Chacrinha - O Velho Guerreiro

11/12/2018 12:22:00 AM |

Algumas biografias são lançadas e conseguem contar toda a história do homenageado, outras procuram trabalhar momentos-chaves da história, e algumas vem apenas para mostrar algum detalhe que marcou a pessoa, mas na maioria das vezes recaem de tantas críticas em cima, que poucos acabam gostando do que veem na telona, e/ou acabam desconexas demais tendo tantos erros que muitos já conhecendo os personagens atacam que os filmes acabam soando falhos demais. Então se é um nicho que sempre pode ser aproveitado por ter tanta gente que fez algo no mundo e que alguns não os conheceram como pessoa, sempre teremos muito para ver, e quem sabe sair felizes (ou não) com o resultado apresentado. Inicio o meu texto de "Chacrinha - O Velho Guerreiro" dessa forma, pois diria que vi bem pouco o programa do Chacrinha, e após diversas homenagens que já tivemos, programas especiais, livros, e tudo mais, acredito que esse novo filme de Andrucha Waddington seja o que mais tentou apresentar para quem não conheceu esse grande comunicador, como foi seu início, como foi seus desencontros e brigas com os diretores das TVs, casos, e tudo mais, mas por querer mostrar "tudo", o longa acaba sendo acelerado demais, e bagunçado demais, tendo algumas falhas técnicas inadmissíveis como por exemplo dublagens em cima de dublagens sem sincronização correta de lábios e vozes para as canções de artistas consagrados, parecendo um grande concurso de fantasias apenas, o que é muito ruim de ver. Ou seja, é um filme interessante para conhecer o velho guerreiro, mas confesso que tem excessos demais para impressionar como poderia, veremos o que a Globo deva fazer quando for lançado como série em vários capítulos, pois no cinema as sessões estão bem fracas de público, e com razão.

O longa conta a história de José Abelardo Barbosa de Medeiros. Na juventude ele se envereda pelo rádio e depois se consagra na TV como Chacrinha. O Velho Guerreiro apresenta programas como Discoteca, Buzina do Chacrinha e Cassino do Chacrinha, contando com show de calouros e apresentações de cantores de sucesso.

O trabalho de Andrucha é sempre bem marcado, e mesmo tendo alguns filmes exagerados ultimamente, ele sempre é coeso na dinâmica de seus personagens, e aqui não foi diferente, de modo que conseguiu trabalhar a história completa de Chacrinha de forma sintética e bem colocada, mesmo que para isso precisasse acelerar num nível máximo. Claro que ele já tinha bem a base da trama, pois já vem andando faz tempo com a direção da peça teatral "Chacrinha, o Musical", e com isso apenas foi necessário desenvolver mais a temática emocional e dramática do longa, complementando com os shows ao redor, e sem precisar apelar, o diretor entregou algo simples e eficaz, principalmente para quem não conheceu a vida do protagonista, mas infelizmente o diretor foi seguro demais no que sabia, e acabou cometendo algumas falhas graves, a primeira no conceito de velocidade, que fez de seu filme algo que talvez pudesse ser alongado mais, desenvolvendo um pouco mais do início da carreira num primeiro ato maior, e depois desenvolver um pouco mais o segundo e mais controverso período da vida de Chacrinha, que foi onde ganhou fama, e teve grandes momentos também, mas como teve a façanha de entregar algo como homenagem, acabou diluindo os grandes problemas e apenas colocou as situações jogadas no ar para quem quisesse pegar. O segundo grande problema ficou no desejo de querer mostrar todos, ou grande parte dos grandiosos artistas que foram lançados por Chacrinha, que como são vozes marcantes, seria extremamente difícil arrumar alguém com o mesmo timbre e que agradasse musicalmente também, então optou por arrumar pessoas bem parecidas, no melhor estilo de cosplay possível, e colocou eles para dublarem as canções originais dos artistas, de modo que ficou uma micagem imensa com vozes e bocas mexendo de forma absurdamente errada, ou seja, algo horrível de presenciar, pois como bem sabemos o personagem tinha um concurso de calouros e não um concurso de imitações de cantores, ou seja, falhou e muito nesse quesito, embora ainda seja divertido ver a tentativa de mostrar os grandes nomes da música nacional em suas juventudes.

