quinta-feira, 1 de maio de 2025

Amor Bandido (Love Hurts)

Quem for aos cinemas conferir "Amor Bandido" sem saber nada talvez ache estranho em pleno mês de maio surgir algo envolvendo dia dos namorados, mas é que lá fora comemoram em fevereiro, ou seja, apareceu aqui após ter sido bem fraco de bilheteria por lá, e qual o principal motivo disso? Simples, pegaram o ganhador do Oscar, Ke Huy Quan, que demonstrou um carisma imenso para com o público, e jogaram o pobre numa trama do estilo dos filmes de Jackie Chan, cheio de pancadarias e encontros, aonde tendo uma tonelada de personagens desconexos e junções de lutas tão sem grandes chamarizes, aonde até tem uma ou outra sacada interessante, mas que não faz valer a interação de tela, e detalhe, mesmo com apenas 83 minutos de sessão, o filme parece bem alongado.

O longa nos conta que Marvin Gable é um corretor de imóveis que vive uma vida pacata nos subúrbios de Milwaukee. Ele tenta a todo custo deixar os erros cruéis que cometeu no passado. Ele será obrigado a confrontá-los quando recebe um misterioso bilhete de Rose, sua ex-parceira de crime que ele deixou para morrer anos atrás. Agora, Marvin precisará embarcar novamente em uma missão que envolve os assassinos mais perigosos e os fantasmas de seu passado.

Não é porque um dublê saiu das acrobacias e virou um diretor de sucesso, que agora todos vão se dar muito bem comandando as câmeras, e Jonathan Eusebio vai sentir um peso monstro em suas costas depois de gastar muito dinheiro da Universal em uma produção que sequer fez sucesso nos EUA. Ou seja, estrear com filme envolvendo muitas lutas até poderia ser uma boa chance para um ex-dublê, afinal sabe tudo desse mundo, trabalhou com muitas coreografias e desenvolturas, porém sem uma história boa para contar não tem como se salvar, e aqui faltou tudo, carisma nos personagens, piadas que se encaixassem bem com o tema, e claro uma desenvoltura motivacional para que não ficassem só brigando a toa, que é o que ele nos entregou. E sendo assim, confesso que gostei mais do trailer que conferi agora antes de escrever que do filme inteiro, então talvez quem não ler as críticas mundo afora talvez caia no golpe.

Quanto das atuações, não sei se começaram a encher a cabeça de Ke Huy Quan falando que ele substituirá Jackie Chan nas novas produções de luta, pois sabemos que o ator tem muito talento expressivo e não deveria depender de personagens sem desenvolvimento como é o caso de Marvin Gable aqui, pois meio que foi jogado na trama, sem ter muito o que fazer a não ser lutar e correr, das formas mais malucas possíveis. Outra ganhadora de Oscar, Ariana DeBose fez de sua Rose quase um personagem falado o tempo inteiro, para ser quase um enfeite, dando alguns choques e tiros, mas sem rumo algum, ou seja, de dar dó usar dois talentos com personagens tão jogados. Embora secundários, o "casal" formado pela assistente do protagonista e o primeiro cara que foi assassinar ele, teve uma química bacana e interessante de ver, de modo que Lio Tipton e Mustafa Shakir agradaram com seus atos. Nem vou ficar falando muito dos demais, pois a dupla de assassinos são bobos demais, o mandante é um enfeite, e o irmão do protagonista que seria o vilão master só fica tomando chá de bolhas.

Visualmente a trama teve basicamente três locações, o escritório da imobiliária, sendo decorado para o dia dos namorados, aonde ocorrem algumas lutas dentro da sala do protagonista, com tudo voando e quebrando como se fosse super normal de uma aula agitada de yoga, a casa que ele está vendendo que vira picadinho de balas e ele ainda fala que dá para recuperar, sendo bem destruída, e um estilo de locadora ou algo do tipo aonde fica o quartel da máfia do irmão, aonde rola mais várias lutas, ou seja, quebraram toda a cenografia, e ficaram felizes.

Enfim, é um filme que não entrega nada que seja chamativo, e que falha ao tentar ser algo apenas de lutas sem uma história que funcionasse para isso, ou seja, dá para pular fácil a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


Homem Com H

Um dos maiores riscos de um filme biográfico é o diretor fazer a homenagem com o artista/personagem vivo ainda, pois se ficar algo bacana irá colher todos os louros, emocionar o verdadeiro e tudo mais, mas do contrário pode ser o fim de uma carreira com todo o bombardeio que acaba acontecendo. Dito isso, nunca conheci a fundo a vida de Ney Matogrosso, conhecendo claro as principais canções e vendo sempre seu estilo ousado bem fora dos padrões em qualquer época que seja, e se existia diretor melhor para pegar e transformar a vida inteira desse ser que foi e ainda é o cantor, com toda certeza era Esmir Filho, pois é um dos diretores brasileiros mais malucos e ousados, ao ponto que vemos a trama de "Homem Com H" por muitas vezes pensando se essa loucura era mesmo do personagem ou insanidade artística na tela, e a mistura funcionou por demais de ambos os estilos, virando um show presente misturado com passado, com pegações e dinâmicas tão bem marcadas que por vezes até pensei o quanto estavam biografando e o quanto estavam inventando, mas sabendo um pouco sobre Ney é capaz que tudo ali foi bem verdade, tudo isso fora a atuação tão incrível de Jesuíta Barbosa que em muitos atos se não soubéssemos que o verdadeiro Ney está bem velho, falaríamos que era computação gráfica para fazer ele ali dançando e interpretando, pois ficou o mesmo rejuvenescido em diversos momentos. Ou seja, perfeição é o que se fala, tendo um ponto ali, outro aqui para se discordar das atitudes cênicas colocadas, mas é algo memorável e bem feito em vida do homenageado ao menos.

O longa nos mostra a cinebiografia de Ney Matogrosso, apresentando a intensa trajetória do artista desde a infância até se tornar uma das grandes figuras da música e cultura brasileiras. O filme acompanha a origem em Bela Vista no Mato Grosso do Sul e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos de seu pai. Ao sair de casa e se mudar para São Paulo, Ney dá início à sua carreira artística. Com uma voz única e uma veia criativa e performática inesquecível, Ney Matogrosso compõe um terço da banda Secos & Molhados e enfileira sucessos como Rosa de Hiroshima e Sangue Latino em meio à repressão da ditadura militar. Passando por cada fase de sua carreira, o longa conta a história de vida de um ícone artístico, demonstra sua identidade revolucionária e arrebatadora, seu ímpeto libertário e sua inconfundível presença de palco.

Confesso que quando vi o nome do diretor e roteirista Esmir Filho envolvido no projeto fiquei com muito medo de como seria representado a trama na tela, pois ele é conhecido por muitos filmes alternativos e geralmente acaba sendo muito premiado por isso, mas ao analisar o resultado na tela ficou muito claro que o estilo de Ney sendo meio que um bicho como ele se define em diversos momentos também é o mesmo estilo de Esmir, ao ponto que vemos literalmente um filme com animais, com muita selva, mar, e claro todo o envolvimento de mudanças no mundo desde os anos 1940 até 2024 que é o período abrangido na tela, ou seja, o diretor pegou seu estilo e juntou ao estilo de Ney e fez algo completamente lúdico, mas também real, sério e imaginário, com cenas intensas, mas também emocionais, e claro muito show, muita música boa e tudo mais que o verdadeiro viveu desde os conflitos na infância, seus amores e romances, suas interações com os períodos mais intensos do país (desde a Ditadura com muita censura até a AIDS com a morte de muitos amigos), e tudo mais sem precisar correr com o tempo, mas também não enrolando com coisas sem necessidade, e assim funcionando na tela por completo.

Quanto das atuações, diria que Jesuíta Barbosa fez um grandioso trabalho para que seu Ney Matogrosso ficasse o mais próximo do verdadeiro, tanto que em muitos atos você nem via o ator Jesuíta em cena, mas sim o personagem vivenciando seus diversos momentos, e isso é algo muito bonito de ver quando funciona, mostrando todas as facetas expressivas do ator que sem dúvida é um dos melhores de nosso país, e que ainda vai brilhar muito. Outro que trabalhou muito bem foi Rômulo Braga com seu Antônio (pai de Ney), misturando atos fortes com outros emocionais, mais simples, mas que acabam sendo entregues na medida certa para convencer na tela. Hermila Guedes soube transparecer com olhares toda a emoção de sua Beíta (mãe de Ney), fazendo com que admiração e orgulho tivessem uma faceta para ser chamada de sua, e sem forçar agradar do começo ao fim. Ainda tivemos grandes atos marcantes de Bruno Montaleone com seu Marco de Maria, sendo o parceiro de grande tempo do personagem, e Pedro Zurawski com seu Cato sendo marcante como um primeiro amor não correspondido, mas sem dúvida quem apareceu bastante e chamou muita atenção pelo estilo jogado com boas dinâmicas foi Jullio Reis com seu Cazuza debochado e intenso.

