Além da Morte (Flatliners)

10/22/2017 03:10:00 AM |

Se existe um gênero que adoram requentar filmes é o de suspense/terror, pois sabem que três coisas ocorrerão, a primeira é vender um filme achando que se já teve um bom, pode ser que o novo vai ser igual, a segunda é acharem que é uma continuação e acabará vendendo erroneamente, e a terceira, é que vão conferir o antigo para comparar, assim venderão algo do passado também. Com essa premissa em mente, se em 1990, "Flatliners" ou "Linha Mortal" mesmo lotado de estrelas aparentemente não fez tanto sucesso (era muito novo e não lembro de ter visto nunca o original, mas quem sabe agora entro nessa da turma que vai ver o antigo para comparar!), o que esperar de um agora jovial, com um elenco menos carismático, e que talvez trabalhe de modo bem mais simples? A resposta é clara e já disse até na própria pergunta, pois "Além da Morte" é um filme simples, com sustos jogados, e uma ideia clara de colocar uma droga diferente na mente desses jovens médicos malucos, que acabam fazendo artes demais na faculdade/residência, e agora vão inventar de parar o coração para ver o que acontece! Ou seja, com uma ideologia bem marcada, a trama até trabalhou bem do começo ao fim, mas fechou de uma maneira bem boba com a ideia finalizadora, afinal se estamos em um longa de terror, envolvendo a mente, a consciência seria o menor dos problemas para se trabalhar, e com isso, o resultado ficou apenas satisfatório em algo que poderia explorar muito mais, e empolgar também muito mais.

O longa tenta nos mostrar que na esperança de fazer algumas descobertas, estudantes de medicina começam a explorar o reino das experiências de quase morte. Cada um deles passa pela experiência de ter o coração parado e depois revivido. Eles passam a ter visões em flash, como pesadelos da infância, e a refletir sobre pecados que cometeram. Os experimentos se intensificam, e eles passam a serem afetados fisicamente por suas visões enquanto tentam achar uma cura para a morte.

Quem conferiu a saga "Millenium" sueca, e viu o primeiro filme "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres" sabe muito bem a qualidade técnica do diretor dinamarquês Niels Arden Oplev, e aqui ele mostra que sabe trabalhar bem roteiros menos dramáticos, mas que tenha de certa forma um conteúdo para ser explorado, e é bem isso que vemos no roteiro que Ben Ripley lhe entregou, ousando pouco em cenas tensas de terror realmente, mas criando um ambiente aterrorizante, pois todas as vezes que param o coração de um dos protagonistas, ficamos pensando realmente que esse não irá sobreviver, entramos em apuros no último caso, e até criamos uma certa tensão nos momentos de pensamento ou ocorrência real dos personagens após suas voltas, pois embora o filme tenha um cunho levemente científico, vemos em alguns momentos a famosa fé em entidades tentar predominar rapidamente a mente dos protagonistas. Não digo que o diretor tenha errado em algo na forma de conduzir sua trama, mas talvez mudaria o final do longa para algo menos singelo, com maior impacto, pois ficou parecendo um fim de série, que vamos ter logo em breve uma continuação, e certamente não era essa a ideia original. Sendo assim, com um bom tom de incorporação, o resultado é um filme interessante, e feito com maestria por ideias simples, mas volto a dizer, a perfeição passou bem perto de se encaixar aqui.

Os atores da trama embora bem jovens, foram escolhidos com perfis bem pautados para termos muitas discussões, tanto preconceituosas, quanto de ideias mesmo, e isso é algo interessante de se observar, pois foram encaixes bem sorrateiros por parte da equipe. Ellen Page já entrou na casa dos 30, mas tem uma face tão nova que realmente parece ser uma estudante de medicina em começo de faculdade, e com uma dinâmica bem convincente, ela acaba até influenciando os demais a participar sempre de suas loucuras, ou seja, sua Courtney inicialmente aparenta ser apática e metida demais, mas com o fluxo andando acaba soando interessante de acompanhar. Como em todo filme necessita de um "pegador", aqui isso foi atribuído à James Norton com seu Jamie, e chega a soar até forçado sua preponderância de jovem rico, que só está ali para arrumar pretendentes e ter um selo médico, mas suas cenas de visões são as mais interessantes de acompanhar, e realmente nos pegam no susto. Com Nina Dobrev, temos um pouco mais de tensão nos sonhos, pois sua Marlo acabou adentrando em algo mais complicado de trabalhar, e ousou da equipe mais efeitos, e com isso, o resultado de suas cenas sempre são mais pesadas e intrigantes. O perfil latino sempre recai bem em escolas médicas de grande renome, pois geralmente quem está lá, estuda muito, e aqui esse papel caiu para Diego Luna, que com seu Ray soou até duro demais, e agradou nas cenas de reanimação, mas dificilmente um namorado diria as palavras dele para Marlo, e isso acabou impactando um pouco no público gostar dele. Kiersey Clemons foi a que mais mostrou o drama dos estudantes com sua Sophia, que é o desespero com os nomes difíceis de decorar, os pais indo fundo nas reclamações com os estudos e claro as diversas vontades, mas também entrou a fundo na sua viagem pela mente e foi a que a história mais ficou estranha de ver, pois até sabemos que bullying é algo forte, mas poderia ser mais impactante sua conversa de "redenção". Dentre os demais temos de pontuar apenas a participação de Kiefer Sutherland como Dr. Barry Wolfson, mas nem tanto pelo que faz aqui, mas sim por ter participado no longa original em 1990, como outro personagem Nelson, então nem podemos cogitar como sendo uma continuação.

No conceito visual, arrumaram bons hospitais/escola para trabalhar, e claro muitas festas para que os protagonistas participassem para encaixar seus momentos "drogados" pós-ressuscitação, e com isso o filme teve uma certa realidade abstrata para trabalhar de forma bem coerente nos momentos de vida, agora nos momentos de pensamento (que são o grande charme da produção), a equipe de arte já necessitou muita criatividade para trabalhar as ideias do roteiro e com isso tivemos alguns efeitos até estranhos, mas que acabaram ficando interessantes de acompanhar, claro que poderiam ter exagerado um pouco menos, e criado algo mais assustador realmente, mas todos acabam valendo bem a pena. A fotografia da trama, felizmente fugiu bem desse tom azulado do pôster, tendo uma certa ousadia de deixar tons fortes misturados com claros na mesma proporção criando ambientes calmos que de repente viravam algo aterrorizante com nuances bem escuras, no melhor estilo de culpa para com os protagonistas, ou seja, algo bem trabalhado.

Enfim, é um filme que até entregou algo bem interessante, mas que também falha bastante ao criar uma atmosfera sombria, e na mesma proporção colocar tudo como algo simples de se fazer, e que ao mesmo tempo pode soar como ciência ao invés de misticismo da mente, ou seja, um filme que dá para trabalhar um certo estudo em cima, mas que pelo estilo de público na sala vai agradar bem mais os jovens. Sendo assim, recomendo ele para quem gosta de um terror mais leve, e que goste de tomar alguns sustos fáceis, pois o filme fica bem nessa toada. Portanto vá ao cinema, confira e comente sua opinião aqui embaixo, pois é bacana discutirmos as peças que nossa mente pode pregar, principalmente após um "trauma". Bem é isso pessoal, infelizmente faltaram muitas estreias vir para a cidade, então já encerro aqui essa semana cinematográfica, voltando apenas na quinta com outro grande blockbuster que deve segurar mais salas ainda, então abraços e até lá.

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