhados, o que não é o caso aqui, mas de modo geral, saiu bem com o que fez. Raphael Viana entregou personalidade para o médico Léo, trabalhando um semblante apaixonado bem interessante na busca pela amada, claro que seria melhor que suas cenas ficassem fora do hospital, pois ali foram as atuações mais bobas que um médico faria (além claro da falha máxima dos aparelhos estarem completamente soltos do peito do paciente), mas sempre no carro ou até mesmo no desfile, e no elevador, seu ar expressivo já dizia tudo. Roberta Rodrigues é uma das atrizes mais versáteis da TV e do cinema atualmente, e tem agradado bem por mostrar seu estilo sempre nos papeis que pega, aqui sua Soraia possui um gênio forte e determinado do que quer, mas se molda bem e com a expressividade da atriz, o resultado acaba sendo agradável de ver. O par de Roberta, João Baldesserini até possui bons momentos, mas ficou afoito demais na maioria das cenas, parecendo sempre querer acabar rapidamente cada ato, e isso não é bacana de ver em uma comédia romântica, portanto embora seu resultado seja correto, o ator poderia ter ido com mais calma, e nas cenas com o pai, tudo aparentou artificial demais. No lado mais bagunçado do filme temos Danilo de Moura tentando enganar o público como o engenheiro americano Scott, com um sotaque estranho que para fechar com chave de ouro poderia ao final dizer que nunca foi americano e estava somente usando o personagem para pegar mulheres no Carnaval, mas infelizmente não trabalharam isso, deixando apenas a afirmação dele ser americano o longa inteiro. E Evelyn Castro entregou para sua Uitinei o jeitão popular que tanto agrada o público em novelas, de modo que se o filme fosse uma novela, sua personagem começaria como quase uma figurante, mas o público iria adorar tanto sua expressividade que ao final a trama estaria completamente voltada para sua personagem com algo bem importante para acontecer, ou seja, a atriz saiu tão bem que ganhou o público. Os demais apenas serviram de encaixes e não chegam a incomodar ninguém, nem aparecer demais para envolver, com um pequeno destaque para Paloma Bernardi que sendo uma rainha de bateria que pisa nas costureiras da comunidade, acabou mostrando algo que acontece muito nos bastidores do Carnaval.

Sobre o conceito cênico, como disse o diretor foi bem esperto em entrar no meio de um Carnaval acontecendo, claro que isso certamente deixou as filmagens bem agitadas para encaixar tudo, então rolando festa de bloco, lá estava a produção gravando, desfile ocorrendo, lá vai a equipe novamente, fechamento de carros no barracão da escola na cidade do samba, também partiu gravações, e com isso a equipe artística teve "pouco" trabalho para criar elementos cênicos próprios, mas somente encaixando detalhes aonde não haveria muito o que mostrar, só tendo a maior falha nas cenas do hospital como já disse acima, de eletrodos soltos que soaram extremamente falsos, mas no restante tudo acabou bem feito e funcional. A fotografia certamente foi a que teve maior trabalho com esses encaixes dentro de tudo o que estava ocorrendo fora do filme, pois encaixar iluminação aonde tudo já está bem iluminado, ou numa festa de bloco e depois na junção de tudo tentar colorir igualmente, o trabalho da equipe foi suado, mas agradou, afinal os ângulos escolhidos ajudaram bastante.

Um ponto bem interessante que não costuma ocorrer em longas nacionais, foi o trabalho da equipe musical, pois ao escolher diversas músicas para cada situação, acabaram criando uma trilha completa com músicas novas e regravações por meio de grandes artistas de nossa música, então será possível ouvir Daniela Mercury, Thiaguinho, Anitta, entre outros, cada um dando ritmo para o filme e música própria para cada personagem, o que é mais comum de ver em novelas e longas estrangeiros.

Enfim, fui pronto para tacar diversas pedras no longa, afinal já tinha o histórico do diretor, a chance de ser uma novelona que não faz meu estilo, mas acabei envolvido com a produção e gostando bastante do resultado, de modo que posso com certeza recomendar ele para quem gosta do estilo, e até mesmo para aqueles que não estão tão acostumados com novela, mas queiram ver boas esquetes românticas num longa nacional. Claro que não é um longa perfeito, mas dentro da proposta o resultado foi bem trabalhado e agradável de ver. Fico por aqui agora, mas nessa segunda confiro a última estreia que veio para o interior nesse final de semana agitado, que o que era previsto surpreender acabou sendo mediano e o que era previsto ser ruim acabou agradando, então abraços e até breve pessoal.

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