Dupla Explosiva (The Hitman's Bodyguard)

8/30/2017 02:37:00 AM |

Comédias ultimamente têm seguido dois vértices bem distintos para agradar e acertar, ou partem para um nicho romantizado e surgem leves desenvolturas, ou já partem para o pastelão, misturando muitas cenas de ação, aonde a dinâmica frenética acaba quase que corrigindo leves erros de roteiro e resulta em algo divertido e interessante de acompanhar. Mas claro que independente do estilo escolhido, a grande sacada do gênero é não falhar no tino cômico e caprichar nas piadas para que o longa faça rir, e certamente o objetivo de "Dupla Explosiva", mesmo que apele demais consegue esse feito, ou seja, funciona como comédia. Porém mesmo apelando em demasia, e com um roteiro bagunçado ao extremo, o longa possui tantos planos-sequências que mesmo quem acabar ficando bravo com a história irá se agradar com o estilo ousado da direção em fazer algo diferenciado, e que com muita ação acaba saindo melhor do que a encomenda, num filme até que simples pela proposta, mas que diverte e resulta em algo bem feito.

O longa nos mostra que um guarda-costas de elite, que só trabalha para os clientes mais seletos do mundo, descobre que terá um novo cliente: um assassino de aluguel que ressurgiu das cinzas, com quem costumava se estranhar no passado. Apesar do ódio mútuo, eles terão 24 horas para viajar de Londres para a Holanda, enquanto são perseguidos pelos agentes de um ditador do Leste Europeu.

Com digamos um terço do orçamento de seu filme anterior, "Mercenários 3", o diretor Patrick Hugues procurou aqui trabalhar com uma boa dose de comicidade em cima de dois estilos diferentes de personagens, mas claro que mantendo o mesmo ritmo acelerado, e claro muitos tiros, explosões, trapalhadas e loucuras com carros/barcos e afins que já vimos em outras produções suas, de modo que ele começa a mostrar realmente seu estilo próprio, e aqui ainda pode abusar com muitas câmeras na mão em planos-sequências malucos para que ainda agradasse na atitude dos personagens, mostrando tanto que o lado mais certinho pode funcionar em diversos momentos, como também é necessário ter atitude algumas vezes. E embora o roteiro de Tom O'Connor não seja algo primoroso de situações, nem contivesse uma história que o público desejasse conhecer um bom desfecho, o resultado geral que o diretor soube trabalhar nele, acabou dinâmico e fez rir, sendo acertado nesse contexto, ou seja, o filme está longe de ser algo perfeito, mas cumpre com sua missão de divertir e embora completamente maluco trabalha bem cada personagem, suas histórias passadas, suas nuances atuais, e digo até mais, com o estouro da bilheteria nos EUA, vejo até possibilidade de virem com alguma sequência muito em breve, pois dá para trabalhar ainda muito mais os personagens.

Sobre as interpretações é fato que a química entre os protagonistas ficou bem colocada, mas poderia ser melhorada (mais para o fim, ambos conseguiram melhorar bastante esse quesito), pois embora sejam de cara dois que não se dão muito bem, até o ódio pode funcionar como um estilo de química, e no início tudo aparentava forçado demais entre eles, e isso não é muito legal de ver, mas como disse, foram melhorando (talvez as filmagens começaram a ficar num ritmo maior), e acabaram bem interessante para vermos até mais vezes com esses personagens. E sendo assim Ryan Reynolds trabalhou seu estilo sarcástico, se auto-sacaneando e até se sabotando em cena, fazendo diversas caras e bocas no melhor estilo canastrão, misturado com doses bem bobas de falta de tino, e com isso seu Michael Bryce até tem boas desventuras, mas certamente poderia fazer muito melhor se quisesse. Já pelo outro lado Samuel L. Jackson praticamente faz uma junção de seus diversos personagens no cinema para que seu Darius Kincaid ficasse uniforme, e não digo que isso seja algo ruim, pois sempre é gostoso ouvir suas risadas, seu estilo de tiro pra todo lado, e até mesmo as sacadas bem colocadas que costuma fazer, mas como bem sabemos, gostamos de ver atores fazendo personagens diferentes, e aqui isso não ocorre. Salma Hayek vem numa vibe de papeis secundários com ares de principal, bem interessantes de analisar, pois não protagoniza, nem fica jogada de lado, e com isso certamente vem ganhando bons cachês sem precisar fazer muito, e aqui sua Sonia é bem audaciosa, e praticamente a mulher que detona pela história contada pelo protagonista, mas com três ou quatro cenas nem quase chamou a responsabilidade para si, e talvez seja melhor aproveitada numa próxima continuação, pois como bem sabemos, é uma excelente atriz. Sabemos muito bem que o estilo de filmes de Gary Oldman é outro, e aqui até foi bem usado seu estilo para o vilão Dukhovic, mas são tão poucos momentos que nem dá para dizer que ele pode fazer muitas expressões, de modo que foi acertivo, mas poderia ter dado muito mais show se ele fosse para cima dos mocinhos, do que o outro ator usado de capanga. Dentre os demais, todos foram meros coadjuvantes e nem chegam a ser importante falar muito, tendo um leve destaque, mais pelo contexto da história, a participação em boas cenas de Elodie Yung com sua Amelia, mas nada que seja muito chamativo, pois a atriz foi seca demais na maioria das cenas.

No contexto visual, a equipe praticamente viajou a Europa inteira, passando por locações em diversos países, muitas cenas externas cheias de ação e destruição, desenvolvendo bem poucos elementos cênicos, mas funcionando bem com cada um que era usado, como celulares, algemas, diversas armas e na cena mais dinâmica de luta, tendo de tudo um pouco para ser usado como arma (grandioso destaque para essa luta que passa por metrôs, restaurantes, ruas e tudo mais, usando desde bandejas, até correntes para lutar muito), e sendo assim, podemos dizer que o acerto da equipe de arte foi bem ousado, cheio de brincadeiras com personagens dos protagonistas e grandes sacadas para que o filme não ficasse cansativo. Quanto da fotografia já disse o quanto de ousadias fizeram com muitas cenas sequenciadas que como bem sabemos precisa de uma iluminação precisa para agradar, e sem errar em nada, cada tom foi bem usado para agradar e encaixar a dinâmica na projeção total, de modo que não tivesse tantos erros, nem caísse num tom dramático que certamente poderia ocorrer com uma ação policial que o filme também pode ser classificado.

Outra grande sacada da trama fica a cargo das músicas que deram um ritmo acelerado, mas que também entraram em cena dando contexto para diversas cenas, o que mostrou uma pesquisa bem elaborada, então claro que merece ganhar link para que todos ouçam.

Enfim, é um filme bem divertido, que apela bastante para funcionar, mas que em momento algum abusa do espectador e com isso acaba agradando principalmente quem gosta de uma comédia de ação mais forçada. Como já falei nos parágrafos acima, longe disso ser algo ruim, o que vale é a intenção frente ao resultado final, e como o filme acaba fazendo o público rir, funciona como comédia. Portanto se você gosta desse estilo vá conferir e se divirta bastante, agora se você prefere um filme mais centrado, com piadas que fluem sozinhas e sem nenhuma apelação, passe bem longe, pois a chance de reclamar de tudo é bem alta. Bem é isso pessoal, mais uma vez agradeço ao pessoal da Difusora FM 91,3Mhz e do UCI pela excelente pré-estreia exclusiva, e volto na próxima quinta com mais textos, afinal essa semana vem quente de estreias, então abraços e até logo mais.

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Bingo - O Rei das Manhãs

8/28/2017 01:11:00 AM |

Já estou ficando chato com essa frase, mas volto a dizer que ando cada dia mais feliz com as produções nacionais atuais, pois começam a mostrar estilo próprio, qualidade no visual, e muita técnica para que fiquem incríveis e interessantes para todos assistirem. Digo isso colocando em pauta toda a alegria de voltar aos anos 80/90 com "Bingo - O Rei Das Manhãs", aonde o diretor conseguiu não só imprimir elementos que víamos na TV e/ou usávamos no corpo como relógios, brinquedos, etc., mas também muito da dinâmica que era vista pelas manhãs, aonde a briga pela audiência era real, e isso era o que fazia realmente o público ficar vendo um canal ou outro. Não bastasse essa boa essência de época, não quiseram apenas retratar um personagem inserido nela, mas sim a vida turbulenta de um homem que ao misturar drogas, bebidas e problemas de identidade acabou surtando e fazendo algo forte com ele mesmo. O filme em si possui uma história tão bem desenvolvida que ao juntar tudo que deu certo acabamos vibrando com cada momento, e podemos dizer que vivemos essa época, mas ao conhecer tudo o que viveu o protagonista ficamos perplexos, de maneira que se fosse na época atual tanto o filho quanto o pai teriam se matado em cena. Ou seja, um filmaço que vale muito a pena conferir e que vai impressionar muita gente que sequer pensou no homem por trás do palhaço mais famoso dos anos 80 no país.

O longa nos mostra que nos anos 1980, Augusto Mendes consegue um emprego que o coloca na frente dos holofotes. Sob uma pesada maquiagem, peruca vermelha e roupa de palhaço ele se transforma no apresentador de TV, Bingo, que todas as manhãs anima as crianças. Mas longe das câmeras, Augusto precisa manter sua identidade em segredo e mergulha no mundo das drogas, até que encontra em seu filho e na religiosidade as forças para se reerguer na vida.

