Amazon Prime Video - Belén: Uma História de Injustiça (Belén)

12/15/2025 01:23:00 AM |

Acho muito interessante o quanto trombo com alguns temas pelo meio do caminho nessa jornada de ver vários filmes, pois fica parecendo que escolho o que vou ver, mas a maioria é na trombada mesmo com o melhor horário ou duração para encaixar tudo, e nesse final de semana vi 3 filmes em 2 dias (1 no sábado a noite e 2 agora no domingo) trabalhando o mesmo tema de formas bem diferentes, que é o corpo da mulher, do direito dela decidir o que fazer quando engravida sem estar querendo engravidar, e o mais bacana é como cada país trata o tema, pois foi um longa americano, um brasileiro e um argentino, um com uma história original da cabeça do roteirista, outro embasado em um livro de ficção e o terceiro com uma história real que mudou as leis do país. Ou seja, é um tema de discussão ampla, que muitos tem melhores argumentos, sabem pontuar melhor, mas que vale sempre a reflexão, a apresentação na telona, e como crítico de cinema vou pontuar somente como o tema foi trabalhado na tela, sem entrar em muitas reflexões. Dito tudo isso, foi bacana ver como uma das atrizes mais famosas da Argentina está cada vez mais virando uma diretora imponente que sabe escolher bem seus temas e estar bem solta tanto na frente quanto atrás das câmeras, de modo que "Belén: Uma História de Injustiça", que pode ser conferido na Amazon Prime Video, tem uma pegada densa e muito bem retratada, aonde ela conseguiu retratar o tema e a intensidade com um olhar amplo e que refazendo muitas das cenas que apareceram em vários jornais, se impôs para que seu filme tivesse vida própria, e assim sendo, uma carga dramática bem encaixada e chamativa, aonde o tema por ser de grande exposição foi muito além das fronteiras argentinas, e atingiu o mundo no ano de 2014, e vem sendo muito debatido mundo afora até hoje.

O longa nos conta que uma mulher hospitalizada descobre que está grávida. Após uma emergência médica, ela enfrenta acusações criminais. Com o apoio de sua advogada e de defensores dos direitos das mulheres, ela luta por justiça em um caso histórico.

Em seu segundo longa como diretora e roteirista, a atriz Dolores Fonzi mostrou que tem estilo e sabe se conectar bem com o espaço, pois muitas vezes fazer o trabalho triplo de estar na frente e atrás das câmeras dá muito errado, e aqui vemos uma história difícil, cheia de dinâmicas fortes e cenas amplas que ela soube conduzir bem para que ficasse realista pela dificuldade do jurídico em qualquer país, de se conseguir os processos quando tudo parece armado, o pessoal que é contra a defesa de alguém intimidando advogados e tudo mais, ao ponto que também foi bem montada as cenas de marchas e protestos, um programa da tarde meio que absurdo e com nuances bem técnicas vemos que o trabalho da direção foi imponente e forte da mesma maneira que a atuação da protagonista, ou seja, ela foi se completando e o resultado funcionou.

E já que comecei a falar das atuações, Dolores Fonzi sempre foi uma atriz de muita personalidade, com olhares e traquejos fortes em suas dinâmicas, e aqui sua Soledad Deza foi daquelas advogadas que não aceitam o não de forma alguma, se botando na frente de tudo e sofrendo algumas consequências por ir tão a fundo, de modo que o resultado acaba sendo imponente e mostrando que a atriz ainda tem muito para entregar na tela. Camila Plaate trabalhou sua Julieta/Belén com um ar triste e difícil demais, afinal está presa por algo absurdo demais, porém deram uma baqueada demais na artista, ao ponto que chega a dar pena só de olhar para ela, o que não sei se era para estar dessa forma, mas foi bem no que fez. Ainda tivemos outros bons personagens, mas a maioria dando apenas conexões, mostrando a grande junção de mulheres para tudo, a família da protagonista nos auxílios, e tudo mais, de forma que não se expressaram para interpretar muito, mas funcionaram para o que precisavam aparecer.

Visualmente tivemos atos bem marcantes na casa da protagonista sofrendo ataques por estar defendendo a moça, tivemos atos em algumas lanchonetes, muitas cenas no fórum para tentar pegar o processo da detenta, os atos também na casa dela preparando faixas e material para os protestos, várias cenas nas ruas, e claro dentro do tribunal com os julgamentos, além de atos na prisão com a acusada, ou seja, tudo bem montado sem grandes chamarizes, mas bem feito para ser representativo na medida.

Enfim, é um longa imponente que acabou chamando muita atenção da crítica especializada, tanto que concorre junto do brasileiro "O Agente Secreto" no Critics Choice, e que vale a conferida para a reflexão sobre o caso no passado e como isso ocorre atualmente no mundo todo, então vale a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Traição Entre Amigas

12/14/2025 06:28:00 PM |

Costumo reclamar bastante quando vou conferir algum longa e acaba sendo novelesco, mas ultimamente algumas propostas nesse estilo tem funcionado bem na telona, é um exemplo é o que vi hoje com "Traição Entre Amigas" que acaba tendo uma boa quebra entre os dois lados das personagens, praticamente entregando duas histórias diferentes que se complementam dentro da intensidade, sendo algo até bacana de ver e se envolver com as protagonistas. Claro que passa longe de ser um filmaço que irei guardar na memória muito tempo, mas o resultado das discussões que a trama propõem funcionam bem na tela, é assim sendo acaba sendo gostosinho de assistir.

O longa nos mostra que Penélope e Luiza se conhecem num curso de teatro e se tornam grandes amigas. Apesar de personalidades e temperamentos opostos, as duas se complementam perfeitamente, construindo uma forte relação de cumplicidade. Luiza é uma estudiosa e dedicada estudante de psicologia. Já Penélope estuda jornalismo, mas sonha em ser atriz. A amizade das duas é abalada e posta à prova após Penélope ficar com o namorado de Luiza numa festa. Quando a traição vêm à tona, sentimentos conflituosos afloram e, entre mágoas, ressentimentos e vergonhas, a amizade das duas se desfaz. Seguindo, agora, caminhos diferentes, as duas descobrem que amadurecer é mais complexo do que imaginava. Enquanto Penélope busca recomeçar sua vida em Nova York, tentando a sorte como atriz, Luiza mergulha no universo da música e dos relacionamentos virtuais.

Um diretor que sabe fazer bem com tramas mais abertas é Bruno Barreto, de modo que seus projetos acabam virando obras pessoais reflexivas, porém acertivas com as dinâmicas, que por vezes acabam sendo até adolescentes demais, mas quando bem escritas funcionam bastante na tela, e aqui o roteirista Marcelo Saback trabalhou bem o texto em cima do primeiro livro de Thalita Rebouças, que já tem seu estilo bem definido e tem ganhado cada dia mais longas na telona, de modo que o conjunto das seis mãos funcionou bem, criando dinâmicas exageradas e até fantasiosas demais, mas que agradam quando se entrega para o resultado completo. Claro que talvez com mais tempo de tela daria para desenvolver mais alguns personagens, mas dentro das quase duas horas tudo se encaixou bem e agradou com o que mostraram.

Quanto das atuações, vemos que Larissa Manoela tem crescido bem com seus papéis, tendo um estilo característico de interpretação que funciona bem, e aqui com sua Penélope acabou exagerando um pouco nos traquejos, que talvez até seja algo próprio da personagem, mas seu jeito aparentemente meigo ficou meio em contraposição do que estava entregando na tela, ou seja, pareceu duas personagens na tela, e acredito que não era bem isso o esperado dela, mas não incomoda no resultado completo, então foi bem no que fez. Já Giovanna Rispoli entregou uma Luiza bem diferente do comum, sendo intensa e marcante, mas com nuances amplas para que sua personagem fosse marcante, mas também introspectiva, aonde a essência funciona bem e a entrega acaba sendo gostosa de ver, ou seja, foi bem no que fez. Ainda tivemos bons momentos com Gabrielle Joie com sua Emília apoiando ambas as amigas com suas dinâmicas, Nathalia Garcia com sua Yanna até parecendo ser gringa e André Luiz Frambach com seu Gabriel todo romântico, mas tendo uma bela quebra no seu ato mais impactante.

Visualmente a trama oscilou bem entre os apartamentos e casas das protagonistas e conseguiu trabalhar as dinâmicas entre Curitiba e Nova York, dando boas nuances e elementos cênicos para mostrar as vidas das personagens, tendo restaurantes, parques e tudo que complementasse e mostrasse bem a semelhante e os contrapontos entre as duas garotas, ou seja, um resultado honesto, mas simples de essência, aonde os maiores trabalhos ficaram para os atos externos e a peça teatral no começo, mas sem nada que realmente impactasse.