Visualmente quem não conhece um pouco a vida de Ney e o estilo de filmes de Esmir vai se chocar bastante, pois ambos adeptos de figurinos excêntricos e muito nu na tela, muito mato e representações de vários shows, mostrando também as diversas épocas contando desde a simples casa da família na Vila Militar, o exercício do protagonista na Aeronáutica, sua vida como hippie, a ditadura e os censores em seus shows, até passar pelas casas mais ricas que teve e sua morada no meio de uma floresta assumindo o bicho que era, ou seja, a equipe de arte teve muito trabalho para recriar tudo de forma grandiosa sem ficar jogada apenas na tela.

Enfim, nem vou falar da parte musical, afinal o longa contou com praticamente todas as canções mais conhecidas de Ney, e com isso faz o ritmo ser dinâmico e interessante demais, de modo que o resultado funciona bem e vale tanto para os fãs do cantor, quanto para quem deseja conhecer mais sobre ele, e claro pelo valor do cinema nacional bem feito, pois é inegável que após muitas premiações ficássemos esperando agora só glórias, e se seguirmos nesse ritmo, muitas virão. Então fica a dica, claro com a ressalva de não levar a criançada (pois a censura é 16 anos, mas vindo do Ney, alguns atos vão chocar até os mais velhos), e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


quarta-feira, 30 de abril de 2025

Thunderbolts*

Confesso que vim conferir hoje "Thunderbolts" com muito receio do que iria encontrar, e preparado para tacar diversas pedras no que iriam me entregar, porém meus amigos venho aqui lhes dizer que tirando "Ultimato" esse foi o filme da Marvel que mais curti, pois além de ter muita história, acaba sendo muito bem desenvolvido na tela, não apenas jogando coisas aleatórias, personagens que precisávamos conhecer e tudo mais. Ou seja, é a Marvel voltando a fazer filme realmente para os cinemas, aonde eu sem ser um fã maníaco pelos quadrinhos conseguisse entender tudo, me divertir, e sair muito feliz com o que me foi entregue. Claro, não é ainda totalmente perfeito, pois ainda temos situações abertas e alguns diálogos meio que bobos demais, porém o resultado completo mostrado nos 126 minutos de tela é tão prazeroso de ver que com toda certeza me faz esperar a nova fase do UCM seja um sucesso novamente.

O longa nos mostra que uma equipe de anti-heróis é recrutada para uma missão perigosa. Yelena Belova, Bucky Barnes, Guardião Vermelho, Fantasma, Treinadora e John Walker formam o grupo de desajustados e rejeitados que, pegos numa armadilha pela diretora da CIA Valentina Allegra de Fontaine, são obrigados a embarcar num plano ofensivo que os fará confrontar seus maiores traumas e cicatrizes do passado. Prontos para agir a favor de causas duvidosas, os seis parecem ser a escolha errada para lidar com os desafios de alto risco ao lado do governo. Yelena é uma ex-espiã e assassina altamente treinada pela organização criminosa russa Sala Vermelha. Guardião Vermelho era um super soldado russo que esteve ao lado de Yelena em uma de suas missões secretas nos Estados Unidos. Já Ava Starr, conhecida como Fantasma, era uma espiã da SHIELD explorada por suas habilidades quânticas. John Walker, o Agente Americano, foi um herói descartado de sua posição como substituto de Steve Rogers/Capitão América por seu jeito impulsivo e violento. Treinadora é filha do líder da Sala Vermelha, submetida a um tratamento experimental que a transformou numa assassina ciberneticamente aprimorada. E por último, Bucky Barnes, o Soldado Invernal, foi um assassino mentalmente controlado pela organização secreta HYDRA. Será que esse grupo de nomes superpoderosos que atuaram fora dos limites convencionais encontrará redenção ou se aniquilará?

Diria que o diretor Jake Schreier que é muito experiente e premiado em séries, mas praticamente estreando agora em longas para o cinema conseguiu uma faceta tão bem elaborada, que não sentimos nem sua mão ficar pesada na tela, muito menos ficar um longa de ator, aonde a conexão inteira funciona, aonde vemos efeitos técnicos bem encaixados, mas principalmente vemos um trabalho de desenvolvimento acontecendo na tela, aonde cada personagem tem sua devida importância, e mais do que isso, nos é mostrado a formação de um grupo maluco que tem potencial, um vilão mais imponente e real para muitas pessoas, fora que a conexão entre diálogos e ações passam a ser estruturadas ao ponto de na ser mais algo jogado como vinha acontecendo. Ou seja, vemos aqui um diretor que realmente merece os créditos de talvez reviver a Marvel que um dia foi respeitada por inovar em cinema, sem ser algo apenas cômico e para fãs.

Quanto das atuações, praticamente todos os personagens já nos foram ao menos jogados ou apresentados em outros filmes e séries da companhia, mas não foram apenas colocados aqui para rolar, de modo que mesmo com alguns poucos momentos somos relembrados deles, e isso foi uma grande sacada da trama, para funcionarem ainda mais em grupo. Falando um pouco individualmente, não diria que Florence Pugh fez seu melhor papel aqui com sua Yelena Belova, porém a jovem foi um bom condutor para os acontecimentos do longa, e a atriz teve emocional para fazer trejeitos que nos convencesse do que estava fazendo e dizendo na tela, e assim agradou bastante. Num primeiro momento, Sebastian Stan pareceu desconfortável com sua volta como Bucky Barnes, porém conforme se soltou e voltou para a luta, acabou chamando o filme para si, e agradou com o que fez. Como não conferi as mil séries da Marvel, ainda não tinha me afeiçoado com a personagem de Julia Louis-Dreyfus, de modo que sua Valentina Allegra de Fontaine parecia um pouco artificial demais, porém a sacada do poder do personagem-chave de ver o passado tenebroso de cada um, nos mostra sua grande motivação, e aí sim a atriz botou banca, e principalmente soube fechar o filme com chave de ouro, ou de filha-da-pu***** completa. Outro que parecia meio bobo nos trailers, e era o único que não conhecíamos nada foi Lewis Pullman com seu Robert Reynolds, ou Bob para os íntimos, porém a sensibilidade que o ator trabalhou seus medos e desenvolturas, além dos atos mais intensos, acabou fluindo tao bem que acaba agradando bem mais do que o esperado. Claro que já era esperado que o tino cômico do longa ficaria com David Harbour fazendo seu Alexei Shostakov, porém ele se entregou bem nas dinâmicas e funcionou para essas quebras serem bem alocadas na tela. Outro que sabia bem pouco, era sobre o papel de Wyatt Russell com seu John Walker que foi mais bem trabalhado nas séries, mas dá mesma maneira que aconteceu com a Valentina, aqui seu posicionamento acabou encaixando bem, e o ator não desapontou. Quem mais usou de efeitos especiais foi Hannah John-Kamen com sua Ava Starr, porém a atriz soube ser direta na entrega e acabou se desenvolvendo bem, de forma que não erra e agrada com boas lutas. Ainda vale um leve destaque para Geraldine Viswanathan com sua Mel meio que funcionando por vezes como agente dupla, e que tendo bons trejeitos acabou funcionando também com o que fez.

Visualmente a trama tem bons atos de destruição, bons elementos usados nos planos 3D, e funciona bem nos devidos ambientes, seja no cofre no meio de uma montanha, numa comissão de impeachment, ou mesmo em Nova York, aonde temos atos fortes dentro da Torre dos Vingadores, ou mesmo no plano paralelo dentro da escuridão que o vilão lança pela cidade, tendo claro alguns exageros explosivos, mas em filmes desse estilo dá para aceitar tranquilamente. Falando mais a fundo do 3D, diria que o diretor soube utilizar bem tanto o plano de fundo para cenas em perspectiva, quanto para cenas aonde os elementos saem da tela, ou seja, tudo foi muito bem usado sem precisar ser apenas um filme recheado de efeitos. Outro ponto muito interessante de ver foram os traços e o tom negro do vilão, aonde não vemos praticamente nada dele sem ser alguns pingos dos olhos e sua forma sombria, com tudo sendo desintegrado de uma maneira bem bacana de ver.

Enfim, jurava que eu não falaria isso hoje, mas acabei vendo um filmaço literalmente, aonde temos bons personagens, boa história, boa formação de equipe e uma desenvoltura completa para funcionar nos demais filmes da companhia, e sendo assim se hoje tivesse meias notas daria um 9,5 para ele, mas como não tenho, e dava para ir um pouco mais além, vou ficar com um 9 que não desmerece de forma alguma o resultado na tela. Então fica a dica para irem conferir sem medo algum, e que venha a fase 6 da Marvel. Fico por aqui agora, mas como amanhã é feriado, vou encarar mais uma pré-estreia hoje, então abraços e até daqui a pouco.