Se em diversos filmes vimos Daniel Rezende arrumando o filme de outros bons diretores com uma edição primorosa, aqui em seu primeiro longa como diretor, ele não só teve noções incríveis de como finalizaria seu filme, como fez cada ato como único, de modo que vemos várias nuances a cada cena, não tendo apenas um longa, mas sim vários bons momentos reunidos, sendo um mais incrível que o outro, detalhando humanidade, desespero, egocentrismo e muitas outras situações, todas vistas por ângulos perfeitos e uma dramaticidade no ponto para não deixar que o longa perdesse o tom e nem ficasse forte demais. Ou seja, Daniel mostrou que aprendeu muito com as várias lições de cinema que teve com diversos diretores famosos, e acabou dando também uma aula de cinema ao trabalhar cada elemento da melhor forma que aprendeu, criando nuances impecáveis, aonde trabalhou o roteiro ácido e preciso de Luiz Bolognesi com formato, sensações e muita criatividade, de modo que o filme flui sozinho (ou melhor com uma ótima interpretação de Brichta!) e incorpora cada momento de forma dura e incrível que vai tornando a densidade dramática como um ponto para ficarmos empolgados com cada ato até chegarmos ao fim perfeito. Mesmo sem poder usar os nomes reais dos personagens, emissoras e afins, a grande sacada sarcástica em cima de muitos detalhes foi algo incrível de ver, de modo que chega a ser divertido conectar cada detalhe mostrado, e tentar lembrar quem foi quem nos conflitos, mas claro que ajudaram bastante em diversos detalhes, e assim sendo, o resultado completo acabou agradando demais, e para quem não conheceu de uma pesquisada sobre Arlindo Barreto, que vai ver muita coisa interessante que o artista fez no SBT.

Sobre as interpretações, sem dúvida alguma é o filme da vida de Vladimir Brichta, aonde ele pode mostrar todos os tipos de expressões, colocar o corpo pra jogo e ainda mostrar dinâmica com a alma no nível máximo para que seu Bingo saísse da caixinha e fosse alguém que mesmo já conhecido por nós mostrasse algo a mais, ou seja, foi mais do que perfeito, agradando demais, e diferente do que aconteceu com Bingo, lembraremos quem fez o personagem no cinema por muito tempo com o que ele acabou nos entregando. Leandra Leal é daquelas atrizes que consegue marcar muito um personagem, e aqui infelizmente sua Lucia é simples demais (embora seja um personagem forte!) e ela deixou que a personagem dominasse ao invés de virar com uma interpretação melhor, não digo que tenha saído algo ruim, mas esperava bem mais dela. Embora a risada de Augusto Madeira tenha sido algo muito estranho com seu Vasconcelos, seu personagem acabou saindo bem melhor que a encomenda, e acabou sobressaindo bastante para chamar atenção quando precisava, fazendo exatamente o que a Leandra deveria ter feito para agradar mais. Outro que foi muito bem no quesito expressivo, foi o jovem Cauã Martins com seu Gabriel, que trabalhando sempre os olhares de forma coesa e emotiva, acabou chamando a dinâmica para si em diversos momentos e acabamos até esperando algo pior para seu personagem (mas aí seria um filme mais moderno, pois nos anos 80 não tínhamos crianças mimadas que se matam por qualquer coisa), e sendo assim vamos ficar de olho no garoto em outras produções. Dos demais personagens, todos tiveram leves participações, e felizmente bem acertadas, a começar por Ana Lucia Torre dando um ar singelo e maravilhoso para a mãe do protagonista, passando depois pela sensualidade de Emanuelle Araujo com sua Gretchen (época boa que programa infantil aflorava as mentes infantis com muita educação e bons desenhos), e culminando com Soren Hellerup (que já anda quase morando no Brasil com tantas produções nacionais que anda fazendo) como um Peter Olsen simples mas bem colocado. Além claro das boas jogadas com Pedro Bial fazendo Armando (numa representatividade clara aos poderosos diretores da Globo, no caso aqui Mundial) e uma saudosa ótima homenagem à Domingos Montagner como um mestre-palhaço.

Agora sem dúvida alguma o grande show da produção ficou a cargo da equipe de arte, pois retratar os anos 80 é algo muito simbólico, e o longa não economizou em elementos de cena, com figurinos, cabelos, carros, TVs, drogas, bebidas, cenários, brinquedos (tive aquele joguinho de basquete com água, mas não tive o famoso relógio troca-pulseira - saudade nível plus) e tudo mais, mostrando que o nível de pesquisa da equipe foi altíssimo para não cair com erros, e sendo assim o resultado foi mais do que perfeito no conceito visual. Já sabíamos que a fotografia de Lula Carvalho era fenomenal, e mais ainda que foi companheiro do diretor em diversas produções, mas que a química entre eles era algo espetacular estava para surgir, e foi aqui, vemos tons densos contrastando com cores alegres em cenas tensas, vemos o inverso funcionando, vemos câmeras em ângulos inimagináveis, vemos de tudo para que o filme contivesse o teor exato que o diretor necessitava em cada momento, não repetindo sequer uma luz cênica para que tudo ficasse amplo demais, ou seja, um espetáculo de fotografia.

Não tenho muito o que falar da trilha sonora perfeita escolhida para o longa, que variou entre canções bem conhecidas da época, com alguns instrumentais bem arrojados, mas certamente ajudaram para criar todo o clima do filme, porém o grande destaque fica para o funcionamento cênico das fitas Basf pedindo para ser tocadas pelo lado A ou lado B, que agradaram demais, pois sempre sabíamos indicar para quem fosse ouvir, aonde queríamos que entrasse o nosso momento, ou seja, mais uma boa pesquisa cênica que junto da equipe de música acabaram agradando bem nossos ouvidos.

Enfim, um filme com vida, com nuances de todos os tipos, e principalmente com estilo, pois poderiam ter feito o mesmo filme de inúmeras formas, e certamente todas agradariam, contariam a história (parte ficcional, parte real, seria 70%-30% ou o inverso???) de Arlindo Barreto, mas dificilmente alguma outra conseguiria tamanha classe, mesmo mudando o protagonista (originalmente era Wagner Moura, que desistiu do filme para fazer a série "Narcos", mas indicou perfeitamente Vladimir Brichta para o papel), tendo de desenvolver muitas mudanças para não sofrer sanções com direitos de imagem/nome, e principalmente trabalhando o humor e o drama na mesma proporção sem ser piegas nem incomodando ninguém, ou seja, algo praticamente perfeito, que só teve leves falhas como citei no texto todo, e com isso merece demais ser assistido por todos. Bem é isso pessoal, fica aqui minha recomendação, e só não encerro a semana por ter uma pré para conferir nos próximos dias, então abraços e até breve.

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João, o Maestro

8/26/2017 02:31:00 AM |

É interessante como funciona bem o gênero biográfico no cinema, pois na maioria das vezes conhecemos tão pouco os protagonistas, que acabamos nos surpreendendo com cada detalhe minúsculo que nos apresentam, e que muitas vezes nem sabemos como a pessoa ficou famosa ou doente, e ao final ficamos pensando nossa como a pessoa podia ser assim. Com "João, o Maestro", no trailer já era possível ver a obsessão pela música clássica que o protagonista já tinha desde pequeno, e que com o passar dos anos só foi ficando mais forte ainda. Claro que muitos brasileiros (e estrangeiros) conhecem o maestro e músico João Carlos Martins, com suas mãos que chegam a arrepiar, mas sequer pensava como a doença e/ou acidentes teriam transformado ele, ou seja, o longa serviu, e muito para conhecermos a história desse homem, que sim teve muitas oportunidades em sua vida, fez muitas loucuras, mas que deu literalmente seu sangue para que a música clássica fosse tocada para todas as classes atualmente com projetos bonitos (que poderiam sim ter sido mostrados mais no longa) e que vão emocionar o público ao final da exibição, fazendo com que alguns chorem, outros aplaudam durante os créditos, mas que principalmente vai tocar com boas doses clássicas. Claro que o filme possui muitos defeitos, os principais no ritmo do miolo, algumas quebras repentinas de época, e até alguns exageros casuais e costumeiros de biografias para enaltecer o protagonista, mas muito além disso, o longa acaba sendo bem interessante e vai agradar quem gosta do estilo.

A sinopse nos conta que João Carlos Martins era uma criança com sérios problemas de saúde. Por conta disso, teve uma infância reclusa. Mas um belo dia, o piano entrou na vida de João. A partir daí, surge um garoto obstinado, que, em poucos anos, se transforma em uma das maiores promessas da música erudita mundial. No momento que passa a ser reconhecido pela comunidade artística internacional, João sofre um acidente que afeta um nervo de seu braço e interrompe sua carreira. João não desiste e volta a tocar, mas a paralisia da mão piora e o impede de continuar. Dessa forma ele encerra sua carreira e vai se envolver com a política, onde é acusado de fraude fiscal. Quando tudo parecia estar perdido, João resolve retomar sua carreira musical e faz um enorme sucesso. Mas, por ironia do destino, João é agredido durante um assalto e sofre lesão cerebral que afeta todo seu lado direito. As dores são insuportáveis e os médicos decidem cortar o nervo da sua mão direita. Usando apenas a mão esquerda, ele realiza inúmeros concertos pelo mundo, o que causa sobrecarga na sua mão e causa um câncer. Sem desistir da sua paixão pela música, ele acaba se tornando um maestro.