Enfim, é um filme simples, mas bem bacana, que mesmo sendo novelesco por essência retratou bem o momento das dúvidas entre ser mãe ou não, ser mais dada ou retraída, ter paixões ou só flertes, e tudo mais que ocorrem com as mulheres, e assim sendo o resultado acaba agradando e funcionando para recomendar para o pessoal ver. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou ver mais um longa hoje, então abraços e até logo mais.


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Entre Nós - Uma Dose Extra de Amor (The Threesome)

12/14/2025 02:56:00 AM |

Ainda está rolando o Festival de Cinema Francês, mas consegui uns espacinhos para conferir hoje os lançamentos da semana nos cinemas, e hoje acho que vi um longa hollywoodiano com tanta cara de francês que olha, se pararmos para analisar o tanto de dilemas que o diretor jogou na tela daria para fazer uns 4 ou 5 longas de temas variados, só que ele optou em colocar tudo junto. Claro que colocar tantas coisas assim juntas foi um problema gigante para se desenvolver bem na tela, porém posso dizer que o resultado de "Entre Nós - Uma Dose Extra de Amor" foi tão gostoso que mesmo sendo daqueles romancinhos confusos cheios de idas e vindas, aonde você se irrita com um personagem, depois com o outro e por fim já está xingando todos, que acabei saindo da sessão feliz com o que vi, e mostrando que ainda existem diretores com vontade de fazer algo a mais em Hollywood. Ou seja, é um filme cheio de facetas, com personagens não muito bem explorados, mas que levanta muitas bandeiras para se pensar, e assim acaba indo mais além do que apenas foi pensado.

O longa nos mostra que uma noite impulsiva leva três jovens solteiros a se unir de maneira inesperada. Connor é um rapaz num relacionamento sem rótulos ou compromisso com Olivia, por quem ele nutre uma paixão há tempos. Um dia, seu amigo Greg sugere que Connor resolva essa indecisão fazendo ciúmes em Olivia com uma desconhecida num bar chamada Jenny. A ideia atinge o alvo com louvor e Olivia rapidamente, ao ver os dois conversando e se divertindo, passa a se infiltrar no encontro dos dois, flertando não só com Connor, mas também com Jenny. Os três terminam fazendo um ménage, mas o que soava como uma fantasia única, acaba em consequências sem precedentes: as duas ficam grávidas. A vida do trio vira de cabeça pra baixo quando decisões importantes precisam ser tomadas e as famílias dos três se envolvem na confusão.

Não conhecia os trabalhos do diretor Chad Hartigan, mas posso dizer que ele soube usar o roteiro de Ethan Ogilby com uma precisão bem marcante, pois o longa em momento algum cansa, tem pegada para impressionar, e como já disse trabalha muitos dilemas na tela, ou seja, ele teve oportunidades gigantes para quebrar diversos paradigmas, e também criar sensações para o público, o que é bem raro de vermos em romances. Claro que seu filme tirando todas as mil situações conflituosas dentro de algo cotidiano, que certamente trará muitas discussões entre os mais puritanos e/ou casais "normais", segue bem a linha casual do estilo, mas a entrega acaba sendo gostosa, e isso mostra que o diretor soube segurar bem a onda, pois facilmente se a cada vértice problemático ele parasse para discutir tudo, o resultado acabaria virando uma confusão gigantesca, mas tudo seguindo a linha tradicional ao menos mostrou segurança para ele, e também para os espectadores.

Quanto das atuações, não diria que o trio protagonista entregaram um carisma suficiente para que torcêssemos por eles, pelo contrário, como disse no começo passamos a ficar até bem bravos com suas atitudes, de modo que Jonah Hauer-King foi bem cheio de traquejos com seu Connor Blake, sabendo dosar suas emoções na tela, e ficando até meio que perdido com tantos conflitos em sua vida amorosa cheia de idas e vindas, mas segurou bem toda a entrega e agradou com o que fez. Zoey Deutch trabalhou sua Olivia Capitano com muita personalidade, sabendo dimensionar bem as emoções fortes que faz na tela, sendo bem impulsiva também e agradando com o que tinha para demonstrar. Diria que Ruby Cruz fez de sua Jenny Brooks uma jovem meio que forçada na tela, pois não aparentou as emoções que tinha para entregar, e assim por muitas vezes pareceu até um pouco artificial, mas não incomodou. Foi engraçado ver as sacadas que Jaboukie Young-White fez com seu Greg Demopolis, sendo o ponto cômico para dar uma aliviada em alguns momentos mais densos da trama, e assim foi bem com o que fez. 

Visualmente a trama teve uma boa entrega, com ambientes simples, mas bem alocados, como a casa do rapaz, o casamento dos amigos gays, a casa de ambas as garotas, a bagunça da casa da irmã com a tonelada de crianças, o bar que eles trabalhavam, uma boate, uma clínica de aborto e um chá de bebê, além claro do hospital, mas sem muitas referências ou chamarizes, sendo tudo colocado no lugar certinho apenas para ser bem representativo.

Enfim, é um longa que parecia bem bobinho e acabou indo mais além na tela, que talvez uns gostem até mais do que outros, mas que vale as reflexões de como cada um agiria com tudo o que ocorre, então veja ele como algo a mais do que apenas um romance simples, e assim a dica será muito melhor. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.


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Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night)

12/13/2025 09:49:00 PM |

Confesso que ao ver o trailer de "Natal Sangrento" e já dizendo de cara que era dos produtores de "Terrifier" fiquei com dois pés atrás do que iria ver, e realmente também não me lembrava do original de 1984, apenas de algumas outras tentativas de refilmagens que eram tão toscas que nem me dava ao trabalho de conferir por inteiro. Então apenas para cumprir tabela, resolvi ir ver ele hoje da forma que mais odeio ver qualquer filme que é dublado, e por alguns instantes até achei que estava na sala errada, pois foi entrando uma tonelada de pessoas que não sei o que enxergaram na produção, mas estavam lá, e por incrível que pareça, eis que estou aqui falando que gostei do que vi na telona, sendo um filme com  uma proposta tosca, mas que funcionou dentro da tela, tendo uma boa pegada e com uma intensidade que diverte e agrada. Claro que passa longe de ser um filme memorável, mas tem uma boa pegada e consegue entreter bastante o público.

A sinopse nos conta que um homem em busca de vingança toca o terror na véspera de Natal. Tudo começa quando um menino testemunha o assassinato brutal e trágico de seus pais por um homem vestido de Papai Noel. Anos mais tarde, já um adulto, Billy vive marcado pelo trauma do passado. Uma necessidade de vingança, então, toma conta de seus dias, o que o faz assumir a identidade de um Papai Noel assassino. Dando início a uma jornada de mortes, seus planos começam a sair do controle quando ele esbarra com um jovem que pode ajudá-lo a encarar o sofrimento.

Diria que o diretor e roteirista Mike P. Nelson não quis inventar muita moda com o seu longa, e usou a base de conflitos sem muita enrolação na tela, ao ponto de mesmo com muita violência, a intensidade acaba sendo divertida e bem colocada, criando um romancinho simples, mas que funciona por eles serem ambos bizarros. E a entrega do diretor continuou bem com ângulos mais chamativos, aonde vemos sangue para todo lado, e ambientes estranhos incluindo até uma festa nazista, ou seja, foram longe com a imaginação, e sem termos planos mirabolantes, o resultado diverte quem gosta de um terror leve com boas dinâmicas na tela.

Quanto das atuações, acredito que deixaram o ator Rohan Campbell meio que perturbado demais durante a preparação para que seu Billy Chapman parecesse até meio depressivo, e isso acabou sendo um acerto por parte dele, pois o papel precisava ser meio esquisito, mas não jogado, e ele soube segurar essa intensidade no olhar, e claro nas bagunças com seu machado. Outra que aparentou ter problemas na cabeça foi Ruby Modine com sua Pamela Sims, que acaba sendo meio explosiva demais em alguns momentos, e aparentando ser doce em outros, mas sem ficar jogado na tela, e assim sendo o resultado acaba sendo bacana de ver, mostrando personalidade ao menos. Num primeiro momento o personagem de Mark Acheson parece estranho com seu Charlie, mas depois que entendemos a história, sua voz (ou melhor a voz nacional já que vi dublado) passa a ser bem marcante e chamativo, dando as devidas nuances para cada momento de "maldade" do protagonista. Quanto aos demais personagens, a maioria apenas participa das cenas, tendo leves destaques para David Lawrence Brown com seu Dean Sims  bem carismático e bacana com o protagonista, David Tomlinson com seu Max entregando o famoso ex-namorado possessivo e claro Logan Sawyer com seu jovem Billy bem alocado nas cenas do começo e do miolo do longa, mas sem dúvida quem teve uma participação mais chamativa entre os personagens secundários foi Sharon Bajer com sua Delphine completamente maluca na festa nazista.

