Tudo o Que Tivemos (What They Had)

5/04/2019 03:11:00 AM |

Em determinado momento do trailer, o protagonista fala "A vida não é fácil" quando lhe é questionado o motivo de não ter parado de fumar, no filme ele dá uma complementada nessa ideologia sobre rotas de fuga da vida, e basicamente essa é a ideia que o longa "Tudo o Que Tivemos" tenta nos mostrar ao trabalhar as situações familiares envolvendo uma mulher infeliz com o casamento, sua filha, seus pais já bem idosos (um com problemas cardíacos, outro com Alzheimer), e seu irmão desesperado para internar a mãe em uma casa de repouso, para poder cuidar de sua vida, seu bar, e tudo mais. Ou seja, um drama bem armado, aonde os diálogos e situações ocorrem casualmente como algo que já vimos diversas vezes em outros longas, novelas, séries e afins, mas que por ter um elenco forte consegue passar bem a emoção do momento e fazer com que pensássemos nas mensagens de aproveitar a vida, de estar presente nos momentos familiares, e claro seguir nossa intuição e não imposições, pois isso pode ser necessário mais para frente. Sendo assim, diria que não é algo tão ruim de conferir, mas poderiam ter focado em algo menos abrangente e atacado um elo menor, que certamente emocionaria mais e não necessitaria de tantos diálogos como uma peça teatral.

A sinopse conta que junto com a filha adolescente Emma, Bridget precisa viajar de volta para a casa da sua mãe, Ruth, após ela acordar de madrugada e sair caminhando por uma tempestade de neve devido ao Alzheimer. No retorno a sua casa, Bridget precisa lidar com o teimoso pai Burt e o irmão Nicky, enquanto discutem sobre colocar Ruth em uma casa de cuidados para a memória ou não.

Chega até ser engraçado que quando vemos um longa dramático que possui inicialmente uma ideia, e depois se verte para muitas possibilidades, abrindo um leque imenso, e vamos pesquisar sobre o diretor ou diretora da trama e bate direto com a informação de ser sua estreia, já vemos de cara o motivo. Pode até soar preconceituoso isso, mas drama é um dos gêneros que a pessoa tem de ser muito corajosa para encarar como uma estreia na direção, pois ou você foca em algo e ataca com muita determinação, ou acaba entregando algo muito amplo sem um rumo propriamente dito, e aqui a tentativa da diretora Elizabeth Chomko de abranger a vida, as relações familiares, os problemas da velhice, do relacionamento, de determinações que os caminhos das escolhas nos levam, acaba sendo algo com vértices demais para ser trabalhado em 101 minutos, de modo que talvez ela entregando uma série de uns 10 capítulos aonde trabalhasse cada parte calmamente até seria bem vista e interessante, mas aqui procuramos sair por um lado, e o resultado vai em outro, o que resulta em uma trama cansada, sem muito gás, mas que felizmente com bons atores, e um roteiro com bons diálogos, resulta em algo que até parece uma peça teatral, e independente de ter algumas cenas em outros ambientes, certamente em um palco talvez o público até aplaudisse.

Falando mais das atuações, diria que Hilary Swank sempre faz os mesmos trejeitos em todos os filmes, e aqui não foi diferente com sua Bridget ou Bit como todos a chamam no longa, de modo que ela tenta puxar a emoção sempre em seus atos, mas não nos convence de que está sentindo realmente aquilo, e isso é algo que chega a incomodar, mas suas tentativas em sair dos vértices comuns da trama foram ao menos satisfatórios, e chama a atenção pela tensão que consegue passar, ou seja, como disse acima, uma atriz teatralizada que por forçar no cinema não impacta como deveria. Robert Forster nos entrega um Burt duro com todos, determinado com suas cenas, e que entrega muito carinho para com sua amada, e isso é o que importa, pois o ator mostrou o real significado do casamento, que é aceitar e seguir, amando para a eternidade, e com bons tons, ele acaba agradando. Michael Shannon mais uma vez dá um show de expressividade forte com seu Nicky, de maneira que ficamos pensando em tantas atitudes que vemos acontecer em nossa vida, e que o ator usou de base para compor o personagem, que chegamos a nos ver nele, ou seja, um acerto incrível de trejeitos, de impressões, e que mostra que o ator está num rumo muito bom de escolhas. Blythe Danner entrega uma Ruth doce e interessantíssima com seu Alzheimer, que brinca com as cenas, transcende olhares, e se entrega para a personagem com muita simpatia e graciosidade, dando um show visual de trejeitos e interpretações. E não menos importante, mas ficando sempre em segundo plano, Taissa Farmiga parece até deslocada com sua Emma na trama, mas serve de tiro para as cenas de confronto com a mãe, encaixando bem o ar dramático e os trejeitos adolescentes para que víssemos a cobrança maternal vindo da mesma forma que teve, e isso chama muita atenção pela jovem saber encaixar isso na sua personagem.

No conceito visual como disse o longa poderia facilmente se passar num teatro sem cenografia alguma, ou talvez até com poucos elementos para dar contexto para os atores, pois o filme não possui algo necessário de estarmos vendo, mas sim o diálogo encaixado nos momentos certos para entendermos tudo o que os personagens tem para nos mostrar, e sendo assim a equipe nem quis gastar muito com cenografia, tendo um apartamento cheio de quadros para nos entregar as memórias do casal, que vão sendo mostrados também na tela, durante o filme, temos algumas cenas no bar de Nicky (bem montado ou escolhido para as filmagens por sinal - para mostrar que foi algo bem pensado na escolha de vida do personagem), algumas cenas na igreja, mas tudo de modo bem singelo e dando apenas o tom, que fotograficamente usou muita iluminação, e não pensou em criar tensão com algo mais escuro, o que é bem incomum de se ver em dramas.

Enfim, é um filme mediano pra bom, que poderia ser incrível, mas que se perdeu nos diversos caminhos que seguiu, de modo que como disse acima funcionaria dessa forma mostrada bem em uma peça de teatro, ou alongando um pouco mais como uma série incrível, mas que como entregue sendo cinema acaba ficando abaixo do esperado. Sendo assim, recomendo ele mais como algo descontraído, leve e que vale para reflexões familiares, mas nada muito impactante, ou seja, um passatempo apenas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.

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