Bem, se você não conhecia a história, com essa sinopse completa que o site oficial liberou praticamente já sabe de tudo (como não li nada antes de conferir, me surpreendi com os dois pontos de clímax já citados no texto), porém isso é mero detalhe, pois o grande feito do diretor e roteirista Mauro Lima ("Meu Nome Não É Johnny", "Reis e Ratos", "Tim Maia") foi amarrar a história com ótimas interpretações e boas nuances de cada momento, de modo que o filme mesmo errando (tentando sempre exaltar os defeitos do protagonista como algo bom, mesmo a obsessão sendo algo completamente ruim, a traição, etc.) acaba soando versátil e levando às consequências de fato como um filme duro, mas ao mesmo tempo doce e interessante de se acompanhar. Ou seja, seguindo o tradicional estilo de biografias, ele vai fluindo e desenvolvendo com os momentos tensos de todas as fases do jovem João, passando pela sua infância, juventude, maturidade e até chegando aos dias atuais (com a participação do verdadeiro João nesse caso), de modo que nesses entremeios vai mostrando personagens importantes como os professores, pais, mulheres, agentes e amigos, não ousando, mas também não atrapalhando com nada. Enfim, o diretor foi sucinto, pois com a quantidade de acontecimentos o longa viraria fácil uma série de 10 capítulos bem alongados (não duvido de em breve aparecer na TV nesse formato, mas com menos capítulos!), e com isso a história anda bem, mas certamente poderia ser melhor se deixasse levar sem muita comoção para mostrar o quão bom foi e é o maestro.

Sobre as interpretações, temos de ser bem coerentes, pois a fase infantil do protagonista, vivida por Davi Campolongo foi doce e mesmo que mostrasse que desde pequeno João teve tinha muitos problemas para lidar, o semblante bem coeso que o garotinho conseguiu mostrar agradou bastante na tela, na sequência entra em cena sem dúvida alguma a melhor interpretação que Rodrigo Pandolfo já fez em todos os seus trabalhos, pois o ator soube dosar o temperamento forte do protagonista com desespero por desenvolturas, e claro que com uma boa maquiagem e expressões bem semelhantes ao que veríamos mais para frente, o ator foi sensato no tom e acabou chamando muita atenção, nem parecendo com outros erros que já fez em outros filmes, e para a última fase de João, Alexandre Nero começou bem devagar (e por bem pouco não cansou o público), criando poucas dinâmicas, mas mostrando ainda assim uma boa personalidade casual, criando e mostrando as principais características mais humanas do personagem, e claro mostrando que é um ator de grande nome, que certamente ainda não explodiu (mesmo com muitos personagens principais já na carreira), mas vai explodir brevemente. Dos demais personagens, a maioria apareceu bem rapidamente, mas tivemos grandes cenas com Caco Ciocler como um professor bem rígido, Giulio Lopes como o pai de João, sempre sereno nas boas colocações e ensinamentos, trabalhando como um português bem cheio de sotaque, mas sem dúvida o grande destaque ficou a cargo de Kevin Sebastian como o agente e amigo Jay Hoffman, que trabalhou boas nuances junto do protagonista e foi melhorando a cada ato num bom crescente. Quanto as diversas mulheres que o personagem teve, a que ficou mais tempo em tela foi Alinne Moraes, e com seu semblante tradicional de humor duro demais, acaba nem chamando tanta atenção nos conceitos expressivos de sua Carmen, de modo que talvez uma atriz menos dura agradasse mais.

Sem dúvida alguma, o grande feito do filme foi ter toda a produção filmada em diversos países para retratar exatamente cada momento do personagem principal, trabalhando bons elementos cênicos (embora os dois acidentes tenham soado falsos e forçados demais!) e principalmente colocando figurino e cenografia em primeiro plano para que tudo funcionasse perfeitamente, ou seja, uma direção de arte impecável de primeira linha, que vai sim chamar muita atenção de quem for conferir o longa. A fotografia ousou bastante com sombras e tensões, para retratar cada momento mais tenso com tons fortes e escuros, de modo que o filme acabou mesclando ao mesmo tempo a doçura de alguns momentos mais leves, sem deixar de pontuar cada ato com visceralidade para chamar atenção.

Enfim, é um filme bem feito, com um trabalho artístico primoroso, que mesmo quem não for fã de música clássica vai acabar se conectando com os bons momentos da trama, acabará rindo de algumas cenas, e até se emocionando com alguns pontos fortes, mas principalmente o grande resultado final fica a cargo de mostrar que com muita persistência, mesmo com diversos obstáculos no caminho, você pode alcançar o ápice dos seus sonhos, e assim sendo o longa vale a pena ser conferido mesmo com muitos erros pontuais. Bem é isso pessoal, ainda falta mais um filme para conferir nessa semana, afinal as distribuidoras deixaram de lado muitos outros que poderiam estrear por aqui, então volto em breve com mais um texto. Então abraços e até logo mais.

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A Torre Negra (The Dark Tower)

8/25/2017 01:49:00 AM |

Antes de mais nada, se você é daqueles que odeia qualquer adaptação literária, já aviso de antemão, você vai odiar "A Torre Negra", pois a obra completa de Stephen King tem 7 livros gigantes, e aqui pelo que li sobre o filme (afinal não li, nenhum dos 7 livros) usaram um pouco de cada um, mas enfatizando a maior parte no primeiro livro "O Pistoleiro", ou seja, não é algo feito exclusivamente para fãs. Porém se você, assim como esse Coelho que vos digita sempre, gosta de um filme bem interessante, com uma proposta ousada (algo misturando dois, ou mais, mundos que se interligam por portais, e o que ocorre em um pode afetar o outro) e com bons atores trabalhando para que a ação funcione, então vá conferir o longa e se divirta com as boas situações, e torça, para quem sabe, mesmo com críticas super-negativas, dê bilheteria e resolvam fazer os outros livros, afinal, o resultado para quem não sabe nada do que ocorre nos livros é muito bacana e agradável de conferir, com efeitos bem trabalhados, e mesmo que sem muitas explicações, acaba funcionando bem.

A sinopse do filme nos conta que um pistoleiro chamado Roland Deschain percorre o mundo em busca da famosa Torre Negra, prédio mágico que está prestes a desaparecer. Essa busca envolve uma intensa perseguição ao poderoso Homem de Preto, passagens entre tempos diferentes, encontros intensos e confusões entre o real e o imaginário.

Talvez o maior erro do filme, foi ter passado por tantas mãos antes de se chegar ao roteiro final, e a decisão de como seria feita toda a trama, pois sabemos bem quando fãs acabam aguardando algo sair, a expectativa vai nas alturas, e sendo algo que vem sendo trabalhado desde 2004 quando saiu o último livro, era certo que muitos reclamassem desde a aparição do primeiro trailer, e principalmente após conferir. Ou seja, não digo que o diretor dinamarquês Nikolaj Arcel tenha caído de paraquedas dentro do projeto, mas sim que ao pegar tudo o que outros já haviam revirado, fez algo próprio para o cinema, sem se importar se iria ser uma adaptação, se iria ser apenas baseado, ou se apenas seria uma obra inspirada nos livros de Stephen King, e assim sendo, volto a frisar que o resultado vai agradar bastante quem gosta de uma obra fantasiosa, e que como uma abertura para esse mundo nos cinemas, pode sim virar uma franquia de sucesso (apesar de que em breve deve virar série, e tomar outros rumos). Ou seja, com cenas bem dinâmicas, efeitos bem trabalhados, uma história até que convincente (embora tenha muitos furos que precisassem de maior espaço para um desenvolvimento melhor de vários personagens que apenas aparecem em cena), o que acaba sendo mostrado em 95 minutos é satisfatório e prende, não deixando margem para ser jogado apenas nos cinemas sem levar o público para querer ler os livros, rever o filme para ver os diversos easter-eggs das obras de King, ou esperar que façam mais filmes sobre o tema. Portanto o acerto foi bem trabalhado, e quem reclama demais, como disse no começo será quem sempre vai reclamar de adaptações literárias.

