Irmã Dulce

12/23/2014 02:01:00 AM |

Quando um filme define o conteúdo em algo que já é conhecido, as vezes ficamos receosos de que não dê certo, mas conforme vamos vendo o resultado acontecer na tela, vamos nos emocionando com a história e aí vemos que não é apenas o conteúdo visual da trama que acaba importando, mas sim a vivência do personagem principal. Em "Irmã Dulce" temos a história de um símbolo que foi maior que tudo diante de sua fé e bondade, envolvendo e agradando com um teor interessante que nos permitiu conhecer mais sobre ela e admirar tudo que fez. E é interessante observar como as biografias tem funcionado bem no cinema nacional, afinal a base existente é mais fácil de trabalhar, e acaba chamando já um público praticamente feito.

O filme nada mais é que a cinebiografia de Irmã Dulce, que, em vida, foi chamada de “Anjo Bom da Bahia”, também indicada ao Nobel da Paz e beatificada pela Igreja. Contemplando da década de 20 aos anos 1980, o filme mostra como a religiosa católica enfrentou uma doença respiratória incurável, o machismo, a indiferença de políticos e até mesmo os dogmas da Igreja para dedicar sua vida ao cuidado dos miseráveis – personificados na figura do fictício João –, deixando um legado que perdura até hoje.

A história é simples como a freira foi, mas o diretor Vicente Amorim soube trabalhar ela tão bem que o resultado não é outro senão acabarmos admirando o que nos é mostrado na tela. Claro que o longa possui diversos defeitos, o mais forte é o excesso de transições com nuvens e fundo preto, que poderia ser resolvido com toda certeza de outra forma mais criativa, porém ao optar por esse estilo a força emocional é mais amarrada, pois como já disse num filme espírita, abusam dessas transições para dar o timing da pessoa refletir sobre o que acabou de acontecer. Agora se existe algo bom para falar da direção é a escolha dos planos sempre precisos nas expressões dos artistas que assim temos uma intenção mais envolvente e agradável para a trama, que foi desenvolvida num roteiro bem trabalhado e interessante tanto para quem conheceu a história da freira quanto quem nunca tinha sequer ouvido falar dela.

No quesito interpretativo temos até que boas atuações de todos, mas valendo destacar apenas Regina Braga como Irmã Dulce na velhice que ainda contou com uma maquiagem precisa e aliado à sua atuação firme resultou em algo singelo e belo. Bianca Comparato como Irmã Dulce mais nova também fez bem o seu papel, mas em alguns momentos foi superficial demais. Outro que mostrou um bom servi foi Amaurih Oliveira como João que mesmo com uma cara de pessoa comum, o que era totalmente desejado pelo diretor, soube ser inteligente nos momentos chaves para sair melhor enquadrado, obtendo pontos tanto pra si quanto para a direção. A direção de figurantes também desenvolveu um excelente trabalho para fazer com que o povo ficasse mais sofrido ainda e com uma maquiagem precisa não tem como não ficar com dó de todos.

A arte do longa não pode exagerar demais, afinal é a história de uma pessoa bem simples, e sendo assim tudo contou com uma cenografia bem surrada cheia de detalhes para firmar a fé da personagem e assim procurar simbolizar tudo no filme como deveria ser. Não podemos dizer que dessa forma o resultado é algo grandioso, mas a qualidade dos elementos foi na medida certa para dar o simbolismo. A fotografia puxou demais para o tom marrom de forma desnecessária, pois se queriam dar um ar sujo para a Bahia dos anos em que se passa a história, e junto com isso colocar o povo ali mostrado como sujo também ficou meio pesado, claro que é uma escolha do diretor esse tom, mas poderiam ter sugerido algo em tons mais pastel que daria a mesma simbologia e não denotaria tanto um ar pesado.

Enfim, é um filme bem bonito que vale a pena ser visto e com uma trilha sonora na medida para impressionar e fazer chorar, recomendo ele com toda certeza para quem é católico, e até mesmo para quem não é pelos atos de bondade da freira, mais do que a religião em si. Só é uma pena que com pouquíssimas cópias espalhadas pelo país, estão rodando demais a película, então é capaz que ao chegar em algumas cidades o filme apareça bem desgastado, aqui ainda estava razoável mesmo com 1 mês de viagens, mas não deve ficar muito tempo em Ribeirão Preto não, então quem quiser ver, corra para os cinemas. Bem é isso pessoal, encerro a semana cinematográfica aqui desejando um ótimo Natal para todos, que se divirtam com os amigos e familiares, e quem estiver de folga na semana aproveite para conferir os longas que estrearão nos cinemas e já postei a crítica, volto na sexta com o único filme que vem além dos outros que já falei, e claro com a tradicional retrospectiva do ano, então abraços e até breve.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...