O Destino De Uma Nação (Darkest Hour)

1/13/2018 02:29:00 AM |

Composições biográficas de época costumam ser filmes difíceis, complicados e com grande teor nos diálogos, mas a personalidade cômica e cheia de loucuras que foi Churchill acabou tendo um grande estilo para que o filme "O Destino De Uma Nação" ficasse interessante, contasse uma boa história, e principalmente arrecadasse diversos prêmios para a excelente atuação de Gary Oldman, ou seja, um filmão que até pode se dizer que é enrolado em demasia, mas que situa bem diversos pontos da Segunda Guerra Mundial que poucas vezes foram contados, e mais ainda, se conecta bem com outros longas lançados, formando praticamente um panorama único (o que é bem raro de acontecer em filmes de diferentes diretores/produtoras), ou seja, você estará assistindo ao filme e de repente estará ouvindo falar de coisas que você viu em "Dunkirk" no ano passado, irá lembrar de detalhes que ouviu em aulas de História, mas nunca imaginou um congresso parlamentar balançando seus lenços de maneira a aprovar ou não uma atitude, e por aí vai. Portanto, mas do que um filme de guerra e política, temos uma trama ousada, com bons gracejos, que até cansa um pouco por parecer até mais longo do que realmente é, mas que ao final o resultado acaba agradando demais, principalmente pela estética e pela ótima desenvoltura do protagonista.

O longa nos mostra que o primeiro-ministro inglês Winston Churchill vive um grande dilema ao assumir o cargo. Com a crescente invasão de territórios por parte do ditador Adolf Hitler, Churchill precisa decidir se faz um acordo de paz com os nazistas ou permanecer firme de acordo com seus ideais, declarando guerra.

O trabalho do diretor Joe Wright é reconhecido por deixar que os personagens principais façam seus filmes do modo que o ator melhor se encontrar, e isto faz com que a trama mesmo tendo diversos personagens ao redor, que trabalhem em prol de um todo, se concentre o foco de câmera quase que 100% no protagonista. Não digo que isso é ruim, muito pelo contrário, pois acabamos nos afeiçoando facilmente ao personagem principal, e a cada novo momento procuramos e queremos conhecer mais e mais do que ele pode fazer. E aqui com Churchill até sabíamos alguns detalhes de sua vida, mas não tanto quanto a pesquisa detalhada conseguiu eximir e entregar aqui, claro que com patriotismo acima de tudo (afinal um filme de guerra sem patriotismo não é filme de guerra!) e trabalhando com muita expressividade, o ator praticamente virou o personagem em ação, afinal quem for ao cinema sem saber que é Gary Oldman por trás da prótese/maquiagem vai assistir ao filme até o fim se perguntando se conhece esse ator, ou se é alguém novo no mercado de atores, ou seja, um trabalho impressionante de caracterização e mais ainda de incorporação que foi dado para a trama. Com isso em mente, o desenrolar da trama é apenas detalhamentos de cada ato para que conheçamos o estilo de parlamentarismo, as ideias do primeiro-ministro, sua relação com o Rei e com os demais membros da câmara de diferentes partidos, sua família bem brevemente, e claro o nacionalismo contra o nazismo, ou seja, muita política feita de uma maneira até que leve e descontraída, mas com tudo bem colocado nos mínimos detalhes.

Falar sobre as atuações é quase que ficar repetindo o quanto não vemos Gary Oldman em cena, pois volto a frisar que o ator incorporou a personalidade e junto de muita prótese e maquiagem nem vemos sua fisionomia e seus trejeitos, de modo que vemos sim Churchill em cena, fazendo seus atos e trabalhando para entregar uma atuação, ou seja, prêmios em cima de prêmios, pois a função do ator é conseguir trazer uma personalidade que lembre o "homenageado" do filme, e assim quem viveu sua época, leu algum livro ou viu algum documentário com fotos/vídeos reconheça-o na tela, e aqui mesmo quem nunca conheceu Churchill por nenhum dos meios, passa a saber que aquele homem na tela é o personagem, e claro faz suas ideias de como ele foi a partir daquilo, ou seja, um trabalho mais do que perfeito. Dentre os demais, temos de dar um bom destaque para a forma emotiva que Lily James entregou para sua Layton, como mais do que uma secretária/datilógrafa, mas alguém por quem o protagonista passa a tratar como um elo nos seus discursos, ou seja, enquanto temos a comicidade e a frieza por parte do personagem principal, aqui a doçura e ingenuidade incorpora para dar a leveza que a trama precisava para equilibrar. Também temos de pontuar as poucas cenas de Ben Mendelsohn como Rei George VI que com uma postura bem tomada consegue incorporar seus diálogos como realmente um nobre. Do lado "antagonista" da trama tivemos os adversários políticos de Churchill que desejavam viver uma paz mesmo que para isso tivessem de se aliar à Hitler, e com isso, as boas sacadas expressivas de Ronald Pickup como Chamberlain e Stephen Dillane como Halifax foram bem de contraponto e agradaram por não forçar a barra. Sei que não era o foco da trama, e com isso só tivemos algumas cenas mais jogadas de Kristin Scott Thomas como a esposa Clemmie de Churchill, mas a atriz ao menos fez bons carões e mostrou o que ela diz em certo momento que desde que escolheu ele já sabia que ficaria sempre em segundo plano perdendo para a política até o fim dos seus dias.

Como estamos falando de um longa de época, com um cunho histórico fortíssimo, a equipe de arte precisou trabalhar muito para entregar locações bem incorporadas de detalhes, que mesmo que ninguém nunca tivesse estado num gabinete de guerra, imaginasse ser daquela forma, com túneis conectando cada local, carros da época, figurinos bem ornados, e claro, o principal que entregassem uma maquiagem e cabelo perfeitos para retratar o personagem principal, e nesse conceito, podem pesquisar milhares de fotos e o resultado é idêntico, ou seja, um trabalho interessante e que deve ser lembrado. Um grande destaque cênico ficou para a cena do primeiro discurso com a famosa luz vermelha iluminando o ambiente inteiro e deixando o protagonista mais nervoso do que o comum, o que já vimos em outros discursos. A fotografia usou muito o marrom/sépia para dar o tom de época, mas com figurinos dominados por preto, azul e branco, tivemos muitos contrapontos que suavizaram a tonalidade e incorporaram o visual da arte com a fotografia, e além disso, muita fumaça dos charutos, muitas luzes de contra para aumentar o preenchimento fizeram com que o longa ampliasse cada cenário criando algo mais contextual do que ficcional realmente.

Enfim, é um filme longo que até vai cansar um pouco nos últimos atos, pois após o clímax temos uma leve quebra de ritmo para que no final tudo volte a decolar, mas quem gosta de filmes históricos vai sair muito feliz com o resultado final da trama. Portanto não recomendo ele somente pela brilhante atuação de Oldman que deve levar todos os prêmios da temporada, mas sim pelo contexto completo da trama que deve incorporar bem nossos conhecimentos históricos (e claro para professores de História para que usem em suas aulas, ou ao menos achem os diversos defeitos de época!). Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas tenho ainda alguns filmes que vieram para o interior para conferir, então abraços e até breve.

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