Sobre as interpretações, é algo fácil e simples de falar, pois mesmo tendo diversos atores e personagens envolvidos em diversas cenas, o longa se concentra basicamente em três personagens e o restante apenas figura como elementos de encaixe, sem muita preocupação se eram ou não importantes nos livros, ou seja, nem precisamos falar deles. Já falando do time principal, Idris Elba é daqueles atores que marcam presença quando está em cena, não se importando se precisaria dar espaço para qualquer outro ator, e aqui com seu Roland, o ator chama a responsabilidade cênica para si, e consegue criar ótimos momentos com o personagem, fazendo expressões de todos os estilos e colocando personalidade e carisma para jogo, trabalhando do começo ao fim com tudo o que fosse possível para dar ares cômicos, dramáticos e de muita ação para que o longa funcionasse com ele. Matthew McConaughey é outro que mesmo fazendo o vilão da trama Walter consegue chamar a atenção, e com momentos bem fechados mostra o motivo de ser um dos melhores atores da atualidade, incorporando trejeitos, trabalhando o tom da voz para realmente entrar na mente dos demais personagens, e com isso agradando bastante, mesmo que seu personagem precisasse de mais tempo para conhecermos mais. O jovem Tom Taylor enfrenta aqui o problema de todo ator que cai como protagonista num filme sem nunca ter feito nada no cinema antes, que é de olhar desesperado para vários ângulos atrapalhando toda a ênfase dramática que poderia causar, soar perdido em cena e até faltar com o tom correto de voz para seu Jake, de modo que ele tinha três ou quatro cenas que eram suas, e o jovem necessitou ser auxiliado pelos mais experientes para não estragar tudo, ou seja, não fez algo ruim, mas certamente outro jovem ator mais experiente cairia melhor para o papel. Como disse no começo do parágrafo, os demais atores apenas apareceram e não tiveram muito para se destacar, mas dentre todos, poderiam ter dado um pouco mais de cena para a jovem Claudia Kim que fez muito bem os rápidos momentos da vidente Arra e se tivesse mais tempo de tela certamente mostraria muito mais daquela vila aonde estava inserida, sendo bem importante para o filme.

No conceito visual da trama, tivemos cenários bem bonitos na mesma proporção de defeitos visuais, pois logo de cara tivemos cenas com uma ambientação trabalhada em tons escuros no mundo médio com algumas poucas vilas, e um semblante tenso, com poucos elementos e algo funcional, daí vamos para a Terra aonde conhecemos com personagens desesperados, muitos objetos, funcionando bem os desenhos usados para ilustrar os sonhos do protagonista, novamente voltamos para um cenário árido (talvez o mais bonito que poderiam ter aproveitado), com uma floresta cheia de objetos bem colocados e interessantes, daí voltamos para um local cheio de pessoas, mas que falham por maquiagens ruins e estranhas, ou seja, faltou uma coesão melhor para que cada cena ficasse mais correta e menos largada, e assim o resultado da direção de arte fosse mais a cara do longa. Sobre a fotografia, com tons oscilando entre momentos escuros e poucas cenas com dinâmica mais leve, o resultado ficou mais dramatizado, porém poderiam ter empregado mais elementos claros para ter destaques soltos para serem usados pelos protagonistas.

Enfim, é um filme que prende a atenção de quem gosta de uma boa ficção fantasiosa, que até poderia ter ousado mais, e até se alongado mais (afinal 95 minutos para um longa com tanta história para ser desenvolvida é bem pouco) para que outros personagens funcionassem e não fossem apenas jogados na tela. Volto a frisar que deixem os livros guardados, pois são clássicos e jamais vão conseguir transmitir toda a essência que King criou em quase 20 anos de escrita dos 7 livros da coleção "Torre Negra", portanto vá aos cinemas como se fosse ver algo livre de adaptações, que a certeza de curtir tudo o que será mostrado é bem maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com as outras estreias que apareceram por aqui, então abraços e até logo mais.

PS: Daria 7,5 ou até um pouco mais para o resultado completo, mas me incomodou demais o jovem ator fraco que escolheram como protagonista, parecendo perdido demais na trama, então vamos com 7 mesmo.

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Uma Família Feliz (Happy Family)

8/19/2017 07:30:00 PM |

É divertido ver quando o nome de um filme não transmite o que passa, pois sair feliz da sessão de "Uma Família Feliz" é algo que praticamente não ocorre, de modo que a trama alemã até tem um colorido bem ornamentado, um desenho de produção completamente visual e até bons personagens para desenvolver, mas a história é tão lenta e mal desenvolvida que acaba sendo até difícil não dormir durante toda a projeção, as crianças começam a ficar inquietas, e o longa parece não ter mais fim, ou seja, um filme curto de 93 minutos que parece ter quase 3 horas de duração, e que só vai divertir pelo visual em si, ficando bem longe de ser algo que vamos lembrar de ter visto daqui há algumas horas.

Os Wishbones estão longe de ser uma família feliz. A mãe, Emma, possui uma loja de livros e está profundamente endividada. Papai Frank trabalha demais e sofre sob o comando de seu chefe tirano. A filha, Fay, é uma adolescente autoconsciente e apaixonada por sua primeira paixão no Ensino Médio. Já o garotinho, Max, está sendo intimidado na escola. E não termina por aí - em uma festa a fantasia, uma bruxa malvada, Baba Yaga, transforma toda família em monstros. Emma se torna um vampiro, Frank se transforma no monstro Frankenstein, Fay em uma múmia e Max em um lobisomem. Juntos, essa família de monstros deve perseguir a bruxa para reverter a maldição. Durante esta aventura casual, os Wishbones entram em conflito com alguns monstros da vida real, e o encantador conde Drácula, que declara seu eterno amor por Emma. Na trama, o caminho para a felicidade familiar está cheio de armadilhas e voltas afiadas, ou melhor, dentes afiados.

Se o diretor alemão Holger Tappe surpreendeu em sua produção anterior, "Animais Unidos Jamais Serão Vencidos"(2010), não posso dizer que o acerto foi repetido aqui, pois acabou exagerando demais nas relações de cada um, fazendo desenvolvimentos enrolados, colocando cada momento como algo forçado demais para ser entendido durante a produção toda, de modo que o filme não flui e o resultado não empolga como poderia, ou seja, ele até melhorou muito a estética com personagens e cenários maravilhosamente moldados, situações claras de cores encaixadas para cada momento, de forma que mesmo não tendo assistido o longa em 3D é possível imaginar onde foi colocado cada efeito na trama, mas como já dissemos outras vezes, uma animação que não empolga logo de cara acaba ficando chata e cansativa, de maneira que acabamos até ficando sem gostar do que vemos. E sendo assim, vamos ver se Holger pensa melhor em sua próxima ideia, usando a boa comicidade do filme anterior e a boa técnica desse, certamente o resultado será incrível.

Como falei os personagens foram bem desenhados e até possuem um certo carisma, mas foram mal desenvolvidos na criação de seus cernes, fazendo com que a história não saísse do lugar e nem eles. De modo que nem boas dublagens deram o tom correto, colocando por vezes algumas piadinhas clássicas nossa na trama, mas sem algo para empolgar. Juliana Paes nem tentou impostar sua voz para que sua Emma ficasse diferenciada, de modo que mesmo quem não viu o pôster vai saber que é a atriz quem está por trás da personagem, o que não ocorre com os demais personagens, afinal são atores/dubladores desconhecidos e que também não fizeram por muito para chamar a atenção. Como destaque de personagem temos de falar mais dos morceguinhos, que embora colocados apenas para dar leve carisma na trama, acabaram saindo melhor do que a encomenda (seria os minions fazendo escola pelo mundo afora??), e sendo assim, se tivesse até mais momentos de bagunça com eles, o longa acabaria bem mais divertido, pois o Drácula acabou ficando no meio do caminho de personalidade de um vilão com alguém problemático, todos da família tinham seus probleminhas e com isso ficavam mais apáticos ainda para se desenvolver e a amiga hippie até tentou fazer alguns gracejos, mas não foi muito além disso.

Sobre o conceito visual da trama, já até falei um pouco no começo, pois souberam dosar muitas cores para segurar os pequenos nas poltronas e trabalharam com um desenho não tão realista, porém bem colocado para chamar a atenção, e com isso as texturas ficaram agradáveis de ver, e como disse mesmo não assistindo em 3D, conseguimos ver aonde foram usadas as técnicas, portanto, quem for conferir em 3D certamente verá alguns elementos saltando da tela, e alguns detalhes extras, mas nada que fará o longa ficar melhor.

Enfim, é uma trama bem alongada e que certamente com uns 20 minutos a menos seria muito mais agradável, porém sairia da concepção de longa-metragem, ou seja, vai até divertir um pouco as crianças, pois a temática de monstros, juntamente com muito colorido é algo que agrada os pequenos, mas os pais que forem levar os pequenos na sessão certamente irão se segurar para não dormir. Portanto, pense bem na hora de escolher o que ver nesse fim de semana. Bem é isso pessoal, fico por aqui já encerrando essa semana cinematográfica na qual a boneca do mal roubou todas as salas do interior, e volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até breve.

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Annabelle 2 - A Criação do Mal (Annabelle: Creation)

8/18/2017 01:59:00 AM |

Se no filme de 2014 acabamos não conhecendo muito a história de Annabelle, de onde veio aquela boneca feia, e ainda assim assustamos muito com as pegadas desprevenidas do diretor, agora em "Annabelle 2 - A Criação do Mal" o resultado é completamente outro, pois em momento algum o novo diretor quis passar essa mesma essência de sustos desnecessários, mas sim criar tensão do começo ao fim e contar muita história para que nós, juntamente com as crianças do longa (e aí é que volto na minha tese de como não assustar as jovens atrizes, para que tenham uma vida sadia depois desse filme!!!) ficássemos tensos pela situação em si, e fôssemos desenvolvendo  uma certa conexão com cada personagem, para que ao final já estivéssemos torcendo e prontos para cada momento certeiro. Além disso, conseguiram não ser apenas um capítulo isolado da franquia, ao fazer um prequel da trama, mas sim juntar com coisas que vimos na franquia original "Invocação do Mal", coisas que veremos no longa "A Freira", insinuações de outros clássicos, e felizmente o fechamento com o que esperávamos unindo o longa de 2014, ou seja, algo completo dentro da franquia, que fez com que esse certamente fosse melhor que o anterior, e mesmo com leves erros agradasse como um excelente exemplar de terror nesse ano que ainda não assustou efetivamente (apesar que apenas estamos começando a época do horror de 2017).