A Arte do Caos (Verbrannte Erde) (Scorched Earth)

É até engraçado eu falar isso depois de tantos dias vendo filmes bem alternativos no Festival de Cinema Europeu Imovision, mas faltou para o longa "A Arte do Caos" ser mais diferenciado, pois a base é algo bem tradicional que já vimos em vários filmes de roubos, aonde é montado um plano, tem os intermediários que encomendam o crime, a resolução, e o famoso roubo de ladrão que rouba ladrão, tudo de forma bem linear e correta, sem grandes intervenções ou chamarizes, ou seja, ainda é um bom filme alemão, mas passa longe de ser algo memorável para ser lembrado mais para frente.

A sinopse nos conta que doze anos após o criminoso Trojan fugir de Berlim, a busca por novos crimes o leva de volta à cidade. Falido e precisando de oportunidades, Rebecca lhe oferece uma proposta lucrativa: um quadro de Caspar David Friedrich será roubado de um museu. Tudo parece promissor, mas o cliente e seu capanga têm seus próprios planos para a pintura, e o assalto meticulosamente planejado logo sai do controle.

Não posso dizer que o diretor e roteirista Thomas Arslan tenha falhado com seu projeto, pois a trama funciona, tem uma boa entrega na tela, tem tudo o que o estilo filme crime precisa para agradar, tem as amarrações de suspense, mas faltou carisma para gostarmos do protagonista, e em alguns momentos no início chega a parecer que o projeto é a continuação de algo já existente (que não consegui essa informação), pois somos pouco apresentados aos personagens, sendo tudo resolvido de forma bem rápida e direta na tela. Ou seja, o diretor criou sua trama, fez o roubo, fez o conflito acontecer do segundo roubo, e toda a perseguição em cima disso, sem policiais envolvidos, tudo nos bastidores normais do crime, que claro se fosse uma obra americana teria explosões, tiroteios, gente voando e tudo mais, mas como é um longa alemão é tudo no chão e calmo, mostrando que funcionam bem nesse estilo também.

Quanto das atuações, Mišel Matičević fez trejeitos exageradamente sérios com seu Trojan, de modo que pareceu ser daqueles criminosos com um certo ódio no coração, mas segurou bem o protagonismo e trabalhou seus momentos com uma desenvoltura interessante ao menos. Agora quem falando bem pouco, mas tendo estilo ao menos foi Marie Leuenberger com sua Diana, de modo que sua personagem acaba entregando bons momentos na tela. Alexander Fehling trabalhou seu Victor como um vilão ou melhor o ladrão de ladrões, e teve boas lutas e dinâmicas na tela, não sendo nossa que pessoa chamativa, mas não desapontou ao menos. Quanto os demais, todos foram bem secundários na tela, ao ponto que realmente pareceram vindos de outros filmes desse mundo do crime, com Tim Seyfi com seu Luca bem básico, Marie-Lou Sellem com sua Rebecca agora em um mundo mais chique, Bilge Bingül com seu Chris meio que jogado e Katrin Röver se destacando um pouco mais com sua Claire, a advogada do museu.

Visualmente o longa é exageradamente escuro, tanto o museu, quanto o restaurante aonde vão, o depósito, e até os quartos dos hotéis, passando também pela floresta, ou seja, a equipe de arte economizou demais na iluminação, e o resultado quase some na tela, claro que acabou sendo algo meio noir, para uma trama de crimes, mas dava para ser mais intenso e chamativo em todos os ambientes, ou também maquiar um pouco erros e espaços menores na tela.

Enfim, não é um filme ruim, mas dava para ter ido muito além do que o que foi mostrado, sendo daqueles filmes que passam um tempo interessante, sem erros, mas que amanhã nem vamos lembrar direito dele, então fica com essa ressalva para quando estrear comercialmente no país. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas amanhã volto para os filmes normais, pois mesmo tendo ainda mais alguns longas no Festival de Cinema Europeu, preciso voltar a respirar normal sem tanta arte. Então abraços e até logo mais.


terça-feira, 29 de abril de 2025

Entre Nós, O Amor (Une Vie Rêvée) (A Free Woman)

Costumo dizer que o cinema francês é daqueles que você nunca sabe o que vai encontrar ao final de um filme, pois ao mesmo tempo que se depreda o personagem principal, por vezes acabamos tão familiarizado com ele que passamos a defende-lo, e a trama de "Entre Nós, o Amor" permeia bem essa sintonia, ao ponto que toda a dramaticidade de predatória da situação acaba sendo triste de ver, afinal algumas pessoas não conseguem ter realmente uma boa vida, e deixar tudo ir pra baixo só pode piorar as coisas, de modo que os protagonistas parecem até desistirem de si mesmos, e isso pega na alma, mas felizmente o longa tem uma reviravolta boa ao final, mas isso só mostra a versatilidade de não desistir quando tudo está a pior, e o filme funciona bem com isso.

O longa nos mostra Nicole parece ter uma vida de sonho, mas a realidade é bem diferente. Aos 52 anos, ela vive em um conjunto habitacional nos subúrbios com seu filho de 19 anos, Serge, que já não a suporta. Endividada e desempregada, perde o talão de cheques e o cartão de crédito, enquanto suas rugas aprofundam-se sem que ela possa reagir. Porém, com a chegada do Natal, talvez o destino finalmente sorria para essa mãe que luta para voltar a acreditar na esperança.

Diria que o diretor e roteirista Morgan Simon quis mostrar bem a sensação de desespero e desistência quando tudo ruma para o pior, mas ele também teve uma boa mão para que a densidade funcional da trama não explodisse para o pior, de modo que o resultado na tela tem uma boa entrega cênica, ao mesmo tempo que também se segura nos atos mais sólidos de um mundo prestes a desabar. Ou seja, vemos um estilo de direção mais aberto e fluido na tela, aonde todas as possibilidades aconteceriam, e sendo uma trama francesa, poderíamos esperar tanto por algo bom quanto para algo extremamente doloroso e forte, e sabiamente o diretor não quis causar, dando um desfecho bonito que até podemos pensar que foi apenas um sonho, mas é melhor imaginar que não!

Quanto das atuações, diria que Valeria Bruni Tedeschi trabalhou sua Nicole com muita imposição, sabendo se entregar nos atos mais duros e densos, desenvolvendo toda a situação forte e bem colocada dentro de trejeitos marcantes, mas também tendo segurança na emoção que precisava passar, não ficando falsa em seus atos, nem sendo uma pessoa inumana na tela, e assim o resultado acaba funcionando melhor do que o esperado. O jovem Félix Lefebvre deu para seu Serge dinâmicas bem colocadas junto da protagonista, não pesando trejeitos, mas também não falhando na entrega mais forte, de modo que são duro ver um filho assim com uma mãe, mas o papel pedia, e ele faz bem. Quanto aos demais vale claro o destaque para Lubna Azabal com sua Norah, afinal sua entrega para com a protagonista é perfeita, sincera e direta, ao ponto que a atriz acerta e se desenvolve bem com o que faz.

Visualmente a trama tem uma entrega tão marcante que o apartamento da protagonista é até comparado com a Amazônia, ou seja, cheio de plantas (a maioria falsa), animais e até um quadro de tigre gigantesco, mas comida e coisas boas para um bom Natal e Réveillon que é bom nada, também vemos alguns atos na tabacaria de Norah, e atos em shoppings luxuosos com todos as compras enquanto os protagonistas apenas olham, e claro o lado de fora do conjunto habitacional aonde vemos que o clima ali é pesado.

Enfim, é um filme simples visualmente, quase uma peça bem representada na tela, mas que funciona muito bem pela essência emocional entregue, aonde tudo flui bem e se desenvolve, sendo um bom acerto entre a proposta e o que foi entregue, valendo a recomendação para se pensar na vida que levamos. Então fica a dica, e eu fico por aqui agora, já que vou encarar mais um longa do Festival, então abraços e até daqui a pouco com mais um texto.


Brincando Com Fogo (Jouer Avec Le Feu) (The Quiet Son)

Sabe quando falamos que o que vale é a intenção? É literalmente para filmes como "Brincando Com Fogo", pois a proposta de mostrar o quanto o mundo está maluco com as famosas políticas extremas até foi bem colocada na tela, porém demoraram demais para entregar isso, criando um vínculo familiar com os protagonistas exageradamente longo, tanto que olhei no relógio duas vezes para saber quanto faltava ainda de filme e vi que já estava quase encerrando a trama quando tudo começou a se inverter, ou seja, o diretor perdeu a oportunidade de ser mais conflitivo amarrando demais para criar carisma e desenvoltura entre os personagens. Claro isso é algo que dá um valor emocional para a trama, mas não precisava de tanto, talvez com 30-40 minutos já acontecer logo a briga do rapaz, e com no máximo 70 minutos ocorrer seu ato de vingança, podendo ser mostrado na tela ambos os atos violentos para causar realmente algo no público, mas não tudo isso rolou com muito mais tardiamente, e com isso o filme esfria tanto (ou melhor, enrola tanto) que um rapaz que estava na fileira de trás da minha começou a roncar mais alto que o volume do som da sala, e eu chamo isso de falhar grosseiramente com o resultado, pois um filme que faz alguém dormir profundamente não tem como justificar.

