Amor Bandido (Love Hurts)

5/01/2025 10:33:00 PM |

Quem for aos cinemas conferir "Amor Bandido" sem saber nada talvez ache estranho em pleno mês de maio surgir algo envolvendo dia dos namorados, mas é que lá fora comemoram em fevereiro, ou seja, apareceu aqui após ter sido bem fraco de bilheteria por lá, e qual o principal motivo disso? Simples, pegaram o ganhador do Oscar, Ke Huy Quan, que demonstrou um carisma imenso para com o público, e jogaram o pobre numa trama do estilo dos filmes de Jackie Chan, cheio de pancadarias e encontros, aonde tendo uma tonelada de personagens desconexos e junções de lutas tão sem grandes chamarizes, aonde até tem uma ou outra sacada interessante, mas que não faz valer a interação de tela, e detalhe, mesmo com apenas 83 minutos de sessão, o filme parece bem alongado.

O longa nos conta que Marvin Gable é um corretor de imóveis que vive uma vida pacata nos subúrbios de Milwaukee. Ele tenta a todo custo deixar os erros cruéis que cometeu no passado. Ele será obrigado a confrontá-los quando recebe um misterioso bilhete de Rose, sua ex-parceira de crime que ele deixou para morrer anos atrás. Agora, Marvin precisará embarcar novamente em uma missão que envolve os assassinos mais perigosos e os fantasmas de seu passado.

Não é porque um dublê saiu das acrobacias e virou um diretor de sucesso, que agora todos vão se dar muito bem comandando as câmeras, e Jonathan Eusebio vai sentir um peso monstro em suas costas depois de gastar muito dinheiro da Universal em uma produção que sequer fez sucesso nos EUA. Ou seja, estrear com filme envolvendo muitas lutas até poderia ser uma boa chance para um ex-dublê, afinal sabe tudo desse mundo, trabalhou com muitas coreografias e desenvolturas, porém sem uma história boa para contar não tem como se salvar, e aqui faltou tudo, carisma nos personagens, piadas que se encaixassem bem com o tema, e claro uma desenvoltura motivacional para que não ficassem só brigando a toa, que é o que ele nos entregou. E sendo assim, confesso que gostei mais do trailer que conferi agora antes de escrever que do filme inteiro, então talvez quem não ler as críticas mundo afora talvez caia no golpe.

Quanto das atuações, não sei se começaram a encher a cabeça de Ke Huy Quan falando que ele substituirá Jackie Chan nas novas produções de luta, pois sabemos que o ator tem muito talento expressivo e não deveria depender de personagens sem desenvolvimento como é o caso de Marvin Gable aqui, pois meio que foi jogado na trama, sem ter muito o que fazer a não ser lutar e correr, das formas mais malucas possíveis. Outra ganhadora de Oscar, Ariana DeBose fez de sua Rose quase um personagem falado o tempo inteiro, para ser quase um enfeite, dando alguns choques e tiros, mas sem rumo algum, ou seja, de dar dó usar dois talentos com personagens tão jogados. Embora secundários, o "casal" formado pela assistente do protagonista e o primeiro cara que foi assassinar ele, teve uma química bacana e interessante de ver, de modo que Lio Tipton e Mustafa Shakir agradaram com seus atos. Nem vou ficar falando muito dos demais, pois a dupla de assassinos são bobos demais, o mandante é um enfeite, e o irmão do protagonista que seria o vilão master só fica tomando chá de bolhas.

Visualmente a trama teve basicamente três locações, o escritório da imobiliária, sendo decorado para o dia dos namorados, aonde ocorrem algumas lutas dentro da sala do protagonista, com tudo voando e quebrando como se fosse super normal de uma aula agitada de yoga, a casa que ele está vendendo que vira picadinho de balas e ele ainda fala que dá para recuperar, sendo bem destruída, e um estilo de locadora ou algo do tipo aonde fica o quartel da máfia do irmão, aonde rola mais várias lutas, ou seja, quebraram toda a cenografia, e ficaram felizes.

Enfim, é um filme que não entrega nada que seja chamativo, e que falha ao tentar ser algo apenas de lutas sem uma história que funcionasse para isso, ou seja, dá para pular fácil a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Homem Com H

5/01/2025 02:35:00 AM |

Um dos maiores riscos de um filme biográfico é o diretor fazer a homenagem com o artista/personagem vivo ainda, pois se ficar algo bacana irá colher todos os louros, emocionar o verdadeiro e tudo mais, mas do contrário pode ser o fim de uma carreira com todo o bombardeio que acaba acontecendo. Dito isso, nunca conheci a fundo a vida de Ney Matogrosso, conhecendo claro as principais canções e vendo sempre seu estilo ousado bem fora dos padrões em qualquer época que seja, e se existia diretor melhor para pegar e transformar a vida inteira desse ser que foi e ainda é o cantor, com toda certeza era Esmir Filho, pois é um dos diretores brasileiros mais malucos e ousados, ao ponto que vemos a trama de "Homem Com H" por muitas vezes pensando se essa loucura era mesmo do personagem ou insanidade artística na tela, e a mistura funcionou por demais de ambos os estilos, virando um show presente misturado com passado, com pegações e dinâmicas tão bem marcadas que por vezes até pensei o quanto estavam biografando e o quanto estavam inventando, mas sabendo um pouco sobre Ney é capaz que tudo ali foi bem verdade, tudo isso fora a atuação tão incrível de Jesuíta Barbosa que em muitos atos se não soubéssemos que o verdadeiro Ney está bem velho, falaríamos que era computação gráfica para fazer ele ali dançando e interpretando, pois ficou o mesmo rejuvenescido em diversos momentos. Ou seja, perfeição é o que se fala, tendo um ponto ali, outro aqui para se discordar das atitudes cênicas colocadas, mas é algo memorável e bem feito em vida do homenageado ao menos.

