Capitão Fantástico (Captain Fantastic)

4/04/2017 02:21:00 AM |

Existem filmes que nos conquistam nos trailers, sinopses e afins, e depois de criar muita expectativa desanda na exibição, mas com "Capitão Fantástico" a coisa (ao menos comigo) foi bem diferente, pois a excentricidade no trailer pareceu apelativa e jogada demais, e junto com um nome meio que na moda de super-heróis acabou que até vi as indicações à prêmios, mas relevei o fato de não ter aparecido na época de estreia no interior. Pois bem, hoje após conferir numa sessão do Cinema de Arte, eis que o filme tocou tanto (e não só a mim, pois muitos saíram da sala lavados de chorar com a trama) com uma história cativante, deliciosa de assistir, passando tantas mensagens bem colocadas que certamente apostaria nele como melhor filme em diversas premiações se tivesse conferido ele antes, pois é realmente muito bom, e mais do que recomendado para todos conseguirem enxergar fatos que dificilmente paramos para observar de que o mundo é o melhor lugar para se aprender, e não necessariamente, um livro que ensina uma receita formulada, mas também há vertentes para serem ditas, e o longa pondera muito bem cada ato, trabalhando tão bem a história e as interpretações que é difícil sair da sessão sem muitos questionamentos, não sobre o filme, mas sim sobre a vida. Ou seja, dê um jeito de assistir ao longa e reflita, pois, valerá muito!

O longa nos mostra que Ben (Viggo Mortensen) tem seis filhos com quem vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia um triste acontecimento leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona velhos conflitos.

Sempre é interessante quando um ator que não fez tanto sucesso em grandes papeis desponta na carreira de diretor, e mesmo com um primeiro longa que poucos viram, Matt Ross veio com uma ideia tão fascinante e bem feita que a cada nova cena somos surpreendidos com situações cômicas (outras nem tanto) que de uma forma crua e bem gostosa acaba fluindo bem no desenrolar do seu próprio roteiro. Ou seja, o diretor não precisou fazer nada mirabolante para que seu filme passasse boas mensagens, ou encaixasse algo polêmico para que repercutisse, mas sim desenvolver algo comum, que todos sabemos bem como é na vida real, que agradasse e ainda deixasse bem explícita sua opinião sobre o caso, o que acabará sendo positivo para alguns, ou negativo para outros, mas que em momento algum ficará sobre o muro esperando que o público não discuta com sua ideia. E sendo assim temos um filme leve, mas ao mesmo tempo polêmico sobre o assunto criação de filhos, sobre a vida moderna e até mesmo sobre o enfrentamento da morte em si, mas tudo de forma bem sutil para que fosse agradável de ver, que o público se divirta, e claro, se emocione com tudo o que é mostrado, criando um ambiente até por vezes nostálgico, mas que não atrapalha em momento algum.

Sobre as atuações temos de ser enfáticos quanto ao carisma de Viggo Mortensen, pois seu Ben é um personagem que chama as atenções para si, e certamente um ator com mais carisma cairia melhor ali, mas mesmo assim, ele transformou um personagem simples em algo a mais para ser analisado e a cada cena sua foi desenvolvendo uma personalidade interessante que nos faz ir criando uma forma diferenciada de carisma, a mesma que seus filhos possuem por ele, e isso que é algo interessante de ver na interpretação que o ator conseguiu fazer, tanto que acabou sendo indicado pelo personagem em diversas premiações, e merecidamente. Dentre os filhos todos tiveram bons momentos para chamar atenção, mas sem dúvida alguma George MacKay teve grandes cenas de destaque com seu Bo, fazendo trejeitos bem colocados e assumindo a responsabilidade de filho mais velho em diversos atos, além claro de trabalhar a ingenuidade do personagem com um tom bem diferenciado, e claro também temos de pontuar as ótimas cenas de Shree Crooks com sua Zaja dinâmica e muito graciosa, sempre pronta para atacar com visceralidade e desenvoltura, e o fechamento ficou a cargo da ótima Samantha Isler com sua Kielyr, não tanto pelos momentos que teve no desenrolar do longa, mas sim para a ótima voz na canção de encerramento. Kathryn Hahn e Steve Zahn foram divertidos e espantosos com as caras e bocas que fizeram para seus Harper e Dave, mas não atrapalharam com isso, muito pelo contrário, fizeram trejeitos que muitos fariam ao ver a desenvoltura da família. E para fechar, não sei como qualquer outro pai agiria ao ver um sogro falando da maneira que foi colocada para o personagem de Frank Langella com seu Jack, mas o ator conseguiu chamar muitos inimigos com a personalidade e imposição mostrada, pois como disse no começo desse parágrafo, já estávamos íntimos do protagonista, e qualquer coisa contra ele, acabou deixando tenso o público.

No conceito visual, as cenas dentro da floresta ficaram incríveis de ver, com boas dinâmicas e colocações criativas para que tudo fosse bem utilizado e representasse algum momento com as crianças e suas virtudes, de modo que ficasse algo mais amplo e bem encaixado, ou seja, não colocaram eles apenas dentro de uma floresta simples, e jogaram elementos soltos, mas sim trabalharam cada personagem com suas dinâmicas bem pautadas com facas, sujeiras, tendas, livros, roupas e afins, criando um mundo ali aonde eles viviam, e depois tudo isso passou bem colocado para dentro do ônibus no mini-road-movie que caiu muito bem trabalhado, e por fim junto dos familiares e do camping mostrando novos elementos para a família e criando algo novo e interessante de ser visto, ou seja, um trabalho memorável para a equipe de arte. Quanto da fotografia, uma locação melhor que a outra encaixando com sombras e tons tão sutis que vamos mergulhando a fundo em tudo o que quiseram mostrar, num trabalho tão amplo que conseguimos quase que ver detalhes só quando realmente desejavam que víssemos, como acontece na primeira cena com o alce.

Embora seja um spoiler, a versão acústica de Sweet Child Of Mine cantada pelos protagonistas é algo que vai fazer você sair encantado demais do cinema, tentarei encontrar a versão e voltar aqui para colocar ela, mas se alguém achar antes e quiser compartilhar nos comentários, já agradeço.

Enfim, é um filme espetacular que não sei se fico feliz ou triste por não ter visto ele antes (pois erraria nas apostas de tudo que fosse de premiações colocando ele), mas hoje após conferir com certeza tenho muito que reclamar dele não chegar rápido para a maioria das pessoas, pois mais do que recomendo o longa para todos que puderem conferir de alguma maneira, afinal é algo incrível demais e que vai fazer todos pensarem muito sobre tudo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.

PS: Não estou dando nota máxima, por faltar um pouco mais de carisma pro protagonista como disse, e por faltar me fazer desabar como aconteceu com outras pessoas na sala, pois do restante o longa valeria nota máxima.

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