O filme nos conta que Pierre tem 50 anos e é pai solteiro de dois filhos. Louis, o caçula, está prestes a sair de casa para estudar em Paris. Fus, o mais velho, vive cada vez mais recluso. Fascinado por violência, ele se envolve em grupos de extrema direita, totalmente opostos aos valores de seu pai. Entre eles, há amor e ódio, até que uma tragédia muda tudo.

Diria que as diretoras, roteiristas e irmãs Delphine e Muriel Coulin quiseram dar muito vértice para o lado dos irmãos, da comparação entre o que vai para a faculdade contra o que faz ensino técnico, da vida deles sendo criados pelo pai sozinho, e de todo o ensejo ao redor das influências, mas enfeitou demais tudo, e aonde elas deveriam explodir mais para mostrar realmente os efeitos dos extremos, ficamos apenas com o jovem bem machucado e do outro lado um morto e o julgamento já acontecendo com um pai desolado sem saber aonde errou. Ou seja, faltou colocar o acento aonde deveria para que tudo fosse mostrado e causasse, e não deixar apenas que o público imaginasse e interpretasse, pois assim acaba sendo um erro em não se direcionar, e com erros de direção não tem como fazer um filme funcionar.

Quanto das atuações, é inegável o quão expressivo Vincent Lindon é, e aqui seu Pierre Hohenberg acaba sendo desenvolvido até demais, o que acabou tendo nuances interessantes, mas que não foram usadas tanto para a serventia da trama, e isso fez com que o ator apenas fosse gasto na tela. O jovem Benjamin Voisin mostrou muita força visual nos trejeitos de seu Félix Hohenberg ou melhor conhecido como Fus, mas sua explosão cênica poderia ter sido ainda melhor usada na trama se as diretoras tivessem dado mais liberdade para que seus atos impactassem e fossem mostrados. Stefan Crepon também teve bons momentos com seu Louis Hohenberg, mas não teve tanto espaço e nem merecia muito para se desenvolver na tela, de modo que ficou sendo apenas como o irmão bonzinho. Quanto aos demais, praticamente ninguém teve muita abertura na tela, de modo que não valem grandes destaques chamativos para nenhum secundário.

Visualmente a trama também foi bem básica e morna, ao ponto que os símbolos ficaram marcados apenas pelas tatuagens, pelo jovem preparando sua "arma", pelas brigas de gangues e lutas clandestinas, mostrando o protagonista consertando as linhas de trem com seus devidos amigos sindicais, tendo uma casa bem básica, e mostrando uma faculdade clássica de esquerda, mas tudo bem subjetivo sem grandes aprofundamentos, além claro de alguns jogos de futebol, mas nada que impusesse na tela o que as diretoras desejavam.

Enfim, é daqueles filmes que você até se conecta com a essência, entende o que desejavam passar, mas que fica esperando realmente o soco acontecer, e a formatação das emoções acaba sendo básica demais para algo que precisava ir além. Ou seja, era para ser um dos filmes mais marcantes do Festival e acabou sendo morno demais para ser lembrado. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais longas do Festival de Cinema Europeu da Imovision, então abraços e até breve.


segunda-feira, 28 de abril de 2025

O Último Moicano (Le Mohican) (The Mohican)

Sempre que venho conferir tramas de festivais, torço para que surjam filmes de estilos diferentes do que comédias e dramas, mas raramente trazem tramas de ação mais pegada, e a ideia do longa "O Último Moicano" pode até parecer uma ficção maluca inventada da cabeça de um roteirista insano, mas sabemos que muitas terras mundo agora foram conquistadas na base da imposição, e mostrar um homem que acabou em um acidente matando um mafioso, sabemos bem o que aconteceria com ele. E dessa forma a fuga do pastor para não ser capturado acaba sendo intensa e bem trabalhada, aonde vemos as dinâmicas das redes sociais e de tudo que acaba acontecendo para aqueles que o ajudam, em uma trama bem amarrada e cheia de nuances, que quem curte o estilo gostará bastante, mesmo sendo um filme um pouco arrastado.

O longa conta que Joseph, um dos últimos pastores de cabras na costa da Córsega, recebe a visita da máfia local, que tem interesse em suas terras. Apesar da pressão, ele se recusa a ceder e, acidentalmente, mata o homem enviado para intimidá-lo. Joseph se torna vítima de uma caçada implacável, que se estende do sul ao norte da Córsega. Com o passar dos dias, a lenda que criou-se sobre Joseph, o último moicano, se espalha por toda a ilha como um grito de resistência.

Diria que o diretor e roteirista Frédéric Farrucci soube dosar os atos dramáticos com uma desenvoltura bem colocada na tela, de modo que seu filme não ficasse apenas na correria dos personagens, e assim por muitos momentos até parece ser uma obra biográfica, e não uma ficção qualquer, ou seja, é daqueles filmes que acabamos nos envolvendo pela ideia completa, e de certo modo nem enxergamos tanto a mão do diretor pesar, ao ponto que tudo flui e acaba funcionando, mesmo que ao final pudessem ter dado algo a mais para o público, mas que não estraga o resultado.

Quanto das atuações, Alexis Manenti trabalhou seu Joseph Cardelli com um ar bem rural, não parecendo que conseguiria fugir tanto, e seu estilo de traquejos acaba até tendo uma boa fluidez e estilo, ao ponto que convence com o que entrega na tela.  A jovem Mara Taquin com sua Vannina foi bem marcada de estilo, criando bem o perfil de jovens que acabam entregando na tela uma pontuação extra nas redes sociais, engajando e chamando a preocupação, de modo que a atriz flui e agrada com o que faz. Quanto aos demais, cada um acaba entregando boas dinâmicas, mas dando a principal base para os dois protagonistas.

Visualmente a trama entregou bem o ambiente rural da Córsega, misturando praias, montanhas e criações de cabras, vemos ambientes rústicos misturados com casas riquíssimas, e por ser bem uma fuga na tela, não vemos tanto a necessidade de elementos cênicos, sendo usados desde ferramentas a armas, vendo algumas formas de criações capinas, e claro os assassinatos a sangue frio, além de uma rebelião monstruosa quando capturam o veterinário que ajudou o rapaz, mostrando que a equipe acabou acertando na simplicidade.

Enfim, é um filme simples do estilo, mas que funciona bem na tela, não sendo algo primoroso que será muito lembrado, mas que entrega dinâmicas e pegadas bem intensas, aonde tudo sai do controle e consegue chamar a atenção. Sendo assim vale a conferida, e fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival de Cinema Europeu da Imovision, então abraços e até logo mais.


Emmanuelle

Muitos sabem, outros não, que comecei o site por ser péssimo de memória, e que sendo fanático por filmes sempre me perguntavam o que achei de algo e apenas falava legal para não ficar no vazio, alguns casos lembro mais, outros praticamente evaporam da minha cabeça, e com toda sinceridade não lembro de nada dos filmes antigos que passavam nas noites da Bandeirantes, então até brinquei na postagem do Facebook, se os longas antigos de "Emmanuelle" possuíam histórias, pois que eu saiba a garotada só curtia ver para ver a protagonista pelada, e nada mais, tanto que estranhei uma trama com tanta história aqui na refilmagem francesa, que claro ainda tem muitas cenas eróticas, mas a grande base é de uma mulher que vai para Hong Kong avaliar a estrutura de um hotel de uma rede para o seu dono, e acaba se envolvendo com algumas fantasias com as pessoas dali, tendo algumas nuances mais expressivas e algumas dinâmicas meio que apenas de conhecimento, mas sem ir muito além em nenhuma das duas facetas, ou seja, não fica sendo um drama tradicional e também não causa um despertar sensorial de uma trama erótica, ficando bem no meio do caminho das duas pontas, e assim sendo não vai além.

O longa acompanha uma jovem mulher em busca de uma sensação de prazer desconhecida que a persegue. Constantemente exposta ao luxo, ela precisa visitar um hotel em Hong Kong e avaliá-lo. Sozinha na viagem de negócios, Emmanuelle enxerga a situação como a oportunidade ideal para encontrar a satisfação que tanto procura. Com isso, ela passa a se envolver com diversas pessoas da luxuosa e sensual Hong Kong. Entre os numerosos encontros, ela conhece Kei, um homem misterioso que se mantém distante e lhe escapa em momentos cruciais, atraindo maior curiosidade dela.

