Pequena Grande Vida (Downsizing)

2/22/2018 02:36:00 AM |

Já falei outras vezes sobre expectativa aqui no site, e confesso que muitos trailers acabam vendendo uma imagem que acabamos comprando de forma errônea sobre o que o longa deseja passar. Digo isso pois certamente ao ver o trailer de "Pequena Grande Vida", e ao ler um pouco sobre a sinopse, o espectador mais comum irá ao cinema esperando se divertir horrores com a trama, sair mega feliz com uma proposta inovadora de transformar seus míseros 152 mil em 12,5 milhões ficando pequenininho, mas já jogo aqui a real, pois o longa é classificado como comédia dramática, e lhes digo que é justamente o contrário, sendo um drama cômico, e essa posição faz uma tremenda diferença, já que o diretor ousou trabalhar uma ideologia de vida, de proposta introspectiva de vida do protagonista em desejar ter uma missão na Terra, em talvez encontrar seu chacra espiritual, ou algo a mais, tendo uma primeira metade até bem desenhada, com uma proposta bacana e bem colocada, mas aí passa a primeira meia hora (e pensamos: que legal!), passa a segunda meia hora (dizemos: que filme interessante!), entramos na terceira meia hora (já indagamos: o que isso está virando?), chegamos na quarta (o desespero mental bate: será que terá fim esse filme?), e aí entramos nos 15 minutos finais e o diretor resolve encerrar não indo para lugar nenhum, afinal como diz um dos melhores personagens do filme: "ele não consegue nada do que quer", e a trama entrega para o espectador exatamente isso: não vamos lhe entregar nada do que você queria ver, e fim. Ou seja, é o típico filme que ou você vai amar, por ter um caráter ambiental de proposta que vai filosofar sobre a ideologia da trama, suas possibilidades reais dentro da ficção e tudo mais, ou você que for esperando apenas passar bons momentos curtindo um longa e f***-se todo o resto, sairá revoltado com o filme mais lento e cansativo que já viu na vida. Portanto fica a dica para se enquadrar bem antes de ir conferir a trama, pois não haverá meio do caminho, embora a nota que vou dar ficará bem no meio do caminho pelas questões técnicas do longa.

A trama imagina o que acontece, como uma solução para a superpopulação, quando os cientistas noruegueses descobrem como encolher os humanos para 13 cm de altura e propõem uma transição global ao longo de 200 anos do grande para o pequeno. As pessoas logo percebem o quanto o dinheiro dura mais em um mundo miniaturizado e, com a promessa de uma vida melhor, o homem comum Paul Safranek e sua esposa Audrey decidem abandonar suas vidas estressadas em Omaha, Estados Unidos, para se tornarem pequenos e se mudarem para uma nova comunidade em miniatura – uma escolha que dá início a aventuras que mudam suas vidas.

O cinema do diretor Alexandre Payne é cheio de oscilações, e ele é um dos poucos que vamos ao cinema já sabendo o que esperar, pois um filme que aparentemente tem contextos cômicos pode virar um drama imenso casualmente, e é exatamente o que acabou acontecendo aqui, o que de certo modo foi trabalhado em "Os Descendentes", mas que fluiu ao contrário em "Nebraska", que já continha um tom completamente mais pesado, e acabou soando delicado e gostoso de ver, ou seja, nunca compre um livro pela capa se estiver assinado pelo diretor. Digo isso não por desapontamento, pois o longa em si é bem trabalhado dentro da proposta autêntica se lermos a sinopse exata do filme e que é colocada logo de cara na primeira cena, com a postura de querer mostrar algo que recaia sobre o fator ecológico de preservação da espécie, mas assim como o personagem de Cristoph Waltz (que julgo hoje ser um dos melhores atores do mercado, e que sempre agrada quando quer fazer bem um papel) diz em certa cena, ninguém está preocupado com isso, e sim com os ganhos que a vida minúscula vai recair sobre mim, o luxo que terei e tudo mais, e o público que for ao cinema irá comprar bem essa ideia, e cairá como um patinho quando chegar na parte final e o foco for somente o conteúdo do que você pode fazer para fazer o bem para alguém, e com isso, a decepção juntamente de um ritmo extremamente lento da trama vai bater, e o resultado ficará bem aquém do esperado. Volto a frisar que a trama possui boa técnica, uma boa proposta e até um roteiro bem arquitetado, mas poderia ter sido trabalhado logo de cara para o drama com uma pegada mais forte ou então recair logo para a comédia e agitar o ritmo para que o filme mostrasse sim sua causa, mas com algo mais frenético e bem pontuado.

