Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

2/06/2015 01:36:00 AM |

Vamos lá ao seguinte mantra: "O filme é louco, eu sou louco, o personagem é louco, ou todo mundo ficou louco?". Só posso iniciar o meu texto sobre "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" dessa maneira, pois ao sair, ou melhor parar na escada antes de sair devido ainda estar com mil conflitos na cabeça, só conseguia pensar em qual nível de maluquice ficou o diretor e roteirista mexicano Alejandro Iñárritu para fazer diversas críticas, colocar um filme-sequência (já que não dá para falar apenas em plano sequência, com algo que praticamente não teve mudança de plano) e ainda por cima ter uma história tão boa e absurda num único lugar! Sinceramente não sei nem o que escrever sobre o filme, pois com certeza cada um que assistir, e até eu mesmo se rever, vai ter uma opinião nova sobre cada ato, cada um vai olhar por um ângulo e imaginar algo diferente, outros vão odiar de cara, e ainda vão ter aqueles que vão jurar que a sua opinião é a certa e única sobre a ideologia do filme. Mas prefiro dizer, assistam e curtam essa loucura, as vezes é bom ser maluco.

O filme nos mostra que no passado, Riggan Thomson fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner, Lesley e Laura, Riggan precisa lidar com seu agente Brandon e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.

Ao criticar a forma que a indústria do cinema e dos musicais da Broadway trabalha, o diretor foi bem ousado e assumiu o risco, já que muitos lá dentro poderiam ficar bravos e tudo mais, mas como um amigo costuma dizer, o povo do cinema não se leva a sério, vejam "Mercenários" onde eles acabam zoando os papéis que acabaram ficando ricos, e dessa forma a comicidade fica completamente evidente para quem já trabalhou dentro de um filme, ou apenas leu um pouco e sabe que atores/atrizes têm chiliques, atores/atrizes já saíram com Deus e o mundo, atores/atrizes desistem do nada ou seja, em resumo atores/atrizes são malucos e junto disso entram agentes/produtores que querem dinheiro e mais dinheiro, familiares de artistas que acabam se infiltrando no meio de uma produção, e por aí vai, ou seja, o roteirista pegou tudo isso que já vivenciou e criou uma história crítica em cima, de forma a não apenas ficar com isso, mas como disse no início, muitos poderão ver o longa de outras formas, principalmente devido à cena final que dá ao menos umas 3 possibilidades de pensar o que estava acontecendo e aconteceu ali, (confesso que uma das que pensei é excelente, mas estragaria toda a loucura envolvida contar aqui, quem quiser mande e-mail pelo fale com o Coelho aqui do lado que respondo e trocamos figurinha depois). Junto disso, o diretor tem a insanidade piorada no nível máximo e resolve fazer o longa inteiro em plano-sequência, como se fosse alguém buscando pelas informações e tudo que ocorre nos bastidores da vida do protagonista e pessoas envolvidas com ele, jamais um filme nesse estilo, contendo cenas de ação, discussões mil, cenários diversos e tudo mais, algum louco entraria na pré-produção do filme e falaria, vou filmar em plano sequência, confesso que qualquer produtor mais bom da cabeça daria um tiro certeiro nele ou mandaria para um hospício, mas ficou tão bom o resultado final, que mesmo ofegante pelos textos ditos tão rápidos quanto em uma peça teatral mesmo, fazendo com que qualquer um que tenha escrito fluente em inglês no currículo passasse o corretivo para avançado quiçá médio, não temos como não gostar do que vemos, claro que é notável alguns cortes para respiro de câmera e tudo mais, mas ainda sim, a boa edição fez com que o filme ficasse quase que um plano só. Com essas loucuras todas, o diretor garantiu nada menos que três indicações: filme, roteiro e direção, ou seja, vai aparecer bastante na tela da TV.