Posso dizer que o estilo da diretora Audrey Diwan é polêmico, pois no seu longa anterior trabalhou com a questão do aborto, e agora vem trazer uma nova versão de um clássico do cinema erótico, então assim como a personagem que tem suas regras, mas que não gosta de segui-las, a diretora quis trabalhar um algo a mais dentro do conceito de mulheres liderando e dominando alguns ambientes, como é o caso da gerente do hotel que oculta a prostituição liberada nos cantos do estabelecimento, e de uma inspetora que procura algo a mais do que apenas queimar o que anda dando errado no local para o dono. E sendo ousada, mas sem reinventar a roda, ela soube dosar os pontos quentes com uma história mais ampla, e assim o resultado até tinha chances de ir mais além, mas acabou não sendo tão grandioso e chamativo, pois não convenceu como precisava para um bom drama, deixando tudo literalmente aberto demais.

Quanto das atuações, Noémie Merlant trabalhou sua Emmanuelle com um estilo até bem sedutor, mas sem que precisasse interpretar nas dinâmicas mais amplas, pois ficou muito insegura nos traquejos, e assim se perdeu um pouco na tela. Naomi Watts costuma pegar grandes papeis imponentes e desenvolver eles na tela, mas aqui sua Margot é uma gerente de hotel que quase não se vê na tela, tendo um grande momento com a protagonista para mostrar cadência, mas sem ir muito além. Will Sharpe até foi bem misterioso e cheio de nuances com seu Kei, mas talvez se o papel fosse mais desenvolvido, o resultado seria mais forte para com a protagonista, e assim apenas deixou ela na vontade. Jamie Campbell Bower até teve dois atos bem dialogados com seu Sir John, mas é um papel meio que involuntário e jogado na tela, que não flui nem leva nada a lugar algum. E sendo assim quem teve um pouco mais de desenvoltura nos papeis secundários foi Chacha Huang com sua Zelda, botando o corpo pra jogo e sendo firme no charme sedutor que soube entregar em suas cenas, mas para o que o filme pedia, não foi muito além também.

Visualmente a trama teve atos bem luxuosos, começando com um voo de primeiríssima classe e uma cena pegada de sexo no banheiro do avião, depois vamos para um hotel imponente, com banheiras e quartos cheios de detalhes, um restaurante bem marcante, piscina e até mesmo uma cabaninha afastada aonde cenas quentes rolam foi bem trabalhado dentro do contexto visual da trama, ou seja, tudo teve seus elos, até mesmo um cassino ilegal foi bem representativo, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante, tendo inclusive uma grande tormenta destruindo parte do hotel em reforma, e com isso um belo jantar/baile a luz de velas e lamparinas acabou ocorrendo.

Enfim, é um filme mediano em todos os planos, que poderia ter sido bem quente e marcante como um drama erótico, ou então trabalhado mais o lado imponente da postura feminina de liderança em cima dos prazeres, que daria um vértice diferente para tudo, mas acabou ficando no meio de tudo, e a nota também será na média. Fica então a dica para quem quiser arriscar enxergar algo a mais quando ele for lançado comercialmente fora do Festival de Cinema Europeu da Imovision. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


domingo, 27 de abril de 2025

Síndrome da Apatia (Quiet Life)

Pensar como fica a cabeça de uma criança que vivencia uma guerra ou um trauma de um conflito é algo bem difícil de se imaginar, e o longa "Síndrome da Apatia" trabalha com essa essência dramática bem pautada na tela, aonde tudo flui de uma forma dura, silenciosa e densa, aonde os pais tentam primeiramente não usar as crianças para conseguir asilo, mas depois o desenrolar se verte para algo inimaginável de se pensar na separação familiar e tudo o que pode acontecer a partir daí. Diria que o filme poderia ter uma pegada mais forte e densa, mas ainda assim o filme choca e consegue funcionar.

O longa nos conta que Sergei e Natalia são refugiados políticos que imigraram para a Suécia com suas duas filhas, Katja e Alina, em busca de uma nova vida. Suas esperanças são destruídas quando o pedido de asilo deles é rejeitado. Sua filha Katja, traumatizada por esse episódio, desmaia e subitamente entra em um "coma", desenvolvendo uma condição conhecida como Síndrome de Resignação ou Apatia, explicada como uma autoproteção contra o sentimento de medo. Sergei e Natalia, então, tentarão de tudo para conseguir o asilo e criar a atmosfera segura que sua filha precisa para despertar. Nos últimos anos, mais de 700 crianças foram diagnosticadas com a síndrome na Suécia e suas causas continuam um mistério.

Diria que o diretor e roteirista grego Alexandros Avranas ("Crimes Obscuros") soube aproveitar bem o momento, das guerras e traumas de vários tipos, das desenvolturas e tudo mais para criar o seu próprio estilo, e a trama usa bem a essência para mostrar a entrega de uma família que sente o peso de não poder morar e vivenciar aquilo. Ou seja, é um filme que facilmente veremos e ouviremos muito sobre essa doença de se desligar da realidade, mas o diretor ao mesmo tempo que pesou na tela, também não trabalhou tanto quanto poderia a densidade dramática do momento em si.

Quanto das atuações, diria que a expressividade de Chulpan Khamatova com sua Natalia foi algo até estranho de se pensar como mãe, mas a atriz segurou bem o momento na tela e agradou com o que fez.  Dá mesma forma, Grigory Dobrygin desenvolveu seu Sergei com uma personalidade séria demais, quase como um desânimo apático e inexpressivo, mas que funciona dentro da proposta, ou seja, não foi muito além, mas cumpriu com a premissa. Agora sem dúvida as garotinhas, Naomi Lamp com sua Alina e Miroslava Pashutina com sua Katja conseguiram segurar muito bem toda a tensão na tela, ficando imóveis em diversos atos e sem ir além conseguindo marcar. Ainda tivemos Eleni Roussinou com sua Adriana sendo ao menos gentil com os personagens, enquanto as demais atendentes apenas ignoravam eles.

Visualmente o longa nos mostra um pouco do processo num centro de imigração da Suécia, o formato de entrevista quase que seco de cadeiras e um telefone, vemos a casa modelo aonde os protagonistas moram com coisas de vidro quase como algo para observação, a escola com o coral da menorzinha e a piscina de mergulho da garota maior, além de uma clínica muito estranha, e por fim o porão aonde vão morar nos atos finais, sendo tudo bem básico.

Enfim, é um filme seco de entregas, mas com emoções diretas que podem ser bem estranhas de ver, mas que funciona dentro da proposta toda, e chama atenção com o que o diretor tinha para mostrar. Então fica a recomendação para quando estrear comercialmente conferirem ele, e eu fico por aqui agora, mas volto mais tarde com outro texto, então abraços e até logo mais.


Um Pai Para Lily (Bob Trevino Likes It)

Sinceramente estou aqui escrevendo do filme "Um Pai Para Lily" pensando em todos os possíveis gatilhos que o longa trará para algumas pessoas, pois a essência em si é bem simples, sem grandes atos emocionais ou dinâmicas que lhe levem para o mote por completo, mas quando vem o fechamento (até talvez esperado) tudo vira uma bola de emoções na nossa cabeça, pensando na vida, nos amigos, nos familiares, e a essência da trama consegue funcionar bem mais do que apenas um filme realmente. Ou seja, é daqueles que você se pega na jornada da protagonista, que mesmo sem ter grandes atos fluindo, tem sentimentos, tem dinâmicas e principalmente tem fluidez, aonde cada singelo momento funciona e a composição completa de fechamento mostra algo muito maior do que apenas um encontro, valendo a mensagem e a dimensão que a diretora encontrou para traduzir algo que vivenciou um pouco.

No filme vemos que a jovem Lily se decepciona mais a cada dia buscando a validação do seu pai. Por conta do egocentrismo dele, eles se afastam cada vez mais e uma situação inusitada acaba transformando a vida dela. Ao encontrar no Facebook um homem com o mesmo nome do seu pai, Lily e o novo Bob Trevino criam uma linda relação de amizade, conseguindo encontrar um no outro a dose de carinho e afeto que faltava.

É bem raro diretores e roteiristas estreantes se darem bem num primeiro filme, pois por vezes tentam ir mais além do que conseguem, ou acabam enrolando em dinâmicas desnecessárias para alongar algo que talvez num curta ou média funcionariam melhor, porém Tracie Laymon não quis apenas ficar no simples, e usando de uma conversa que teve com alguém que tinha seu mesmo sobrenome na internet acabou desenvolvendo um filme cheio de nuances e sentidos, contando com algo que muitos apenas no final de sua vida podem parar para refletir, mas que por muitas vezes a pessoa que você ficou pouco tempo junto pode agregar mais sensações do que alguém que você sempre viveu junto. Ou seja, a diretora escolheu muito bem o estilo para começar, pois dramas sensoriais funcionam bem na tela, principalmente se já teve a experiência para compartilhar com outras pessoas as dinâmicas, e assim o resultado flui fácil, e sendo bem rápido não temos enrolações cênicas, ao ponto que quando você ver já estará com os olhos mareados, mostrando o acerto da diretora.

