Na Vertical (Rester Vertical) (Staying Vertical)

6/09/2017 10:14:00 PM |

Manter-se de pé, não desistir, não demonstrar medo, e assim nada lhe fará mal. Essa é a única mensagem subjetiva que um filme cheio de simbolismos e ideologias chamado "Na Vertical" consegue demonstrar em sua última fala, pois só quem estiver bem disposto a conferir cenas de sexo explícito, planos abertos de planícies, conversas sem sentido e interpretações dúbias conseguirá refletir a mensagem deixada pelo longa, pois do restante acaba sendo mais um afronte do diretor que em seu filme anterior só quis causar, mas agora além disso, também consegue transmitir mensagens secundárias e com isso, embora a trama seja cansativa, e até um pouco chata de acompanhar, conseguimos subverter a ideia passada, mas nada que valha a pena passar os 98 minutos acompanhando até o final, sendo que com 30 minutos a menos talvez a ideia fosse a mesma e o longa quem sabe agradaria mais.

O longa nos mostra que Leo está à procura de um lobo. Durante uma caminhada no sul da França conhece Marie, uma pastora de espírito livre e dinâmico. Nove meses depois, nasce o filho dos dois. Sofrendo de depressão pós-parto e sem fé em Leo, que vai e vem sem aviso, Marie os abandona. Leo encontra-se sozinho, com um bebê para cuidar. Através de uma série de encontros inesperados e incomuns, o filme apresenta várias camadas subjetivas que nos apresentam a natureza, o sexo, o onírico, a velhice, a morte, a complexidade da vida. Leo vai fazer o que for preciso para se manter de pé.

Se o filme anterior do diretor e roteirista Alain Guiraudie, "Um Estranho No Lago", julguei altamente sexista e quase sem sentido ficar mostrando as cenas explícitas, aqui o uso é menos ainda necessário, pois o filme funcionaria tranquilamente sem o apelo sexual, apenas mostrando toda a situação da frase escrita em determinado momento do longa "Ici le loup tue" (aqui o lobo mata) e toda a demonstração do protagonista em ser parte de uma alcateia a qual não está inserido e nem sabe se conseguirá conviver com isso, mas tenta de inúmeras formas, ludibriando pessoas, fazendo sexo por fazer, cuidando de um filho teoricamente seu (no melhor estilo do conto de Roma), entre outras simbologias, mas tudo poderia funcionar de modo subjetivo que agradaria e ainda funcionaria de forma até melhor do que o explícito em si, porém esse não é o estilo do diretor, e sendo assim a trama mais causa do que chama atenção, não conseguindo agradar como deveria, e sendo muito pelo contrário, pois na sala a única expressão do público era de choque ou pessoas falando o tradicional: "que bosta", o que não remete a ideia do longa, mas que de maneira bem difusa acaba não sendo preciso como poderia.

Quanto das atuações, podemos dizer que Damien Bonnard até foi bem expressivo com seu Leo, tanto que conseguiu uma indicação ao Cesar 2017 como o ator mais promissor do ano, mas usou isso com muita duplicidade na interpretação de seu texto, e por horas ficamos pensando será que o que está dizendo é uma verdade, é um sonho, ou o que ele está tentando demonstrar, mas ao final conseguimos ver que tudo o que fez está implícito no estilo do diretor, e sendo assim o resultado acaba mostrando que ele sim fez bem o que fez, mas volto a frisar, que não necessitaria de metade das cenas com os membros sexuais aparecendo. O velho Marcel interpretado por Christian Bouillete é bacana de ver pelo estilo que gosta de escutar, o melhor rock de Pink Floyd, além claro de suas expressões fortes e dinâmica ríspida bem eloquente, mas foi mal aproveitado ficando disposto apenas para suas cenas que sabíamos aonde chegaria, e que infelizmente não agradam visualmente. India Hair nos entregou uma Marie bem disposta a mostrar facetas expressivas de depressão pós-parto (aliás acho que nem em vídeos fortes do youtube vimos um bebê saindo de um parto normal tão impactante em plano totalmente enquadrado!!), mas faltou dinâmica para mostrar que era uma boa atriz, e apenas soou colocada para o sexo e parir, mais nada, faltando atitude. Basile Meilleurat entregou seu Yoan como um daqueles adolescentes que desejamos ficar o mais longe possível, sendo mais incômodo do que prestativo para as cenas, e com isso acaba não agradando em conceitos expressivos. Raphaël Thiéry fez um Jean-Louis totalmente fechado e estranho, que ficamos esperando algo forte e sabemos que irá fazer algo maluco a qualquer momento, e com isso, acabamos nem estranhando suas atitudes, mostrando que o ator estava pré-disposto a ser estranho também. Dos demais, apenas figuraram aparecendo em momentos mais bizarros possíveis, como uma médica que usa plantas como conectores, algo que ainda não imaginei o sentido, mas quem sabe pensando mais sobre o filme, algo que não desejo tão cedo.

No conceito visual, a trama escolheu locações interessantes e bem colocadas para representar todo os simbolismos que desejavam, e com isso tudo acaba ao mesmo tempo fluindo e servindo para pensar, desde as imensas pradarias, a ideia da troca de bebês por ovelhas, os lobos bonitos e em conjunto funcionando na mesma forma que os mendigos desesperados por algo que lhe sirva, a floresta que cura, e até mesmo as cenas de sexo acabam simbólicas funcionando como elementos cênicos, mas acaba soando algo mais feito para o próprio umbigo do diretor do que algo que as pessoas realmente vão querer ver para simbolizar algo em suas vidas, ou seja, a equipe de arte teve muito trabalho para conseguir chegar aonde o diretor desejava, mas fui forte e caprichou aonde deveria para acertar bem. A fotografia da trama trabalhou exageradamente com iluminações falsas, o que acaba cansando um pouco e não deixa os tons certos para que o filme se expresse sozinho, então poderiam ao menos ser mais subjetivos em cenas no escuro e no claro, trabalhando com cores mais fortes que não deprimissem tanto.

Enfim, um filme que dificilmente se pode recomendar, mas que quem for a fundo na ideia, parar para analisar cada momento, e pular as cenas de sexo desnecessárias, conseguirá refletir bem e chegar a boas conclusões interessantes, mas que friso, não é um filme para o público comum, e nem mesmo público acostumado com loucuras de festivais, ficando a cargo mais de análises de pesquisas e estudiosos de assuntos mais psicológicos. Portanto só vá conferir se você se enquadrar nesse estilo, senão a chance de odiar o que verá e sair reclamando é mais do que certa. Bem é isso pessoal, esse foi mais um longa exibido no Festival Varilux de Cinema Francês, que volto amanhã com mais textos dele, mas hoje vou para algo mais comercial agora, pois preciso tirar o choque de cenas grotescas do longa, então abraços e até breve.

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