O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)

12/22/2018 02:57:00 AM |

Assim como é dito em determinada cena do trailer por um dos protagonistas que Mary Poppins não envelheceu nenhum dia, podemos dizer que a produção fez esse mesmo trabalho de parecer uma continuação gravada no dia seguinte após ser exibido o longa de 1964, claro que agora com muito mais tecnologia, mas "O Retorno de Mary Poppins" mantém a mesma essência, os mesmos moldes coreografados, as deliciosas canções que fazem os personagens ninarem (e quase o público também!), e principalmente a doçura pontual por conseguir transmitir sensações tristes e duras de enfrentar usando a realidade, as convertendo para algo mágico e fantasioso que alivia a tensão e cria uma desenvoltura gostosa e dançante no melhor estilo possível de uma peça da Broadway. Ou seja, um filme levíssimo, com uma direção de arte fantástica tanto no feitio real, quanto nos maravilhosos desenhos bidimensionais que ao serem inseridos os personagens reais parecem pintados à mão junto  da tela de tal maneira que acaba sendo um ensejo delicioso de acompanhar, e sendo assim, quem gostou do primeiro filme, mesmo que não tenha visto ele há 54 anos atrás, vai gostar do que verá agora, e posso afirmar que esse deve ser colocado como tão clássico quanto o anterior, coladinho na estante para ser lembrado com o mesmo amor, mesmo que canse levemente em alguns momentos.

A sinopse nos conta que numa Londres abalada pela Grande Depressão, Mary Poppins desce dos céus novamente com seu fiel amigo Jack para ajudar Michael e Jane Banks, agora adultos trabalhadores, que sofreram uma perda pessoal. As crianças Annabel, Georgie e John vivem com os pais na mesma casa de 24 anos atrás e precisam da babá enigmática e o acendedor de lampiões otimista para trazer alegria e magia de volta para suas vidas.

Todos sabemos da capacidade do diretor Rob Marshall fazer ótimos longas musicais no melhor estilo dos palcos da Broadway correto, afinal vimos "Chicago", "Nine", "Caminhos da Floresta", e agora eis que ele nos transporta para o musical mais icônico da vida de muitos, colocando toda a essência do longa original, a personalidade doce da babá incorporada em uma nova atriz tão boa quanto a original, com danças memoráveis cheias de sapateado e fantasia, e principalmente criando um mundo personalizado misturando os atores reais com desenhos incríveis, ou seja, se seu nome já era um marco do estilo musical, a partir de agora ele se torna um Deus desse estilo, e certamente sua versão de "A Pequena Sereia" será esperada com muita ânsia. Digo isso com muita facilidade, pois o diretor soube trabalhar muito bem cada momento do filme para que fantasiássemos com as duras situações de perda familiar, de dívidas caindo em cima de forma cruel, de patrões malvados, de pessoas que trabalham com amor no que fazem, e até uma certa alusão para os dias complicados que as mulheres vivem todos os meses, ou seja, diversos atos que num filme denso e dramático fariam o público sair com as costas até doendo de tão pesados que poderiam ser entregues, mas que aqui tudo vira dança, tudo tem uma música gostosa, e principalmente, tudo tem a mão enluvada do diretor para conduzir graciosamente, ou seja, um acerto e tanto.

