A Cabeça de Gumercindo Saraiva

11/01/2018 12:54:00 AM |

Sei que já estou um pouco velho para lembrar de tudo o que estudei no colégio, mas lembro de ter visto sobre algumas das revoluções que ocorreram no Sul do nosso país, mas falar a fundo quem era quem ou sobre o que elas tratavam já é querer abusar de minha memória, mas é algo que quem tiver um pouco mais de interesse pode criar boas histórias para o cinema, que se bem ambientadas acabam resultando em filmes interessantíssimos com boas lutas, e que conseguem soar interessantes para um público bem abrangente. Porém, o grande detalhe fica por conta de como desenvolver essa história para que ela não fique exageradamente regional, e crie perspectivas maiores para resultar em algo interessante e não cansativo, pois o que aconteceu em "A Cabeça de Gumercindo Saraiva" foi exatamente isso, a trama rodeou diálogos exagerados sobre ideologias, ficando presa somente na correria e matança pela cabeça de um dos líderes que está sendo levada para o governador do Estado, ou seja, poderiam ter criado mais interações entre os personagens, brigas mais acirradas, e menos pique-esconde, que certamente entregaria algo muito melhor e menos alongado, pois com apenas 94 minutos de duração, a trama pareceu ter dias de tanta enrolação, para um final completamente bobo e sem nexo com tudo o que acabou ocorrendo. Ou seja, um filme fraco que não empolga, nem se desenvolve.

A trama nos situa no fim do século XIX, onde a Revolução Federalista marcou o sul do Brasil. Na época, o caudilho revolucionário Gumercindo Saraiva foi assassinado pelos legalistas, e seu filho, o capitão rebelde Francisco Saraiva, parte com cinco cavaleiros para resgatar a cabeça do pai, levada à capital pelo major Ramiro de Oliveira e dois ajudantes.

Certa vez discutindo com um amigo falei sobre gostar que escritores de livros adaptem suas próprias obras, sendo roteiristas mais versáteis para criar bons elos para que sua trama se desenvolva e fique o mais próximo da fidelidade do livro em questão, mas aí o próprio escritor virar o diretor também já é algo que tende a ir pelo ralo, pois vai querer deixar o longa muito travado, e é o que aconteceu aqui com Tabajara Ruas, que embora já seja um diretor com várias outras obras, aqui ao adaptar seu livro para a telona acabou travando demais em diálogos e não colocando tantas ações como poderia fazer num estilo de faroeste mais rústico, que é bem a pegada da revolução federalista, e principalmente, do contexto em que o longa se encaixa. Ou seja, ele poderia ainda manter a mesma essência que o filme foi moldado, mas trabalhando menos os diálogos e criando mais vértices de ação, pois aí seu longa fluiria, teria dinâmica, veríamos altos ataques de cavalos e tiros no meio da floresta, e certamente a mesma ideia de levar uma cabeça de um lugar para outro com os parentes da cabeça buscando pegar ela de volta para enterrar junto ao corpo acabaria virando um road-movie mais empolgante do que o que foi mostrado, pois confesso que o sono bateu várias vezes com tantas falas.

Como disse, temos um longa bem dialogado, que exigiu um pouco a mais dos atores tanto no sotaque gaúcho quanto em trejeitos para que não ficassem falando sem parar sem se expressarem como deveriam, e dessa forma, diria que o destaque fica realmente para os dois protagonistas, pois tanto Murilo Rosa fez um Ramiro de Oliveira bem coeso, cheio de perspectivas, bom atirador e preocupado com sua missão, mas soando estranho em alguns momentos, quanto Leonardo Machado entregou para seu Francisco Saraiva uma personalidade dura de um filho que quer a cabeça de seu pai de qualquer forma, fazendo até caras fortes e impactantes, buscando um resultado atraente para seu personagem. Quanto os demais atores, a maioria fez algo que costumo dizer ser um erro forte para personagens secundários, que é tentar aparecer demais no meio de uma cena, roubando até o eixo que seria dos protagonistas, e sendo assim, prefiro nem destacar nenhum outro personagem.

Uma das coisas boas do longa ficou a cargo do visual bem colocado que a equipe de arte encontrou em diversas locações para retratar os campos gaúchos dos anos em que se passa a trama, usando florestas densas, figurinos típicos, armas grandes, mas principalmente aqui os facões para degolas comendo solto em muitas cenas, o que deu um resultado bem interessante para a produção por funcionar bem visualmente, e claro, pela equipe de maquiagem dar conta do recado também, ou seja, o resultado nesse quesito até foi melhor do que a história em si. A fotografia brincou com névoa, chuva, luzes de contra e tudo mais que pudesse deixar o longa mais denso visualmente, ousando até aproximações mais vertiginosas dos personagens, mas salvar algo que falta história é difícil para a técnica, e aqui não conseguiram.

Enfim, é um longa bem trabalhado em técnicas, mas que enrolou demais para algo simples, exagerando demais em diálogos que não levam a lugar algum, e talvez se fosse mais dinâmico nas ações, certamente o resultado impressionaria bem mais. Não tenho como recomendar ele, pois mais cansou do que passou sua mensagem, mas também está bem longe de ser uma bomba completa. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana que foi bem longa, mas já começo amanhã com mais uma bem recheada, então abraços e até logo mais com muitos posts novos.

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