Alguns filmes conseguem concentrar toda sua beleza artística em suaves movimentos, de modo que certa vez ouvi alguém dizer que o cinema sendo a sétima arte, acabaria tendo vestígios de todas as demais em sua essência, e claramente ao ver "A Garota Dinamarquesa" podemos quase que olhar o diretor pintando um quadro em tempo real, com os atores funcionando como os pincéis e o texto como a tinta escorrendo pela tela, formando o que podemos ver como arte. Para alguns o resultado final da pintura vai agradar e envolver, mas para outros será algo tão sem sentido que passará batido, mas ainda assim continua sendo uma obra artística. Digo isso do filme, pois assim como um belo quadro demora para ser finalizado, o longa em questão é belíssimo também, mas possui um ritmo tão lento, que quem não estiver focado para assistir as belas atuações dos protagonistas, irá acabar cansando e desistindo de ir até o final, e embora isso agrade muitas pessoas que gostam de filmes mais reflexivos e até mesmo introspectivos, a sensação notória para a maioria que prefere filmes dinâmicos é de algo que parece que não terá um final.
O filme nos mostra que o pintor dinamarquês Einar Mogens Wegeneré casado com Gerda e sempre se identificou com o universo feminino, mesmo de forma velada. Mas seu instinto fala mais alto e ele decide fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Einar passa a usar o nome Lili Elbe e entra para história como a primeira pessoa a se submeter a esse tipo de procedimento.
Não posso dizer que Tom Hooper trabalhou de forma correta para com o seu filme, pois ele ficou mais dependente dos atores do que o costume. Claro que isso é uma marca sua, de deixar que os atores dominem a cena, e raramente conseguimos observar sua influência na tela, foi assim em "O Discurso do Rei", e em "Os Miseráveis", porém aqui a história precisava ser mais influenciada pelo diretor, pois embora as personagens Lili Elbe e Gerda Wegener sejam fortes e chamativas, Einar Wegener não possui dinâmica suficiente para manter suas cenas, e isso faz do filme algo que é notável a falta de direção, de mostrar o que fazer para impressionar na cena. Ou seja, temos um roteiro marcante, com uma presença ímpar de atores, mas o filme acaba pecando aonde ele mais funciona na beleza do momento quase parar para analisar a perspectiva do eu interior do protagonista. Quem sabe algum dia leia o livro para saber se o excesso de respiros também é algo marcante ali, mas o filme poderia impactar, causar e chamar toda a atenção que quisesse com a temática, mas optaram por algo leve demais, que cansa para passar e que dificilmente chamaria atenção se não fosse por dois excelentes atores à frente do projeto.
Falar da atuação de Eddie Redmayne é algo que não dá para explicar, pois o ator incorpora tão bem seus personagens, que não conseguimos distinguir quem é ele realmente e quem é Einar/Lili, de modo que se ele não tivesse feito um Einar tão perdido como disse acima devido à falta de direção, certamente sua chance de vitória em todas as premiações que concorreu seriam bem maiores, pois quando virava Lili, era praticamente outra pessoa em cena, com nuances expressivas, determinação na forma de falar, e consciente de cada momento que a câmera estava em seu rosto para que a pose saísse melhor em cada ângulo possível, ou seja, perfeito. Quanto a Alicia Vikander, que ano foi 2015 para a jovem, pois pegou dois excelentes papeis, que além de muitos prêmios certamente lhe abrirão diversas outras portas profissionais, pois finalmente atingiram seu potencial dramático, e sua Gerda mostrou sentimentalismo, boa postura, determinação frente à tudo o que lhe foi imposto, e a cada expressão da jovem embarcávamos junto com ela, ou seja, incrível de ver. Dos demais atores, praticamente todos possuem poucas cenas para se expressar realmente, de modo que acabamos nem conhecendo muito sobre eles, tirando Matthias Schoenaerts que trabalhou bem seu Hans e com compostura perfeita mostrou ser um lorde e tanto.
Quando falamos que um filme é bonito, a principal essência que fica além das boas expressões é a cenografia escolhida. E ao representar Copenhague e Paris dos anos 20, a equipe de arte trabalhou todo o figurino de época, locações bem marcantes, porém mais fechadas para não ocorrer erros temporais e claro que ao sair para a rua, escolheram bem os pontos para que o filme ficasse clássico e bem feito, ou seja, um deslumbre cênico com diversos elementos para ficar reparando, mas principalmente o conceito de figurino de época é o que mais vai chamar a atenção de quem for conferir. A fotografia trabalhou muito bem as sombras, dando um tom levemente acinzentado para trabalhar a dramaticidade, mas abusando de tons pasteis na coloração para que o filme ficasse gostoso visualmente, sem que nada fosse forçado e nem impactasse como poderia.
Enfim, é um filme muito bem feito, que talvez fosse melhor se arrumado leves detalhes que citei acima na direção e na atuação de Eddie como Einar, mas que tranquilamente passam despercebidos de quem gostar de longas mais alongados e sem ritmo. No contexto geral agrada e certamente merece ser recomendado, deixando claro que o filme não possui uma dinâmica convencional, trabalhando sempre numa velocidade abaixo do que o público está acostumado, então relaxe bem, descanse e não vá conferir a trama após um longo dia de trabalho, senão a chance de apagar é alta. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas ainda faltam muitos filmes para conferir, então abraços e até breve com mais posts.
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