Quanto das atuações, num primeiro momento achei que iria me irritar com o estilo meio que jogado de Barbie Ferreira com sua Lily Trevino, pois conhecemos muitas pessoas que tem uma certa necessidade de afeto, e acabam cansando os demais ao seu redor, e num primeiro ato a protagonista entregou uma Lily dessa forma, mas conforme vamos nos apegando a ela, a atriz consegue tirar muito de si, consegue fazer fluir suas emoções, e ao final se joga por completo agradando bastante em cena. Não diria que sou o maior fã de John Leguizamo, mas ele soube ter estilo e representar bem seu Bob Trevino, mostrando aqueles que ajudam muito mais quem está ao seu redor do que a si mesmo, e segurando uma essência mais fechada, ele acabou dando o fim exato para pessoas desse estilo, contando com trejeitos mais sérios, porém bem funcionais. Já French Stewart trouxe para o seu Robert Trevino, aquele ser que você pensa não existir, mas que se aproveita dos outros para sair jogando só algo para si, e quando ouve um não, cria um monstro em cima da outra pessoa, fazendo olhares e trejeitos de coitadinho e assim incomodando como um bom acerto expressivo. Ainda tivemos Lauren 'Lolo' Spencer com sua Daphne e Rachel Bay Jones com sua Jeanie, mas ambas apenas deram conexões (algumas bem boas) sentimentais para os dois protagonistas, e assim acertaram em não tentar puxar o filme para si.

Visualmente o longa é simples como todo bom drama sentimental deve ser, tendo muitos atos mostrando as conversas dos protagonistas no celular ou no computador, tendo alguns momentos na casa de Daphne e na casa de Bob, indo até um retiro de idosos, alguns momentos em cafeterias e restaurantes, e também em um centro de adoção de animais, além de um parque e o escritório do protagonista, e tendo como elementos cênicos mais precisos o álbum de recordes de Jeanie, que ao final vai funcionar bastante.

Enfim, é um longa simples, bonito e que não erra na formatação desenvolvida, que pode não pegar a todos, mas quem tiver qualquer gatilho do estilo se prepare para se emocionar. Então fica a dica de conferida nos cinemas a partir do dia 01/05, e eu fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Atômica Lab Assessoria e da Synapse pela cabine de imprensa, mas volto mais tarde com mais dicas, então abraços e até logo mais.


sábado, 26 de abril de 2025

Until Dawn - Noite de Terror (Until Dawn)

Todos sabemos bem o quanto "Resident Evil" e "Silent Hill" vem tentando ano após ano convencer os fãs das franquias tão bem sucedidas de jogos de terror virar uma trama que convença nos cinemas e decole de vez, mas sempre acabam falhando em detalhes que acabam virando até mais jogadas do que realmente algo que empolgue e chame a atenção. E quando vi o nome do filme "Until Dawn - Noite de Terror" em um primeiro momento não lembrei absolutamente nada do jogo, tanto que por um momento até pensei nunca ter jogado ele, e aí o diretor veio e colocou na tela alguns momentos tão icônicos do jogo que falei agora sim estou vendo uma adaptação bem trabalhada na tela, pois até pra mim que esqueço coisas frequentes vir memórias tão lá de trás foi realmente um orgulho. Ou seja, ainda não é daqueles filmes baseados em jogos que vamos aplaudir, aliás é dificílimo competir contra computações e dinâmicas tão bem amarradas na tela que convencesse o público com algo a mais, mas o resultado na tela aqui é satisfatório tanto em violência visual quanto em estilo "jogável", e dessa forma agradará tanto os fãs da franquia de jogos, quanto quem quiser ver apenas um bom longa de terror.

Na trama, um grupo de amigos adolescentes decide passar um fim de semana em uma estação de esqueci, onde tem uma cabana isolada em Blackwood Mountain, Canadá, um ano após o desaparecimento misterioso de duas irmãs gêmeas que faziam parte do grupo. No entanto, o que era para ser uma noite comum, em um feriado descontraído, acaba se tornando uma verdadeira cena de terror, pois um serial killer começa a rondar as proximidades por onde eles estão até começar a persegui-los, colocando a vida do grupo em risco. A história do terror slasher promete promover ao espectador uma experiência imersiva, como se tivessem no jogo, uma vez que no mesmo os jogadores assumem o controle das ações e decisões dos personagens.

Diria que o diretor David F. Sandberg ("Annabelle 2", "Quando as Luzes se Apagam", "Shazam!") soube pegar a essência do jogo e criar algo que não ficasse vazio na tela, e mostrando que sabe assustar sem precisar de exageros de sustos gratuitos, aqui ele até poderia usar isso a seu favor, afinal o jogo tem muitos atos assim e não seria ruim, mas como não é o estilo do diretor, ele criou momentos bem colocados e soube ousar nas explosões corporais e na tensão dos personagens em se perderem na ideia de tentarem se salvar o grupo por completo (diferente da maioria que se salvaria e se lascasse o resto!). Ou seja, o estilo do diretor foi bem criativo nas cenas, soube gastar o orçamento com muito sangue e próteses, e mesmo tendo um tom escuro, não forçou cenas mais fechadas, ao ponto que o filme ficou funcional na tela, e a densidade cênica conseguiu chamar muita atenção, mostrando o nome dele para tramas desse estilo, que faz tão bem, ao invés de ficar com as tramas de ação cômica que lhe deram uma leve queimada.

Quanto das atuações, diria que Ella Rubin soube ser criativa nas cenas de sua Clover, não chamando tanto para si, mas brincando com as facetas expressivas mais diretas e agradando com o estilo bem colocado ao menos. O jovem Michael Cimino deu um bom para que seu Max tivesse momentos chamativos, sempre estando bem presente e agradando na tela. Ji-young Yoo acabou sendo um pouco irritante com sua Megan, mas desenvolvendo atos mais fortes para que segurasse a onda, tanto que não ficou omissa na tela. Odessa A'zion acabou exagerando um pouco com sua Nina, tendo alguns atos meio que gritantes demais, mas não atrapalhou tanto o resultado. Já Belmont Cameli com seu Abe é o elo irritante mesmo no grupo, sendo daqueles que se deixassem teria sobrevivido e deixado o restante lá brigando. Tivemos alguns momentos mais soltos de Maia Mitchell com sua Melanie, mas não teve tanto tempo de tela para se desenvolver, ficando mais aparente com a cara deformada do que atuando realmente. Já Peter Stormare até tentou dar um algo a mais com seu Dr. Hill, mas o personagem precisaria de um desenvolvimento maior para que o ator fosse além.

Visualmente a equipe de arte gastou muito dinheiro com sangue cenográfico, próteses corporais e máscaras bem chamativas, de modo que é notável que não quiseram usar tantos elementos de computação gráfica, e isso em um bom filme de terror acaba sendo envolvente e chamativo, de modo que as explosões corporais foram o show a parte, tivemos atos bem nojentos com os vermes nas caras, e poderiam até ter trabalhado um pouco mais com os wendigo (os monstrões dos jogos), mas tivemos alguns famosos atos do jogo bem colocados, então valeu o trabalho entregue.

Enfim, é um filme que acabou acertando bastante na tela, sendo chamativo e não deixando que fosse mais uma franquia de jogos apenas jogada nos cinemas, agora é ver se vão avançar mais com continuações, ou se vai ficar apenas com essa entrega bem feita, que não é perfeito, mas que ao menos não desaponta. Então fica a dica de conferida para quem curte um terror bem trabalhado sem fazer com que você saia com medo ou chocado da sala (o que é uma pena). E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


Looney Tunes - O Filme: O Dia Que a Terra Parou (The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie)

A ideia base dos Looney Tunes era a de transformar desenhos fofinhos em lunáticos com toda a bagunça que os personagens faziam ao tentar arrumar tudo, e grande parte disso era feita nos desenhos que tinham o Patolino, então para voltar a franquia nos cinemas em "Looney Tunes - O Dia Que a Terra Explodiu" de uma forma bem sagaz nada melhor que o diretor tomar uma boa dose de algo insano e entregar um filme só dele e do Gaguinho tentando salvar o planeta de zumbis, fora que a reviravolta é ainda mais maluca, porém brilhante! Ou seja, é daqueles que você entra imaginando ver uma animação tradicional e volta na época em que os desenhos faziam parte da rotina diária e animada, com o tradicional desenho 2D sem noção alguma funcionando bem demais.