Sobre as atuações, temos muitos personagens icônicos em jogo, mas tenho de falar que não esperava que Eduardo Sterblitch se saísse tão bem em um personagem que não fosse bobo da corte e cheio de trejeitos como costuma fazer, de modo que acabou entregando até que bem seu José Abelardo Barbosa como um sonhador, que desejava ganhar muito dinheiro na rádio, e foi apenas galgando em cima de grandes idéias até chegar aonde chegou, teve alguns deslizes exagerados, mas nada que ficasse jogado ao extremo. Na sequência já entra o cara que virou o Chacrinha atualmente, Stepan Nercessian, que já vem fazendo esse papel em especiais, no musical de Andrucha e que soube dosar bem o estilo que o personagem tinha de vida e de showman, de modo que vemos praticamente uma reencarnação na telona, caindo muito bem em trejeitos e estilos. Além deles, tivemos grandes colocações expressivas, primeiro na boa personificação da esposa Florinda, que foi vivida no começo pela bela Amanda Grimaldi e depois por Carla Ribas, tendo juntas vivido bons momentos em cena dando boas jogadas com os protagonistas, sendo sinceras em olhares e agradando bastante. Depois tivemos os três filhos sendo bem ligados ao pai no serviço e entregando boas dinâmicas, e claro paquerando muitas artistas que apareceram ali, tendo destaque claro para Pablo Sanábio que fez tanto o galanteador Nanato, que acabou sofrendo um grandioso acidente, e também fez o outro filho do protagonita, Leleco, e claro Rodrigo Pandolpho que fez o terceiro filho, Jorge, que sempre estava no meio dos conflitos. Outra grandiosa surpresa ficou a cargo de Giane Albertoni, que era mais conhecida como modelo, e aqui como Elke Maravilha deu um show de expressividade e ficou muito semelhante à russa que era considerada quase como filha de Chacrinha, ou seja, uma bela atuação também. Outros dois que foram bem colocados foram Gustavo Machado e Antonio Grassi como o Oswaldo, o grande parceiro de Chacrinha que auxiliou muito ele no crescimento do artista desde o começo, e claro Thelmo Fernandes como Boni, o grandioso "dono" da Globo. Agora quanto aos demais, é melhor pular, pois tivemos coisas bem estranhas aparecendo na telona, com leve destaque para Laila Garin como Clara Nunes, mais pelo conflitivo breve relacionamento com o protagonista do que mesmo pela sua atuação.

No conceito visual, a trama trabalhou bem com os diversos cenários dos programas de Chacrinha, brincou com a era de ouro do rádio e seus programas de auditório, teve boas colocações cenográficas para os diversos figurinos e caravanas, e claro moldou o show como deveria ser, usando muito de material de arquivo para se auxiliar, fazendo um longa praticamente sem erros nesse conceito. A fotografia também trabalhou de um modo bem colorido, cheio de tons como eram os programas do Chacrinha, e mesmo tendo alguns momentos mais densos, preferiram não criar tons mais neutros e nem escuros, deixando a alegria prevalecer.

Enfim, é um filme bacana, que poderia ter ido bem além, e talvez trabalhado com vértices diferenciados para não ficar tão em cima dos musicais, já que não quiseram pessoas cantando versões, ou ao menos treinassem melhor os artistas para dublarem melhor e parecer que estavam realmente cantando. Além disso, poderiam também ter escolhido uma época específica para focar, para que o longa não fosse tão acelerado, mas tirando esses defeitos principais, é um filme que vale a pena ser conferido para conhecer um pouco mais sobre quem foi esse grande comunicador do país. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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