Visualmente a trama mostrou bem a loja de Natal do pai com o depósito aonde o protagonista vai trabalhar, vemos vários momentos nas casas aonde o personagem vai com seu Machado e figurino completo para sua matança, tivemos muito sangue, tripas e cabeças rolando, além de boas dinâmicas numa casa abandonada no final, sendo tudo meio estilo B de cinema, mas que funciona dentro da proposta.

Enfim, fui preparado para odiar o longa e acabei gostando do resultado que me foi entregue, então para quem curte um terror bem simples, mas violento na medida certa, acaba valendo a indicação. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda verei mais um longa hoje, então abraços e até mais tarde.


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Netflix - Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out (Wake Up Dead Man: A Knives Out Mystery)

12/13/2025 02:05:00 AM |

Muita gente fechou a cara quando a Netflix comprou os direitos da franquia "Knives Out", mas é inegável que ela conseguiu manter o estilo de mistério, e claro o tamanho da produção com muitos personagens e dinâmicas, além de crimes mais complexos para nos deixar confusos e a explicação precisar ser convincente ao final, ou seja, conseguiram fazer com que a franquia fosse sua, sem desrespeitar o enredo original. Claro que quando se precisa explicar demais uma obra ou um mistério, há uma pontinha de erro do roteirista, mas posso afirmar que o resultado final do longa "Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out" ficou bem interessante, e principalmente não entregou logo de cara toda a ideia, deixando que nós fôssemos pegando as pistas e imaginasse algo, mas com tudo bem marcante e bem colocado para que nem o próprio detetive conseguisse (ou quisesse) revelar diretamente.

O longa nos mostra que o detetive Benoit Blanc retorna para desvendar o que talvez seja o maior e mais perigoso mistério de sua carreira. Depois de um assassinato súbito e inexplicável colocar uma cidade de cabeça para baixo, a chefe de polícia local une forças com o perspicaz detetive para encontrar o culpado e a verdade que desafia toda e qualquer lógica. Quando um padre é assassinado à vista de todos na igreja onde dava um sermão, sua morte, aos olhos de Benoit, parece ser fruto de um esquema grandioso e complexo.

Uma coisa que sempre vai me deixar feliz em qualquer continuação, ou no caso aqui em manter o estilo, é segurar o diretor e roteirista Rian Jonhson desde o original no comando, pois ele sabe bem como a franquia funciona, tem tido boas ideias para que tudo fluísse da melhor maneira possível, e claro, tem ganhado dinheiro e carta branca para escolher vários atores para trabalhar em suas tramas, de tal forma que só o elenco de peso já faz você querer dar play no longa, e com ideias cada vez mais complexas. Ou seja, o diretor trabalhou um mistério tão bem amarrado que você fica pensando no começo como tudo pode ter rolado, e que mesmo mostrando depois toda a armação ainda fica tentando achar possíveis furos na dinâmica que não pegamos de cara, mas que davam para ser imaginados rapidamente. Se não me engando o contrato da Netflix é de 7 filmes, então veremos se a franquia terá fôlego para mais 5, mas o mais bacana de tudo é que não diminuíram a qualidade da produção, e muito menos forçaram o público a precisar ficar lembrando dos demais, sendo tudo bem independente, tendo apenas o detetive como elo participativo de toda a franquia, e assim o resultado funciona. 

Quanto das atuações, foi até engraçado ver Daniel Craig com tanto cabelo para seu Benoit Blanc, pois acostumamos a ver ele sempre com o corte mais baixo, que aqui parecia até outra pessoa, e como ele já pegou o jeitão do personagem, suas entregas acabam ficando entre o lado mais bobo e o investigativo, mas sempre com boas sacadas e seu famoso xeque-mate final, que dá o tom na tela. Josh O'Connor trabalhou o seu Padre Jud Duplenticy com uma entrega tão chamativa, com personalidade marcante e botando banca como protagonista do começo ao fim, ou seja, soube segurar demais tudo para que o filme ficasse dependente dele, mas sem soar chato com sua entrega. Agora fazia tempo que Glenn Close não pegava uma personagem tão intensa, e aqui com sua Martha Delacroix soube voltar aos seus tempos áureos e encarar uma personagem perfeita e cheia das nuances, com bons momentos e intensidades. Esse ano Hollywood abusou das heresias, pois colocar Josh Brolin com seu Monsenhor Jefferson Wicks foi algo marcante, chamativo e cheio das nuances, com o ator sendo bem cheio das imposições e contradições, trabalhando cenas fortes e fora do comum para um padre, e assim conseguiu chamar muita atenção na tela. Ainda tivemos outros bons personagens, mas não vou ficar falando muito para não entregar nada, de modo que desde Mila Kunis com sua Geraldine, passando por Jeremy Renner com seu Dr. Nat, tendo também Kerry Washington com sua Vera e Andrew Scott com seu Lee, além de Daryl McCormack com seu Cy e Thomas Haden Church com seu Samson, todos bem encaixados e chamativos dentro das devidas nuances que o longa pedia. 

Visualmente o longa foi bem montado para mostrar uma pequena cidade, mas praticamente nem temos muitos ambientes, focando mais nas cenas da Igreja antiga, a casa do zelador, a cripta e as salas de reuniões, indo rapidamente para algumas das casas dos personagens e para um bar diferenciado, com tudo sendo bem dinâmico e tendo poucos elementos cênicos para não jogar tantas pistas para o público, algo diferente do usual no estilo, mas que funcionou bem dentro da proposta.

Enfim, é um longa bacana, que diverte e entretém bastante, e que como todo bom longa de mistério faz com que brincássemos de tentar adivinhar as coisas, o que vai ser um pouco difícil, mas que dará para matar algumas coisas logo de cara, então fica a dica para o play, e eu fico por aqui hoje, já que está um dilúvio lá fora para ir na última sessão dos cinemas, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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Sonho, Logo Existo (L’homme qui a vu l’ours qui a vu l’homme)

12/10/2025 10:14:00 PM |

Uma coisa que acho bacana no cinema francês é a mistura de vários gêneros que certamente você nunca imaginaria que algum maluco uniria, e um exemplo claro disso é colocar pastelão e drama junto na mesma produção, ao ponto que o longa "Sonho, Logo Existo", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, entrega uma trama que se melhor revista por algum roteirista e diretor mais inteligente, conseguiria chamar muita atenção para a proposta completa, mas da forma que acabou sendo entregue acabou virando algo bobo que leva nada a lugar algum, aonde o protagonista (que também é o diretor) tentou fazer gracejos e maluquices nas suas andanças, mas que se perdeu por completo na essência do que desejava mostrar, sendo algo que ainda por cima é alongado dando sono em muitas partes. Ou seja, é daqueles filmes que você tenta a todo momento achar algo para se envolver, mas que não consegue ir muito além do que está vendo, e assim totalmente dispensável.

O longa nos conta que dois homens de gerações diferentes forjam um laço inesperado e uma forte amizade enquanto protegem um urso que fugiu de um circo no interior da França. Michel é um jovem rapaz autista que ama poesia. Ele encara a vida com simplicidade, contemplando o mundo sem se deixar levar por preconceitos. Já Grégoire é um eremita que abandonou a família e a vida que tinha para morar sozinho numa cabana no Sul da França. Uma relação de companheirismo acaba nascendo entre os dois homens quando, um dia, o circo que reside na cidade declara que seu urso escapou, deixando a comunidade toda em pânico.

Claro que o diretor e roteirista Pierre Richard é uma lenda do cinema francês, fez muito sucesso com o seu estilo de humor, e ainda estar seguindo forte na carreira é algo para se aplaudir, porém aqui ele se perdeu por completo na proposta, de forma que lendo a sinopse agora até consigo ver as intenções mostradas na tela, mas tudo foi tão bobo e forçado nas situações, que salva apenas uma ou outra cena, aonde a entrega dos protagonistas até é bacana, mas não causa nada como poderia, e assim fica sendo um amontoado de cenas apenas.

Quanto das atuações, Pierre Richard até conseguiu chamar a atenção com as cenas de seu Grégoire, principalmente as que ele brinca com o espelho e com situações fora do ambiente ali, mas é um estilo de comédia que hoje já não tem mais tanta graça, e assim o personagem acaba soando bobo por vezes e se perde por outras situações, o que é uma pena, pois dava para valorizar mais tudo da história. E falando em valorizar mais, deveriam ter aproveitado mais para desenvolver o personagem de Timi-Joy Marbot com seu Michel, pois o rapaz chamou as situações mesmo que bobinhas para algo com um ar marcante bem convincente, que até acaba sendo exagerado na tela, mas que funcionam bem, e valeria ter ido mais além. Agora quanto aos demais, vale um destaque apenas para o urso, pois os demais nem lembro o que fizeram na tela.

