Netflix - Apóstolo (Apostle)

1/10/2019 12:27:00 AM |

Olha, estava procurando um suspense/terror que fosse impactante dentro do catálogo da Netflix e não estava achando nada que não fosse série, e eis que resolvo ver as indicações que alguns amigos me deram, mas que olhando pela sinopse e pela cara de "Apóstolo", acreditava que seria mais um filme da época medieval aonde malucos fazia seus rituais e tudo mais. Ledo engano desse Coelho que vos digita, pois, o filme é incrível com todas as letras possíveis se possa escrever, trabalhando o conceito de fé, de brigas religiosas, de tomada de poder, de crenças, e até se quisermos assim como ocorreu com "Mãe", brincarmos com a ideia da formação do planeta pela natureza das coisas, tendo algumas coisas bem envolventes para trabalharmos com a proposta da Deusa em si, de como ela é gasta pelos homens e tudo mais, ou seja, um filme completo de história. Mas aí entra aquele ditado que costumo falar, filmes bons de história costumam falhar na produção ou na tensão crítica, afinal estamos falando de um terror, e meus amigos, algumas cenas me fizeram arrepiar os cabelos do dedinho do pé de tão fortes, achando sinceramente que não iriam mostrar, mas mostram, ou seja, impactante com todas as forças, e agradando em todo o conceito.

O longa nos situa no ano de 1905, quando Thomas Richardson (Dan Stevens) viaja para uma ilha remota em busca de sua irmã. Um misterioso culto religioso a raptou e agora pede uma grande quantia de dinheiro por seu resgate. Porém, eles logo percebem que mexer com Thomas foi um erro e ele torna sua missão desencavar todas as mentiras sob as quais o culto foi construído.

O trabalho que o diretor e roteirista Garreth Evans, que costuma trabalhar bem com longas de terror, é algo que vai muito além do que apenas a base do gênero, pois ele conseguiu brincar ao mesmo tempo com algo que costuma ficar mais voltado para longas de época como as divergências religiosas, trabalhar todo o conceito artístico, envolver o público com uma densidade cênica bem precisa, e quando chega mais próximo ao final atacar realmente com o terror mais impactante, daqueles que arrepiam de tanta força e conseguem impressionar o público. Porém ele não faz nada gratuito, de modo que podemos observar cada ato como algo maior, que dando um leve spoiler, podemos interpretar a trama como a forma que a natureza nos deu o mundo, fomos exigindo e extraindo coisas demais dela, ela começa nos cobrar violentamente, e não temos outras formas para lhe ajudar, ou seja, o longa também pode ser bem reflexivo, porém, felizmente, ele não vira um cult chato como costumamos ver em outros casos desse estilo, e essa foi a grande sacada do diretor, pois ele opta por trabalhar como algo mais comercial realmente, trazendo a tenacidade comum dos longas de suspense/terror que tanto gostamos para um vértice forte e interessante de ser acompanhado. Ou seja, acertou em cheio.

As interpretações também foram incríveis de conferir, e com um elenco de peso o resultado não era esperado para menos, irei falar sobre suas formas de interpretar apenas para não encher de spoilers, mas certamente daria para fazer um texto completo só com a representatividade de cada personagem. E começando pelo protagonista, temos um Dan Stevens completamente insano com seu Thomas, cheio de expressões fortes, olhares perturbados, mas uma determinação ímpar para alcançar o objetivo que é resgatar sua irmã do culto, e a cada ação que o personagem se infiltra, ele nos deixa mais ansiosos por tudo o que ele pode fazer, e quando chega ao final ele consegue superar mais ainda. Michael Sheen nos entrega o profeta Malcolm tão completo, cheio de virtudes, mas também impositivo e disposto à quase tudo para conseguir seu objetivo como fundador da cidade, seus olhares fluem pro mal e pro bem de uma maneira tão imponente quanto a que vemos em grandes pregadores religiosos, e assim sendo ele foi muito bem. Mark Lewis Jones inicialmente fica meio que em segundo plano com seu Quinn, mas no segundo ato ele vem com tudo, e entrega uma personificação tão forte que chega a impressionar, e claro que com ótimos trejeitos sem forçar ele envolve e chama muita atenção. O jovem Bill Milner foi bem coeso com seu Jeremy, tendo cenas interessantes, poetizadas e até um envolvimento bem colocado na trama, mas pareceu mais assustado com tudo da trama do que relaxado para se mostrar bem nos momentos que precisava, de modo que falhou um pouco. Quanto das garotas, praticamente todas tiveram o mesmo comportamento de encaixe, mas felizmente todas conseguiram ter destaques positivos em suas expressões para agradarem e chamarem a responsabilidade quando foi preciso, Lucy Boynton foi chamativa com os cabelos diferenciados de sua Andrea, e sendo bem zelosa com todos agradou bastante, Elen Rhys teve poucas cenas com sua Jeniffer, mas sofreu bastante com seu visual e entregou muita força expressiva, Kristine Froseth foi vívida demais com sua Ffion, e poderia ter se segurado mais para não desandar, e claro, Sharon Morgan apareceu praticamente apenas 3 vezes como a deusa, mas veio com muita personalidade nos atos que resultaram em algo bem forte de ver.

O conceito visual da produção também é muito bem elaborado, criando uma cidadela cheia de detalhes, tendo seus rituais, suas formas visuais incríveis dentro do ambiente da Deusa, muitos elementos alegóricos para serem usados nas reflexões, e um ambiente completamente denso remetendo muito aos filmes de épocas medievais, com as vilas colaborativas, os soldados e tudo mais, ou seja, a equipe de arte caprichou bastante entregando algo que vai muito além do que apenas vemos na tela, podendo ter muito aprofundamento e chegando a outras perspectivas. A fotografia do longa ficou bem escura, mas nada ficando sem aparecer, nem preparando sustos desprevenidos nos espectadores (o que é um ponto muito positivo para um terror), e tendo diversas cenas iluminadas com faroletes, velas e tochas, o resultado acaba sendo bem surpreendente de tons, brincando muito com o amarelo para dar um ar de época, com destaque também para a cena no meio da plantação com um ar completamente oposto de tudo o que vimos no filme inteiro.

Enfim, esse certamente será daqueles filmes que vale a pena rever para observar cada detalhe e refletir um pouco mais sobre cada coisa, mas a priori o que posso fazer é mais do que recomendar ele para todos que tenham Netflix para que confiram e tirem suas conclusões, pois é um filmaço, e mesmo tendo cenas fortes ao final, ele não é daqueles que assustam, então podem ver sem medo, e se preparem para surpreender com tudo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã já volto para a rotina do cinema com quatro estreias nessa semana por aqui, então abraços e até logo mais.

PS: Talvez mais para frente eu possa me arrepender da nota, mas me vi nervoso, tenso, pensando nas diversas referências, depois abraçado com a almofada, pensando mais um pouco, chocado com as cenas fortes, ou seja, vamos com a nota máxima pela primeira vez para um filme da Netflix.

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