Ambientado no sertão de Goiás, o longa acompanha a história de Totó e Durval (Babu Santana), cuja trajetória se entrelaça de forma trágica: ambos, abandonados pela mesma mulher, despertam uma rivalidade intensa e destrutiva. Inspirado nos elementos clássicos do faroeste, o filme explora a angústia e a amargura daqueles que se veem perdidos sem o apoio de quem amam. Confrontados com a própria vulnerabilidade, os dois encaram um conflito brutal, que reflete disputas pessoais, o choque de tradições e a inevitável passagem do tempo. No sertão, o palco se transforma em um espaço onde honra, orgulho e desespero se misturam, revelando a essência de homens forjados pelo isolamento. Aos poucos, as cicatrizes de um passado repleto de desilusões e perdas irreparáveis são expostas, enquanto cada confronto intensifica a tensão das batalhas internas.
Diria que o estilo do diretor e roteirista Erico Rassi foi bem colocado na tela, ao ponto que sabendo sair do tradicional, acabou entregando uma trama densa e bem cheia de nuances em cima da pauta do homem abandonado que não aceita que sua mulher vá para outro, e essa formatação bem colocada mostra ainda mais o famoso não se responsabilizar, de forma que cada um dos envolvidos vai e contrata outro para resolver seus perrengues, ao invés dele próprio botar fim nisso. Ou seja, a arquitetura do texto do diretor é bem marcante e facilmente poderia ter ido ainda mais longe na tela, mas essa simplicidade cênica também acabou chamando a atenção pelos festivais que passou, conquistando prêmios e mostrando que dá para ser diferente e ousado com o cinema nacional mais vasto, basta querer.
Quanto das atuações, Ângelo Antônio soube segurar com seu Totó um ar denso do famoso apaixonado, aquele que ainda sente o carinho da esposa e não aceita outra pessoa no seu lugar, vivendo a base da bebida e arrumando confusão máxima com pessoas bem maiores que ele, e o ator aproveitou de traquejos tristes para que seu personagem tivesse um certo ar frágil que agrada dentro do contexto completo. Do outro lado tivemos o gigante Babu Santana com seu Durval, que apareceu pouco, mas se mostrou imponente na tela, não deixando barato que alguém viesse atrapalhar o seu sossego, e com as devidas nuances expressivas do ator, trabalhou seu personagem com personalidade e sem deixar a bola cair, mesmo já tendo caído na primeira briga. Ainda tivemos todo o estilo dos capangas ou pistoleiros vividos por Adanilo e Daniel Porpino de um lado, e do outro Rodger Rogério, cada um com sua personalidade e chamariz, mas todos embasados na mesma dinâmica completa da trama, e ainda a participação de Antônio Pitanga com seu Ermitão dividindo as experiências na tela.
Visualmente a trama mostrou bem o interior do Goiás, com casas simples, fazendas, muitos bares, ao ponto de quase parecerem realmente as cidades dos filmes de faroeste, tendo o ápice uma corrida de uma caminhonete contra um cavalo, fora todo o clima rural no meio das matas e o casebre aonde vão se esconder, tendo detalhes no comer todos dentro da mesma panela revezando as colheradas, o beber da pinga e depois chupar a fruta, entre outros muitos detalhes, além das armas para os tiros para todos os lados, acertando bem pouco quem deveria acertar. Agora um ponto belíssimo ficou para os vários tons do céu que a direção de fotografia conseguiu captar, misturando tons de verde das matas, tons marrons da aridez, da poeira e dos casebres, além de um céu com tons de azul, vermelho e amarelo, ou seja, uma paleta vasta e chamativa que incorporou tudo no sentido formatado pelo diretor.
Enfim, é um filme que tem seus méritos e mostra bem o que queriam na tela, sabendo ousar com diálogos truncados e sem grandes rodeios, mas que talvez se melhores desenvolvidos na tela levariam o longa para um patamar ainda maior. Ou seja, é daqueles filmes que em festivais funcionam incrivelmente bem, mas em sessões comerciais acabam não chamando tanta atenção, e por isso não deve ter chegado em tantas salas dos cinemas no país, o que não é um desmerecimento algum, valendo que agora pode ser conferido no streaming. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas voltando amanhã com mais textos por aqui, então abraços e até breve.
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