Tal Mãe, Tal Filha (Telle mère, telle fille) [Baby Bump(s)]

6/07/2017 02:32:00 AM |

Se existe uma coisa que a França sabe fazer melhor que todo o mundo é comédia com leveza, pois sempre que escolhem não fazer rir por exageros, eles colocam a comicidade como ponto subjetivo e divertem agradando com muita sutileza e boas situações. Digo isso após ver muitos longas do estilo e claro que digo também que eles erram muito quando a coisa desanda, o que não é o caso de "Tal Mãe, Tal Filha", que ao trabalhar bem a situação da responsabilidade, incorporando com gravidez e adicionando um show básico da protagonista que estamos mais acostumados a ver em dramas estando soltinha para se divertir (e divertir o público), acaba resultando em algo tão gostoso e leve, que mesmo não fazendo o público rachar de rir, acaba fazendo o ponto-chave da comédia que é sair alegre da sessão, o que faz valer demais assistir ao filme.

O longa nos mostra que inseparáveis, Avril e sua mãe, Mado, não podem ser mais diferentes uma da outra. Avril, 30 anos, é casada, tem um emprego fixo e é organizada, ao contrário de sua mãe, eterna adolescente irresponsável e petulante, que vive à custa de sua filha desde o seu divórcio. Mas quando as duas mulheres se veem grávidas ao mesmo tempo e sob o mesmo teto, o choque é inevitável. Mado está em plena crise de juventude e não está pronta para ser avó e Avril, por sua vez, tem grande dificuldade de imaginar sua mãe... mãe!

É interessante ver o trabalho da diretora e roteirista Noémie Saglio, que no Varilux de dois anos atrás nos divertiu com a comédia "Beijei Uma Garota", mas trabalhando com uma vertente mais cheia de protagonistas, bagunçando a cabeça com misturas de quebras de preconceitos e tudo mais, ou seja, algo mais forçado, e aqui ela se permitiu deixar que a história fluísse solta e gostosa sem que fosse necessário apelar para nada, deixando que somente a qualidade técnica da protagonista, junto de uma situação inusitada funcionasse sozinha e tivesse toadas leves e bem harmoniosas para que o subjetivo implícito agradasse sem precisar de mais nada. Ou seja, o famoso deixou rolar, e por mais incrível que possa parecer, iniciamos a trama com um certo preconceito de que pode parecer uma comédia bobinha, ingênua e tudo mais, mas pelo contrário, ela se verte fácil e acaba divertindo de maneira séria, com pontuações bem colocadas sobre aborto e resulta em algo que o público nem imaginava ver: uma comédia simples, fácil e que não incomoda em momento algum com nada.

Nem seria necessário falar nada de Juliette Binoche, pois apenas sua presença já é garantia de sucesso de um filme, mas acostumamos tanto com sua expressividade dramática que quando está soltinha numa vertente mais cômica como ocorre aqui com sua Mado até chegamos a estranhar, mas isso é mero fato, pois quando se é ator/atriz e possui a qualidade interpretativa no sangue pode até fazer de morto que vai agradar, e aqui o show dela é garantido do começo ao fim, com ótimos trejeitos e tudo mais que se possa observar. Camille Cottin já não foi tão disposta a se jogar para a trama de cara, começando com uma certa pontinha de dúvida do estilo que deveria mostrar de sua Avril, mas vai incorporando todos os "hormônios" da maternidade dentro de sua interpretação que ao final dos 9 meses já vemos alguém completamente insana e divertida de ver, o que vale ótimas risadas de tudo o que acaba fazendo. É engraçado ver o quanto Lambert Wilson varia papéis, e quando está disposto a ficar bem encaixado não tem como não gostar, pois aqui seu Marc é uma figura completa, despojada e disposto a fazer de tudo um pouco para chamar atenção nos poucos momentos que está em cena, de modo que ficamos na dúvida de quem é mais chamativo na trama, se ele ou seu cachorro. Dos demais chega a ser interessante como aparecem e somem sem nem notarmos se foram bem em cena ou não, servindo apenas como mero apoio, tanto que nem dá para dizer que Michaël Dichter é protagonista com seu Louis, pois se falou muito, disse umas 10 frases, ou seja, caso um dia façam uma peça da trama, podem economizar apenas com os três protagonistas e o cachorro, que irá funcionar e ficar bem bacana.

Sobre o conteúdo visual, a trama funciona de forma bem contextual que poderia se passar em qualquer lugar, pois não condiciona a vida usual francesa, somente trabalha a facilidade de um aborto em remédios e cita a possibilidade de algo mais forçado na Espanha, mas nada que pudesse acontecer em qualquer outro lugar, trabalharam bem cenograficamente a bagunça de quarto da protagonista para mostrar seu lado desleixado, colocaram contrapontos interessantes no estilo de trabalho da protagonista com seu marido estudante medroso do mundo afora, trabalhou com elementos do paternalismo mais fechado de famílias tradicionais e brincou bastante com símbolos sexuais em alguns momentos, o que poderia até chegar a ser mais forçado caso quisessem, mas que apenas foi realçado de modo bem leve e gostoso de ver. A fotografia trabalhou com um colorido bem aberto para deixar o longa leve e divertido, mas também não chega a ousar em nada.

Enfim, é um filme despretensioso, leve e muito gostoso de acompanhar, que inicialmente até achamos que a proposta não irá nos agradar, mas que acaba tendo uma levada simples e inteligente de humor, que acabamos saindo com muita felicidade da sessão. Ou seja, para quem gosta de comédias bem levinhas, esse com certeza é uma ótima indicação dentro do Festival Varilux que estará acontecendo nas próximas semanas, do dia 08/06 a 21/06 em 55 cidades do país, portanto fica a dica. Deixo meu agradecimento aqui para a Aliança Francesa de Ribeirão Preto pelo convite para a abertura, e nos trombaremos muito nos próximos dias, afinal verei os demais 17 filmes, então abraços e até breve com muitos textos.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...