O longa nos mostra que anos após a trágica morte de sua filha, um habilidoso artesão de bonecas e sua esposa decidem, por caridade, acolher em sua casa uma freira e dezenas de meninas desalojadas de um orfanato. Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um amedrontador demônio do passado.

O maior acerto desse segundo filme (que se passa anos antes do primeiro filme) foi a troca da cadeira de direção, pois se David F. Sandberg já tinha entregue um excelente primeiro filme ("Quando As Luzes Se Apagam") com algo bem simples, aqui com um orçamento bem melhor, uma franquia já consolidada para trabalhar, e um roteiro mais ousado de histórias para desenvolver não tínhamos dúvida de que arrasaria e entregaria algo que não apenas assustasse, mas sim causasse algo a mais no público que fosse conferir, e assim sendo, se a boneca pareceu apenas um adereço macabro no longa de 2014, aqui vemos o motivo de ser assim, como originou e para onde a franquia vai seguir, pois como bem sabemos, mesmo aqui que o orçamento foi melhorado, todos os longas foram bem baratos comparados ao tanto que tem arrecadado, e dessa forma, teremos muitos spin-offs, muitas sequências, até onde puderem explorar. A grande sagacidade de Sandberg foi não se preocupar em necessitar fazer um filme escuro, pois aqui temos muitas cenas acontecendo à luz do sol (e apavorando tanto quanto uma cena 100% escura), em fazer algo desprevenido que pegasse e apenas fizesse o público pular, trabalhando mais com coisas macabras e que fizessem sim arrepiar em diversos momentos (alguns até bem forte), e assim, mostrar que esse sim pode ser um daqueles diretores que temos de ficar de olho, pois dois longas e dois acertos, a chance de vermos novos clássicos em suas mãos está bem perto de acontecer.

Quanto às atuações, temos antes de mais nada falar da preparação que as jovens garotas fizeram para o longa, pois é inegável a qualidade expressiva de todas para com as situações tensas que acabaram enfrentando e se mostraram perfeitas para cada momento, demonstrando medo, estranheza e até mesmo sendo sutis quando precisavam fazer nada em cena, e assim o resultado de todos foi perfeito para cada papel, digo isso das pequenas, pois ao chegarmos nos adultos o resultado não foi o melhor que poderíamos ter. Ou seja, temos de dar muitos parabéns para o que Talitha Bateman, Lulu Wilson e Samara Lee fizeram com suas Janice, Linda e Bee respectivamente, pois demonstraram um cerne expressivo tão bem colocado de modo que Bateman inicialmente aparentava meio jogada, medrosa e tudo mais, mas com o andamento da trama foi se soltando e incorporando tão bem, que ao final chegamos a pensar se realmente não trocaram a garota no meio da produção, e o mesmo podemos dizer de Wilson, que começou bobinha, ingênua e até dócil demais, mas foi ficando com tanto medo da situação, que confesso que ao final a garotinha já aparentava estar desesperada realmente, mostrando que é uma ótima atriz expressiva (ou que realmente o diretor aterrorizou realmente ela!), já Lee apareceu em cenas espaçadas, afinal seu personagem está morto desde o trailer e a segunda cena do filme, ou seja, faz aparições, mas sempre com doçura (quando não mostra o lado obscuro) e agradável de se ver. Dos adultos, infelizmente Anthony Lapaglia até tentou ser suave em algumas cenas iniciais com seu Samuel, mas depois se fechou em excesso, ficando insosso demais para a produção, de modo que até torcíamos para que morresse mais rápido no filme, pois não chamou nem a responsabilidade para si, nem deixou fluir em suas cenas, e assim sendo mais atrapalhou do que agradou. Sabemos que Miranda Otto é uma excelente atriz, mas o papel de sua Esther é quase tão apagado quanto o de Lapaglia, servindo apenas para dar algumas explicações do que aconteceu para o demônio passar a morar na casa, e acabar bem trabalhada visualmente nas cenas finais, pois de restante se apenas falassem que tinha qualquer mulher dentro do quarto deitada não faria diferença. E fechando o elenco adulto, Stephanie Sigman foi quem melhor se saiu no conceito expressivo com sua Charlotte, não que tenha sido perfeita, mas ao menos fez boas expressões de susto e trabalhou bem desde o começo, chamando a responsabilidade quando precisou. Das demais garotas, é melhor nem comentar muito, pois foram meros enfeites para algumas cenas, tendo até alguns momentos de fala, mas poderiam nem estar em cena, que não faria a menor importância.

Seguindo os moldes do "universo" (como está sendo chamado, prefiro franquia) de "Invocação do Mal", o grande charme da produção é todo o conceito artístico que elaboraram, colocando muitos elementos cênicos para tremer, sair do chão, assombrar, e tudo mais, com feições estranhas, objetos mais antigos ainda que a data que o longa se passa, figurinos de época e claro um casarão abandonado no meio do nada, afinal não queremos vizinhos atrapalhando "o mal", ou seja, uma arte impecável com muitos apetrechos prontos para serem usados em cada momento, e principalmente para conectar com os demais longas da franquia (destaque claro para o porta-retrato das freiras que logo mais veremos no longa "A Freira", e a boneca original Annabelle que está exposta no museu dos Warren), ou seja, tudo perfeito no conceito artístico. Da mesma forma, como já falei no início do texto, a grande sacada foi não brincar tanto com cenas escuras, trabalhando sim vários momentos com esse mote, mas sempre deixando boas nuances de iluminações para podermos ver tudo ao redor, e ainda assim assustar/arrepiar com o que está sendo mostrado, ou seja, um trabalho perfeito da direção de fotografia, que até ousou com câmeras em drones/aéreas invertidas para dar alguns efeitos e o resultado acaba agradando bem, além claro de trabalhar muito bem a época com filtros e iluminações incríveis. Quanto dos efeitos especiais e da maquiagem demoníaca, poderiam ter caprichado um pouco mais para não ficar algo meio bizarro, mas não atrapalhou em nada.

Enfim, é mais uma ótima produção de James Wan, o mestre do terror moderno, que seja dirigindo ou produzindo filmes de terror, não tem errado sua mão nem gastado seu dinheiro em vão, ou seja, tem seu nome, corra que vai agradar e ser sucesso de bilheteria. Como disse no texto, temos alguns leves defeitos, principalmente nas atuações, mas nada que atrapalhe a experiência temebrosa que o longa proporciona, causando muitos arrepios e agradando em demasia quem gosta desse estilo de terror, digo isso, pois tem aqueles que preferem longas com mais sangue (sim, aqui as cenas finais foram bem sangrentas também, mas nada monstruoso), outros preferem longas mais psicológicos e absurdos (embora aqui cause certos traumas também), ou seja, até podemos classificar ele como um terror de sustos, mas o diretor ousou um pouco mais, e acabou agradando demais com isso. Portanto, se você não tem medo do estilo vá conferir que certamente gostará do que vai ver, pois é um ótimo filme. Detalhe, possui duas cenas pós-crédito (uma logo que acaba a música, que vai mostrar os rumos de um possível Annabelle 3, e que finalmente a boneca realmente terá mais importância do que o demônio em si, e outra bem ao final, que mostra os rumos da franquia com seu próximo longa), ou seja, estão aprendendo com os longas de super-heróis a segurar o povo na sala para não saírem correndo após o filme acabar com medo da sala escura. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho mais uma estreia para conferir nessa semana, então abraços e até breve.

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Diário de um Banana 4: Caindo Na Estrada (Diary of a Wimpy Kid: The Long Haul)

8/15/2017 01:39:00 AM |

Se os primeiros filmes foram feitos em sequência (2010, 2011, 2012), as bilheterias acabaram não empolgando o tanto que necessitavam para que todas os livros virassem filmes rapidamente, e sendo assim, como bem sabemos, os pequeninos crescem bem rápido e os protagonistas originais precisaram ser trocados para que a essência do livro continuasse fluindo em "Diário de um Banana: Caindo Na Estrada". Não digo que isso seja o maior problema do filme, pois mesmo com atores diferentes, os personagens (a maioria, pois o irmão mais velho acabou ficando retardado demais, já que o anterior era mais rebelde, porém mais jovial e menos adolescente) acabaram seguindo bem e divertindo (até mais do que outros filmes da série) com uma história bem colocada e que acaba levando até certas gags desnecessárias (e até nojentas), mas que funcionam, e sendo assim, o resultado acaba agradando bastante quem for disposto a se divertir com as bobeiras da trama, e principalmente acaba divertindo bem a garotada fã dos livros.

O longa nos mostra que Greg convenceu sua família a embarcar numa viagem para ir ao aniversário de 90 anos de sua avó. Mas, na verdade, o que ele realmente quer é assistir a uma convenção de gamers. Sem surpresas, as coisas não vão de acordo com o planejado e as palhaçadas da família Heffley começam a acontecer.

