Green Book - O Guia (Green Book)

1/26/2019 02:36:00 AM |

Olha, já tivemos muitos filmes envolvendo questões de preconceito, racismo e tudo mais de ruim que esse mundão real costuma ser desenhado nas ficções cinematográficas, mas ultimamente a formatação que andam nos entregando anda tão real, que a fantasia acaba nos tocando de uma forma que cria tanta indignação, que nos bate uma tristeza tão grande ver alguns momentos que não tem como não se emocionar, ou pelo menos sentir algo pelas tramas entregues. Digo isso baseando tanto no longa que conferi ontem, quanto no de hoje, mas a diferença entre eles é gritante, pois enquanto um prezou por algo mais cru, o outro trabalhou um ar mais fantasioso, na forma como um homem preconceituoso mudou suas ideias ao vivenciar muita discriminação em cima de seu patrão por oito semanas viajando pelo sul dos EUA em plena época da segregação racial do país usando de base um livro feito para mostrar hotéis que aceitavam pessoas de cor no país, o longa "Green Book - O Guia" conseguiu trabalhar envolvimento, carisma e muita personalidade em cima da história real do pai do roteirista que vivenciou tudo o que o longa nos entrega. Diria que o filme toca, emociona, e se desenvolve de uma forma tão crível e forte que acabamos sentindo na pele tudo pelo que os protagonistas sofrem, mesmo nunca tendo sofrido qualquer tipo de racismo e/ou preconceito, e isso faz dele um filme incrível de ser assistido, que não força a barra, e acaba mesmo duro com tudo o que passa, soando gostoso pela amizade criada, e pela mudança na vida do protagonista.

A sinopse nos conta que quando Tony Lip, um segurança ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley, um pianista negro de classe alta, durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir o `O Guia´ para leva-los aos poucos estabelecimentos que eram seguros para os afro-americanos. Confrontados com o racismo, o perigo – assim como pela humanidade e o humor inesperados - eles são forçados a deixar de lado as diferenças para sobreviver e prosperar nessa jornada.

Chega a ser irônico vermos uma trama com um tema forte tão bem desenvolvida de uma maneira harmônica e bem humorada, mas se olharmos o currículo do diretor Peter Farrelly, vemos que basicamente ele só fez comédias bem escrachadas, e aqui é sua tentativa de algo mais dramatizado, e que deu muito certo principalmente por ter uma história muito boa por trás, afinal um dos roteiristas é filho do verdadeiro Tony Vallelonga, e Nick inclusive aparece no filme como o mafioso Augie, ou seja, tivemos algo bem moldado para que o diretor trabalhasse a essência, e encontrasse meios sutis e gostosos de passar olhares, sentimentos e claro muito ódio preconceituoso em cima da trama para que seu filme fluísse corretamente e passasse o que tanto desejava que víssemos, que era a possibilidade de alguém completamente preconceituoso, que não é um americano nato, mudasse seus conceitos pela vivência, ou seja, um filme forte, porém entregue com doçura e sinceridade, que acaba envolvendo o público, e claro fazendo com que todos se emocionem com a entrega dos atores para que o diretor pudesse brilhar também.

Sobre as atuações, se em 2017 continuo considerando bem injusta a premiação de Mahershala Ali em "Moonlight", aqui o ator demonstrou uma segurança tão forte na condução de seu Don Shirley, com uma postura precisa, olhares e trejeitos bem colocados, dinâmicas corporais fortes sem precisar de se impor, que ficamos grudados em seus atos, simpatizando com cada momento, e até torcendo para ele em tudo o que faça, ou seja, agora sim é o seu momento de vitória, e iremos torcer com unhas e dentes por muitos prêmios, pois ele foi incrível. Da mesma forma, Viggo Mortensen conseguiu colocar para seu Tony algo tão bem posicionado, cheio de virtudes, com trejeitos até razoavelmente caricatos, mas que com muita desenvoltura acaba entregando uma personalidade marcante de muita amizade que nos faz irmos na sua mesma onda, agradando demais em tudo o que faz em cena. Dentre os demais até temos bons momentos com Dimiter Marinov com seu Oleg, que nos fazem olhar um pouco de forma cética para seu papel, mas certamente o destaque secundário fica para Linda Cardellini com sua Dolores, cheia de paixão, mas principalmente de coração, que consegue emocionar a todos com seu olhar doce e esperançoso em todas as cenas.

No conceito visual, o longa é muito bem exposto dentro de um road-movie pelo sul ultra-racista dos EUA, mostrando diversas lojas, restaurantes, bares, e claro até mesmo as festas de elite aonde o grande pianista entra para tocar, mas tem de viver momentos vexaminosos de uma maneira tão horrenda que chega a dar vontade de bater nas pessoas, como o protagonista faz em diversos momentos, e dessa forma trabalhando bem com coerência com a época, entregando boas locações e momentos bem desenvolvidos, a equipe de arte consegue encontrar detalhes para que cada ato fosse bem montado, e principalmente passasse a ideia que o longa pedia sem precisar partir para algo mais cru, ou seja, foram dinâmicos e coesos, envolvendo cada ato como se fosse único. A fotografia também se deixou levar pela dinâmica, trabalhando sempre tons bem leves ao redor dos protagonistas nos momentos mais descontraídos, e puxando toda a densidade para tons escuros em cada ato que parecia rumar para o conflito, de modo que o resultado até acaba brincando com a ideia, e assim funcionando bem.

Enfim, um longa com uma temática bem forte, que foi desenvolvido com eximia precisão para não ser cansativo nem chato como muitos desse estilo costumam acontecer, o que faz com que um público mais abrangente confira o longa e se divirta, emocione, reflita, e tudo mais que a ideia completa pode passar, ou seja, mesmo com leves momentos talvez fora de eixo, que poderiam até ser eliminados, recomendo demais a trama para todos, pois é algo que vale muito a conferida, e certamente me vi com os olhos bem marejados ao final por toda a essência e beleza passada no conceito da amizade que o filme conseguiu se verter. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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