Love Lies Bleeding - O Amor Sangra

5/04/2024 02:26:00 AM |

Costumo dizer que dentro de uma ficção você pode inventar o que quiser, afinal tudo é permissivo desde que você não tente levar para o lado mais realista, pois aí você pode usar todas as figuras de linguagem possíveis, mas sem sair de uma base sólida, e infelizmente ao meu ver (pois sei que muitos irão por outro caminho) essa foi a maior falha de "Love Lies Bleeding - O Amor Sangra", que estava indo numa lógica de filme policial interessante, com os famosos e conflitivos romances, as reviravoltas de defender o seu amor enfrentando tudo e todos, crises de ciúmes e tudo mais, e dava para ir para rumos finais intensos e bem colocados, porém a diretora resolveu sair de sua cadeira e inventar moda numa alegoria fantasiosa tão fora de si, que a sala inteira do cinema se descambou a rir que o longa que era um drama/policial virou uma comédia do absurdo de nível gigantesco com a escolha das cenas finais. Claro tem simbologia, dá para interpretar de diversas maneiras, mas é o tipo de coisa que você não faz em um filme que está com uma proposta séria, ou então você faz e coloca seu longa apenas em festivais alternativos, pois comercialmente garanto que a maioria irá rir, alguns vão desistir de ver o restante querendo ir embora do cinema (mesmo sendo uma das últimas cenas), e confesso que mesmo eu que costumo ver muita coisa estranha em festivais não esperava de forma alguma acontecer o que aconteceu, de tal maneira que só me vi balançando a cabeça sem acreditar no que estava aparecendo na tela. Ou seja, diria que é um filme 90% excelente e interessante, que numa analogia de comida o preparo estava delicioso, e com a mesa pronta e todos sentados para degustar, alguém vai lá e joga gasolina no fogão.

O longa é um romance ambientado na década de 1980 que acompanha a vida da reclusa gerente de academia Lou, que acaba se apaixonando por Jackie, uma ambiciosa fisiculturista que viaja da cidade até Las Vegas em busca de seu sonho. Mas essa história de amor fulminante entre elas desencadeia a violência, puxando-as profundamente para a teia da família criminosa de Lou, resultando em um romance cheio de ego, desejos, sangue e vingança.

Volto a frisar que é totalmente possível de entender a analogia que a diretora e roteirista Rose Glass quis passar com a mulher gigantesca no melhor estilo Hulk possível no ato final, delas se sentirem grandiosas em conseguirem seus objetivos e salvar uma a outra e tudo mais, porém isso dava para ser feito sem precisar transformar seu longa em uma comédia, porém são escolhas, e facilmente o longa dela tem uma aura mais de Festival, tem uma pegada de longa mais antigo mesmo, que até sai do padrão normativo que muitos andam seguindo, porém se desde a primeira cena ela tivesse entregue tudo como uma grandiosa fantasia, sem tentar recair para algo mais sério, aí eu sairia aplaudindo, rindo e vibrando com tudo. Ou seja, a diretora tinha duas possibilidades, a de fazer um filme irreverente sobre o mundo incorreto das drogas, apelando para algo escrachado que ainda assim poderia ser forte, ou então trabalhar tudo como um drama policial sério e fechar seu filme de uma forma séria (talvez algo meio "Thelma & Louise"), mas juntar dois estilos opostos ao meu olhar é errar e me fez pensar o quão fora da casinha ela estaria para criar esse final.

Quanto das atuações, já vi Kristen Stewart fazendo alguns papeis bem melhores do que o que entrega aqui para sua Lou, pois a jovem personagem até tem um ar meio depressivo funcional da época, mas a atriz não tentou explodir ela para algo que chamasse atenção realmente, sendo uma boa ocultadora de provas, mas faltou atitude para empolgar realmente. Já Katy M. O'Brian trabalhou bem sua Jackie como uma boa fisiculturista, talvez um pouco viciada demais nas drogas, mas por já ter sido do esporte antes de virar atriz, conseguiu personificar bastante seus momentos e chamar atenção (diria até demais no último ato!). De cara já dava para saber os atos da personagem Daisy que Anna Baryshnikov fez, e chega a ser irritante sua personificação ao ponto de querermos que suma logo de cena, e como já disse isso em outros textos, isso não é algo ruim, muito pelo contrário, mostra que determinado ator/atriz conseguiu mudar seu personagem para rumos que incomodam e funcionam, ou seja, mesmo aparecendo pouco foi muito bem em cena. Quanto dos demais, diria que Dave Franco apareceu pouco com seu JJ, mas deu motivos para tudo o que ocorre com ele, Jena Malone fez de sua Beth a tradicional mulher que quase morre de apanhar, mas ainda assim fica triste com a morte do agressor, mas sem dúvida todos os olhares se focam no cabelo de Ed Harris como o pai de Lou, sendo um personagem bizarro, estranho e tudo mais, mas que entrega muito em seus atos.

Visualmente a trama trabalhou bem o clima oitentista, brincou com nuances em tons diferentes para quebras de clima, e mostrou um pouco desse mundo esportivo competitivo, misturando com drogas, excesso de academia e mais drogas, armas, violência e tudo mais, não recaindo tanto para o lado do fisiculturismo, mas tendo elementos para criar o ambiente criminoso da família e tudo mais, mostrando que a equipe de arte teve o cuidado em preservar bem a essência da época.

Enfim, como já repeti muitas vezes, eu gostei do filme, da ideia em si, mas achei a pior finalização do mundo, de tal forma que achei algo imperdoável, pois eu esperava qualquer coisa da trama, sei que a A24 gosta de filmes diferentes, com uma proposta mais cult e artística, mas saíram demais da casinha. Ou seja, não é um filme que posso dizer que recomendo, pois muitos que não forem para esse estilo mais de festival irão querer me xingar depois, então digo apenas que vejam um bom filme, se preparando para o pior final que já viram na vida, que aí talvez o longa fique mais atrativo. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...