Visualmente o longa até brinca bastante com o ambiente, tendo cenas num lago com os protagonistas pescando, algumas dinâmicas com o urso andando para lá e para cá, algumas blitz policiais e a casa bagunçada do protagonista, sendo bem divertido quando o jovem com seu transtorno resolve arrumar tudo, e os produtos de limpeza acabam sendo importantes no final, e claro algumas cenas em um cemitério, ou seja, tudo bem alegórico para conseguir chamar atenção para os detalhes.

Enfim, é um filme fraco e cansativo, até mesmo para um Festival, e assim sendo, não tenho como recomendar ele para ninguém, a não ser que você seja muito fã do diretor, senão pode pular tranquilamente. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, afinal o segundo filme do Festival de hoje deu erro no arquivo do cinema, e assim irei ver ele outro dia, então abraços e até amanhã com mais textos.


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O Segredo da Chef (Partir un Jour) (Leave One Day)

12/10/2025 01:52:00 AM |

O mais engraçado é que costumo gostar até de filmes aonde não necessitaria ser musical, mas que acabam colocando músicas com os personagens cantando ao invés de falar, porém a essência do longa "O Segredo da Chef", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, não tem um encaixe completamente necessário com as canções colocadas, muito menos tem uma história realmente que seja funcional na tela, parecendo ser uma parte de um todo que acabou sendo alongado e se perdeu. Claro temos algumas discussões interessantes como o aborto, o esconder a gravidez, esconder o passado, e até o saber a hora de parar de trabalhar e viver, mas tudo praticamente jogado na tela, sem ir muito além de algo simples que foi incrementado demais e não funcionou como poderia na tela.

O longa nos conta que Cécile é uma chef de cozinha em ascensão que está prestes a realizar um sonho antigo de abrir seu próprio restaurante gourmet em Paris. De repente, porém, ela é forçada a deixar esse projeto de lado quando seu pai sofre um ataque cardíaco, chamando-a de volta para sua pequena cidade natal. Longe da agitação e dos acontecimentos da capital francesa, ela acaba se encontrando com um crush da adolescência, Raphaël. O encontro reacende memórias há muito enterradas e leva Cécile a repensar suas decisões do passado e a atual direção de sua vida. 

Claro que vendo o seu curta-metragem fazer muito sucesso e levar prêmios, a diretora e roteirista estreante em longas, Amélie Bonnin, não pensou duas vezes em reescrever ele em um formato que ficasse mais chamativo, e isso não é demérito algum, pois muitas vezes funciona, o que não pode acontecer é se perder na essência e "encher linguiça" com situações bobas demais e que fique apenas alongado na tela, e talvez melhor dimensionado com todas as dinâmicas, o filme teria um vértice interessante e funcionaria bem, mas algo que dei a dica para um amigo outra vez foi de que seu roteiro de curta não voltasse para sua mão para virar um longa, e sim que outros vissem e criassem os incrementos baseados no que achavam que daria para melhorar, mas agora já é tarde, e mesmo sendo algo gostosinho de ver, o miolo acaba cansando.

Quanto das atuações, posso dizer que Juliette Armanet mostrou ser uma atriz completa com sua Cécile Béguin, pois cozinha, canta, dança, interpreta, patina no gelo, ou seja, se cansar das atuações já pode procurar esses programas lá na França que vai fazer sucesso, e aqui até teve um certo carisma para chamar a atenção, mas o roteiro não ajudou muito, então acabou trabalhando demais e entregando de menos, o que é uma pena. Já vi muito personagem perdido em filme, mas Bastien Bouillon com seu Raphaël Tenreiro foi algo que se era para ser protagonista, esqueceram de avisar ele, pois seu papel é estranho e mesmo parecendo ter ainda uma paixão na protagonista, o ator acabou fazendo caras e bocas desnecessárias. Sei que seria pedir demais, mas se tivessem dado mais protagonismo para François Rollin com seu Gérard Béguin e Dominique Blanc com sua Fanfan Béguin, talvez a trama teria uma vida mais bem alocada, pois os pais da protagonista tinham elos cômicos bem encaixados e dinâmicas divertidas para brincar, mas foram meros coadjuvantes, então não rolou. E por fim o namorado da protagonista que Tewfik Jallab entrega é um mero enfeite, que ficou perdido com algumas caras bravas, mas sem ir muito além na tela.

Visualmente a trama começou mostrando uma cozinha de restaurante chique cheio de dinâmicas, logo em seguida vemos alguns momentos em um escritório, e logo mais a protagonista viajando de caminhão, chegando em uma cozinha mais simples do restaurante de seus pais, com tudo bem mais rústico, tivemos uma feira tradicional de peixes, uma corrida de motos e algumas festas incluindo o famoso jogo de descobrir personagens na casa de um antigo amigo, e para finalizar uma dança numa pista de patinação, mas tudo simples sem grandes nuances, alguns efeitos de luz, e sem ir muito além.

Enfim, é um filme bobinho que poderia ter ido mais além, que não chega a ser cansativo com a cantoria espalhada, mas que parece faltar mais desenvolvimentos para não ficar alongado como foi entregue, e sendo assim diria que recomendo ele com muitas ressalvas, ficando bem mais próximo de algo mediano. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois filmes do Festival, então abraços e até breve.


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O Apego (L'Attachement) (The Ties That Bind Us)

12/09/2025 08:16:00 PM |

Muitas vezes me perguntam como que faço para gostar ou odiar determinado filme, e a resposta é a mais fácil possível, pois o longa precisa me conquistar, envolver ou me fazer refletir, principalmente sem me dar sono ou cansar! E hoje com o longa "O Afeto", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, me vi rindo com bobeiras de crianças sendo que nem sou tão chegado em criancices, mas a trama acabou me cativando e envolvendo tanto com os conflitos dos protagonistas, suas quebras e desenvolturas que me encantou demais no final. Ou seja, é um filme simples, com boas propostas e que até pode não ser algo clássico e chamativo como o público de festivais de artes gostam, mas comercialmente é perfeito e funciona demais.

O longa nos conta que Sandra (Valeria Bruni Tedeschi), uma mulher de 50 anos extremamente independente, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando, contra todas as expectativas, começa a compartilhar a intimidade de seu vizinho e seus dois filhos. À medida que ela gradualmente se aproxima dessa família, surge uma pergunta: quem é ela para eles? E quem são eles para ela? O filme segue os desafios dessa família pouco convencional: um jovem pai solteiro, que luta para encontrar forças para amar; uma bibliotecária feminista, solteira por escolha, que decidiu não ser mãe; e uma criança de seis anos, tentando se encontrar em uma nova dinâmica familiar.

Diria que a diretora e roteirista Carine Tardieu acertou demais na proposta de seu filme, sabendo colocar todas as dinâmicas para serem desenvolvidas na tela, todos os conflitos sendo montados com bons traquejos, e principalmente não precisando forçar o espectador para que gostasse dos temas tratados, mas sim que tudo fizesse sentido dentro do longa, e que a conexão da trama convencesse e acontecesse sem precisar de apelos visuais ou expressivos dos protagonistas, e sim que a vivência e a emoção de cada situação ali viesse até os espectadores e falasse sobre o filme. Ou seja, é daquelas direções tão precisas que acabam sendo comuns e acertadas no momento em que você precisa ver aquilo, e demonstra um conhecimento e carisma tão bem colocado que agrada demais na tela e em nossa cabeça depois.

Quanto das atuações, num primeiro momento não me conectei a Valeria Bruni Tedeschi com sua Sandra, pois parecia meio seca demais, sem chamarizes para envolver, mas assim como o garotinho muda seu estilo, acaba também nos mudando com um olhar mais próprio para o momento, de modo que tudo passa a fluir, e a atriz muda por completo para melhor a personagem, virando algo que acabamos nos apaixonando por ela da mesma forma que o jovem garoto, é assim merece ser aplaudida. Já Pio Marmaï trabalhou seu Alex quase como alguém que ficamos com pena e levamos para casa, sendo gracioso ao mesmo tempo que bobão, e o papel pedia esse estilo que ele sabe fazer muito bem, de tal forma que o resultado acaba agradando bastante. É até engraçado, mas assim que Vimala Pons apareceu com sua Emillia já ficou bem claro que ela entraria na trama com um papel mais chamativo do que apenas uma médica, e a atriz soube brincar com olhares e enxergar bem a desenvoltura final do papel, de modo que funcionou bem demais. Por fim vale dar um bom destaque para o jovem César Botti com seu Elliott, pois que garoto inteligente e cheio de nuances ele nos entregou, sendo preciso e muito agradável de ver na tela.