Desde que assumiu a direção da série em 2011, David Bowers conseguiu imprimir bem o estilo aventureiro que Greg tem nos livros para o cinema também, pois no primeiro filme tudo era bem diferente, embora original. Agora usando de base o nono livro da série, ele construiu esse quarto filme com nuances de vários outros livros, colocou boas piadas e situações e conseguiu criar algo bem dinâmico de acompanhar, o que acabou transformando esse "road-movie" em algo bem divertido (mesmo que soe bobo em diversos momentos) e que com um estilo próprio para o público infantil mereceria ter sido lançado nas férias para aí sim arrecadar uma boa bilheteria (e quem sabe ser lançado outras histórias dos livros). Claro que a trama possui muitos defeitos, os principais são o excesso de coisas nojentas para fazer graça (algumas funcionam muito bem, e fazem com que caiamos nas gargalhadas, outras apenas dão nojo) e alguns personagens saindo fora do eixo da trama, que já vinha bem com outros atores, mas de resto, o resultado acabou funcionando bastante.

No conceito das interpretações não vou me aprofundar muito, afinal como todos bem sabem, esse estilo de filme não aparece no interior legendado por ser algo 100% voltado para crianças, e as vozes acabaram ficando até chatas demais de ouvir em determinados momentos (o trailer está aí embaixo e você pode tirar suas próprias conclusões), portanto vou apenas dar destaque às travessuras de Jason Druker como Greg, que assim como seu antecessor Zachary Gordon, fez boas expressões e principalmente demonstrou o que estava sentindo/fazendo. Já frisei que o grande problema do filme ficou a cargo da mudança de personalidade de Rodrick, que se antes com Devon Bostick, o personagem foi crescendo e virando alguém mais impactante, com visual e que com a banda até chamaria atenção, aqui com Charlie Wright praticamente voltamos para a estaca negativa, pois o jovem não aparenta 16 anos, mas sim um adolescente de 13 a 14 no máximo, chegando a ser babaca e até mais infantil que o protagonista em algumas atitudes. Agora uma das mudanças mais interessantes ficou a cargo dos pais, pois mesmo Alicia Silverstone aparentando bem diferente do que conhecemos e Tom Everett Scott tentando ser engraçado, o resultado de seus Susan e Frank soaram bem mais satisfatórios como pais do que acontecia antes, que soavam pessoas desesperadas e problemáticas apenas, ou seja, agradaram. Os demais acabaram soando bem coadjuvantes realmente, como o Sr. Barbudo, interpretado por Chris Coppola, que parecia estar com cara de diarreia toda vez que ficava bravo, e o jovem Manny, interpretado por dois jovens garotinhos gêmeos, que ao final conseguiu chamar toda a atenção para si.

A equipe de arte literalmente teve bastante trabalho, pois road-movies geralmente são bem complexos de conseguir trabalhar, e aqui tiveram vários hotéis bizarros, com muita cenografia para ser trabalhada, diversas cenas em estradas com objetos sobrando para todo lado, e claro as diversas cenas em festivais de games e de fazenda, aonde precisaram certamente colocar as pessoas em posições estratégicas para ter um bom resultado, ou seja, trabalharam bem para que o resultado artístico funcionasse, e tiveram sucesso nisso. Como é um longa muito movimentado, a equipe de fotografia nem quis ousar, deixando tudo com um tom só bem colorido, criando o ar cômico e deixando que o restante fluísse naturalmente.

Enfim, é um bom filme, garanto que não é o melhor longa do mundo, mas certamente vai fazer você rir bastante, o que acaba sendo um acerto, já que estamos falando de uma comédia. Portanto vá sem pensar e divirta-se, leve as crianças que certamente irão gostar bastante, e assim sendo o resultado final vai agradar bem. Claro que nem frisei tanto nos erros, furos, e tudo mais de estranho que o longa acabou fazendo, mas como a trama é simples, já vamos sabendo que veremos isso, e assim sendo acaba não atrapalhando tanto. Certamente foi muito melhor que o terceiro longa, mas acaba ficando empatado com o segundo, e sendo assim a nota será a mesma. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até breve.

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Malasartes e o Duelo Com a Morte

8/12/2017 02:36:00 AM |

Certos filmes nacionais já nos permeiam com situações tão bem encaixadas que não tem como não gostar, e a alegoria vida versus morte, misturando com ideias do sertão acabam sempre resultando ótimas histórias que agradam antes mesmo do longa estrear. Confesso que sabia bem pouco sobre "Malasartes e o Duelo Com a Morte", de modo que vi o trailer apenas uma vez nos cinemas, e já havia me afeiçoado com o que tinha visto ali, mas não esperava ver algo que misturasse a situação tão bem conhecida de "O Auto da Compadecida" com todo o lance do sertanejo esperto que tenta ludibriar negociando com a morte e o misticismo da mitologia das moiras que já vimos em alguns desenhos e até mesmo em alguns filmes que envolvessem as tecedoras de destinos, ou seja, com uma história bem elaborada, a trama se desenvolveu bem nas mãos dos atores e acabou agradando bastante tanto visualmente quanto no desenrolar completo. Porém, alguns exageros repetitivos acabaram cansando em diversos momentos, tirando até a atenção do público, e juntamente com o excesso de efeitos especiais, o filme acaba até saindo um pouco dos eixos, de modo que até poderia agradar bem mais.

O longa nos mostra que Pedro Malasartes é um malandro que, por mais que seja apaixonado por Áurea, não resiste a um rabo de saia. Devendo muito dinheiro a Próspero, irmão de sua amada, Malasartes precisa escapar dele ao mesmo tempo em que prega peças, sempre usando a inteligência, de forma a conseguir alguns trocados. Só que seu padrinho, a Morte em pessoa, tem outros planos para ele.

O diretor e roteirista Paulo Morelli já vinha tentando tirar o longa do papel há muito tempo, e com uma bagagem invejável é claro que não decepcionaria ao entregar uma trama mais fantasiosa do que seus últimos filmes mais centrados em realidades e problemas psicológicos, de modo que aqui ele pôde explorar melhor cada situação com uma boa dinâmica, e principalmente entregar um filme com vértices bem encaixados numa proposta do tradicional malandro, e com isso vemos uma trama bem facetada e cheia de nuances interessantes para se analisar. Claro que com esse excesso, a trama funcionaria bem melhor como uma série, e esse sim era o desejo antigo do diretor para que pudesse trabalhar melhor cada um dos personagens, o que acabou não acontecendo, e sendo assim, o resultado final até é agradável, mas poderia ser bem melhor.

Sobre os personagens e seus atores, falo dessa forma pois independente de quem fizesse cada papel, o resultado que mais importaria seria as feições de cada elemento e não seus trejeitos que cada ator poderia fazer, e sendo assim Jesuíta que sempre dá show, não decepcionou em momento algum, fluindo do começo ao fim com muita perspicácia para que seu Malasartes agradasse demais. Ísis Valverde é uma atriz bacana, mas seus personagens acabam marcados demais, de modo que por ter os mesmos trejeitos que anda fazendo na novela das 9, ficamos esperando sua Áurea soltar um tradicional "égua". Júlio Andrade é outro que jamais decepciona com os papéis que pega, e aqui mesmo sua Morte tendo de ficar quase 99% cheia de efeitos, o ator incorporou bons momentos e acabou divertindo bastante com cenas simples bem colocadas melhores que as mais complexas. Leandro Hassum antes de emagrecer (ou seja, o filme já está gravado há um bom tempo) tinha muito mais graça e divertiu-se bastante fazendo trejeitos bobos, mas bem colocados para seu Esculápio. Milhem Cortaz sempre se coloca como um personagem forte nos longas que atua, mas aqui seu Próspero poderia não ter sido tão forte, que ainda agradaria e passaria a mesma mensagem. Augusto Madeira até fez bem seu Zé Candinho, mas o papel acabou ficando bobo demais para que o ator chamasse a atenção sem apelar, e com isso o resultado acabou ficando estranho. Outra que soou estranha foi Vera Volts com sua Cortadeira, de modo que num misto de hippie com bruxa desesperada por poder, acabou ficando bem forçada para agradar.

Certamente algo que impressionará muito o público será a qualidade da produção, pois com muitos cenários computadorizados, acabamos vendo um filme quase que 100% digital, que acaba chamando até mais atenção nos efeitos do que na história propriamente dita, e com isso o resultado da equipe artística necessitou ser perfeito e acaba mostrando realmente a dinâmica impecável que tanto desejavam em cada um dos cenários, fosse no sertão ou na Terra da Morte. Porém para que bons efeitos fluissem melhor, era preciso um pouco melhor de cuidado com a iluminação, pois tivemos cenas mistas demais aonde tudo oscilava e acabava soando falso demais, o que certamente não era estipulado, e sendo assim, poderiam ter economizado nas cenas de voo.

Enfim, é um filme diferenciado que até chama bastante atenção e merece ser visto para mostrar que o Brasil tem evoluído muito nos estilos de filmes, mas ainda para poder exagerar em efeitos especiais necessita melhorar um pouco mais. Portanto vá ao cinema, confira e tire suas conclusões, pois certamente vai lhe causar um estranhamento de parecer já ter visto algo do tipo, e sim, talvez você tenha visto o personagem principal nas aventuras de Mazzaropi, mas aqui o resultado foge um pouco do tradicional e vai ficar no meio do caminho. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda falta mais uma estreia para conferir, então abraços e até breve.


