Django Livre

1/19/2013 01:45:00 AM |

Existem filmes que quando você sai da sala do cinema, está mais eufórico do que quando estava com vontade de assisti-lo. "Django Livre" pode ser mais um considerado desse estilo, pois a vontade que se tem, mesmo sabendo que não deve fazer, é de ao final da sessão levantar e aplaudir de pé a obra prima que Quentin Tarantino conseguiu nos mostrar. Posso falar que já vi muitos filmes, mas nenhum pode ser comparado ao que temos nessa obra completa de bom roteiro, maravilhosa direção e excelentes atuações que somado tudo temos um filme genial.

O longa nos mostra que Django é um escravo, comprado pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz para auxiliá-lo em uma missão. A dupla acaba fazendo amizade e, após resolver os problemas do caçador, parte em busca por Broomhilda, esposa de Django. Para isso, eles devem enfrentar o vilão Calvin Candie, proprietário da escrava.

Aqui diferentemente de seus últimos filmes, Tarantino opta por não fazer um longa dividido em capítulos, o que na minha concepção ficou bem mais interessante sem termos interrupções e com isso tivemos um ritmo mais cadenciado que faz toda a passagem desde Django sendo liberto até a busca por sua amada, e com isso envolvendo várias histórias no meio do caminho. O que é bacana que a história mesmo sendo bem longa(165 minutos), ela é contada de uma forma tão gostosa de se assistir que passa voando. Claro que por ser um filme de Tarantino não espere nem um pouco por economia em sangue, pois tudo é altamente explodido pelos tiros de forma que se alguém for meio fraco pode até passar mal. Os ângulos escolhidos para capturar as cenas são um show a parte, pois a cada momento a câmera está num lugar nos colocando como se estivéssemos junto dos protagonistas em cada cena. Maravilhosa a mão do diretor tanto para escrever a história quanto para escolher a melhor forma de filmar.

No quesito atuação, sempre tem algum personagem que você não vai gostar, isso ocorre em todos os filmes, mas aqui não tem como, pois todos sem falsa modéstia estão dignos de serem indicados à prêmios. Começando por Jamie Foxx que faz um bom protagonista, não diria que chamou a responsabilidade do longa pra si, mas as expressões que faz em muitos momentos mostram que não foi escolhido ao acaso, extraindo de seu personagem uma força visceral para tratar com ódio tudo que faz, e nas cenas que "humilha" os de sua cor é notável em seu olhar a dor interna. Christoph Waltz é o cara, podemos definir ele como o homem que caiu na mão de Tarantino leva todos os prêmios possíveis, e não é pra menos, seu personagem se coloca a frente de forma perfeita, cadenciando as cenas, dando interpretação e deixas para os demais personagens, volta e faz tudo com a interpretação máxima que alguém poderia dar, é literalmente perfeito em todas as cenas, fazendo com que piadas e momentos sérios sejam totalmente confundidos e linkados de forma adequada. Leonardo DiCaprio finalmente faz um papel que merecia ser seu embora seja novo demais para o personagem, assume uma outra faceta e decola dando carisma para um "vilão" que passamos a gostar ao invés de odiar, suas interpretações soam gostosas e bem divertidas em todos os momentos. A grande surpresa do longa fica com Samuel L. Jackson, que sempre atuou da mesma forma em seus 138 filmes anteriores, consegue vir com um personagem perfeito, com trejeitos dignos de ter sido indicado à prêmios, fazendo a cada momento que esteja presente em cena que queiramos que fique ali o restante do longa e se duvidar pediríamos para que aparecesse antes, pois é excelente o que faz. Dos demais personagens, todos estão muito bem encaixados e com diálogos concisos sempre deixando para que os protagonistas finalizem as pontas e agradem, o destaque feminino desses personagens embora não se expresse muito falando é Kerry Washington, mas quando mostra interpretação corporal, faz muito bem. Outro destaque entre os coadjuvantes está na pontinha que o próprio diretor faz para brincar e como disse para alguns amigos que foram junto na sessão eu colocaria a cena no final para acabar com ela(melhor não falar mais nada para não dar spoilers).

A arte do longa está impecável retratando os western spaghetti de forma brilhante porém com toques tarantinescos, dando aquele ar de loucura que só o diretor tem, mas em cenários grandiosos e bem colocados pela direção de arte. Como já disse temos sangue e vísceras para todo gosto, voando tudo a cada tiro dos revólveres, pode até parecer meio exagerado em algumas cenas, mas confesso que gostei bastante. A fotografia trabalhou com cores mixadas, puxando para o sépia em alguns momentos, afinal estamos falando de um longa do gênero western, mas sem exagerar, e sempre recaindo no vermelho devido claro à alta quantidade de sangue em cena. Sempre é visto as sombras bem trabalhadas e isso acho bom demais, pois recai a premissa de que algo vai acontecer sem precisar dizer.

A trilha sonora escolhida para o longa é outro festival de músicas perfeitas, daquela que com certeza você tem de ter em casa e aonde estiver, contando com trilhas de Ennio Morricone apenas para degustar, mas com muito mais canções cantadas que agradam na medida passando desde os tradicionais acordes westerns, passando por canções pop numa levada diferente e colocando até um hip hop com a batida western ao fundo, ficou muito bacana de ouvir e todas sem dúvida encaixaram perfeitamente no longa. Como disse vale muito escutar tanto na forma original para ver como foi bem encaixada na trama, quanto ouvir depois em casa.

