Capitães da Areia

11/10/2011 09:23:00 PM |

É incrível quando vou ao cinema ver um filme nacional e a sala está lotada, realmente me emociona, claro que um dos motivos da lotação é a chegada do vestibular no final do ano, onde sempre cai alguma coisa da obra, também pode ser pelo preço mais acessível e ser o único estreante realmente no festival, mas o que não posso excluir de forma alguma como um bom motivo é que "Capitães da Areia" é uma obra audiovisual de primeira linha. Com uma fotografia primorosa e planos que praticamente nunca vimos no cinema nacional, o longa se separa completamente da linha tênue que vive o cinema nacional no qual sempre é comparado e muitas vezes rodado no mesmo estilo das novelas, aqui a diretora estreante soube ilustrar com brilho a obra escrita de seu avô.

A sinopse mostra que os "Capitães da Areia" - Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora são personagens que Jorge Amado um dia criou para habitarem eternamente na memória de seus leitores. Abandonados por suas famílias, eles são obrigados a lutar para sobreviver pelas ruas de Salvador. Mais atual do que nunca, a história destes personagens imortais da literatura mundial nos emociona e inspira de forma profunda.

No seu primeiro longa como diretora, anteriormente apenas havia trabalhado como assistente de direção, Cecília Amado mostra que tem muita bala na agulha ao optar por planos muitas vezes velozes e diferenciados para o padrão nacional. Temos alguns momentos lentos, mas são poucos. Com congelamentos de cena e acelerações vistas muitas vezes nos filmes blockbusters, mas colocados aqui com muita originalidade e com o principal uma boa função dramática, ou seja não apenas jogado ali porque a diretora acha bonito, mas sim porque tem necessidade do plano.

Outro ponto muito favorável para o longa é o lançamento de uma garotada fera de atuação,quase todos mostram uma boa interpretação frente às telas e demonstram que podem progredir, uns mais outros menos. Na minha opinião os grandes destaques estão com os dois "protagonistas" Robério Lima e Jean Luis Amorim, mas principalmente o primeiro que faz o Professor de uma forma encantadoramente maravilhosa, palmas para o garoto. Além disso, creio eu que todos são baianos ou o trabalho de estudo de cultura e preparação de elenco de Christian Durvoort foi o mais minucioso possível, que todos estão perfeitamente característicos do local onde se passa o longa.

A fotografia casada com a direção de arte é minuciosa, e temos alguns dos planos vistos no cinema nacional mais lindos e trabalhados, faz muito tempo que li o livro (basicamente para prestar o vestibular a anos), mas era como se eu estivesse lendo o livro e visto os detalhes citados pelo autor pintados numa imensa tela em movimento. Fantástico de se ver. Reconstrução de época perfeita, roupas, acessórios, locações e trejeitos. Um ótimo trabalho em equipe que tem de tirar o chapéu para Guy Gonçalves e Adrian Cooper, claro com suas equipes respectivamente de fotografia e arte.

Do ponto sonoro, Carlinhos Brown é o nome da vez, e com uma trilha 100% composta para o longa, mostra seus arranjos e sua característica própria que coube em cada momento usado. Achei um pouco exagerado a quantidade de momentos musicais no longa, mas pode ter sido uma opção do roteiro para que o longa não fosse necessário de uma narração e pudesse colocar todos os elementos da obra escrita. Apenas cansa um pouco, mas não atrapalha a maravilha do enredo e serve também como transições temporais.

O único ponto que pra mim atrapalhou um pouco o longa, é que pela maioria do público que está visualizando ele ser altamente jovem, maioria que vai prestar o vestibular e quer economizar um livro a menos para ler (pelo menos era essa a carga que estava em minha sessão), não chega a ser nem um problema é a caracterização minuciosa da cultura baiana, leia aqui a Umbanda, que em determinado momento o ritual se torna motivo de chacota para a garotada da sala que passou mais a rir do que o momento deveria ser. Talvez numa sessão com menos "adolescentes" a cena não seja vista dessa forma.

Enfim, se você cansou de ver filmes brasileiros novelescos, esse é mais um bom exemplo (olha três em um ano, estamos progredindo, que ano passado tivemos apenas 1. "Homem do Futuro" e "Meu País" são os outros dois exemplos desse ano) para se ver. Recomendo com certeza para todos, é uma boa adaptação do livro, embora não vou saber afirmar se 100% fiel, pois como falei o li a muito tempo atrás. Encerro a semana cinematográfica por aqui, mas amanhã já inicio a outra. Até amanhã então e abraços.




2 comentários:

Cissa disse...

Se você leu o livro HÁ muito tempo, recomendo que o releia...pra ver o quão maravilhoso o livro é, e como o filme perde TODO o sentimento que o livro deixa na gente. A diretora acabou com a obra maravilhosa de seu avô! É bem verdade que um filme nunca fica no mesmo nível do livro que o inspirou, mas nesse caso o livro em questão foi assassinado. Fotografia e trilha sonora concordo, são realmente maravilhosas, o que torna o filme agradável. Mas o roteiro é muito superficial: várias histórias, como a de Dora e Sem Pernas na casa de dona Ester, ficam sem muita explicação. Sinceramente, não sei como quem não leu o livro entende algumas partes! E outra falha: direção fraca. Professor e Sem Pernas são os que valhem a pena, que arrasaram na interpretação e fazem jus ao que imaginamos quando lemos o livro. Pedro Bala não passa o espírito de liderança necessário, e Dora parece deslumbrada de tudo...
Enfim, só queria manifestar minha opinião hehe
e sugerir que você releia o livro, não vai se arrepender. Tenho pena de quem vai prestar vestibular só assistindo ao filme, porque o livro é muito, muito, muuuuito mais do que a palícula nos mostra.

Ah, apesar de discordar de você neste comentário, quero dizer que gostei do blog, e pretendo acompanhá-lho sempre!

Fernando Coelho disse...

Oi Cissa, que bom que gostou do blog, volte sempre sim. Vou seguir seu conselho e reler o livro e com isso ver o filme com outros olhos, como obra de cinema quase nunca agrada os leitores dos livros, então é bem normal isso, porém como filme acho que está bem dentro dos padrões e me agradou bastante. Enfim relerei e assistirei o filme novamente para ter uma segunda opinião. Abraços.

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