Sobre a atuação não é a toa que o elenco ganhou o SAG e está sendo indicado à todos os prêmios, pois todos estão muito bem, e atuar com plano-sequência é algo surreal aonde o ator não pode errar, tem de ter seu texto na ponta da língua como se fosse em uma peça de teatro, e dessa forma a genialidade dos escolhidos para a trama se mostrou mais do que perfeita. Michael Keaton, que não chegou a perder toda a glória após seu Batman no passado, vindo fazendo alguns filmes interessantes de lá pra cá, caiu como uma autocrítica no personagem principal da trama, e o ator se doou de uma forma incrível para o personagem, aonde vemos seu estilo de atuar, sua forma de expressões excelentes e assim não teria outra maneira senão estar sendo indicado para tudo, pois fez muito bem em cena, mostrando o que sabe e pode fazer, quem sabe agora ganhe mais bons papéis novamente. Edward Norton faz de seu Mike aquele ator que qualquer diretor repudia por se achar o centro do Universo, mas que a crítica adora, então tem que ser colocado para que a peça ou filme tenha lucro, e estamos cansados de ver filmes péssimos aonde tem um ator nobre só para chamar os fãs, e ele faz o personagem com uma classe total de ironia, colocando chiliques e tudo mais que tem direito, ou seja, excelente em cena e garantiu ao menos sua indicação aos prêmios. Emma Stone como a filha problemática Sam, é um misto de emoções com a jovem trabalhando bem nos diálogos tanto nas cenas com Keaton quanto mais ainda nas junto de Norton, e com nuances bem interessantes de expressões ficamos bem intrigados com o que faz, e assim também levou seu nome para as indicações dos prêmios de atriz coadjuvante. Ver Zach Galifianakis sem todo aquele teor cômico bobo é estranho, mas mostra que o ator se encontra mais maduro e pode despontar também com expressões não tão clichês, e dessa forma saiu até que bem como o agente/produtor Jake, sua melhor cena sem dúvida alguma é a do conselho após o chilique do protagonista. Além desses que são os pontos chave, temos muitos atores aparecendo e fazendo bem em cena, por exemplo as moças Naomi Watts e Andrea Riseborough com suas Lesley e Laura respectivamente tendo personalidades completamente vulneráveis sendo misturadas com tudo que já fizeram em outros filmes e claro aqui em questão. Agora uma das cenas mais duras e reais de ver é a do protagonista junto da crítica interpretada por Lindsay Duncan, pois conheço diversos "críticos" por aí que nem assistem ao filme ou peça e já subjugam fazendo suas análises baseados em nada, e essa posso dizer que o diretor ganhou muitos votos do pessoal da casa para ele.

Sobre a cenografia, todos poderão finalmente ver como é maluco os labirintos de um teatro, de onde os atores surgem, saem e reaparecem em cena, passando por camarins, bastidores e tudo mais, ou seja, a equipe de arte usou a favor tudo que tinham em mãos para agradar, quebrar e encenar nas cenas do teatro, ficando literalmente simples e luxuoso na mesma proporção, o que é muito bom de ser visto, e para completar nas cenas que sai do teatro, a loucura é solta com as ruas da Broadway lotadas com seus espetáculos, placas de peças famosas de fundo e as ruas tradicionais de Nova York, fazendo alusão à diversos outros filmes, num trabalho minucioso e bem feito pela equipe artística. E falando em artista eis que entra o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, completamente maluco ao aceitar a proposta de ir andando com uma câmera seguindo os protagonistas e juntamente de sua equipe mantendo iluminação e paletas tudo ornando perfeitamente, ou seja, esse não só mereceu a indicação de Melhor Fotografia, como trabalhou em um nível que fazia muito tempo que não aparecia ninguém corajoso suficiente para fazer isso, se vai levar o prêmio já é outra história, afinal como ganhou ano passado com "Gravidade" fica meio difícil repetir, mas mandou muito bem no que fez.

As duas demais indicações do filme estão no quesito Edição de Som e Mixagem de Som, e mesmo caindo bem a bateria com todos os passos e sons do filme, me irritou demais e até cansou praticamente as mesmas batidas o filme inteiro, claro que se você ficar até o final dos créditos vai ver que o rapaz tocou umas 20 músicas diferentes, cada uma com seu nome e firula mais, mas convenhamos, já vimos coisa melhor por aí.

Enfim, é um filme diferenciado, que como disse pode agradar muito ou fazer você xingar demais pensando que loucura foi essa toda que viu durante quase 2 horas. Com 9 indicações ao Oscar a certeza que vai levar algum é alta, mas que vamos lembrar para sempre dessa maluquice toda já não garanto, afinal cada vez que ver é capaz de pensarmos e enxergarmos ele com outros olhos, assim o esquecimento é mais fácil, então fica difícil memorizar. Recomendo ele para todos que gostam de coisas malucas, afinal a chance de quem gostar de coisas 100% certinhas ficar irritado só com a câmera totalmente em movimento do início ao fim, é altíssima, mas vale com certeza ao menos a experiência de ver algo tão crítico funcionar bem dentro de algo voltado para o entretenimento, o que geralmente acabam estragando. Então fica a dica de sessão e mais que isso, corram, pois como tem poucas cópias no mercado por estar na mão do braço menor da Fox, a chance de que o filme saia de cartaz com 1 ou 2 semanas é bem alta. Fico por aqui agora, mas temos ainda muito o que conferir nesse fim de semana, então abraços e até breve pessoal.

PS: Só não estou dando nota máxima para o filme, por ficar na dúvida se gostei tanto assim mesmo dele, ou apenas fiquei maluco com o que vi e depois vou esquecer de tudo.


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