Nos Vemos No Paraíso (Au Revoir Là-haut) (See You Up There)

6/09/2018 02:24:00 AM |

É engraçado como os franceses gostam de trabalhar dramédias bizarras com roteiros sensacionais que nos fazem sair da sessão pensando como alguém poderia pensar em algo tão bom e transformar numa maluquice completamente divertida e bem encaixada, ou seja, uma história bem pautada que ainda faz rir e pensar. Pois bem, a obra "Nos Vemos No Paraíso" é um desses exemplares, que com toda certeza muitos que forem despreparados do estilo filmes de festivais é capaz de sair da sessão falando que maluquice é essa, mas quem amar um bom texto, que divirta pela essência, e seja bem trabalhado com toda certeza sairá feliz da vida com tudo o que viu na telona, mesmo que o absurdo seja fortíssimo em tudo. Ou seja, uma trama daquelas que viajamos completamente com tudo o que está sendo mostrado na telona, rimos muito de todas as situações, e ainda vamos recomendar para que muitos vejam, afinal com um texto premiadíssimo e um elenco incrível não tinha como dar errado.

A sinopse nos conta que em novembro de 1918, alguns dias antes do Armistício, Édouard Péricourt salva a vida de Albert Maillard. Ambos não têm nada em comum, a não ser a guerra, e são obrigados a se unir para sobreviver. Anos depois, Albert e Édouard decidem montar uma fraude nos monumentos aos mortos. Também planejam uma farsa para desmascarar o Tenente Pradelle, que tenta fazer fortuna com corpos das vítimas da guerra.

O diretor Albert Dupontel é figura carimbada no Festival Varilux já e nos entregou o divertido "Uma Juíza Sem Juízo" em 2014, e agora em seu retorno à direção, adaptou o romance de Pierre Lemaître, premiado pelo Prix Goncourt em 2013, ou seja, um texto de primeiríssima linha, que ao cair nas mãos de um bom ator cômico e também diretor que sabe conduzir boas comédias só tinha de ser um sucesso, e com isso a trama deslancha fácil, com situações completamente malucas, muitas máscaras e situações bizarras envolvendo os protagonistas (que inclusive é o próprio diretor!), só poderiam ter trabalhado mais algumas cenas e eliminado outras, pois a trama se alongou bastante, parecendo ser até maior do que é, e isso se resolve na ilha de edição, criando elos mais dinâmicos entre uma cena e outra para que o filme fluísse melhor, porém não encheram linguiça como costumamos dizer, e sim colocaram coisas demais para que o filme ficasse mais bonito de ver.

Sobre as atuações, temos com toda certeza um nome que vamos ver muito em destaque nos próximos anos, já começando inclusive por esse, e ele é Nahuel Pérez Biscayart, que tem se saído bem em tantos filmes, que já esperamos muito dele, e aqui como Édouard Péricourt praticamente não disse uma frase completa (afinal com as máscaras ficou difícil entender, com a pequenina garota nos traduzindo), mas arrasou em olhares, no gestual corporal e deu um show praticamente. Analisando agora Albert Dupontel (diretor) como ator, ele acabou entregando um Albert Maillard bem cheio de trejeitos, com posturas engraçadas pelo teor de o gordinho exagerado, e com isso acabou se saindo bem, mas como costumo dizer, prefiro que diretores fiquem somente atrás das câmeras, e quem sabe talvez um ator mais dinâmico desse outra vertente para a trama, não que ele tenha sido ruim, muito pelo contrário. Laurent Lafitte trabalhou muito bem o seu Tenente Pradelle, incorporando inicialmente um homem monstruoso que muitos ficavam com medo pelas atitudes, e o ar de seus trejeitos foram perfeitos, mas que como pilantra no segundo ato ficou um pouco desesperado e exagerado demais, de modo que poderia ter seguido a mesma linha inicial que agradaria mais. A jovem Héloise Balster trabalhou bem sua dinâmica como a pequenina Louise, e fez ótimos semblantes junto dos protagonistas, porém em diversos momentos soou um pouco apática para a situação, e poderia ter trabalhado um pouco melhor nisso, mas ainda assim foi muito bem. Niels Arestrup entregou o presidente Marcel Péricourt com muita força e com certeza trabalhou a ideia que o filho tinha dele na memória, porém suas últimas cenas foram bem bonitas de se ver. Dentre os demais, temos leves destaques com Mélanie Thierry como a empregada Pauline, que jogou muito charme para a tela, e também com Emilie Dequenne com sua Madeleine Péricourt esbanjando um ar de saudosismo em algumas cenas, mas também sendo seca em outros, então resultando em boas conexões para os demais personagens, enquanto Philippe Uchan acabou exagerado com seu Labourdin para que a comicidade funcionasse.

A trama trabalhou tanto no conceito visual que surpreende o longa não ter tido um orçamento monstruoso, pois temos cenas de guerra, tivemos cenas de época com carros e figurinos passeando para todo lado, tivemos muitas máscaras cheias de detalhes, tivemos festas de época, tivemos locações em outros países, ou seja, um completo deslumbre para menos de 20 milhões de euros, que certamente foi muito bem aproveitado para que a história que já era boa ficasse visualmente incrível, e com isso o resultado da equipe de arte foi feito em minúcias muito bem desenvolvida. A fotografia ousou em tantas cores para retratar as expressões do protagonista, e usando arquétipos junto do figurino e do cenário, a trama sempre tinha um fundo mais escuro para que os protagonistas se destacassem, e com isso o resultado acabou muito bacana de ser visto.

Enfim, é um filme que tem leves defeitos, mas que consegue agradar tanto cenicamente, quanto pela história em si, e que com poucos acertos acabaria sendo uma obra-prima perfeita, mesmo que ainda frise para todos que forem ver, esperarem algo completamente bizarro por parte de diversos acontecimentos no longa, ou seja, um filme completamente diferente do que qualquer um poderia esperar. Bem é isso pessoal, com esse encerro mais um dia do Festival Varilux, e amanhã já temos alguns longas repetidos passando e com isso já poderei conferir além dos filmes do Festival, outras estreias diferenciadas que apareceram pelo interior (os grandes blockbusters como sei que continuarão nas próximas semanas, irei deixar mais para o final, então não se assuste se demorar para aparecer um texto mais tradicional por aqui). Então abraços e até breve com mais textos.

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