Muitas vezes quando falamos de contos de fadas recaímos para o lado fantasioso de filmes de aventura, com cenas emocionantes e tudo mais, mas também sabemos que esse lado emocional envolvendo sorte, amor ao que faz, problemas familiares, vilões tentando roubar o que você construiu, e tudo mais podem recair também em dramas, e porque não em dramas empresariais que mexam com empreendedorismo? Pois bem, pensando dessa forma, eis que surgiu no algoritmo de sugestões da Netflix para mim, "Lionheart", uma comédia dramática nigeriana que consegue ter bons momentos, mas que também deixa o lado empresarial meio vertiginoso em relação à algumas situações. Diria que a ideia em si foi bem moldada, as atuações convencem bem, mas falta aquele ar para definir se vai para o lado duro empresarial que uma trama dramática iria, ou para o fantasioso e pré-determinado que a forma mágica iria, e o meio do caminho escolhido para finalizar embora tenha um ar bonito de ver, não emociona como poderia.
A sinopse nos conta que Adaeze é uma executiva calma e competente que trabalha na empresa de seu pai, a Lionheart Transport. Ela prova constantemente sua habilidade de trazer lucros e lidar com situações difíceis, mas quando seu pai adoece quem é dado a posição de chefe é seu tio não tão competente. Porém, seu desejo de lutar pelo que merece precisa ser deixado de lado e ela precisa se juntar a seu tio para salvar a Lionheart quando eles descobrem que a empresa está falindo.
Aqui talvez o maior problema da trama tenha sido Genevieve Nnaji estrear na direção e atuar, pois esse processo precisa ser mais alongado e desenvolvido, claro que a atriz já tem uma carreira imensa bem consolidada, mas o texto aqui talvez precisasse de uma imposição maior para que o longa realmente comovesse o público, que fizesse todos sentirem na pele o desespero da protagonista, primeiro por não ganhar o cargo que tanto almejava, e depois por descobrir que a empresa está na beirada do buraco. Além disso, o longa também trabalha bem a objetificação feminina, aonde grandes empresárias necessitam muito mais imposição para conseguir dar o exemplo em fronte do ar machista de diversas corporações que só enxergam elas como algo sexual, ou seja, o filme em si possui muitos temas para serem trabalhados, e talvez uma direção mais forte, com ela mesma no papel principal teria resultado em um daqueles longas que sairíamos devastados com um pique lá em cima sobre todos os temas, mas não é o que acaba acontecendo, e mesmo o filme não ficando ruim pelos diversos probleminhas que as escolhas erradas da direção fez, o resultado acaba sendo apenas simples demais.
Sobre as interpretações, como disse acima mudaria a direção, mas não o protagonismo de Genevieve Nnaji, que incorporou muita personalidade para sua Adaeze, mostrou com força como as grandes diretoras corporativas sofrem num mundo machista (com a África sendo ainda um pouco pior!), trabalhou bem seus olhares em relação à todos os conflitos familiares, e principalmente foi imponente nas atitudes, o que agradou bastante de ver. Nkem Owoh foi bem perspicaz nas suas cenas como Godswill, soando por diversas vezes engraçado, mas também foi bem colocado para dar os ares morais que a trama pedia, e claro para dar a solução para o negócio, além de outros bons detalhes que quem conferir irá pegar, e sendo assim foi uma boa inserção para a trama. Dentre os demais, muitos tiveram boas cenas, mas a maioria acaba soando como figurante para a ideia completa, então temos de dar destaque claro para o pai da garota com seus momentos mais colocados, que foi bem interpretado por Pete Odochie e para os raros momentos de sabedoria da mãe, interpretada por Onyeka Onwenu.
O visual do longa mostra um pouco de ares do meio corporativo, com suas negociações, seus ratos sujos, e claro que brinca até com o idioma como sendo algo trabalhado para enganações, afinal um país que tem diversos dialetos, nem sempre todos conhecem o que está sendo falado na sua cara, e com isso a forma conceitual até passa a ter um certo impacto no longa, além disso, com as caminhadas da protagonista acabamos vendo as diferenças de classes com casarões imensos dos magnatas, e ao lado cidades quase sem estrutura alguma, ou seja, tudo bem trabalhado, mas que poderia ainda mais ser desenhado. A fotografia da trama foi trabalhada na simplicidade, sem colocar tons tensos, nem por vezes brincar com algo mais colorido (tirando claro a festa), e sendo assim acreditaram que o básico funciona.
Enfim, é um filme bem feito, mas que é básico demais para tudo o que poderia ser mostrado, e que agrada quem gosta de um drama não muito forte, mas que entrega com bom tom sua proposta. E sendo assim, até que recomendo ele, mas bem longe do que aparentou no trailer, a ideia de impacto passa bem ao fundo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com outra crítica, agora de uma estreia dos cinemas, então abraços e até logo mais.
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