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Valerian e a Cidade dos Mil Planetas em 3D (Valerian and the City of a Thousand Planets)

8/11/2017 02:31:00 AM |

É engraçado como o estilo de longas espaciais podem nos verter para diversos outros filmes, pois é raro algum que apareça e nos surpreenda com alguma novidade que jamais havíamos visto nas telonas, e com isso é inegável as diversas comparações que podemos fazer com "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" com outros grandes clássicos como "Star Trek", "Blade Runner" e aliar as diversas texturas, cenários e personagens até mesmo com "Avatar". Porém longe do contexto mais bem elaborado que esses clássicos nos permearam, aqui a bagunça ficou um pouco fora de controle, e os dois protagonistas soaram teen demais para algo que poderia ser mais sério e interessante, ou seja, a produção até é grandiosa, os efeitos foram bem colocados, mas a história e a execução acabaram ficando forçadas demais para agradar quem não for exageradamente fã do estilo.

O filme narra a história de Valerian e Laureline, uma dupla de agentes espaciais encarregados de manter a ordem em todos os territórios humanos no século 28. Por ordem do Ministro da Defesa, os dois embarcam em uma missão para a surpreendente cidade Alpha – uma metrópole em constante expansão, onde milhares de espécies de todo o universo se reúnem há séculos para compartilhar conhecimento, inteligência e cultura uns com os outros. Há um mistério no centro de Alpha, forças obscuras ameaçam a pacífica existência da Cidade dos Mil Planetas e Valerian e Laureline devem correr para identificar a ameaça e proteger não só Alpha, como o futuro de todo o universo.

Um dos cinemas da cidade estava dando de brinde o primeiro capítulo da HQ que foi usada de base para o longa, e se lá já havia ficado bem confuso com a ideia do longa, fui para o cinema com um pé atrás do que poderia ver na telona. Porém felizmente o diretor Luc Besson é daqueles que prefere explicar praticamente tudo ao seu redor, e não deixar dúvidas no espectador do que trabalhar uma obra mais introspectiva, e aqui, certamente como já foi feito em 2007, a trama é muito grande para ser vista apenas em um único filme, pois necessitamos conhecer cada um dos personagens principais, os diversos paralelos, e principalmente conectar tudo para que o resultado flua realmente, e embora aqui tenhamos 137 minutos, muita coisa acabou sendo jogada no meio do longa sem poder ser trabalhada realmente. Ou seja, Luc foi bem dinâmico com seu longa, trabalhou muito bem a mistura de efeitos, cenografia e personagens, mas não desenvolveu a história como poderia numa série de 3 a 4 capítulos, que aí sim seria perfeita, além de outro detalhe importantíssimo, os personagens na HQ não são tão adolescentes (aparentemente no longa na faixa de 20 anos contra aparentemente 30 a 40 na HQ) que acabaram dando um tom muito fraco para a personalidade de dois soldados (de patentes grandes como major e sargento) em uma grandiosa missão. Portanto, o diretor e roteirista até bebeu bem das fontes dos clássicos que citei, mas falhou em conseguir o ponto certo para que seu filme também virasse um grande nome (ainda mais com toda a propaganda em cima do 3D dele, o qual vou falar mais para baixo).

Já pontuei um pouco sobre os protagonistas, mas vamos dar nome aos problemas, e para começar temos de falar de Dane DeHaan que tem sim 31 anos, mas aparenta no máximo 20, e com diálogos bobos e uma personalidade teen acabou ficando fraco demais para o que seu Valerian necessitava, de modo que o ator até tentou em alguns raros momentos parecer mais sério, mas a proposta sempre desandava e o resultado acabou falhando demais. Cara Delevingne até aparentou sua idade real de 25 anos, mas fiquei esperando até o final que falasse que sua Laureline era um robô para escolherem ela para o personagem, pois com movimentos duros demais, uma personalidade seca e uma desenvoltura que certamente a personagem não possuía, mas até que não ficou tão ruim quanto poderia. Clive Owen até tentou impor um respeito maior com seu Comandante Filitt, mas teve poucas cenas no miolo para chamar atenção, e com isso seu personagem quase desaparece (mesmo sendo bem importante) e com isso acaba não indo muito além do que poderia fazer. Outros acabaram aparecendo até razoável como Sam Spruell com seu General Okto-Bar, Alain Chabat como Bob, o pirata, e Herbie Hancock como Ministro da Defesa, mas não obtiveram muito sucesso. Inicialmente, ao aparecer, fiquei realmente preocupado que Rihanna fosse apenas dançar por cerca de 3 minutos e nada mais, mas nas sequências seguintes, a atriz/cantora até conseguiu agradar bastante com sua Bubble, sendo até um grande agrado dentro da proposta do longa.

Dentro da proposta ousada do diretor, o grande feito ficou a cargo do visual do longa, que com cenários grandiosos e diferenciados (a maioria computadorizado), o resultado acabou ficando bem colocado parecendo até mesmo um grande jogo de videogame, e não digo que essa denominação seja algo ruim, mas acabou fugindo um pouco da linguagem cinematográfica e indo para outros vértices, que até foram bem usados, com coloridos ousados, diversos elementos cênicos e até momentos de certa profundidade envolvente de se acompanhar, mas poderiam ter trabalhado bem mais. Quanto à iluminação do filme, a fotografia funcionou mais nas cenas do planeta Mül, com algo bem bonito e interessante de ver do que nos diversos momentos escuros de Alpha, porém serviu para mostrar que o diretor de fotografia estava antenado com sombras e boas nuances. Agora o ponto mais negativo do filme ficou a cargo da propaganda enganosa de o melhor 3D do ano, falando para que todos fossem ver o filme, que iria compensar e tudo mais com uma grande tecnologia, e quiçá algumas cenas tiveram uma profundidade bem elaborada para que as cenas mais dinâmicas funcionassem realmente como um jogo de videogame em primeira pessoa, com longas paisagens para serem vistas, e tudo mais, mas nada que fizesse você se impressionar e/ou querer rever detalhes técnicos, ou seja, marketing apenas.

Enfim, é um filme bacana, que dá para perder um tempo se divertindo com o que é mostrado, mas ficou bem abaixo do esperado/vendido e só vai chamar atenção mesmo de quem for realmente bem fã de sagas estelares, e que estiverem com expectativa bem baixa, pois senão a chance de reclamar é bem maior do que a de elogiar algo da produção, e se tenho de dar destaque para algo da trama, que seja para os bichinhos secundários que vendem informações, para o outro que duplica coisas e para o planeta Mül, pois o restante acabou sendo desanimador. Bem é isso pessoal, tenho mais duas estreias para conferir ainda nessa semana, então abraços e até breve.

PS: Pensei até em dar nota 5 para a trama, mas me diverti em diversos momentos, e o visual agradou bastante, então vamos com 6 coelhinhos!

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Planeta Dos Macacos: A Guerra em 3D ( War For The Planet Of The Apes)

8/07/2017 01:22:00 AM |

É interessante quando um filme de alguma franquia antes de começar nos conta trechos do que vimos nos capítulos anteriores, e em "Planeta dos Macacos: A Guerra", a forma encontrada através quase que de uma forma literária bem elaborada com as palavras temas de cada um dos três filmes foi algo tão bem desenhado que já impressiona ali. Dito isso, não vá esperando ver um filme com guerras de tiros, explosões e tudo mais que verá nas primeiras cenas no longa inteiro, pois o embate é bem mais arquitetado e desenvolvido do que acontecendo realmente, e com isso o longa chega a ter até alguns momentos bem cansativos, que ou poderiam ser melhor explorados, ou até cortados para que o filme não ficasse tão longo, mas claro que aí não criaria toda a tensão para ser explorada e nem demoraria para acontecer o real clímax que a trama quis envolver. Mas mesmo tendo alguns pontos que "encheram linguiça", o resultado demonstra com o melhor enredo dos três últimos filmes, como estão aptos para desenvolver muito bem tramas misturando computação gráfica, capturas de movimento, e locações incríveis para que o final empolgue, comova e ainda agrade sem ficar forçado. Ou seja, muitos apostam que a trama terá mais um, dois ou até três filmes para aí sim fechar o ciclo que começou lá em 1968, mas com algumas surpresas aparecendo aqui, que já foram vistas no original, veremos o que tem a nos mostrar se resolverem fazer mais outros, pois aqui ao menos o ciclo desses três foi bem casado e resolvido. Veremos!

O longa nos mostra que humanos e macacos cruzam os caminhos novamente. César e seu grupo são forçados a entrar em uma guerra contra um exército de soldados liderados por um impiedoso coronel. Depois que vários macacos perdem suas vidas no conflito, César luta contra seus instintos e parte em busca de vingança. À medida em que a jornada finalmente os coloca cara a cara, César e o Coronel se enfrentam em uma batalha épica que determinará o destino de suas espécies e o futuro do planeta.

