A Esposa (The Wife)

1/13/2019 02:16:00 AM |

Sempre achei interessante que ouvimos muito que uma esposa muda a vida de um homem, e diversos filmes também nos mostram isso, mas o que vemos em alguns casos de submissão, aonde alguns homens se sobrepõem às esposas, obrigando-as que parem de trabalhar com o que gostam, e por vezes até as utilizando para sair-se bem em algo de sua vida e/ou profissão é algo que não tem como achar bonito, e até magoa a forma que isso é mostrado com tanta frequência. Pois bem, pode até ser um leve spoiler, mas isso é a forma dura que vemos em "A Esposa", e que muito me remeteu ao longa que conferi ontem, "Colette", pois aqui a protagonista passa quase pelos mesmos abusos, só que enquanto a francesa saiu para o mundo, aqui a inglesa se manteve fiel ao amor pelo marido, engolindo sapos e tudo mais para manter a compostura, e claro a classe, e nada melhor do que a escolha do elenco para representar bem isso, pois Glenn Close consegue mostrar força e amadurecimento a cada cena sua na tela, o que faz o filme ser até melhor desenvolvido pelas atuações do que pela história em si.

A sinopse nos conta que enquanto viaja para Estocolmo com o marido, que receberá o Prêmio Nobel de Literatura, Joan questiona suas escolhas de vida. Durante os 40 anos de casamento, sacrificou seu talento, sonhos e ambições, para apoiar o carismático Joe e sua carreira literária. Assediada por um jornalista ávido por escrever uma escandalosa biografia de Joe, agora Joan enfrentará o maior sacrifício de sua vida e alguns segredos há muito enterrados finalmente virão à tona.

O diretor sueco Björn Runge não é muito conhecido por esses lados, mas soube trabalhar bem os dois lados de sua trama, o drama da esposa em ser calada e reflexiva em cima de algo problemático na relação com o marido, que já perdura por muitos anos (e que vemos ocorrer nos diversos flashbacks), e também toda a loucura em cima dos bastidores de um prêmio Nobel. E felizmente um dos grandes acertos do diretor foi trabalhar seu longa dramático sem ser cansativo demais, pois geralmente esses estilos costumam ser enfadonhos de acompanhar, mas com sabedoria ele pegou o livro de Meg Wolitzer e desenvolveu bem cada ato para mostrar a submissão, e claro o cansaço mental por trás de tudo o que a protagonista está engolindo durante todos esses anos para que seu marido se tornasse imensamente famoso. Claro que o longa poderia ter seguido rumos completamente diferentes, mas ao conseguir manter toda a essência em cima da protagonista, o diretor causou não só um incômodo visual, como também mostrou o quanto esconder algo para beneficiar alguém pode ser devastador, e assim sendo, o resultado do longa embora seja simples, acaba fluindo melhor pela boa síntese dos protagonistas.

Sobre as interpretações, é fato que Glenn Close é uma atriz incrível, consistente e principalmente que sabe entregar personalidade para os personagens que lhe é entregue, e aqui com sua Joan não foi diferente, de modo que acabamos nos afeiçoando tanto que cada momento seu vira algo incrível de acompanhar e de se conectar, e outra grande sacada do longa foi trabalhar Annie Stark como sua personagem jovem de uma forma coerente e bem similar à experiente atriz, de modo que realmente acabam se parecendo as duas. Jonathan Pryce também foi bem impactante com seu Joe, entregando muita sinceridade na atuação de modo que chegamos até ficar com dó dele em certos momentos, mas em outros a vontade é de socar realmente, e assim como aconteceu com Glenn, sua versão jovem interpretada por Harry Lloyd foi de uma precisão de características que chegamos até ouvir sua voz bem encaixada nos atos, ou seja, perfeito também. Dentre os demais, tivemos cenas duras junto de Max Irons como David, o filho que almeja ser escritor como o pai, mas que tem inúmeros problemas de personalidade, e também tivemos boas cenas com Christian Slater como Nathaniel, um escritor de biografias intrometido ao máximo na vida dos personagens, e assim conseguindo criar bons conflitos.

Com um filme que se passa praticamente todo dentro de locações, como um hotel luxuoso, um bar, uma casa, uma limousine, aonde os personagens principais vão tendo suas discussões, a equipe de arte só teve o trabalho de colocar elementos de composição cênica, pois praticamente nada (tirando a cena com os livros do protagonista sendo usados para a discussão) é usado como objeto cênico na trama, e sendo assim usando de locações práticas o resultado foi bem coerente, efetivo e simples. A fotografia não ousou também, deixando o longa bem claro, usando do frio de Estocolmo para ter alguns momentos mais dramáticos sobrevoando os telhados cheios de neve, e o resultado não ficou tão denso como poderia, mas ao menos ficou interessante para não cansar também.

Enfim, é um filme gostoso e bem trabalhado em cima da proposta, mas que dependeu mais das atuações do que do texto em si, e o resultado acaba sendo simples e coerente, agradando por ver a protagonista dar um show como é de praxe. Sendo assim recomendo ele somente para quem gosta de longas dramáticos simples e bem colocados, pois os demais podem cansar mais do que o normal. Bem é isso pessoal, encerro aqui hoje a semana cinematográfica, mas volto logo mais com filmes vistos em casa, então abraços e até logo mais.

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