Visualmente a trama tem também uma boa entrega na tela, sem ousar muito também, tendo o apartamento de Sandra bem bagunçado com muitos livros, sendo quase uma extensão da sua livraria, alguns atos no hospital, e vários momentos indo para o apartamento de Alex, quase sendo um filme de corredor indo de um lado para o outro, com claro o garotinho pegando muitas referências nos quadros e livros da vizinha, tivemos algumas festividades sendo comemoradas, e alguns atos na rua e num aeroporto, sendo tudo com muita simplicidade representativa para emocionar e envolver na tela.

Enfim, é um filme muito gostoso, leve e com a proposta muito bem definida que consegue funcionar sem precisar virar algo novelesco, que não chega a cansar em momento algum, tendo a duração na medida certa, e que vale bastante a indicação de conferida, pois estará com certeza entre os meus favoritos do Festival. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou para mais uma sessão hoje ainda, então abraços e até mais tarde.


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Fanon

12/09/2025 01:29:00 AM |

Volto a frisar que gosto muito de ver biografias, e o Festival de Cinema Francês do Brasil costuma sempre trazer alguns bons nomes que nunca tinha nem ouvido falar, e assim acaba sendo bacana conhecer suas histórias e o que fizeram no mundo. Porém se o diretor não souber desenvolver bem a trama na tela acaba virando algo alongado e quase interminável para o público que vai assistir, de modo que "Fanon" pareceu transformar seus 133 minutos em algo que ficamos presos por dias dentro da sala do cinema, e não é uma história ruim, mas tudo ficou tão amarrado, tão cheio de situações, e com uma dinâmica conflituosa tão sem rumo que o resultado acabou desandando um pouco na tela. Ou seja, é um filme que precisava de uma mão mais forte na direção para que o filme impactasse não apenas pela história, mas também pela formatação entregue, aonde o público acabaria conhecendo mais do personagem, mais do conflito na Argélia e consequentemente mais da história mundial com um bom filme chamativo na tela.

O longa nos conta que Frantz Fanon é um psiquiatra francês originário da Martinica cujo próximo desafio profissional é chefiar os serviços do hospital psiquiátrico de Blida, na Argélia. Rapidamente, seus métodos inovadores e tratamento humanístico atrai os olhares estranhos e a ira de seus colegas de trabalho e do diretor da instituição. Determinado e assertivo, Fanon não abandona seus princípios. Num contexto de colonização e de constantes conflitos entre o exército francês e as forças de resistência, as ideias do médico atrai a atenção da Frente de Libertação Nacional e de seu líder Abane Ramdane. Ao lado de sua esposa Josie, Fanon é pego num vórtex de violência e confrontos que o faz se unir às causas de resistência colonial argelinas.

Diria que o diretor e roteirista Jean-Claude Flamand-Barny até teve uma desenvoltura interessante para contar toda a história do personagem, mas esqueceu que estava fazendo um filme e não uma série televisiva, pois se tivesse fracionado em três partes toda a história daria uma série bacana, contaria bem toda a história que ele conseguiu pesquisar e gravar, e ficaria lindo, mas ele tinha o contrato para um longa-metragem, e assim faltou um poder que faz toda a diferença que é a edição, e isso são poucos diretores que sabem usar bem a tesoura para deixar seu filme enxuto sem perder detalhes, e/ou acelerar os momentos (por exemplo as duas cenas no final, aonde ele e a esposa ficam se olhando por mais de um minuto, e o enterro dura intermináveis dois a três minutos, parecendo que algo a mais iria acontecer na tela). Ou seja, infelizmente muitos diretores se acostumaram com séries e/ou filmes longuíssimos e acham que isso é algo bonito de acontecer, mas quem dominar o poder de síntese futuramente vai conseguir ir bem além na tela. 

Quanto das atuações, podemos dizer que Alexandre Bouyer fez uma bela entrega com seu Frantz Fanon, convencendo o público de sua personalidade, tendo dinâmicas bem colocadas na tela, e sendo bem imponente tanto como médico quanto como pensador, e assim seu resultado foi característico o suficiente para marcar o papel. Já Déborah François fez de sua Josie Fanon uma personagem meio que apagada demais, quase como uma secretária do médico, e isso não fica legal num filme atual, de modo que talvez se usada melhor chamaria mais atenção. Um ator que ficou um pouco confuso com sua atuação foi Stanislas Merhar com seu Sargento Rolland, pois talvez tenham cortado algo a mais de sua loucura, e ele ficou meio abobado do nada, parecendo não ser alguém tão imponente como deveria. Ainda tivemos bons momentos de Mehdi Senoussi com seu Hocine, e Arthur Dupont com seu Jacques Azoulay, mas quem chamou mais atenção mesmo com poucas cenas foi Salem Kali com seu Abane Ramdane, que trabalhou momentos junto do protagonista com mais imposição, mas sem ir muito além também.

Visualmente gostei bastante da recriação de época da equipe de arte, mostrando inicialmente a forma deprimente que se encontravam os pacientes do hospital psiquiátrico aonde o protagonista vai trabalhar, com a maioria presos por correntes num quartinho fechado aonde faziam as necessidades ali mesmo, depois vemos mais dos ambientes do hospital e como passaram a ser tratados até tendo jogos de futebol, vemos a casa requintada que o médico é alocado na cidade, e também nos é mostrado um pouco das vilas da Argélia aonde a resistência preparava suas lutas e o médico vai participar, com tudo bem fechado, tendo cenas no escuro também, e por fim algumas cenas na Tunísia, ou seja, um filme bem completo e chamativo para representar tudo, além claro de momentos com uma saudosa máquina de escrever, que se a esposa datilografou na velocidade que o marido falava, ela certamente bateu recordes na época.

Enfim, é um filme interessante de proposta, que acabou sendo alongado demais e resultou em algo que incomodou bastante, mas que envolve bem e passa uma reflexão de racismo, de luta e de muita sabedoria em uma época tensa em um país que estava sendo colonizado fortemente pela França, então fica a dica de conferida mais como elemento histórico de reflexão, pois quem for conferir apenas como um bom drama certamente irá cansar. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois filmes do Festival, então abraços e até logo mais.


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La Pampa (Block Pass)

12/08/2025 08:13:00 PM |

O mais interessante de filmes sobre revelações, é que sempre sabemos para qual rumo irá o fechamento, ao ponto que podem alongar um pouco, colocar algumas entregas extras, mas sempre vai fechar igual. E com o longa "La Pampa", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, só fiquei esperando a bomba rolar na tela, mas se fosse meu o filme acabaria bem antes, no ponto máximo, que ali sim impactaria e o resultado seria muito melhor, mas ainda assim a forma entregue funciona e traz um bom sentimento para o público.

O longa nos conta que Willy e Jojo são amigos de infância inseparáveis, passando grande parte do tempo juntos. Para fugir do tédio, eles treinam na pista de motocross La Pampa, compartilhando aventuras e fortalecendo ainda mais sua amizade. No entanto, tudo muda quando, certa noite, Willy descobre um segredo que Jojo vinha escondendo há muito tempo. Essa revelação abala a relação entre os dois, forçando-os a confrontar verdades que podem transformar a dinâmica da amizade. Enquanto lidam com essa nova realidade, os amigos precisam decidir até onde irão para proteger um ao outro e preservar o vínculo que sempre os uniu.

Fica bem claro que diretor e roteirista estreante em longas Antoine Chevrollier vai melhorar muito ainda, pois aqui ele foi seguro do que precisava fazer e trabalhou a dinâmica com uma coerência clássica do estilo, de tal forma que qualquer diretor um pouco mais experiente cortaria os 15 minutos finais, mas ele escolheu bem os ângulos, colocou o público na moto, e fez os envolvimentos com personalidade sendo interessante de acompanhar e até torcer para talvez um final diferente, mas o estilo pedia isso, então fez bem sua estreia.

Quanto das atuações, diria que o jovem Sayyid El Alami segurou bem o protagonismo com seu Willy, talvez sendo um pouco tímido e fechado demais para o papel, mas mostrou personalidade na tela e conseguiu se desenvolver dentro do que a trama pedia, e claro que o diretor conseguisse extrair dele. Também acredito que faltou mais estilo para Amaury Foucher com seu Jojo, pois as suas dinâmicas pediam alguém mais saído, e não tão retraído, de modo que claro tudo o que ocorre é apavorante, mas não teve traquejos que demonstrasse algo a mais dele. Diria que Damien Bonnard me deixou um pouco confuso com seu David, pois se portou como um pai impositivo e nervoso com a situação, mas logo em seguida estava um doce com o amigo, de modo que até pareceu ser algum erro de gravação, então volto a frisar que o longa fechado após o evento faria com que todos os artistas ganhassem muitos pontos na atuação. Ainda tivemos outros bons personagens e atuações, como Léonie Dahan-Lamort com sua Marina cheia de gracejos e bem direta com o "amigo", Artus Solaro com seu Teddy meio bobão, mas enrustido ao máximo, Florence Janas com sua Séverine meio que perdida em como dosar os filhos, e a jovem Axelle Fresneau com sua Mélody graciosa e bem envolvente com o irmão, mas todos acabaram tendo o mesmo defeito de faltar o diretor fazer com que explodissem em cena, e assim sendo apenas foram ok.