Sobre as interpretações tivemos um mix bem interessante para analisar, e vou ir completamente pelo contrário, pois primeiro temos de elogiar as ótimas facetas expressivas de Christoph Waltz com seu Dusan, que mesmo sendo um coadjuvante mais dedicado no miolo da trama, o resultado de todas (sem exceção) as cenas que esteve envolvido são de um luxo tão bom que confesso se ele fosse o protagonista da trama o resultado seria outro, mas o personagem fala por si e ele novamente arrasa. Logo na sequência temos de falar da indicação do filme ao Globo de Ouro, Hong Chau, que trabalhou tão forte, com uma personalidade coesa (sendo até bem chata em muitas cenas) de sua Ngoc Lan Tran, que somente com olhares consegue nos conquistar, ou seja, foi expressiva na medida certa. E claro chegamos ao protagonista Matt Damon que sobreviveu sozinho em Marte, mas entrou em depressão pelo abandono da mulher ao ser diminuído, mas o grande fato que temos de falar da expressão de seu Paul é que ele oscilou demais, variando entre facetas que parecia alegre, mas estava triste e vice-versa, ou seja, mais confundiu do que fez bem seu papel, ou seja, falhou em conduzir a trama para o rumo melhor que poderia. Dentre os demais temos de pontuar boas cenas de Udo Kier como Konrad, Rolf Lassgård como Dr. Jorgen Asbjørnsen, e principalmente a participação bem coesa no primeiro ato de Kristen Wiig, que por ser uma comediante conhecida fez caras e bocas tão tristes que nem parecia estar feliz com sua Audrey.

Agora sem dúvida o melhor da trama ficou a cargo da direção de arte, que brincou muito com os cenários e os ângulos, para que as casas, carros e tudo mais ficassem pequenos em relação ao referencial, mas mais do que isso tiveram um capricho para que os símbolos fossem encarados com maestria para cada momento, ou seja, cada detalhe que certamente foi trabalhado num tamanho bem grande acaba agradando e chamando a responsabilidade para si, ou seja, a cenografia foi mais importante do que a história em si, e talvez se tivessem deixado somente dessa forma, sem cair para o lado do final, o resultado chamaria mais atenção, porém como já frisei, a consciência ambiental também recaiu bastante no encerramento, e assim a direção de arte também necessitou brincar com essa situação para o encaixe funcionar. Destaque cenográfico também para o lado incrível mais pobre que chega a ter tantos objetos importantes quanto na ala rica do longa. Como falei da cenografia, a direção de fotografia também teve uma participação imensa, pois escolher os ângulos e sombras para que cada tom funcionasse no tamanho correto, certamente foi algo digno de muito trabalho, e o resultado nesse contexto surpreende e agrada bastante, tanto que os tons mais densos fizeram a trama cair para o drama mais forte do que para a comédia que esperava ver pelo trailer.

Enfim, é um filme que classificaria como mediano por não atingir nenhum dos lados, ficando homogêneo demais, mas que muitos vão enxergar pelo lado que mais lhe agradar como disse no começo e talvez vá se apaixonar pela introspecção que o diretor levará muitos a pensar e assim dizer que foi um filmaço, e outros irão recair pelo arrastar longo e cansativo da trama e achará ele intragável, ou seja, não posso jamais recomendar ele para todos, pois é um filme para bem poucos gostarem do que irão ver. Sendo assim, fico por aqui hoje claro agradecendo o pessoal da Difusora FM 91,3Mhz pela ótima pré-estreia, e vamos torcer para que a próxima seja uma mais animada para cair no gosto do público. Abraços e até breve pessoal.

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