Ana e Vitória

8/04/2018 07:22:00 PM |

É engraçado que outro dia estava conversando com um amigo, que nessa nova vertente de gêneros cinematográficos que andam sendo produzidos no Brasil, um que talvez seria difícil aparecer seria o musical, pois ligar canções nos nossos diversos sotaques é algo que esteticamente não funcionaria no cinema. Pois bem, eis que fizeram e ainda por cima usando apenas canções de uma única dupla, ou seja, por mais que "Ana e Vitória" seja um longa bem morninho, com músicas calmas e uma dinâmica um pouco fora de eixo, calaram minha boca e mostraram que pode funcionar o gênero, então ficarei na torcida para que um dia tenhamos alguma versão mais interessante e bem colocada para ter quem sabe um filme de cada gênero no âmbito nacional como meu preferido. Agora falando mais sobre o longa em questão, o que posso dizer logo de cara que como foi dito em vários meios, a trama não se trata de uma biografia do duo Anavitória, mas sim uma história criada que funciona bem para com suas canções, e que é bem trabalhada no sentido de mostrar o mundo de relacionamentos modernos que existem atualmente, juntando com isso o uso desenfreado das tecnologias dos celulares para qualquer coisa, ou seja, um longa aonde se quisessem até daria para fazer um drama sobre a febre dos aplicativos de redes sociais e dos diversos casos de relacionamentos efusivos, que funcionaria sem música alguma, mas que ao menos deram um tom gostoso para acompanhar esse que até parece algo biográfico de como o duo chegou ao estrelato, mas que dizem não ser.

O longa nos situa no Rio de Janeiro, e mostra que Ana e Vitória já haviam até mesmo estudado juntas, mas apenas se aproximam de fato em uma festa realizada muito longe de sua cidade natal, a pequena Araguaína, no Tocantins. Após se apresentar na festa, Ana fica impressionada com a informal cantoria de Vitória, em uma rodinha de violão. Logo surge a ideia de gravarem algo juntas, que rapidamente explode na internet e chama a atenção do produtor Felipe Simas. A fama repentina as traz de volta ao Rio de Janeiro, para um show transmitido pela internet e a produção de seu primeiro CD.

O diretor e roteirista Matheus Souza que fez o ótimo "Tamo Junto" retorna aqui para mais um romance em que trabalha bem a câmera com muita dinâmica interativa, fazendo ângulos diferenciados, inserções digitais de textos para realçar as conversas dos programas de celulares (claro que valorizando sempre a marca do patrocinador no alto!!) e até ousando um ou outro plano-sequência para dar ritmo ao longa, mas por serem músicas mais calminhas de relacionamentos, o diretor não pode ousar muito para que o filme tivesse uma desenvoltura mais vivida, apenas trabalhando os eixos e até agradando com isso, mas que certamente ao criar as situações ele poderia ter criado personagens mais bem colocados que fariam do longa se transformar em algo melhor. Ou seja, diria que o filme teve um bom funcionamento, mas o diretor poderia ter colocado um pouco mais de situação para que o filme saísse do clichê bonitinho para os fãs e virasse algo que marcasse realmente um novo estilo de gênero no cinema nacional.

Sobre as atuações, tenho de ser conciso com minha opinião, de que filmes necessitam de atores, e que cantores até podem fazer participações, mas interpretar é algo que dificilmente alguém consegue fazer do dia para a noite, e embora elas cantem muito bem, tenham um sotaque gostoso de ouvir na trama, infelizmente boa parte das cenas aonde Ana Caetano e Vitória Falcão precisavam expressar mais sentimentos e olhares, elas acabaram ficando bem em segundo plano, o que é ruim para o funcionamento de um filme, ou seja, talvez não tivesse o mesmo efeito para os fãs ouvir as canções delas em outras bocas, mas certamente visualmente o longa ficaria melhor interpretado com atrizes reais. Quanto aos demais personagens, uma que também é estreante, mas que soube dosar os olhares e até chamar bem o canto para si foi Clarissa Müller como Cecília, e embora não tenha sido perfeita acabou agradando bastante. Quanto do eixo masculino, diria que não tivemos nenhum grande destaque, mas todos foram bem colocados e divertidos em suas posturas, desde Bruce Gomlevsky como Felipe Simas (produtor da dupla e do filme - quanta responsabilidade!!) que deu um ar profissional nas suas duas cenas, passando por Bryan Ruffo como Bruno que fui ousado e divertido em algumas cenas espaçadas, até chegar no romântico exagerado de Vitor Lamoglia como Ricardo Guilherme. Além desses tivemos ainda algumas cenas bem colocadas com Thati Lopes como a descolada assistente de produção Isa, que se mostrou até mais do que isso, quase virando uma amiga íntima das protagonistas.

No conceito cênico é engraçado que praticamente o longa inteiro se passa em dois terraços e dois quartos de hotel, aonde sem muita expressividade criativa foram conexos apenas para trabalhar visualmente eles, e deixaram que o restante funcionasse através de elos encaixando detalhes digitais dos aplicativos, aparecendo mensagens laterais, fazendo janelas, compondo textos e formatos diferentes, em algo que até soa moderno, mas que também lembra antigos vértices televisivos que funcionam, mas que muitos podem até achar old school e não tão usáveis para a produção.

A composição sonora claro que é somente com canções do duo, e foi bem produzido musicalmente pelo outro cantor agenciado por Simas, no caso Tiago Iorc, mas como acaba acontecendo nas produções nacionais, não achei disponível para compartilhar aqui, e apenas digo que são boas canções e que foram bem interpretadas tanto visualmente como sonoramente na produção.

Enfim, esperava que seria algo bem pior, mas de um modo geral acabou sendo algo agradável e que funciona dentro da proposta, que claro até soa ousada por mostrar o excessivo mundo dos relacionamentos modernos de um dia apenas que vão trocando a cada ato, uma nova amizade colorida, mas certamente colocando canções mais dinâmicas e atores realmente para fazer cena, o longa empolgaria bem mais. Portanto recomendo o filme com muitos poréns, mas acredito que quem gostar desse estilo mais calminho, vai até achar a produção fofa, e embora ache meio cedo já estarem fazendo algo quase biográfico de duas cantoras que são bem recentes no mercado, o resultado foi bem feitinho. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho muitos outras estreias para conferir, então abraços e até logo mais.

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