Os Olhos Amarelos dos Crocodilos (Les yeux jaunes des crocodiles)

6/12/2015 08:55:00 PM |

Passaram-se apenas 2 horas de projeção, mas garanto que aparentou ter passado 9 meses de uma novela nos cinemas, com todas as mil vertentes apresentadas pelos diversos personagens e histórias que se entrecruzam em "Os Olhos Amarelos dos Crocodilos". Claro que temos o motivo do nome, temos cenas bem trabalhadas com os atores, mas o excesso de coisas que ocorrem e são desenvolvidas no filme nos remete diretamente a uma novela tradicionalíssima, aonde a irmã faz coisas para a outra e ganha fama, a filha não tem afinidade com a mãe que separa do pai desempregado, e muitas outras coisas que claro se finalizam da forma mais dramática que toda novela gosta, ou seja, chato demais. O que mais me assusta é que o longa é baseado em um livro de altíssima vendagem e talvez uma série fosse menos cansativa e retrataria o texto de uma forma até melhor de agradar, mas como acabou sendo um filme, ao conferir vi pessoas saindo da sessão, outros apaixonados pelo que viram, mas o resultado com toda certeza nos mostra que não é apenas o Brasil que gosta de dramas de enrolação.

O filme nos mostra que duas irmãs têm uma relação conflituosa: Iris leva uma vida fútil e luxuosa, sem trabalhar, já Joséphine trabalha como pesquisadora da Idade Média, mas não tem o reconhecimento da família, e acaba de passar por uma ruptura amorosa. Um dia, para impressionar a família, Iris diz que está escrevendo um livro, justamente sobre uma pesquisadora da Idade Média. Para sustentar a mentira, ela pede a Joséphine que escreva um livro de verdade, deixando a irmã levar o mérito em troca de dinheiro. Quando o livro inesperadamente obtém sucesso, as duas irmãs entram em rota de colisão.

Não podemos dizer que a diretora belga Cécile Telerman entregou um filme bem trabalhado, e que por sinal aparentou ter colocado todos os detalhes contidos no livro, montando algo quase como uma visão do livro na telona, incluindo as subtramas e até momentos completamente desnecessários para mostrar que a traição por dinheiro e fama é algo tão comum que mesmo familiares estão dispostos a te derrubar para aparecer, e com certeza já vimos isso diversas vezes, e em alguns casos, com longas até mais dinâmicos do que o apresentado aqui. Confesso que se tivesse um ritmo mais envolvente até poderíamos gostar do que é mostrado, mas cansou tanto e com tudo acontecendo da maneira mais clichê possível, que ao final já estava torcendo para que acabasse da forma mais boba possível para que pudesse ao menos rir de ter gasto todo esse tempo na sala de cinema, mas não, temos o final tradicional de novela que não tem como ficar feliz com o que é apresentado.

Sobre a atuação vou me ater aos 4 personagens principais, pois se entrar na história de todos que possuíram algum momento desenvolvido daria para escrever quase que um livro. Julie Depardieu até nos mostra uma Jo interessante, trabalhando bem a mãe de família que não viveu às custas da família mais rica e que não nega ajuda para ninguém, mesmo que a pessoa acabe montando nela sem nem agradecer, e com uma interpretação até que convincente agrada, mas poderia ter uma dinâmica mais forte que chamaria mais a atenção. Emmanuelle Béart literalmente nos mostrou uma Iris fútil ao extremo, de modo que chega a ser até chato algumas coisas que fica fazendo, e mesmo sendo algo péssimo de se fazer, acaba sendo bacana de ver atrizes que se entregam dessa forma para um personagem, e como falei que o longa caberia completamente dentro de uma novela, ela seria do tipo que todos acabariam abordando ela na rua para brigar pelo que faz com a irmã, marido, filho, etc, ou seja, perfeita. Patrick Bruel embora apareça pouco com seu Phillipe, faz um personagem bem carismático e chamativo, de modo que o final entregue pelo ator acaba até envolvendo mais do que deveria, e com outros olhares para o filme inteiro até dá para perceber tudo o que ocorria, ou seja, o ator soube ser bem mascarado e agradar no último capítulo da novela. Alice Isaaz é uma jovem atriz que até pode mais para frente virar alguém de sucesso, pois soube trazer toda a arrogância da sua personagem Hortense para si e ainda falando como novela, seria daquelas que as velhinhas iriam bater na rua, pedindo para que ela tivesse mais educação para com sua mãe, e dessa forma acertou também muito bem nas expressões. Além deles, vale a pena rir das caras e bocas dos velhinhos Jacques Weber e Edith Scob numa relação completamente sem nexo e até boba demais para se ver, de forma que poderia ficar fora do longa isso com toda certeza. E para finalizar não menos importante, Samuel Le Bihan com seu Antoine foi quem viu os olhinhos amarelos dos crocodilos, e só serviu para isso, então não poderia deixar de fora quem deu o nome ao filme.

Sobre o visual da trama, como toda boa novela, o longa é produzido com fino rigor, cheio de locações chamativas, como casarões, bibliotecas invejáveis, escritórios bem desenvolvidos, neve pra todo lado para embelezar a cena, e por aí vai, mas o mais importante mesmo que são os pobres crocodilos aparecem apenas em 3 cenas bem levemente, sem agradar quase que nada, e ficaram bem coadjuvantes para um filme que leva seu nome, portanto poderiam ter trabalhado mais a história para ter elementos marcantes além do livro que está sendo escrito, colocar a ideologia dos personagens com mais eloquência e por aí vai, ficando apenas um grande dinheiro gasto para chamar atenção para nada. E a fotografia da trama foi da mais básica possível, no melhor estilo de não termos sombra em nada e até destruindo a abertura maravilhosa num tom de sépia incrível que se colocado inteiro no filme nos colocaria numa época interessante e marcada, mas nem isso tiveram a capacidade de fazer.

Enfim, um longa bem produzido, com atuações bem interessantes, mas que com histórias em excesso que se cruzam de forma não tão envolvente, acaba resultando em algo arrastado e que não vai agradar quem aprecia um bom filme dramático mesmo. Portanto, eis que apareceu um dos longas que tenho certeza que será o pior do Festival Varilux, ao menos na minha opinião, pois vi algumas senhoras com cara de noveleiras que apaixonaram pelo que viram, e até já tinham lido o livro. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas daqui a pouco volto com meu texto sobre o outro filme de hoje, então abraços e até breve.



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