Antes do longa começar, naquele FlixChannel que passa nos cinemas, vimos a atriz Emily Blunt dizer que o diretor lhe ligou pedindo para falar com ela com urgência, para na sequência a convidar para ser a protagonista Mary Poppins, e fica claro que não temos outra atriz capaz de assumir tal personalidade de uma forma tão concisa quanto ela, incorporando bons trejeitos, sendo suave, dançando magistralmente e cantando melhor do que nunca para nossos queixos irem ao chão com cada ato seu, ou seja, foi perfeita em tudo e agradou demais. Lin-Manuel Miranda conseguiu trazer o estilo que vimos com Bert (no original vivido por Dick Van Dike), mas aqui colocando um novo personagem com seu Jack, que se antes tínhamos os limpadores de chaminé, agora temos os lanterneiros ou lumes como preferem ser chamados, e o ator foi gracioso, sapateou incrivelmente nas suas duas principais cenas, cantou muito e emocionou com trejeitos gostosos e envolventes, de forma que acabamos nos conectando ao seu personagem, mesmo que sua dança seja longa (assim como ocorreu com Bert no longa de 64). Assim como aconteceu no primeiro filme, os adultos acabam entregando personalidades duras e ficando bem em segundo plano, e mesmo que aqui Ben Whishaw e Emily Mortimer colocassem mais personalidades para Michael (que segue a mesma linha bancária do pai) e Jane Banks (que assim como sua mãe era revolucionária pelo voto feminino, aqui temos uma revolucionária sindical), ambos acabaram sempre colocados de lado, mas ao menos souberam trabalhar emocionalmente suas cenas, agradando com simpatia para agradar. Agora quem realmente agradou foram as crianças, quanta personalidade e vivência foram trabalhadas para colocar um trio tão perfeito na telona, agradando do começo ao fim, e principalmente conseguimos ver os três vibrando com a perfeição de suas cenas de modo que Annabel vivida por Pixie Davies, Georgie vivido por Joel Dawson e John vivido por Nathanael Saleh conseguiram vibrar muito e cantar com  uma suavidade envolvente tão boa que não tem como não gostar deles, com leve destaque para Dawson que foi maravilhoso. Colin Firth veio bem encaixado como o vilão da trama Wilkins, e com olhares duros, e uma boa dose de tensão nos trejeitos conseguiu entregar um bom personagem para ficarmos com raiva dele, como deve acontecer com vilões. Tivemos ainda duas participações especiais bem colocadas, com Meryl Streep fazendo a prima maluca de Poppins, bem colocada, mas que não incrementou quase nada para a trama, e claro nosso querido Bert, ou melhor Dick Van Dyke, agora vivendo seu segundo papel no original, pois como fez lá em 64 também o Sr. Dawnes, aqui ele volta como o filho envelhecido, mas com um bom tom agradável também, ou seja, rápido e preciso para claro nos lembrar do grande mote do primeiro filme, que aqui vai fechar bem a trama.

Agora temos mais um bom indicado para as categorias artísticas das premiações, pois é incrível a cenografia do longa, trabalhando bem a interação dos humanos com os desenhos 2D muito bem feitos (que parecem realmente com as animações clássicas da Disney feitas a mão!), tivemos muitos objetos cênicos maravilhosamente utilizados nas cenas de cantoria, mas principalmente a cena do circo musical dentro da tigela é de cair o queixo com tanta simbologia visual, com cores bem presentes, figurinos e tudo mais que possamos pensar ter visto em qualquer outro longa, ou seja, um show visual realmente, que dá vontade de aplaudir. A fotografia é muito colorida, cheia de tons para nos remeter ao longa original, trabalhando bem a névoa londrina, colocando o fogo como bom elemento de sombras, mas principalmente ousando na brincadeira com as animações para não termos sombras duplas, numa conexão fotográfica de um luxo imenso.

Como estamos falando de um filme musical, do mais clássico modelo possível, a maior parte dos textos são cantados, e muito bem orquestrados, com suavidade, delicadeza e num tom bem colocado acabamos tendo o tom do longa de uma forma envolvente e bem harmoniosa, de modo que não acredito tanto que as canções fiquem em nossas mentes como aconteceu com algumas do original, mas todas são bem trabalhadas e interessantes. E claro que quem quiser ouvi-las, aqui está o link.

Enfim, é um filme que cumpriu bem o que foi prometido, veio como uma sequência, mas também deixou no ar a possibilidade de uma continuação mais breve, afinal tanto o primeiro, quanto esse foram baseados em trechos dos 8 livros originais de P. L. Travers, então se o sucesso for bem encontrado, certamente irão buscar Emily pelo colarinho para repetir a dose. De certa forma até temos leves defeitinhos, mas o principal é que ele é um pouco cansativo, principalmente para quem não gostar de longas musicais, então quem já costuma fugir do estilo, vai reclamar de tudo, mas quem gostou do primeiro, e/ou gosta de longas cantados e dançados, prepare-se para sair apaixonado da sessão. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando essa semana que vem quebrada pelo Natal, desejando uma boa comemoração para todos junto de seus familiares e amigos, e logo após na quarta já volto com mais estreias, então abraços e até logo mais.

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