Visualmente o longa teve bons momentos nas pistas de motocross, mostrou bem o hospital abandonado aonde os rapazes iam para fumar e refletir, passando um sentimento até que bem interessante depois quando vai com a amiga até o quarto aonde o pai morreu, tivemos todo o afeto com as ferramentas, e algumas cenas meio que jogadas no barco aonde não usaram com uma necessidade específica para a trama, mas mostraram que a equipe de arte escolheu bem as locações para que a fotografia funcionasse bem também.

Enfim, é um longa simples, com uma proposta interessante, mas que já vimos acontecer tantas vezes que já sabíamos o que esperar acontecer, e dessa forma acabou aparecendo ainda mais as falhas do diretor estreante, e assim sendo vale a recomendação apenas para a reflexão de como não tratar alguém em um momento tenso, pois quanto mais explodir tudo, mais chance do fogo queimar. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com mais um longa do Festival, então abraços e até daqui a pouco.


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Vizinhos Bárbaros (Les Barbares) (Meet The Barbarians)

12/08/2025 01:22:00 AM |

Uma das coisas mais divertidas de conferir todas as edições do Festival de Cinema Francês do Brasil, que nos anos passados se chamava Festival Varilux de Cinema Francês, é conhecer algumas pequenas vilas do país, aonde vemos conflitos entre vizinhos e situações bem particulares de um todo do país, ao ponto que em muitos longas acabam sendo até criados nomes fictícios para não explicitar ainda mais casos de xenofobia e racismo (que sabemos que ocorrem muito) e o resultado acaba brincando bastante com o lado cômico e por vezes dramáticos de algumas situações. E como disse outro dia, as histórias dos refugiados serão sempre temas muito presentes na maioria dos filmes europeus, afinal com várias guerras, ditadores e tudo mais que anda rolando no mundo, acaba sendo algo muito em pauta nas mentes dos roteiristas para criarem os mais diferentes tipos de produções, e aqui em "Vizinhos Bárbaros" posso dizer que foram bem sucintos e diretos para trabalhar toda essa dinâmica dando claro algumas pontadas mais cômicas para que tudo não ficasse tão pesado, mas ainda assim pontuando bem todo o sentimento de sair de seu país e ser recepcionado de uma forma não tão amistosa por alguns membros da pequena vila.

O longa nos conta que Paimpont é um município de uma pequena aldeia bretã cuja vida tranquila dos moradores é subitamente abalada. Num gesto de camaradagem e solidariedade, a comunidade vota em unanimidade para aceitar refugiados ucranianos em troca de subsídios governamentais. No entanto, em vez de verem os ucranianos chegarem, acabam recebendo a família Fayad – vinda da Síria. Alguns habitantes da cidade passam a ter problemas com os novos vizinhos. Porém, a família frustra todos os clichês que os franceses esperavam: são simpáticos, refinados, educados, tanto que agora, nesta pequena e movimentada aldeia, não é mais claro de que lado estão os bárbaros. Durante esse tempo, a convivência entre os recém-chegados e os antigos habitantes gera muitos conflitos.

É bacana ver o trabalho completo da diretora, roteirista e atriz Julie Delpy, pois cada ano ela vai procurando mudar um pouco seu estilo, mas sem cair em traquejos ou situações forçadas, de modo que sempre chama atenção nas três pontas, e aqui fez um roteiro bem crítico da situação dos refugiados e da forma que muitos os abrigam, fez uma direção ampla de situações e personagens sem precisar recair para o lado novelesco e fez uma atuação correta sem grandes chamarizes, deixando que os verdadeiros protagonistas se destacassem, e assim seu resultado fluiu fácil não sendo daqueles filmes bonitinhos que apenas aplaudimos e depois esquecemos, mas sim algo completo de reflexões e que entrega além de tudo um bom passatempo gostoso de conferir.

Quanto das atuações, Ziad Bakri trabalhou seu Marwan Fayad com traquejos mais fechados, afinal um pouco inseguro com tudo o que estava rolando, mas soube dosar as entregas na tela, e facilmente usou a força quando precisou. Dalia Naous foi um pouco mais solta com sua Louna Fayad, mas também aparecendo menos na tela, de modo que sua entrega ficou bacana de ver, principalmente não se abalando muito na tela. Rita Hayek foi bem segura também com sua Alma Fayad, tendo até sido uma surpresa com seus registros do celular, e até achei que realmente não tivesse uma das pernas, mas felizmente foram truques de gravação, e ela soube chamar muita atenção com tudo o que fez. Sandrine Kiberlain sempre presente em papeis mais soltos, aqui com sua Anne Poudoulec teve momentos mais explosivos e outros mais divertidos, mas conseguiu agradar com o que fez. Agora quem foi muito engraçado ver hoje foi Laurent Lafitte com seu Hervé Riou cheio de imposição, todo machão e racista, que contrapôs completamente com seu papel no filme que vi ontem aonde era alguém completamente solto para o mundo, sendo até um pouco afetado demais, mostrando seu potencial para vários estilos de papeis. Como falei no parágrafo anterior, tivemos alguns bons momentos da diretora Julie Delpy com sua Joëlle Lesourd, mas foi sutil em suas entregas para não roubar a cena de ninguém, e assim agradou com o que fez.

Visualmente o longa mostrou uma vila bem simples, com várias casas diferentes, mas aparentemente bem próximas umas das outras, tivemos muitos atos dentro da prefeitura e da escola, e também no lago da cidade, alguns momentos no restaurante e mercado da vila, e até alguns atos na zona rural aonde vão construir a casa dos refugiados vendida de forma bem barata pelo dono, ou seja, a equipe de arte pode brincar bem com toda a e conseguiu ser representativo nas dinâmicas entregues.

Enfim, é um longa simples de estrutura, com uma boa mensagem crítica em cima de tudo o que anda acontecendo na França e no mundo com o caso dos vários refugiados das guerras, e que consegue também ser divertido mesmo a diretora necessitando algumas quebras capitulares meio que desnecessárias, mas nada que atrapalhasse o resultado final agradável e interessante de ver. E assim sendo fica a recomendação para a conferida dele dentro do Festival, e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais tramas dele, então abraços e até breve.


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Era Uma Vez Minha Mãe (Ma mère, Dieu et Sylvie Vartan) (Once Upon My Mother)

12/07/2025 08:19:00 PM |

Gosto bastante de conferir tramas baseadas em fatos reais para conhecer situações e personagens, e hoje foi bem bacana ver a história de "Era Uma Vez, Minha Mãe", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, entregando uma história simples, porém bonita e bem feita de uma mãe que não deixou seu filho ser um deficiente ao nascer com uma deformidade, procurando todo tipo de médico a curandeiros, e usando de muita força de vontade mudou a vida dele para algo normal e imponente. Diria que a ideia foi bem aplicada com uma dinâmica boa misturando comédia e drama, sem precisar exagerar, que de uma forma simples acabou funcionando na tela com uma entrega gostosa de curtir e se apaixonar pela ideia de uma mãe que assim como as demais buscam o melhor para seus filhos.

No longa vemos que o amor de uma mãe move montanhas para que seu filho viva uma vida normal e maravilhosa. O ano é 1963 e Esther dá luz para Roland que nasce com uma deficiência em que não consegue andar graças aos seus pés tortos. Esther promete para seu filho, apesar da opinião contrária de terceiros, que ele terá a vida que quiser, cheia de conquistas e momentos de sucesso. Esther passa a lutar para oferecer tudo que Roland deseja e cumprir a promessa. Esta é a história do amor incondicional de uma mãe por seu filho e os obstáculos sociais e físicos que ambos enfrentam durante os altos e baixos de uma jornada extraordinária.

Diria que o diretor e roteirista Ken Scott soube pegar o livro de Roland Perez e dar uma fluidez tão bem emocional, mas sem precisar apelar para que o público chorasse com sua história, de modo que vemos os ângulos bem alocados, vemos a sinceridade bem envolvente, e toda a entrega dos atores para com seus personagens, de modo que tudo flui de uma forma bonita e segura, não precisando recair para o lado novelesco que usualmente um longa desse estilo recairia. Ou seja, é uma direção firme, com classe aonde ele homenageia Esther Perez e todas as mães que se doaram para que seus filhos fossem bem além.

