Enterre Seus Mortos

11/04/2025 01:51:00 AM |

O principal problema do longa "Enterre Seus Mortos" é fazer com que o público se envolva com a trama confusa meio que jogada na tela, pois a maioria está acostumado com tramas que vão sendo lapidadas e entregues durante toda a dinâmica, enquanto aqui temos tudo acontecendo e sem grandes aberturas, com um tema em pauta pesado e fora de muita conexão, ou seja, a grande parte dos espectadores vai achar tudo absurdo e bizarro, mas se adaptarmos na mente algumas dessas abstrações, o resultado acaba sendo incrível, e é provavelmente essa a loucura que o diretor quis passar! Claro que não é um filme fácil, e para "amenizar" foi colocado algumas pontadas meio que humorísticas, e isso balança um pouco a trama, mas não é nada que durante a sessão canse ou atrapalhe o resultado final.

O longa acompanha a rotina de um removedor de animais mortos chamado Edgar Wilson. Edgar trabalha pelas rodovias perigosas de uma peculiar e pequena cidade fictícia conhecida pelo nome de Abalurdes. A morte já faz parte do cotidiano de Edgar e de seu colega de trabalho Tomás, um ex-padre excomungado. Nete (Marjorie Estiano), chefe dos dois e namorada de Edgar, é quem passa as ocorrências de bichos atropelados pelas estradas. Tudo parece seguir seu curso normal, até que, um dia Edgar é forçado a violar as regras do seu trabalho, e o caos passa a imperar em sua vida e na cidade. Rumos inesperados tomam conta da vida do taciturno removedor quando sinais do apocalipse se mostram cada vez mais presentes.

Se o primeiro filme que vi do diretor e roteirista Marco Dutra me fez o odiar, com seus últimos trabalhos que conferi passei a gostar muito de seu estilo, afinal ele consegue fazer um terror sem usar os clichês óbvios do estilo, brincando com facetas pouco exploradas ou então dando vértices malucos e tão abstratos para tudo que o resultado acaba sendo diferenciado demais, e esse seu novo longa é bem nessa segunda opção, pois temos muitas coisas abstratas para mostrar um fim do mundo tradicionalmente brasileiro, com uma pegada maluca aonde tudo pode acontecer, e por mais doido que possa parecer, o resultado faz algum sentido, então funciona na tela, e mostra mais uma vez que o diretor é um dos grandes nomes do país nesse estilo fora da casinha.

Quanto das atuações, tem alguns filmes que Selton Mello me irrita e fica parecendo o mesmo personagem de sempre, mas quando ele quer realmente atuar, sai debaixo, pois ele se joga, e aqui seu Edgar Wilson é imponente, cheio de presença, estranho como deve ser, e nos atos finais ainda mostra uma personalidade tão irreverente e marcante que certamente entrará para a lista de seus personagens favoritos, ou seja, deu seu show fazendo bem feito. Danilo Grangheia entregou para seu Tomás um misto entre matador de filmes de velho oeste com um padre, de modo que teve nessa mistura boas nuances junto do protagonista e conseguiu chamar atenção em atos mais fechados, porém dava para ter trabalhado mais cenas dele, o que talvez mudaria um pouco o roteiro, mas fez bem o que tinha de fazer. Já Marjorie Estiano e Betty Faria trabalharam suas Nete e Tia Helena com personalidades ao mesmo tempo diferenciadas, mas conflitivas, tanto que a jovem tem toda uma paixão pelo protagonista, mas está tentada a entrar na religião pela tia, e a tia não curtindo muito o namorado da moça faz entregas estranhas na tela, ou seja, juntas foram bem, mas sem ir muito além. Quanto aos demais, diria que Vittória Seixas entregou sua Mariana interessante na tela, mas apenas como uma criança que aparenta ser a guru da nova seita, sem grandes nuances que impactasse realmente na tela.

Visualmente a trama tem um clima árido, uma cidadezinha bem estranha, chuvas de pedras gigantes bem de forma apocalíptica, algumas caminhonetes antigas, o moedor de animais encontrados, alguns acidentes bem intensos, a casa dos protagonistas mostrando mais os quartos do que outros ambientes, e claro o culto passando na TV com suas ideologias, as bebidas estranhas, alguns corpos empalhados, alguns casulos estranhos pingando a água dos chás, e claro algumas armas interessantes, tendo situações bem colocadas em momentos fortes, mostrando que a equipe de arte trabalhou bastante, mas também sem causar muito no público, tirando claro o monstro estranho que aparece em uma cena.

Enfim, é um filme diferenciado dos padrões que muitos estão acostumados a ver, que funciona na tela e tem uma boa pegada, valendo a indicação para mostrar formas diferentes de terror que o cinema nacional também pode entregar, então fica a dica para irem conferir. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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