O longa nos mostra a cinebiografia de Ney Matogrosso, apresentando a intensa trajetória do artista desde a infância até se tornar uma das grandes figuras da música e cultura brasileiras. O filme acompanha a origem em Bela Vista no Mato Grosso do Sul e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos de seu pai. Ao sair de casa e se mudar para São Paulo, Ney dá início à sua carreira artística. Com uma voz única e uma veia criativa e performática inesquecível, Ney Matogrosso compõe um terço da banda Secos & Molhados e enfileira sucessos como Rosa de Hiroshima e Sangue Latino em meio à repressão da ditadura militar. Passando por cada fase de sua carreira, o longa conta a história de vida de um ícone artístico, demonstra sua identidade revolucionária e arrebatadora, seu ímpeto libertário e sua inconfundível presença de palco.

Confesso que quando vi o nome do diretor e roteirista Esmir Filho envolvido no projeto fiquei com muito medo de como seria representado a trama na tela, pois ele é conhecido por muitos filmes alternativos e geralmente acaba sendo muito premiado por isso, mas ao analisar o resultado na tela ficou muito claro que o estilo de Ney sendo meio que um bicho como ele se define em diversos momentos também é o mesmo estilo de Esmir, ao ponto que vemos literalmente um filme com animais, com muita selva, mar, e claro todo o envolvimento de mudanças no mundo desde os anos 1940 até 2024 que é o período abrangido na tela, ou seja, o diretor pegou seu estilo e juntou ao estilo de Ney e fez algo completamente lúdico, mas também real, sério e imaginário, com cenas intensas, mas também emocionais, e claro muito show, muita música boa e tudo mais que o verdadeiro viveu desde os conflitos na infância, seus amores e romances, suas interações com os períodos mais intensos do país (desde a Ditadura com muita censura até a AIDS com a morte de muitos amigos), e tudo mais sem precisar correr com o tempo, mas também não enrolando com coisas sem necessidade, e assim funcionando na tela por completo.

Quanto das atuações, diria que Jesuíta Barbosa fez um grandioso trabalho para que seu Ney Matogrosso ficasse o mais próximo do verdadeiro, tanto que em muitos atos você nem via o ator Jesuíta em cena, mas sim o personagem vivenciando seus diversos momentos, e isso é algo muito bonito de ver quando funciona, mostrando todas as facetas expressivas do ator que sem dúvida é um dos melhores de nosso país, e que ainda vai brilhar muito. Outro que trabalhou muito bem foi Rômulo Braga com seu Antônio (pai de Ney), misturando atos fortes com outros emocionais, mais simples, mas que acabam sendo entregues na medida certa para convencer na tela. Hermila Guedes soube transparecer com olhares toda a emoção de sua Beíta (mãe de Ney), fazendo com que admiração e orgulho tivessem uma faceta para ser chamada de sua, e sem forçar agradar do começo ao fim. Ainda tivemos grandes atos marcantes de Bruno Montaleone com seu Marco de Maria, sendo o parceiro de grande tempo do personagem, e Pedro Zurawski com seu Cato sendo marcante como um primeiro amor não correspondido, mas sem dúvida quem apareceu bastante e chamou muita atenção pelo estilo jogado com boas dinâmicas foi Jullio Reis com seu Cazuza debochado e intenso.

Visualmente quem não conhece um pouco a vida de Ney e o estilo de filmes de Esmir vai se chocar bastante, pois ambos adeptos de figurinos excêntricos e muito nu na tela, muito mato e representações de vários shows, mostrando também as diversas épocas contando desde a simples casa da família na Vila Militar, o exercício do protagonista na Aeronáutica, sua vida como hippie, a ditadura e os censores em seus shows, até passar pelas casas mais ricas que teve e sua morada no meio de uma floresta assumindo o bicho que era, ou seja, a equipe de arte teve muito trabalho para recriar tudo de forma grandiosa sem ficar jogada apenas na tela.

Enfim, nem vou falar da parte musical, afinal o longa contou com praticamente todas as canções mais conhecidas de Ney, e com isso faz o ritmo ser dinâmico e interessante demais, de modo que o resultado funciona bem e vale tanto para os fãs do cantor, quanto para quem deseja conhecer mais sobre ele, e claro pelo valor do cinema nacional bem feito, pois é inegável que após muitas premiações ficássemos esperando agora só glórias, e se seguirmos nesse ritmo, muitas virão. Então fica a dica, claro com a ressalva de não levar a criançada (pois a censura é 16 anos, mas vindo do Ney, alguns atos vão chocar até os mais velhos), e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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