Quanto das atuações, Leïla Bekhti trabalhou bem sua Esther Perez, fazendo trejeitos bem clássicos daquelas mães que grudam nos filhos, cheias de ideias malucas e dinâmica bem intensas, agradando bastante do começo ao fim, sendo singela aonde precisava, mas sempre cheia de intensidade. Também tivemos boas entregas de Jonathan Cohen com seu Roland Perez adulto, bem disposto a ser diferenciada em suas cenas, sendo marcante na medida certa para que seus atos chamassem a atenção e a emoção para com sua mãe, e também nas cenas como um homem forte. Vale ainda dar bons destaques para Joséphine Japy com sua Litzie Gozlan e para o jovem Naim Naji como Roland Perez entre 5 e 7 anos, mais pelas expressividades deles, e claro a participação da cantora Sylvie Vartan que usou de maquiagem digital para aparecer nas cenas mais nova no começo do longa.

Visualmente o longa teve boas cenas no apartamento da família, mostrando todo o processo que o jovem passou para começar a andar, vemos seus estudos, danças de ballet, e claro a fascinação pela cantora trabalhando com vendas de discos depois, e claro mais ao final toda a essência do escritório de advocacia, desde o mais simples até um mais rebuscado, e também uma festa de aniversário com a cantora botando a voz para jogo, ou seja, a equipe até trabalhou bem, conseguiu fazer alguns atos simbólicos com a criança escorregando pelo chão e com uma boa maquiagem para o pé do jovem, sendo simples e efetivo na composição completa.

Enfim, é um longa bacana, que tem uma dinâmica interessante que não chega a cansar nem incomodar o espectador, mas que ficou no meio do caminho entre a comédia e o drama, não indo para nenhum dos lados e nem sendo uma famosa dramédia francesa, que pode ser que até segure o público, mas dava para ser um pouco mais conciso em alguns atos. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um longa do Festival hoje, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Jay Kelly

12/07/2025 05:12:00 PM |

Acho que pós-pandemia os roteiristas e as pessoas em geral acabaram indo para os dois extremos, emocionados demais querendo fazer diversas homenagens para dublês, agentes, animais e tudo mais, ou então partindo diretamente para pancadaria e grosseria sem conseguir se conectar com ninguém. E posso dizer que ambas as situações tem trazido bons momentos nas telonas e telinhas, de modo que o longa da Netflix, "Jay Kelly", funciona bem nesse sentido de homenagear os agentes e até mesmo os artistas que por muitas vezes acabam abandonando suas famílias, amigos e tudo mais para viverem seu sonho de estar dentro da indústria do cinema, sendo algo duro de enfrentar, de rotinas a perder, e até mesmo só percebendo isso quando chegam ao final da carreira em alguma homenagem, e isso é bem marcante de ser visto. Ou seja, é um filme que tem uma boa pegada na tela, aonde os protagonistas se entregaram por completo, mas que tem um tom meio emocional demais para uma carreira dura, que talvez pudesse ser menos floreado, mas aí não faria tanto sucesso nas premiações, então valeu a escolha do diretor.

O longa acompanha a jornada de um famoso ator de cinema chamado Jay Kelly e seu dedicado empresário Ron. Os dois embarcam pela Europa numa trajetória intensa na qual são confrontadas suas escolhas do passado, seus relacionamentos e os legados que construíram e deixarão para a posteridade.

Já conhecemos bem o estilo do diretor e roteirista Noah Baumbach pelos seus filmes anteriores, e aqui ele não tentou ousar e sair da sua base de conforto, principalmente ao adotar mais o estilo de homenagens que pautou em seu roteiro. Ou seja, vemos um filme bem regular, sem reviravoltas ou dinâmicas que chamem a atenção na tela, de tal maneira que o resultado é bonito de ver para quem conhece bastante de cinema e sabe que as vidas dos artistas famosos é bem esse caos mesmo, mas quem apenas for conferir ele procurando um drama tradicional talvez ache um pouco artificial o resultado final. Claro que volto a frisar que não é ruim se fazer homenagens na tela, mas talvez algo mais conflitivo com algumas nuances levaria o longa para um outro patamar.

Quanto das atuações, não teria como ter falhas, afinal chega até ser engraçado que o personagem principal fala várias vezes que é difícil interpretar a si mesmo, porém George Clooney faz com seu Jay Kelly quase que uma representação própria sua, de alguém extremamente famoso, que vive cheio de compromissos e filmagens, e que praticamente nem ouvimos quase falar das suas relações familiares, ou seja, quase que idêntico ao longa, e ele segurou com pulso firme e muita classe para que o papel fosse emocional na medida e com muita responsabilidade cênica agradasse do começo ao fim. Já falei outras vezes que tenho gostado muito de ver Adam Sandler em personagens mais sérios do que fazendo seus tradicionais besteiróis, e aqui seu Ron tem estilo, tem momentos cheios de imposição, e demonstrou uma segurança bem chamativa para com seu papel, mostrando conhecer bem a vida dos diversos agentes de Hollywood, conseguindo passar bem toda a sinceridade de encontrar os devidos olhares e marcar seu território na tela. Ainda tivemos outros bons personagens, mas a base completa ficou em cima dos dois protagonistas, valendo leves destaques para Laura Dern com sua Liz bem agitada, Billy Crudup com seu Timothy revoltado pelo o que aconteceu no passado e até tendo algumas nuances rápidas de Greta Gerwig com sua Lois e Patrick Wilson com seu Ben Alcock, mas sem irem muito a fundo em seus papeis, valendo então dar um destaque rápido para Charlie Rowe e Louis Partridge como Jay e Timothy jovens em seus testes e aulas de atuação.

Visualmente o longa teve um bom início num set de gravações, algumas cenas na mansão do protagonista, um funeral bem tradicional de um grande amigo dele, algumas cenas em bares, e depois muitos momentos em aviões, trens e carros, passando por Paris até chegar na Itália, aonde vemos um festival com bailes e exibições, sendo tudo simples, mas com um ar luxuoso bem encaixado para representar cada momento.

Enfim, é um bom filme do estilo, que tem pegada e que certamente vai cair no gosto dos artistas e votantes do cinema hollywoodiano, afinal muitos irão se conectar com tudo o que acontece na tela, mas não é nada grandioso o suficiente para impressionar o público que talvez não irá se conectar tão facilmente com os personagens, justamente por ver mais deles mesmos na tela, então fica a dica para uma curtida leve sem esperar muito, que aí é capaz de gostar do que verá. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou hoje ainda ver mais dois filmes do Festival de Cinema Francês, então abraços e até mais tarde com outros textos.

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A Mulher Mais Rica do Mundo (La Femme La Plus Riche Du Monde)

12/07/2025 02:08:00 AM |

Costumo dizer que nós seres normais do mundo nunca saberemos como é viver igual alguns grupos de ricaços que sequer pensam em seu dinheiro, do tipo que pega um cheque de 1 milhão e dá de presente ou então que gosta de uma foto e pergunta se algumas centenas de milhares paga, ou então como aparece no longa "A Mulher Mais Rica do Mundo" a seguinte frase dita pela filha da protagonista que antes da aparição do golpista nunca sequer haviam falado de dinheiro dentro da família, pois é muito óbvio, esse pessoal tem tanto dinheiro que não precisam falar, compram o que quiserem, a hora que quiserem, e se você fizer cara feia, eles também te compram, ou seja, é um mundo fora da realidade total que praticamente inexiste, ou melhor existe e nunca nem veremos falar deles, afinal não precisam e nem gostam de serem notados, e o longa brinca justamente com isso, pois quando a vida da ricaça entra no rumo de alguém chamativo demais, esse alguém quebra facilmente os rumos daquilo que era normal para eles, e vira de ponta cabeça toda a base familiar. Ou seja, é um filme que tem uma base realista, mas que florearam demais todo o restante, colocando algo quase tão novelesco que até chega a sair do comum, e isso não é algo que funcione tanto, ao ponto que o miolo do filme acaba sendo até cansativo demais (como toda novela!), mas que fecha bem ao menos.

O longa nos conta que Marianne Farrère é dona da Windler e considerada a mulher mais rica e influente do mundo. Ao conhecer Pierre-Alain Fantin, um ambicioso jovem escritor e fotógrafo francês, a mulher desenvolve uma grande amizade com o rapaz. Com pitadas de romantismo, o novo amigo mexe com o coração da milionária e desencadeia um esquema de corrupção jamais visto em territórios parisienses. Uma doação de milhões coloca em risco sua família e toda a história da empresa. A história é inspirada no caso de Liliane Bettencourt, herdeira de uma importante marca de cosméticos.

