Foi Apenas Um Acidente (Yek Tasadef Sadeh) (Un Simple Accident) (It Was Just an Accident)

12/04/2025 02:06:00 AM |

O mais interessante dos filmes do diretor Jafar Panahi é que ele sempre entrega temas sérios e polêmicos com uma desenvoltura por vezes até inocente demais, que de um modo geral ataca pelos cantos e quando vemos já estamos no meio do conflito, e isso é bem legal de ver. E diria que o ganhador da Palma de Ouro de Cannes desse ano, que provavelmente irá brigar bem com nosso candidato nacional nas premiações de filme internacional, "Foi Apenas Um Acidente", é o seu filme mais fácil de se conectar, que pode ser que alguns até achem que nem é a cara do diretor, pois ele não vem com um tiroteio monumental contra o governo iraniano, mas com sutileza acaba pontuando bem todo o drama de um passado, e coloca até em cheque o famoso "olho por olho, dente por dente" que faz você refletir como agiria com alguém que lhe prejudicou no passado, principalmente se você tem dúvidas se é realmente aquela pessoa que você está frente a frente. Ou seja, é um filme dinâmico, com uma boa pegada e conflitos até um pouco exagerados, mas que funciona na tela pela proposta em si.

A sinopse nos conta que um mecânico chamado Vanid foi, certa vez, aprisionado pelas autoridades iranianas, interrogado de olhos vendados e torturado sem escrúpulos. Um dia, anos após os traumas do seu passado, um homem entra na oficina onde Vanid trabalha, após um acidente envolvendo um cachorro danificar seu carro, o colocando no caminho de Vanid, numa artimanha do destino que irá mudar por completo a vida de ambos. Vanid reconhece como o seu torturador pelo som da perna prostética que ele ainda ouve nos seus pesadelos. Determinado a se vingar do sujeito, o mecânico busca ajuda de outros prisioneiros para tentar descobrir se o homem com quem cruzou é, de fato, o agente do Estado que o dilacerou emocional e fisicamente.

Quem conhece um pouco do diretor e roteirista iraniano Jafar Panahi sabe que ele já foi condenado em seu país, já foi preso, já foi proibido de gravar em seu país, mas ainda assim continua ousando a fazer suas críticas ao passado (e também um pouco do presente) do país, tanto que mesmo ganhando prêmios mundo afora disse que voltará ao país para cumprir sua nova pena (diria que é um pouco maluco), e aqui ele foi simples ao conflitar pessoas comuns que foram torturadas no passado, que já estavam com suas vidas novamente entrando nos eixos, mas que quando veem a possibilidade de se vingar ficam com a grande dúvida se fazem aquilo, se é realmente a pessoa, se devem reviver o passado, e tudo isso brinca com o espectador também, pois num primeiro momento apenas achamos que o protagonista foi exagerado, mas o desenrolar foi tão bem dinâmico (bem diferente de outros filmes iranianos) que tudo flui bem, e tudo se encaixa bem com a ideia, e com toda sinceridade, esse novo longa dele é o que menos deveria entrar nas suas penas, de modo que era só ter filmado em qualquer outro país parecido que nada iria acontecer, mas ele é meio doido, então, veremos o que vai rolar.

Um fator que me incomoda muito no cinema oriental é o dos atores não parecerem estar atuando, mas sim serem muito parecidos com pessoas comuns que tipo alguém da produção pegou na rua e levou para gravar, e aqui o protagonista Vahid Mobasseri que já esteve em outros filmes do diretor foi bem direto nos seus traquejos, sendo imponente para atacar, mas com tantas dúvidas do que estava fazendo, que lá pro meio do caminho parecia um misto de arrependido com preocupado demais, mas que ao menos soube segurar o tom na tela. Já Mariam Afshari trabalhou sua Shiva com uma pegada meio desconfiada, mas querendo justiça e resolver tudo quando se vê no miolo, ao ponto que fez de seus atos sempre com um pé meio atrás, mas não errou ao menos. Outro que foi bem, mas extremamente explosivo foi Mohamad Ali Elyasmehr, que parecia estar numa briga de boteco com suas entregas, mas acabou sendo divertido ver o que fez em suas cenas. Quanto aos demais nem vale falar tanto, pois apenas deram conexões ou surtaram junto com os demais, mas quanto a personagens ri muito de algo que possa ser cultural do país de dar agrados (ou propinas como preferir) e as pessoas que recebem possuem até maquinetas de cartão, para não falarem que estão sem dinheiro, ou seja, algo bem colocado na tela.

Visualmente o longa andou por algumas ruas da cidade, um hospital, uma livraria e claro a oficina, mas a grande base ficou num ambiente meio que desértico aonde é cavado a cova e vários momentos dentro do furgão andando para lá e para cá, com toda a desenvoltura rolando ali dentro, mas mesmo sendo simples foi bem representativo na tela.

Enfim, é um filme para se pensar, mas que dá para se divertir assistindo, mostrando que nem toda trama multipremiada precisa ser chata de ver na tela, então fica a dica para conferirem já a partir dessa quinta 04/12 que entra em cartaz nos cinemas. E eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Palavra Assessoria e da Imovision pela cabine, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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