Madame

4/28/2018 01:48:00 AM |

Acostumamos tanto com o molde tradicional de comédias ou com reviravoltas tão chocantes, que quando ocorre algo simples em uma comédia tradicional francesa acabamos ficando revoltados com a falta de criar algo mais romântico ou então algo mais forte, de tal maneira que o resultado acaba soando frouxo. Digo isso de "Madame" por principalmente nos instigar logo de cara com um estilo humorístico mais pautado, cheio de convergências de estilos, traições, romances diferenciados, e que logo na primeira reviravolta já ameniza tão colocada nos moldes tradicionais, que ficaríamos certamente bem felizes se o final fosse fofo ou se algo trágico acontecesse, mas aí esquecemos do detalhe gigante do estilo francês das antigas, que é ser alternativo e não ir por nenhum dos dois moldes tradicionais, e dessa forma o filme não engrena como poderia. Não digo que tenha sido algo completamente ruim, mas parece faltar com a personalidade completa que foi criada do início, e que resulta em algo fora dos padrões normais e bem pautados, e com isso a trama fecha, mas que certamente se tivessem ido pelo comum acabaria sendo uma ótima comédia romântica, e que ainda seria diferenciada.

A trama nos mostra que recém-chegados em Paris, os americanos Anne e Bob organizam um luxuoso jantar para 12 pessoas. Quando uma presença inesperada faz o número virar 13, a supersticiosa anfitriã se recusa a dar chance ao azar e transforma a empregada Maria em convidada especial espanhola. Inicialmente receosa, ela acaba conquistando um comerciante de arte britânico com seu jeito único e o relacionamento se aprofunda para além da noite de festa, para desespero dos controladores patrões de Maria.

A diretora e roteirista Amanda Sthers tentou trabalhar um lado politizado da vida elitista parisiense que vive a base de festas e traições, e também tentou colocar uma ideologia romantizada na vida de empregados estrangeiros e latinos, mas ao trabalhar de uma forma bem ácida ela aparentava uma certa ousadia, brincando com a possibilidade de uma criatividade com um elemento disseminador dentro da própria história, ou seja, quase que um narrador que não fala nada, mas cria as situações, no caso o jovem escritor, mas também não houve ataque para que isso funcionasse, e tivemos apenas um ato correndo junto com o romance de conto de fadas da empregada contra a sua patroa que não aceita que alguém pobre se envolva com alguém do seu nível. Ou seja, algo comum de vermos todos os dias mundo afora, e aqui em nossas terras mais ainda, mas a ousadia da diretora ocorreu até a trama aparentar deslanchar, pois em seguida perde ritmo, perde estrutura e fica água com açúcar demais, de tal maneira que até poderia acabar como qualquer comédia romântica tradicional que seria bobinha, mas efetiva e emocionante, mas não, a diretora resolveu ousar com algo que em momento algum aparentava ocorrer, e o resultado acabou ficando mais estranho ainda de agradar, ou seja, falho.

Sobre as atuações, sabemos bem o quão competente é Toni Collete, e aqui a atriz foi muito bem encaixada na personalidade da patroa, mas ao mesmo tempo que sua Anne trabalha uma personalidade com a empregada/"amiga", ela trabalha outra com o marido, e uma terceira com o amante, de tal maneira que a atriz teve de se desdobrar em muitas e acabou não entregando nenhuma, o que é muito ruim de ver em um filme, mas como sempre é coesa no que faz, não decepcionou muito. Rossy de Palma foi muito graciosa com sua Maria, colocando trejeitos fortes na personalidade e um carisma sem igual, de modo que acabamos nos afeiçoando à sua personagem, mas talvez o maior erro da diretora tenha sido de não acreditar tanto no seu potencial e deixar que os conflitos não acontecessem tão naturalmente, e isso acabou deixando o longa um pouco preso, enquanto a atriz poderia voar muito. Harvey Keitel é outro que parecia desorientado na trama, pois tendo o problema financeiro, a traição da esposa, a sua traição, e ainda vivendo o conflito da mentira da empregada, deixou seu Bob sem um rumo certo, e o ator que costuma ir bem nas suas atuações acabou fazendo muitas formas diferentes e não agradando com nenhuma. Michael Smiley caiu bem no papel de David, trabalhando a personalidade do apaixonado e seduzido pela empregada, mas também não sendo o bobo tradicional fez boas cenas, mas faltou entregar a que veio nas cenas finais, não colocando atitude no personagem, ou seja, falhando também. De certo modo, o grande momento do filme foi ao redor da mesa, e se o filme brincasse inteiramente com aquela fatídica noite, todos os atores ali lidariam muito bem com o tema e dariam ótimas vertentes diferenciadas, pois o elenco era de peso realmente.

No conceito visual, acabaram arrumando grandes hotéis, casas e locações bem chiques para que a trama tivesse um ar bem elitista, mas sempre deixando que os detalhes falassem por si, a direção de arte trabalhou com minúcias demais em alguns momentos e em outros acabou esquecendo de detalhar mais, como por exemplo nas cenas de luxo fora da mansão que sempre pareciam pobres de elementos, ou seja, um balanço bem misturado de diferenças que deram dois tons para a trama, e isso certamente não estava nos planos. O longa trabalhou com poucos tons dentro da fotografia, pois não ousaram jogar de cara o colorido carismático para que a trama virasse uma comédia escrachada, o que agradaria bem mais, ficando sempre no meio tom para ter vértices romanceados e também uma certa dramaticidade, ou seja, uma bagunça.

Enfim, é um filme que tinha potencial, que consegue cativar o espectador pelo carisma dos personagens, mas que se perde durante toda a duração do filme, e termina de uma forma completamente diferente de todas as possibilidades apontadas na trama, o que foi a pedrada final para que não agradasse mesmo, ou seja, recomendo ele mais para quem gosta de longas bagunçados, pois quem for esperando ver uma boa comédia como o trailer apontava vai se decepcionar muito, mas ainda afirmo que está longe de ser também um desastre total. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na terça com um filme/peça diferente do comum que falo aqui, então abraços e até logo mais.

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