Enfim, um filmaço com todas as honras possíveis, que deve ser visto e revisto muitas vezes no cinema e claro ter na prateleira para conferir mais quantas vezes quiser. Recomendo muito que se veja legendado, pois fizeram todas as legendas, aberturas e transições escritas da forma original que eram os western, e novamente nos impressiona com tudo escrito no nosso idioma usando as fontes inclusas nos originais todas desenhadas e trabalhadas. Bem é isso o que tinha para dizer sem lotar vocês de spoilers sobre o filme, pois a história para se contar contaria muita coisa importante, então recomendo que vejam e depois comentem aqui para discutirmos mais horas a fundo. E eis que sai o nosso primeiro 10 coelhos do ano, se bem que queria dar 11, mas não possuímos essa nota. Abraços pessoal, estamos apenas começando essa semana que promete ser bem recheada, e até bem breve.


8 comentários:

Valérie Roberto disse...

Oi Fernando!
Ontem eu assisti Django, mas antes assisti A Viagem. Pois é, fiz esta loucura de assistir dois filmes com quase 3 horas e não me arrependo.

Sou fã de Tarantino desde Cães de Aluguel e sempre assisto que me cai no colo com sua assinatura, Django realmente não decepciona, muito pelo contrário, é perfeito.

Nas legendas vermelhas e na abertura do filme, me deu saudades de uma época que a minha família sentava-se a tarde frente a TV para assistir a Sessão Fora da Lei na TV Globo. Eu vi um pouco de E o Vento Levou nas legendas brancas e na Irmã de Calvin Candy. E por falar em Calvin Candy, Leonardo di Caprio não me decepcionou, mas também não me surpreendeu. Trabalhou super bem, mas perto da atuação de Waltz, Jackson e Foxx, na minha opinião, ele precisaria ter feito mais. Pouco psicopata para um Sr. de Escravos.

Mas o mais impressionante é a maneira como Tarantino toca na ferida da Escravidão Americana e no preconceito. Talvez para nós brasileiros, não seja tão chocante, porque sempre falamos da dor da escravidão em filmes e novelas. Mas para o americano, que cobriu com o véu de romantismo e comédia esta época, dói mais.

No mais, adoro ação, adoro Tarantino, adoro filmes com soutaque sulista americano.

Desculpe o imenso comentário. Acho que quem gosta de Tarantino é prolixo por natureza

Abçs

Fernando Coelho disse...

Olá Valérie, realmente você foi corajosa!! 6 horas no cinema é pra poucos!!!
Não tem porque se desculpar do imenso comentário não, estamos aqui abertos para uma discussão saudável e principalmente quando vem assim sem spoilers é mais do que bem vinda porque incrementa o texto!!
Mas quem disse que todo dono de escravos teria de ser psicopata? Tudo bem que no caso do personagem do DiCaprio deveria ser um pouquinho mais, já que preferia escravos de um outro porte né! Mas as atuações na mão de Tarantino não tem como dar errado, ele além de um bom diretor de câmera é um exímio diretor de atores!! E a forma que ele toca no lance da escravidão concordo em muito com o que você disse, afinal aqui já acabou meio como um cliché a escravatura, enquanto lá ainda existem alguns estados que possuem escravos mesmo que licenciados, mas possuem, então Tarantino espeta bonito e quem sabe por isso, já que os velhinhos do Oscar devem ser desses adoradores da época da escravidão, prefiram eliminar ele dentre os ganhadores. Abraços e muito obrigado pelo comment.

Valérie Roberto disse...

Fernando, é verdade. Nem todo dono de escravo é psicopata, mas sabemos que os vilões de Tarantino vão ao limite. Não é que não gostei de Di Caprio como Calvin Candy, mas sei lá, faltou alguma coisa... Uma amiga costuma dizer que o que estraga Di Caprio é a voz e o rosto de adolescente que ele tem. Pode ser. Mas ele foi tão adulto, tão forte na "Origem".

Ah, outra coisa que adorei no filme, foi a cena da cavalgada, quando o Big Daddy (adorei também Don Jonhson) vai atrás de Django e o Dr. Um outro crítico, disse que lembrava Monty Pyton. Também achei.

Outra: a homenagem a Franco Nero, o primeiro Django. Muito legal!

Ahhh, eu tenho que assistir de novo!

Fernando Coelho disse...

Verdade Valérie... sua amiga está certa, a cara de bebe dele mata... e olha que saiu uma reportagem hoje falando que já está cansado, que quer parar por um tempo... também com o dinheiro que tá até eu parava por um tempo... kkkkkk...
Homenagens é o que não falta nos longas do Tarantino. Essa cena da cavalgada eu quase me mijei de tanto rir, muito bom mesmo.
Também quero rever, mas agora vai ser corrido com tantas estréias, mais os filmes do Oscar pra ver, tentarei arranjar uma brecha pra ver de novo.
Abraços!!

Valérie Roberto disse...

Fernando, eu queria ter o seu trabalho! rsrs Só que não seria tão piedosa com alguns filmes não...rsrsr Bom trabalho!

Fernando Coelho disse...

Rsrs Valérie, quem dera esse fosse meu trabalho!!! É um hobbie mesmo que gosto muito. Infelizmente ainda não dá para ganhar dinheiro nem como crítico nem como produtor de cinema(que é minha formação) no interior do Brasil, então tenho de trabalhar em escritório para poder arranjar dinheiro e ver todos os filmes que é meu vício!! Só sou um pouco piedoso com alguns filmes porque sei como é fazer um já que fiz faculdade disso né, diferente de muitos críticos por aí que fizeram jornalismo ou publicidade e não têm noção alguma do que é fazer 9 filmes na carreira e terminando o 10°. Abraços.

EderGustavo disse...

Excelente o filme Fernando, vale a pena!! O Django teve aulas com o Chuck Norris! rs

Fernando Coelho disse...

Boa Eder... mas o Chuck nem precisaria chegar perto pra atirar... ele já acabaria com o povo sem piedade bem antes de conversar. Rs... Abraços.

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