Rainha de Katwe (Queen Of Katwe)


Como me propus a falar também um pouco dos longas que não vieram pro cinema, vamos aqui com mais um que vi em casa nessa semana de poucas estreias no cinema, e já vou logo falando a maior falha de "Rainha de Katwe": a falta de dor, dramaticidade e tensão, ou seja, o fator Disney de filmes biográficos! Pois não digo de forma alguma que o longa não seja inspirador, bonito e interessante de acompanhar, mas falta aquele detalhe que faria o público lavar a sala de cinema (ou de casa nesse meu caso) e saísse querendo ir abraçar todos os pobres de Uganda que não conseguiram uma chance de estudar, ou jogar para conquistar sua vida. Ou seja, um filme bem feito, mas que soou simples demais para que a história de Phiona Mutesi ficasse marcada no seleto hall de filmes que biografias bem feitas merecem estar colocados.

O longa é baseado na vibrante história verídica de uma jovem garota das ruas da região rural de Uganda, cujo mundo rapidamente se modifica quando é apresentada ao jogo de xadrez, e, como resultado do apoio que ela recebe de sua família e da comunidade, é imbuída da confiança e determinação de que precisa para correr atrás de seu sonho de se tornar uma campeã internacional de xadrez.

Confesso que ao ver o trailer nos cinemas lá pra meados de Setembro/Outubro de 2016, jurava que veria esse longa indicado à todos os prêmios possíveis, fazendo o povo chorar horrores com a história da garotinha e tudo mais, mas o filme estreou em tão poucas salas que fiquei receoso do motivo de até ter sumido sem vir para o interior, pois bem, hoje a explicação ficou clara, afinal é um longa bonito que não atinge em cheio o peito e nem valoriza tanto a história da protagonista como deveria. Aí você deve estar perguntando de quem seria o erro, se do roteirista William Wheller que adaptou de forma bem calma a história do livro empolgante como alguns textos disseram de Tim Crothers, ou da diretora indiana Mira Nair que não quis ousar? E respondo rapidamente, nenhum dos dois, ou melhor, a combinação dos dois fatores incluindo a produção da Disney, que quis valorizar a pobreza do lugar, a vida difícil das famílias ali, mas sem apelar para o emocional, que seria o show master que agradaria e daria rumo maior para que a diretora botasse um jogo de xadrez pesado para frente e dominasse toda a tela. Ou seja, faltou ousadia para a diretora, liberdade criativa para o roteirista abusar e a produção querer que o filme não ficasse apenas no básico. Mas tirando esses defeitos, o filme é agradável e bem interessante de ver, vai inspirar muitas pessoas a procurar estudar jogos de estratégia para melhorar suas vidas, e até alguns a querer fazer algo por pessoas carentes, mas vai ser esquecido facilmente como filme, pois mesmo quem assistiu no cinema em Novembro, ou até mesmo se emocionou com o trailer vai lembrar de sua existência quando passar na TV (se passar algum dia), pois não atinge o clímax em momento algum e não empolga como filmes de esportes costumam empolgar.

Quanto das atuações, não vou falar muito para não me alongar, mas Lupita Nyong'o tem mostrado cada vez mais o seu potencial interpretativo e expressivo, e aqui não seria diferente como Harriet (ou mãe das crianças), dando um show a cada cena que pode mostrar serviço. A jovem estreante Madina Nalwanga caiu bem no papel de Phiona, mas como nunca havia atuado se perdeu um pouco nos olhares expressivos que a personagem necessitava. E David Oyelowo trabalhou bem demais o seu Robert Katende, mostrando que missionários podem ser bem colocados na vida das pessoas sem precisar exagerar na religião e sim dando boas condições de estudo/alimentação/perspectiva para crianças. Dos demais temos de pontuar a grande sagacidade de todas as crianças que dominaram as cenas que estavam presentes, chamando atenção por onde quer que estivessem, algumas até roubando um pouco a cena dos protagonistas, mas agradando no geral.

No conceito visual, a trama trabalhou bem as condições precárias das favelas, mostrando toda a dureza de vida das pessoas que vivem ali sem dinheiro para o mais básico, e também contrapôs com cenários amplos belíssimos de locações estratégicas para manter a paz do jogo, ou seja, um trabalho bem feito de produção que como disse acima poderia ter empolgado demais em cada cena se desejassem, e até mesmo as duas cenas "mais" impactantes (da derrota e da inundação) soaram jogadas na trama pelo erro de direção.

Enfim, volto a frisar que não é um longa ruim, muito pelo contrário, é bem agradável e gostoso de assistir, é bonito pelas boas lições, mas falta muito para ser considerado um filme memorável que possa ser lembrado nos clássicos longas biográficos de esporte. Portanto, veja o longa quando puder e se inspire tirando algo dele, mas certamente você não irá lembrar da lição pelo filme, e sim pelo teor da situação, pois o longa como disse será esquecido bem rapidamente. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais algum texto de filmes que não apareceram no interior.

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