O Roubo da Taça

9/13/2016 01:06:00 AM |

Como fazer comédias com estilo? Pergunte à Netflix, que junto com produtoras independentes vem criando uma perspectiva interessante e gostosa de ser assistida tanto em casa quanto nos cinemas, e você deve estar se perguntando porque então a produtora entregou para a Paris Filmes distribuir o longa nos cinemas se ela pode em breve lançar em mídia online e ter todos os seus assinantes assistindo algo inédito? Para ganhar dinheiro, pois "O Roubo da Taça" possui uma ideia inteligente que baseada em fatos reais consegue divertir e com muita qualidade entregar uma comédia longe das forçadas e exageradas atuais, trabalhando toda a situação cômica pela situação em si, que poderia funcionar bem em qualquer estilo (série, curta, longa), mas optaram por algo fechado e bem desenvolvido dentro de bons 85 minutos.

Peralta é um simples corretor de seguros que começa a sofrer pressões de todos os lados. Em casa, sua namorada Dolores dá um ultimato: é casamento ou fim de papo. Por outro lado, suas dívidas que se amontoaram rapidamente, começam a ser cobradas. Quando tudo parece perdido, uma brilhante ideia cruza a cabeça de Peralta: um plano que vai resolver todos os seus problemas. Com a ajuda de seu amigo Borracha, um sujeito nada inteligente, Peralta decide roubar a Taça Jules Rimet de dentro dos cofres da CBF.

É bacana ver o estilo do diretor Caíto Ortiz que soube segurar a onda sem muita exuberância, e principalmente manteve a comicidade sem precisar ter um ar novelesco e muito menos precisar apelar para exageros forçados que muitos outros diretores nacionais usam para que seu filme faça o público rir. Tudo bem que sua trama não é daquelas que você irá rolar no chão de tanto rir, mas a situação completa consegue ser bem encaixada e o resultado agrada tanto pela qualidade da produção quanto pelas atuações dos protagonistas que ficaram bem soltos para trabalhar expressões que até seriam consideradas erradas numa comédia mais engraçada. Os ângulos escolhidos também ficaram dentro de algo que é bem incomum de se ver no cinema de comédia tradicional, deixando quadros mais fechados nos protagonistas e colocando a responsabilidade nos trejeitos que puderam entregar, e assim sendo o filme quase vira algo mais de ator e menos de texto, porém como a história é mais fechada, conseguiram adequar bem as duas situações.

Já falei um pouco das atuações, mas vale dar destaque para o trabalho feito por Paulo Tiefenthaler com seu Peralta que meio lembrando um pouco de outros trabalhos seus quase desconectou a alma do personagem, mas logo em seguida conseguiu voltar para um lado mais malandro e bem encaixado que acaba agradando bastante no estilo de finalização do personagem. Sem dúvida alguma Tais Araujo mudou muito seu estilo de atuar, pois antes forçava para aparecer e hoje já mostra a que veio só com o olhar já encaixado e pronto para incomodar quem estiver na sua frente, de tal maneira que sua Dolores soa bem dominada e faz diversos gracejos que reviram bem a história e por fim teve um grandioso momento chave que nem se esperava ver na tela, arrasando total. Milhem Cortaz é sem dúvida um dos grandes nomes do cinema nacional, mas aqui deixou seu investigador Cortês muito exagerado e por diversas vezes ficamos esperando que dominasse a tela, mas sempre ficou em segundo plano, o que é bem incomum de ver em seus papeis, o que é uma pena, pois se tivesse mais cenas ele chamaria bem a responsabilidade e agradaria muito. Dos demais, a maioria aparece e desaparece com muita rapidez, tendo até bons momentos, como algumas cenas de Danilo Grangheia como Borracha, outros mais sutis e bem encaixados, como os que o argentino Fabio Marcoff colocou em suas cenas, e temos até os que saíram quase atrapalhando como foi o caso de Stephan Nercessian que sempre exagerado nos trejeitos acabou apelando demais para tentar aparecer.

No conceito visual, o grande feito da equipe foi manter o estilo de época num nível tão incrível que chega a ser impressionante não se sentir em plenos anos 80, tudo ressalta na tela como as TVs, os preços dos mercados (e claro o estilo dos mercados), os carros perfeitamente bem encaixados, e o figurino na medida certa para chamar a atenção correta de cada personagem, ou seja, um luxo completo que mostra que o Brasil pode fazer tramas de época no cinema tão bem quanto faz em suas novelas, e deve investir mais nesse estilo, afinal tivemos muitos momentos importantes na nossa história sem ser o tradicional já batido em diversos meios, e sempre que fizerem esse bom trabalho vão agradar e muito. Claro que volto a frisar que o investimento certamente foi maior, mas o resultado vai valer a pena, pelo menos espero. Quanto da fotografia, como já disse optaram por ângulos mais fechados, talvez para economizar na cenografia delimitando os ambientes, mas nem por isso menosprezaram as boas sombras que deram nuances e tons maravilhosos para cada momento do filme, ou seja, um trabalho impecável no conceito técnico da trama.

Enfim, é um filme que agrada demais quem for ver no cinema, e que agradará muito também quem esperar para ver na Netflix. Para ser perfeito só faltou trabalhar mais os coadjuvantes, que como disse acima acabaram se perdendo ao tentar aparecer demais e acabaram desgastando a boa imagem da trama, talvez se fosse um pouco maior desenvolvendo mais cada um, o resultado de uma série sobre o tema seria incrível. Portanto recomendo com certeza a trama, e aguardarei por mais trabalhos desse estilo, seja do diretor, ou da equipe de produção, pois o resultado final ficou muito bom. Fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, e dessa vez vou deixar vocês com um pouco mais de delay nas críticas, pois volto somente na próxima terça com novos textos, então abraços e até mais galera.

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