No longa vemos que os personagens do clássico desenho se tornam a maior e única esperança da Terra diante de uma invasão extraterrestre, tornando-se heróis quando suas trapalhadas dentro de uma fábrica de chicletes do bairro revelam uma tentativa secreta de controle mental alienígena. Lutando contra os inimigos mais improváveis para acabar com o plano secreto de dominação das criaturas, os dois precisam encarar outro desafio: conviverem de forma tranquila sem enlouquecerem um ao outro. Contra todas as expectativas, Gaguinho e Patolino precisam salvar o mundo de uma ameaça aterrorizante, criando o próprio plano infalível nessa aventura hilária e perigosa.

O mais bacana de tudo é que o diretor e roteirista Peter Browngardt já fez outros desenhos da turma maluca para a TV, mas aqui é sua estreia em longas, e mais do que apenas criar um episódio maior para a telona, ele soube brincar com a essência completa dos personagens, colocando a história deles desde quando eram bebezinhos, e suas loucuras até chegar aonde precisariam trabalhar para sobreviver e claro entrar na loucura completa. Ou seja, um pacote completo na telona, aonde a diversão impera seja de forma limpa, ou bem errada, e o melhor é que isso não desmerece o mundo cotidiano, e agradará tanto quem é das antigas, quanto os mais novos.

Outro ponto muito bem sacado foi o fato da equipe nacional trazer os dubladores originais antigos dos personagens para a telona, ao ponto que Manolo Rey como Gaguinho, Márcio Simões como Patolino e Carol Crespo como Petunia conseguem nos transportar para os anos 90 ao vermos toda a interação maluca na tela, com os personagens batalhando e quebrando tudo o que era bem planejado, tendo sacadas e dinâmicas bem fora do normal, mas sendo interativo, bem desenhado e cheio das nuances clássicas que esperava ver na tela, com Patolino ainda mais maluco e vendo também um Gaguinho apaixonado e disposto a salvar sua amada.

Visualmente não temos nada fora do comum, e isso é bacana principalmente por nos levar de volta aos clássicos desenhos da infância, com tudo explodindo em cores fortes, gosmas alienígenas, e tudo sem qualquer senso de responsabilidade, mostrando que os personagens atravessaram gerações sem perder a essência e o estilo, então tudo funciona e sai do controle como deve ocorrer.

Enfim, é o básico muito bem feito que esperava ver na telona, não tendo nada que vá muito além, mas também sem ser jogado apenas para isso, compondo bons momentos e divertindo, valendo a indicação principalmente para quem era das antigas e via o desenho na TV. Então fica a dica, e eu fico por aqui agora, mas hoje ainda volto com mais filmes, então abraços e até mais tarde.


A Luz (Das Licht) (The Light)

Quem me conhece sabe que gosto demais de conferir filmes sem saber absolutamente nada, muitas vezes nem lendo sinopses ou vendo trailers, e se tem algo que gosto muito de fazer é bater o olho em um pôster e ser comprado pela embalagem, ao ponto que muitas vezes alguns filmes já me ganham ali, e ultimamente como já acostumei que em festivais mais alternativos tem de escolher para não cair em algumas furadas, desde o primeiro dia que saiu os longas que participariam do Festival de Cinema Europeu da Imovision falei que "A Luz" tinha uma pegada que talvez me agradaria muito, porém não imaginava que o filme teria uma base espírita, muito menos que fosse algo completamente fora do usual, misturando desde Bohemian Rhapsody em animação com viagem fora do corpo, ou seja, uma loucura completa na tela, que muitos vão achar que o diretor tomou um bom chá de cogumelos para entregar tudo isso, enquanto outros irão sentir bem toda a essência maluca que o filme consegue entregar nos seus longuíssimos 165 minutos, que diferentemente de cansar numa última sessão de sexta, me deixou acelerado e ansioso para saber como tudo poderia acabar, o que é bom, enquanto para outros, a fuga com menos da metade foi uma opção.

O longa nos mostra que a família Engels está se desintegrando em silêncio — pais esgotados, filhos desconectados, uma rotina sem afeto. Até que Farrah, uma empregada recém-chegada da Síria, entra em cena. Misteriosa e magnética, ela se torna o centro silencioso da casa. Um a um, todos se aproximam dela... sem saber que ela os escolheu. E que sua chegada não foi coincidência.

O diretor e roteirista Tom Tykwer ficou muito famoso em 98 com seu longa "Corra Lola, Corra", mas foi com seu filme mais maluco de 2012, "A Viagem", junto com as irmãs Wachowsky e depois com a série "Sense8" que ele trabalhou mais essas nuances de conexões entre passado, presente, futuro, pessoas e acompanhantes de planos, e aqui diria que ele jogou muito do que já vimos nos seus outros momentos, porém de uma forma ainda mais direta para o lado espiritual, pois fica bem claro que o lance da empregada/terapeuta é algo para com sua família presa em algum ambiente não muito real, e as conexões que tenta fazer para com a família que vai trabalhar vem mostrar que o diretor desejava sentir realmente a essência de vida daquelas pessoas complexas, mas que pudessem se entregar para o outro lado. Ou seja, é um filme que vemos o diretor tentando a todo momento nos pegar com as sínteses da vida, levando até para um lado meio que musical em alguns atos, mas que você precisa se conectar com algo ali, senão a chance de dispersão é muito alta, e isso é um risco que ele correu.

Quanto das atuações, diria que o elenco completo se jogou do começo ao fim, tendo Nicolette Krebitz com sua Milena Engels mais surtada como uma workaholic que praticamente não dá mais abertura para o marido e para os filhos, sendo intensa e cheia de dinâmicas, mas que a atriz soube passar sensibilidade em muitos trejeitos, e isso chamou atenção. Embora o musical de Lars Eidinger com seu Tim Engels seja falando da preocupação com o corpo, ele se deixou ficar nu em diversos momentos, e trabalhou bem as dinâmicas de alguém que tem uma mentalidade, mas que se mascara para ter o emprego que tem, e isso é algo que vemos muito no mundo contemporâneo. Tala al Deen trabalhou sua Farrah com muitas nuances e dinâmicas, sabendo se posicionar mais como uma terapeuta do que como uma empregada, e a atriz deu as sacadas mais comuns desse estilo de personalidade, chamando muito a responsabilidade do filme para si. Os mais jovens Julius Gause com seu Jon Engels e Elke Biesendorfer com sua Frieda Engels trabalharam a modernidade tóxica que temos hoje em muitos adolescentes, vivendo de jogos e rebeldias, mas perdidos para a vida realmente, não sabendo aonde se encaixar na sociedade e no momento. Agora o jovem Elyas Eldridge trouxe uma imposição cênica para seu Dio interpretando a clássica canção do Queen como se fosse sua, jogando em desenho animado convertido, com cenas conectadas e dinâmicas que vou ficar de olho no que pode surgir futuramente dele. 

Visualmente posso dizer que quase saí da sessão ensopado de tanta chuva na trama, que chega a ser irritante com o protagonista usando capa e andando de bicicleta a todo momento, mas tivemos dois apartamentos bem cheios de detalhes, mostrando a casa da família como uma verdadeira bagunça, aonde ninguém nem se acha, e nem vê o corpo da outra empregada no chão, e o quarto do garoto nem que ele quisesse acharia algo de tanta coisa jogada, já o da empregada mostra uma família diferente, cheia de pessoas que sempre comem juntas, se conectam, conversam, e depois até ficamos sabendo mais quem são. Tivemos cenas num estilo de prisão, que depois nos atos finais vemos o que era realmente aquilo, com uma cena do passado bem marcante, tivemos alguns protestos e boates da garota, alguns jogos de realidade virtual do rapaz, um escritório moderno do marido, e as muitas viagens da protagonista. E claro o aparelho que emite luzes e faz o povo viajar, e alguns atos dentro de uma piscina e de um barco, ou seja, uma produção bem grandiosa.

Tivemos alguns atos musicais bem interessantes, mas sem dúvida o que mais teve nuances foi a música do Queen, "Bohemian Rhapsody", que nunca tinha botado muita atenção na letra completa, e que fez muito sentido com o desenvolvimento na tela em forma de animação, chamando muita atenção e imposição cênica.

Enfim, é um filme que recomendo pela essência, e pela simbologia presente para refletirmos sobre nós e nossas conexões com familiares e pessoas ao nosso redor, mas que também é um filme que muitos não irão se conectar com o que é mostrado na tela, então tem de estar preparado para aceitar e se envolver, então fica a dica para quando for realmente lançado comercialmente seja assistido, ou para as cidades que ainda forem exibir ele no Festival irem aos cinemas. E é isso meus amigos, amanhã volto com mais textos, e fico por aqui hoje, então abraços e até breve.


sexta-feira, 25 de abril de 2025

Em Qualquer Lugar, A Qualquer Hora (Anywhere, Anytime)

Ando dizendo que já virou praxe todo Festival ter algum filme com refugiados tentando sobreviver de modo legal sem os papéis do país aonde estão, e "Em Qualquer Lugar, a Qualquer Hora" usa bem esse mote de uma forma simples, porém bem representada na tela, aonde vemos que quando a coisa desanda, ir pelo pior caminho é um rumo que não vai melhorar, e assim mesmo sem ter grandes atos, o filme acaba entregando algo bem leve e chamativo na tela, pelos olhares de um diretor que consegue enxergar bem a vida de imigrantes.