É até interessante como o diretor e roteirista Thierry Klifa usou bem a história da dona da L'Oreal para recriar seu filme com nuances mais floreadas, pois a base foi bem fundamentada, e sendo um escândalo que chocou o mundo na época muitos quiseram usar os direitos e claro que sendo uma família riquíssima, tudo acabou sendo meio que apagado, e dava para fazer um filme menos artificial e mais comercial, mas como a maioria curte novelas no mundo, ele optou por esse estilo que até entretém bem nos primeiros minutos, depois acaba se tornando algo arrastado e repetitivo que cansa bastante no miolo, e só quando entra no conflito mesmo que poderia surpreender, nem é mostrado muito. Ou seja, quem curte esse estilo até talvez vai gostar, mas pela primeira vez em um filme de festival vi sair tanta gente da sala e ir embora como aconteceu hoje, e isso mostra que faltou o diretor impactar mais com o conflito familiar e/ou mais com os processos rolando com a mídia se batendo para conseguir detalhes.

Quanto das atuações, como toda "novela", temos muitos bons personagens e atores, e claro que a dominante no caso foi a principal atriz francesa de todos os festivais, Isabelle Huppert, que com sua Marianne Farrère soube ter toda a classe e a compostura esperada, deu densidade para a personagem, porém não explodiu como costumeiramente faz em cena, trabalhando meio que de uma forma segura na tela, e assim diria que ela meio que quis "defender" a personagem real com algo mais sutil. Agora quem não foi nem um pouco sutil na tela foi Laurent Lafitte com seu Pierre-Alain Fantin, sendo daqueles aproveitadores espalhafatosos que marcam presença aonde quer que apareçam, e acabou sendo bem interessante e irritante suas cenas, ao ponto de querermos assim como a herdeira pegar ele pelo colarinho, ou seja, o ator chamou toda a atenção do filme para si, e se era isso que o roteiro pedia, fez com precisão. Claro que o papel de Marina Foïs com sua Frédérique Spielman pedia alguém bem séria na tela, mas a atriz acabou abusando um pouco, ficando até monótona em muitos atos, de forma que faltou presença para chamar o filme para si, e isso não é muito bom de acontecer. O jovem Raphaël Personnaz trabalhou seu Jérôme Bonjean com olhares e entregas tão bem encaixadas, com uma serenidade perfeita de mordomos, que até esperava algo a mais do personagem, pois o ator não ficou apagado na tela, e isso é algo muito legal de ocorrer, principalmente em tramas desse estilo. Como disse tivemos muitos bons atores e personagens na tela, e se eu fosse o diretor usaria esse mesmo elenco e montaria uma série mais completa, pois os fãs do estilo adorariam ver mais desenvolvimentos de todos os demais, então não vou destacar nenhum dos demais.

Visualmente a equipe de arte foi muito esperta, pois não precisou de locações gigantescas para representar a mansão, o conselho e tudo mais, usando ângulos mais fechados nas salas, quartos, piscinas e por aí vai, apenas representando o luxo pelas roupas e elementos ao redor, de modo que tudo funciona bem na tela, tem as devidas nuances e agrada, mostrando claro uma vida de rico, mas sem fazer um filme de produtor rico.

Enfim, é um longa bem feito, bem representativo do mundo imponente dos ricaços, que dava para ter ido além sem precisar alongar tanto como acabou acontecendo, sendo algo bacana de ver se não for esperando muito dele, então fica a dica. E é isso meus amigos, amanhã volto com mais dicas de filmes, mas hoje eu fico por aqui deixando meus abraços com vocês.


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Eternidade (Eternity)

12/06/2025 02:57:00 AM |

Alguns filmes são tão leves e gostosos de assistir que mesmo tendo uma reflexão em segundo plano acaba sendo envolvente e divertido, e desde quando vi o trailer de "Eternidade" senti que seria algo interessante com boas nuances, mas que talvez recairia para algo bobinho demais na tela, e hoje após conferir posso dizer que tem seus atos mais bobinhos, mas a ideia por completo é tão genial que não tem como você não sair da sessão com um sorriso no rosto, e até sonhando com a possibilidade de quem sabe o pós-morte ser nesse estilo (será que tem cinema na eternidade?). Ou seja, pode até parecer daquelas comédias românticas bem sessão da tarde, mas que trabalha até que bem a ideia de um pós-morte menos religioso, aonde as nuances funcionam para que nos afeiçoemos com os personagens, e até ficar com uma certa torcida para um dos lados, e assim o resultado funciona até mais do que parecia.

No longa vemos que todas as almas, após a morte, mudam-se para uma espécie de limbo chamado Junction, onde tem uma semana para decidir onde querem passar a eternidade. Ao lado de seus coordenadores do pós-morte, cada um precisa escolher a maneira como (e com quem) quer passar esse tempo infinito. Quando Joan morre, ela é confrontada com uma escolha impossível entre Larry, o homem com quem passou a vida junto, ou Luke, seu primeiro amor e marido que morreu na guerra muito jovem e esperou por ela por 60 anos no limbo da eternidade.

Diria que o diretor e roteirista David Freyne foi bem criativo tanto na ideia da trama quanto na execução, pois é um filme que se olhado bem de perto é simples de essências, mas que consegue se desenvolver tão facilmente que acabamos rapidamente envolvidos com toda a entrega dos personagens e do ambiente em si, ao ponto que mesmo tendo uma pegada cômica não fica como algo jogado ou forçado para que o público ria das situações, mas sim que estejam sempre com o sorriso no rosto mesmo nos atos mais densos de dúvida da protagonista. Além disso pode parecer simples a história principal que rola na tela, mas foram criadas as diversas eternidades no melhor estilo de um Mercadão de frutas, foi feito o lance do Arquivo aonde os protagonistas veem suas histórias a qualquer momento para relembrar boas dinâmicas, e no ato da correria vemos ao fundo toda a confusão com os momentos mais tensos da vida da personagem, ou seja, são vários outros mini-filmes rolando ali, além de toda a estação Encruzilhada com centenas de figurantes mortos das mais diversas maneiras voltando ao seu melhor momento para escolher sua Eternidade, e assim posso dizer que o diretor teve trabalho a beça, e acertou.

Quanto das atuações, o longa tem um quinteto fantástico de personalidade e entrega, começando por Miles Teller com um Larry não tão bonito, mas com um gracejo bem jogado, uma expressividade bem chamativa e sendo leve dentro da proposta que quis colocar na tela, contando com um charme mais romantizado. Do outro lado tivemos Callum Turner com um estilão mais imponente de galã com seu Luke, com todas nuances trabalhadas em cima da perfeição e tendo até mais pegada para saber puxar a protagonista para seu lado. Claro que no meio disso tudo tivemos Elizabeth Olsen com uma doçura bem colocada para sua Joan, cheia de personalidade e dúvidas de seguir com um casamento de muitos anos ou experimentar a vida que poderia ter acontecido no passado, e a atriz soube ser bem confusa mesmo para dar essa ideia de uma maneira leve e divertida. E claro que tivemos os Coordenadores do Pós-Morte (ou CPM como abreviam a todo momento) com a sempre bem pontuada Da'Vine Joy Randolph mais durona e cheia de bons traquejos com sua Anna, sabendo vender bem suas ideias, mas sendo bem atrapalhada, e do outro lado John Early fazendo um Ryan com mais classe e requinte, mas cheio de dinâmicas mais direcionadas, ou seja, divertiram o público com suas entregas e se divertiram com o que fizeram.

Já falei no começo das grandes nuances visuais da trama, mas tenho que aplaudir a equipe de arte, e mal posso esperar o longa sair na AppleTV+ (pois é um longa da companhia) para ver com todas as cores possíveis, afinal hoje o longa estava em uma sala de baixa iluminação do projetor, mas ainda assim vemos muitas sacadas com o céu do ambiente fechado sendo pintado e com cortinas caindo para mudar de dia para noite, vemos hotéis gigantescos aonde as pessoas passam seus sete dias escolhendo para aonde vão, mostrando que morrem muitas pessoas por dia, temos todas as várias eternidades sendo vendidas, os programas nas TVs dos quartos mostrando algumas sugestões de realidades, e claro toda a estação de junção dos trens, além da praia e das montanhas aonde os personagens vão para o teste VIP que ganham, ou seja, a equipe de arte trabalhou duro e o resultado funcionou na tela.

Enfim, é um filme que fui conferir esperando que gostaria do que me seria entregue, mas acabei sendo surpreendido com um algo a mais na tela que me envolveu e fez com que saísse da sessão bem feliz com o que vi, pensando como seria a eternidade que escolheria para meu pós-morte, e agora irei refletir mais sobre tudo o que foi mostrado. Sendo assim, recomendo ele com toda certeza para todos conferirem, só sendo uma pena estar em uma única sessão na cidade, então quem puder ir conferir é uma boa, senão vamos torcer para logo chegar na plataforma da AppleTV. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, pois ainda faltam muitos filmes do Festival Francês para conferir, além de estreias, então abraços e até breve.


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