Um Instante de Amor (Mal de Pierres) (From the Land of the Moon)

6/12/2017 09:48:00 PM |

Ao adentrarmos dentro da sintonia que o longa "Um Instante de Amor" nos proporciona, acabamos sentindo diversas emoções, pois o filme brinca com a loucura e trabalha dentro de um conceito que estamos pouco habituados, como a ideia completa do amor forçado como era antigamente. Mas a maior maravilha do longa é a quebra de nossos queixos com o fechamento escolhido, pois tudo o que imaginamos vai por água abaixo com uma ideia que sequer pensamos na possibilidade já que a protagonista nos leva a crer que sua cura foi sanada e com isso, mais do que agradar, o resultado nos faz apaixonar pelo que vemos já que a surpresa é realmente grande, e feita com muita beleza e sutileza, contrapondo completamente todo o ritmo do longa.

A sinopse nos conta que Gabrielle é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma o casamento dela com o pedreiro José. Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas numa clínica e encontra a paixão que jamais teve pelo marido em um tenente à beira da morte.

O trabalho que a diretora Nicole Garcia fez em cima do romance de Milena Agus é algo que podemos dizer brilhante para não falar outras palavras, já que ela não entrega o jogo logo de cara e vai nos condicionando para algo completamente diferente, e ao usar desse estilo, a proporção de fatores só vai crescendo e permeando nosso imaginário com cada situação, não sendo a toa nenhum dos prêmios que concorreu, como os 8 Cesar e a Palma de Ouro em Cannes. O estilo dela acaba sendo diferenciado por não seguir um contexto tradicional e ainda se manter no conceito tradicional dos longas de época, tanto que vemos a época das guerras, o pós e sempre mantendo um ar afastado das batalhas, vemos figurinos bem conceituados que nos envolvem com planos certeiros e condizentes para cativar e emocionar a cada nova aparição.

Brincadeiras à parte, mas alguém fala aí qual o produto para pele que Marion Cottilard com 42 anos usou para que sua Gabrielle Rabascal ficasse com cara de 20 e poucos e ainda fosse perfeita, magnifica, incrível, e tudo mais que possamos elogiar de sua interpretação totalmente trabalhada nas nuances demonstrando toda sua capacidade interpretativa com uma facilidade incrível, ou seja, ainda é aquela atriz que todos queremos ver nos filmes, pois é perfeita para qualquer papel. Alex Brendemühl transformou seu José Rabascal em um personagem tão sério, persistente e que acabou nos surpreendendo com atitudes tão incríveis com suas expressões e situações que inicialmente achamos a escolha estranha para o papel, mas com o desenrolar da trama acaba encantando a todos.
Louis Garrel trabalhou pouco com seu André Sauvage pois são poucas cenas suas para termos uma nuance melhor dele, e como sempre faz a mesma cara em todos os filmes acaba não empolgando tanto como poderia, mas embora tudo isso, ele conseguiu chamar bastante atenção pelo estilo do personagem e pela atração desenfreada que a protagonista acaba sentindo por ele. Dos demais quase ninguém merece um destaque mais eloquente, porém temos de associar a personalidade forte de Brigitte Roüan como a mãe de Gabrielle com tudo o que acaba ocorrendo com a jovem, afinal toda moça sempre tem seus momentos de rebeldia contra o que os pais desejam, e também pontuar a amizade que Aloise Sauvage com sua Agostine faz com a protagonista, sendo algo bem sincero e interessante de ver.

As escolhas cênicas também ajudaram a dar um grandioso charme para a produção, iniciando com a casa da família que preza por mostrar o tradicionalismo da época com empregados trabalhando longe dos patrões, mas sempre de olho nas filhas dos donos, depois temos a clínica na Suíça com seus tratamentos alternativos de jatos de água em meio certo a muito frio das regiões montanhosas, mas lindíssimas, e chegando à ótima locação da casa na praia, com um visual magnífico e paradisíaco que acaba desenvolvendo as cenas mais adultas dos protagonistas, com muitos elementos cênicos sendo importantíssimos como a foto, o crucifixo, entre outros que devemos observar demais, ou seja, um trabalho primoroso da equipe de arte. A fotografia misturou bem os tons para representar as épocas, vindo de um sépia mais forte, dando uma leve coloração no miolo, mas mantendo tons acinzentados para criar a dramaticidade sempre, além de puxar sempre os detalhes para um tom maior para que o público saiba em que prestar atenção, ou seja, algo realmente bem pensado.

Enfim, é um filme que inicialmente não damos nada para ele, aparentando ser só uma loucura da protagonista, vamos nos apegando aos detalhes e junto com isso nos ligando à protagonista, e ao final já estamos tão conectados que tudo ganha vida e somos surpreendidos com o que é mostrado, ou seja, a maravilha do cinema bem trabalhado acontece. Claro que não é o longa mais perfeito do mundo, principalmente pela falta de carisma de Garrel e por algumas cenas serem rápidas demais para não fluir bem, mas o resultado final é tão bom que não tem como não recomendar (e obrigar) que todos vejam esse maravilhoso filme, seja no Festival Varilux (Em Ribeirão Preto passará novamente no Cinemark dia 16 às 18h45 e no Cinépolis Santa Úrsula dia 18 às 19h00) ou quando for lançado, pois valerá muito a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com o texto do outro longa assistido hoje no Festival, então abraços e até logo mais.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...