O longa nos conta que Issa é um jovem imigrante senegalês sem documentos, que tenta sobreviver como pode em Turim, na Itália. Quando é demitido por seu antigo empregador, que teme ser multado pela polícia, um amigo o ajuda a começar a trabalhar como entregador de aplicativo. Esse novo trabalho lhe dá uma sensação de segurança e liberdade, pedalando pela cidade e no controle de seu próprio destino. Porém, essa recém-adquirida estabilidade desmorona rapidamente quando, durante uma entrega, a bicicleta na qual ele gastou todo o seu dinheiro é roubada.

Diria que o diretor e roteirista iraniano Milad Tangshir soube transportar o que anda vendo em muitos países da Europa, de modo que a entrega na trama italiana é bem focada no jovem protagonista em seu dia conflito, aonde talvez pudesse ser até mais emocional na tela, pois de cara já dá para saber o que vai acontecer em menos de 20 minutos de filme, e a simbologia trabalhada pelo diretor nem vai por rumos mais autênticos. Ou seja, é uma trama básica que já vimos muitas vezes, mas que tem seu desenvolvimento bem colocado na tela ao menos, o que acaba agradando.

Quanto das atuações, Ibrahima Sambou trabalhou seu Issa como qualquer outro agiria como tudo que ocorre com ele, ficando inicialmente agoniado, depois revoltado, passando pelo ódio, e a revolta, e sabendo desenvolver bem o que o diretor precisava mostrar acabou sendo simbólico e funcional na tela. Quanto aos demais atores, praticamente todos são apenas elos de conexões, então nem vale falar muito de cada um valendo apenas citar Moussa Dicko Diango com seu Mário carismática e disposto a ajudar o "amigo".

Visualmente a trama trabalha a Itália vista pelo olhar dos imigrantes, indo em feiras, conjuntos habitacionais, prédios de aglomerações, e claro o mundo das entregas de delivery com muitas bicicletas.

Enfim, é um filme bem básico, que não impressiona tanto quanto poderia, mas que tem sua boa pegada, valendo como dica para quem for conferir ele. E fico por aqui agora meus amigos, mas lá vou eu conferir mais um longa do Festival de Cinema Europeu da Imovision, então abraços e até daqui a pouco.


O Contador 2 (The Accountant 2)

Uma coisa eu que posso falar com toda certeza sobre "O Contador 2" é que depois de 9 anos da estreia do primeiro filme, eu mal lembrava que o protagonista era o Ben Affleck, mas felizmente não diria que seja algo extremamente necessário de lembrar, pois o filme funciona bem sozinho, só que não tem mais todas as explicações que tivemos no primeiro filme, de quem é o cara, qual seu trabalho, e todo o blábláblá que teve por lá, misturando cenas de precisão com dinâmicas de ação, então dito isso, o que você precisa saber nesse é que o cara é o contador do crime, tem autismo, luta e atira bem demais, e agora mataram o melhor amigo dele, e ele vai terminar o serviço do cidadão. Pronto, o restante é tudo muito novo, e como estou com meu nível de humor ruim no máximo, posso mudar o nome do personagem para Batman que vai ficar tudo certo, pois tem o ator que fez o Batman, é muito rico, tem seus assistentes de inteligência para melhorar o que ele já tem de bom, e ainda soca os criminosos, ou seja, é o Batman sem a fantasia de morcego. Piadas a parte, o longa é bem interessante, mas bem abaixo do primeiro filme, pois aqui diria que tudo ficou mais morno na tela, não sendo uma pegada de ação mais chamativa, mas ainda assim é um bom filme que empolga e não cansa, mesmo tendo mais de duas horas de duração, então quem curte o estilo vai valer a pena a conferida.

O longa nos conta que Christian Wolff tem um talento para resolver problemas complexos. Quando um velho conhecido é assassinado, deixando para trás uma mensagem enigmática para “encontrar o contador”, Wolff se sente compelido a resolver o caso. Percebendo que medidas mais extremas são necessárias, Wolff recruta seu irmão distante e altamente letal, Brax, para ajudar. Em parceria com a Diretora Adjunta do Tesouro dos EUA, Marybeth Medina, eles descobrem uma conspiração mortal, tornando-se alvos de uma rede implacável de assassinos que fará qualquer coisa para manter seus segredos enterrados.

O mais engraçado é que o diretor Gavin O'Connor foi mantido no projeto, e se em 2016 ele revolucionou fazendo um estilo pegado e cheio de nuances, depois no seu filme também com o ator Ben Affleck ("O Caminho de Volta") ele já tirou o pé para algo mais calmo e sintético ao ponto que agora ele decidiu que é melhor não explodir e trabalhar com calma cada elo da trama. Claro que isso numa franquia que talvez pedisse um pouco mais de ação vai fazer com que muitos reclamem, porém o formato investigativo e a forma dinâmica escolhida até tem o seu gracejo na tela, prendendo bem o espectador. Ou seja, veremos se terão fôlego para um novo filme daqui uns anos, ou se vão optar parar por aqui, pois o papel de herói não coube muito bem no personagem, mas como chama atenção pelas conexões, ainda dá para brincar com outras facetas, afinal alguns personagens do primeiro não voltaram, e a moça principal aqui ficou meio que de lado, então veremos as cenas no próximo capítulo.

Quanto das atuações, um feito gigantesco da equipe de elenco foi escolher Jon Bernthal já lá para fechar o primeiro filme como irmão de Ben Affleck, e se lá não tinha reparado tanto nas semelhanças dos dois, aqui ficou muito chamativo isso. Mas começando a falar de Ben Affleck, não sou muito fã dos seus estilos expressivos, pois ele exagera na seriedade, tanto que no começo do longa aonde seu Christian está num evento de relacionamento, mostrar a foto com um sorriso exagerado acabou sendo algo que é muito de sua personalidade, de parecer ter sempre o mesmo semblante sério, porém, como o papel pedia algo meio que desse estilo, para mostrar um pouco de seu autismo, um pouco de sua loucura e claro seu modus operandi imponente, o que acaba sendo um acerto dentro do que é proposto. E agora falando de Jon Bernthal com seu Brax, ele se deixou levar de uma forma tão solta e explosiva que parecia estar na própria casa, inclusive andando de roupa íntima mais do que uma vez, e trabalhando trejeitos meio que canastrões, mas com uma boa pegada para se impor quando precisava, acabou acertando com o que fez. Um fato engraçado de se pensar é que o papel de Cynthia Addai-Robinson é a de diretora adjunta do Tesouro Nacional, Marybeth Medina, e num cargo como esse você espera que a pessoa apenas tenha que saber lidar com números e algumas investigações financeiras, mas aqui na cena que precisou lutar por sua vida parecia treinada pela própria SWAT, ou seja, a atriz se jogou em cena, e fez bons traquejos expressivos que acabou agradando com o que teve de fazer. Quanto aos demais, vale uma rápida menção para Robert Morgan com seu Burke medroso demais, Daniela Pineda com sua Anaïs ágil, porém bem estranha e sem quase desenvolvimento algum (tirando as cenas no hospital), mas valeria um bom aplauso para os vários jovens que são da equipe de hackers do protagonista, pois chega a dar um medinho com tudo o que fazem em questão de minutos.

Visualmente a trama teve alguns bons momentos mostrando inicialmente um bingo que talvez entre em alguma sala dublada para ver a narração do cantador de bingo cheio de sacadas com os números, depois um encontro de grupos de relacionamento em algo bem estranho, vimos o trailer aonde o protagonista vive, um necrotério bem básico, um motel tradicional americano, a casa que era alugada por Ray e passa a ser da protagonista, vemos um mercado de peixes e o mais chamativo mesmo do orfanato/sala de operações dos hackers, além da moto ultrasônica do protagonista, que foi bem chamativa, também tivemos armas de todos os portes e tudo mais que o gênero pedia.

Enfim, acredito que fui esperando mais do que o longa me entregou, e como costumo dizer ir com expectativas é algo que acaba sempre estragando o resultado final, porém ainda assim é um bom entretenimento, cheio de pegadas e interações, que poderia ser menos calmo para agradar mais, então fica a dica para não conferir ele com muita empolgação, pois senão a chance de não curtir é alta, e vamos esperar se irá rolar mais continuações, e que se for acontecer que não demore tanto. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã para mais dicas, então abraços e até logo mais.