Se no primeiro filme o diretor Rupert Wyatt conseguiu transmitir toda uma ideologia em menos de duas horas, com Matt Reeves já não tivemos mais essa sorte, pois ele fez "O Confronto" com 130 minutos e agora "A Guerra" com 140, e mostrou que seu poder de síntese não estava tão aflorado, deixando que Andy Serkis pudesse trabalhar mais suas expressões, valorizando ainda mais o trabalho tão bem elaborado que o ator consegue fazer. Não digo que Reeves tenha falhado, muito pelo contrário, suas cenas são memoráveis, o conjunto de tensão cênica elaborada que fez com cada personagem soou icônico e vemos nuances sendo apresentadas a cada novo ato, porém o miolo necessitou de muitas apresentações, e isso é algo que faz filmes ficarem lentos demais, levando o público até se cansar com o andamento, ou seja, a história até pode nos prender, ter um envolvimento incrível para mostrar o processo de mudança da personalidade de César, a sagacidade dos macacos para resolver os problemas, mas Reeves poderia ter sido mais sucinto que agradaria da mesma forma e o longa seria impecável. Num contexto maior, o resultado até empolga, acaba sendo um filme incrível de assistir, fecha bem a trilogia atual com um consenso altamente inteligente de sentimentos, mas peca no excesso, não atingindo aonde poderia atingir, que é na emoção mais aflorada pelo lado humano dos macacos.

Sobre as interpretações, temos de falar basicamente sobre dois lados, os ótimos semblantes que só a captura de movimentos, e claro uma expressiva atuação de Andy Serkis consegue não apenas fazer com seu César, mas também dirigir os demais atores/macacos para que fizessem movimentos bem elaborados e expressões perfeitas para que os sentimentos reais não necessitassem ser criados por computadores, mas sim pelos próprios atores, e apenas depois fosse colocado a pelagem por cima das imagens capturadas, criando animais reais e interessantes de serem vistos, e claro quanto a Serkis, esse ainda vai ganhar prêmios pelas ótimas caras e bocas que consegue fazer junto de entonações incríveis que fez o personagem mostrar muitas emoções em cada ato diferente. Agora sobre o outro lado, Woody Harrelson deu a personalidade mais forte possível que pode para seu Coronel, sendo em diversos momentos até impactante demais com seus dizeres, trabalhando da mesma forma as cenas cruéis com as cenas duras, criando um vilão como há tempos a franquia não via, pois se Koba no anterior foi algo mais neurótico, aqui o buraco foi mais embaixo com a personalidade de destruição do soldado, e claro que com muitas caras e bocas, o ator mostrou todo seu potencial em ação. Dos demais, todos foram bem colocados, mas temos de dar um leve destaque para a garotinha Amiah Miller que com muita doçura, bons semblantes acabou sendo uma grata surpresa tanto para o filme, quanto para as ligações futuras, pois certamente vai ser muito importante nos demais momentos. Tenho de pontuar também o ótimo Bad Ape feito por Steve Zahn que funcionou perfeitamente para o alívio cômico da trama, agradando nos momentos certos, sem estragar toda a tensão do filme.

No conceito visual é fato que as ótimas locações deram um tom de guerra iminente, misturando florestas fechadas com muita neve para todos os lados, um quartel que lembra muito a segregação nazista, e claro um ambiente bem escuro para segurar a tensão a cada novo ato, de modo que a cada incursão dos personagens, fosse pelo chão, pelas arvores ou até mesmo pelo subsolo, tinha elementos para que observássemos tudo o que ocorreu antes, e o que poderia ocorrer no desenrolar da trama, mostrando que a equipe de arte elaborou cada detalhe como um grandioso jogo de videogame (aliás certamente devem explorar isso, pois funcionaria muito!) e assim o resultado acabou até maior do que a trama em si. A fotografia fez de propósito um longa escuro demais, para que tudo funcionasse ao aparecer de repente, mas como opção, talvez trabalhar apenas as sombras seria algo mais interessante, mesmo que aparecesse mais os defeitos de computação. Agora se você estava pensando em ir conferir em 3D, naquela dúvida cruel de pagar mais caro, fuja pras colinas e vá ver 2D tranquilamente, pois usaram a tecnologia apenas para dar algumas leves texturas de profundidade computacional nas cenas com os macacos, mas só, nenhum elemento voando para fora da tela (e olha que temos muitas explosões), nenhuma profundidade de campo (mesmo com batalhas épicas com muitos personagens), ou seja, nada de efeitos tridimensionais para valer ver dessa forma.

Enfim, é um filme muito tenso, que cria diversos âmbitos e discussões, mas que acabou pecando demais no tempo e na dinâmica, cansando um pouco (cheguei a ver pessoas levantando das poltronas para esticar as pernas de tão cansadas com tudo!). Não digo que um filme não possa ter 140 minutos, mas que para isso crie mais dinâmicas, e menos personagens/histórias para serem desenvolvidas futuramente, que aí sim tudo fica mais interessante. Ou seja, é muito válido conferir o longa para ver o desfecho de algo que começou lá em 2011 (ao menos essa trilogia) e que certamente desejam ligar com tudo o que vimos nos demais longas que já existiram, afinal esse é o nono filme da franquia toda, e ainda não vimos tudo o que pode ter acontecido até o planeta ser completamente dominado por macacos como foi mostrado nos primeiros filmes. Portanto, vá conferir descansado e curta o que verá, pois é um filmão. Fico por aqui já encerrando essa semana cinematográfica bem curta, mas volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até lá.

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O Reino Gelado - Fogo e Gelo em 3D (Snezhnaya Koroleva 3. Ogon I Led)

8/05/2017 06:43:00 PM |

O conto "A Rainha de Gelo" de 1845 de Hans Christian Andersen deu origem às ideias de "Frozen", que está em sua segunda produção, mas antes do sucesso hollywoodiano aparecer em 2013, no ano anterior surgiu o russo "O Reino Gelado", que já teve uma continuação em 2014, que fugiu bem do elo principal, e agora volta com a base original para a segunda continuação (ou terceiro filme como prefiram!) denominado no Brasil como "O Reino Gelado - Fogo e Gelo". E como disse no texto do segundo filme, a criatividade não foi muito bem trabalhada, até criando algo simples demais, e aqui, além de inventarem algo bem mal executado como um personagem que deseja virar lenda, o resultado acabou ficando confuso demais para distinguir o público que desejavam atingir, afinal a história é bem infantil, mas o excesso de doses sombrias acabou deixando o longa meio fora do eixo que o público alvo apreciaria. Não digo que o longa vá cativar os pequenos, mas talvez um pouco menos de cenas escuras e densas acabaria resultando em algo melhor.

O longa nos mostra que depois de derrotar heroicamente tanto a rainha da neve e o rei da neve, Gerda ainda não consegue encontrar a paz. Seu sonho é encontrar seus pais e, finalmente, reunir a família. Assim, Gerda e seus amigos embarcam em uma jornada para encontrar os pais dela e enfrenta novos desafios ao longo do caminho.

Não podemos dizer que é um filme com muitas qualidades, que empolgue a criançada com músicas e boas cenas de ação, mas também não é daqueles chatinhos e inúteis de se ver, que ficamos bocejando e desejando que o longa acabe o mais rápido possível. O que melhor demonstra o bom feitio é a direção russa de Aleksei Tsitsilin que fez um design bem colocado com bons elementos visuais, algumas texturas interessantes que demonstraram uma melhoria em relação ao longa anterior e acabou fazendo um resultado bem feito, mas como disse, faltou pra ele saber o público que desejava atingir, já que colocou algo sombrio demais com o lado do vilão e com isso o resultado acaba até soando estranho. Não vou falar que é a melhor animação, e ainda está anos-luz longe do primeiro filme de 2012 (que não teve a mesma equipe envolvida) que contou uma história bem desenvolvida e interessante de acompanhar, porém o resultado visual e da forma que foi bem contada até agrada em certos aspectos.

Sobre os personagens e dublagens, volto a frisar que poderia ter mais tempo de tela do Orm, que é um alívio cômico bem bacana e divertido, que na voz de João Côrtes novamente acaba agradando nas poucas cenas. Gerda voltou a protagonizar a história e embora não seja tão empolgante sua saga aqui, Larissa Manoela até dublou bem e conseguiu dosar o timbre para que a personagem não ficasse com sua cara/voz, soando levemente triste e não tão impactante. João Guilherme Ávila emprestou sua voz para o jovem Roni que começou interessante com sotaques e tudo mais, mas depois deixou levar, fazendo um personagem que agrada, vai chamar a atenção pela dupla característica (bonzinho vs vilão), mas que não chama tanto a responsabilidade para que o filme flua.

Sobre o 3D, melhor nem falar muito, pois até temos meia dúzia de cenas com a tecnologia, mas do restante o filme quase todo pode ser visto sem óculos! E olha que daria para jogar muita coisa no público!

Ou seja, até melhoraram bem a modelagem, para que o visual ficasse colorido suficiente, chamasse a atenção dentro de uma boa proposta, mas faltou muito para virar um desenho que todas as crianças quisessem ver, ficando bem mediano em tudo, faltando canções e tudo mais, tanto que muitas crianças até ficavam perguntando se o filme já estava acabando, ou seja, nem elas agradou. Portanto até vai servir para a garotada aproveitar o fim das férias e ver um desenho, mas não será algo que vão lembrar muito. Bem é isso pessoal, fico por aqui mais uma vez agradecendo o pessoal da Difusora FM 91,3MHz que fez a pré-estreia aqui em Ribeirão, e volto amanhã com a crítica da estreia da semana. Então abraços e até logo mais.

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