A Promessa (The Promise)

5/16/2017 01:54:00 AM |

É bem interessante quando alguns diretores/roteiristas resolvem sair das tradicionais guerras que estamos acostumados (e até de saco cheio) de ver nas telonas dos cinemas, pois primeiramente conseguem criar novas ambientações, e claro, com isso acabamos conhecendo um pouco mais de História, mesmo que para que aconteça uma produção seja necessário criar algo bem romanceado no miolo e desenvolver o longa todo em cima disso, deixando a ambientação histórica como segundo plano. Ou seja, se você de cara viu o romance e acreditou que "A Promessa" não poderia lhe mostrar nada novo, reveja seus conceitos e subtraia essa ideia, pois o filme muito mais do que um triângulo amoroso (até que razoável!), consegue se desenvolver bem para mostrar que os turcos mesmo não assumindo até hoje o genocídio histórico dos armênios, certamente foram bem responsáveis por tudo o que aconteceu lá, e que a guerra pode estar acontecendo no seu quintal, se nenhum jornalista sobreviver, ninguém ficará sabendo. Portanto é um filme bem feito, que possui inúmeros defeitos, mas que mais do que tentar apontar o dedo para onde erraram, devemos aprender e desenvolver com o erro acontecido, e sendo assim o resultado do filme acaba incrível, agradando na medida certa.

O longa nos situa em Constantinopla, no ano de 1915, aonde o armênio Michael, brilhante estudante de medicina, conhece o famoso repórter fotográfico estadunidense Chris, e sua amante, a armênia Ana. Enquanto o jornalista empenha-se em registrar os caóticos acontecimentos políticos que vão determinando o fim do Império Otomano, Michael e Ana envolvem-se em uma paixão avassaladora que, ao mesmo tempo, os leva a unir forças para proteger a sua população do grande massacre prestes a acontecer.

O diretor e roteirista Terry George é conhecido por trabalhar sempre bem com filmes históricos e conflitivos, e sempre se espera muito de algo que venha dele, mas aqui coincidentemente foi feito quase tudo em segredo para que não houvesse problemas com alguns países, e ao surgir do nada o filme acabou até pegando muita gente de surpresa. Não digo que isso é algo ruim, pois já falei algumas vezes que altas expectativas acabam frustrando muito o resultado final, mas certamente se fosse mais desenvolvido o roteiro por outras mãos, se tivessem trabalhado um pouco mais o conceito histórico e tudo mais, o longa não necessitaria focar tanto no triângulo amoroso, e sim focar mais no drama histórico que o genocídio acabou sendo. Claro que isso mudaria bem o estilo da trama, e não teríamos um filme tão artístico, mas sim um épico denso e duro, o que talvez agradaria um determinado grupo e desagradaria muito quem anda adorando o resultado final que tivemos aqui, mas certamente é algo para se pensar, e quem sabe, algum outro diretor resolver trabalhar mais nessa época da História que quase não é retratada nos cinemas (ao menos diante desse problema). Portanto, o filme em si é bem feito, o diretor soube trabalhar os dois vértices, mas que certamente poderia ter optado por um ou outro para que não ficasse tudo tão singelo, mesmo que a direção de arte e o conteúdo completo seja agradabilíssimo, pois aí sim o resultado seria destruidor e incrível, mas volto a frisar que vale muito a pena conferir, afinal o trabalho foi diluído, mas ainda assim amarga pelo contexto mostrado.

Dentro das atuações, inicialmente precisamos pontuar o problema gigante que já citamos outras vezes, e precisam parar com isso, pois é um filme que acontece na Turquia/Armênia, e mesmo tendo um americano no meio do caminho, certamente naquela época o inglês não era uma língua tão forte, e assim sendo, poderiam ter economizado o excesso de todos falam inglês fluentemente com gírias e trejeitos da melhor qualidade, mas é a vida do cinema, então vamos reclamar sempre disso, e esperar que coloquem mais filmes falados nos devidos idiomas locais. Também podemos falar sem dúvida alguma que a cada novo filme que Oscar Isaac faz, ele consegue se superar em trejeitos, e que dificilmente ele escapará de ter seu nome citado para grandiosas produções, pois aqui seu Michael começa bem simples, depois consegue demonstrar expressões tão duras e vividas que certamente demonstraram o longo período sofrido nas montanhas, e que ao ter suas cenas de dor e sofrimento tão impactantes, acaba fluindo para além do esperado, ou seja, perfeito e na medida certa sem precisar exagerar. Christian Bale até tenta trabalhar uma expressão mais velha para seu Chris, mas faltou um pouco mais de colocação do personagem na trama, de modo que o vemos apenas forte nas cenas de sua prisão, e na sempre boa tentativa de retratar tudo o que está acontecendo, mas dentro da pontualidade romance, sua ponta do triângulo falhou muito, e mesmo que mostre uma conectividade forte somente através de olhares, ainda assim ficou falso demais. Charlotte Le Bon é uma atriz singela que não faz questão de se destacar, e assim sendo sua Ana é bem pontuada, agradável nas cenas com todos os personagens, desde as crianças, passando pelos momentos de luta, com seu namorado e com o amante tudo na mesma toada, o que é algo positivo, pois mostra que a atriz não mede forças com ninguém, mas também acaba falhando em poder chamar a responsabilidade cênica para si nas cenas que necessitavam disso, ou seja, faltou um pouco a mais. Dos demais, a maioria passa despercebida dentro dos trejeitos expressivos, e poucos conseguem aparecer um pouco mais, mas é claro que temos de falar mais do contexto bem colocado do personagem de Marwan Kenzari com seu Emre, pois o ator em si nem fez tanto para ser lembrado, mas suas colocações foram tão bem usadas que vale destacar ele.

Quanto do conceito cênico, podemos dizer que a equipe de arte caprichou e muito para que a ambientação ficasse no melhor nível, e se pontuarmos ainda que trabalharam quase que as escondidas, sem dúvida alguma o resultado se torna melhor ainda. Foram singelos nas construções armênias com casebres simples, mas bem alocados, mostrando que a região possuía pessoas de dinheiro, mas que acabaram sendo destituídos de suas posses, mostraram bem os ricos de Constantinopla que viviam bem com seu racismo (o que se mantém até hoje no mundo inteiro), mas que trabalhavam para ser abastados, e claro que isso foi trabalhado bem com elementos cênicos bem colocados, figurinos bem escolhidos, e claro que com o andamento da trama tudo é mudado de acordo com os acontecimentos. A fotografia ficou árida demais, mesmo nas cenas fora do deserto/montanhas, trabalhando demais o marrom para dar um tom épico, mas não necessário, portanto não podemos dizer que é um erro assumido, mas que poderiam ter amenizado para que o filme ficasse mais fluído.

Enfim, é um filme muito bem feito, que agrada de modo geral, mas que poderia ser imensamente melhor se tivessem atentado aos pequenos detalhes que falei no texto inteiro. Portanto, veja o filme com ambos os olhos para agradar da forma que desejar, pois quem quiser ver romance, temos um romance atrapalhado por uma guerra, e quem desejar ver História/Guerra, verá um bom filme disso, mas com um romance atrapalhando um pouco o andamento histórico das coisas, ou seja, vai agradar e ter reclamações de ambos os lados, sendo um filme para todos assistirem. Fica assim minha recomendação, pois mesmo com esse grande defeito, é um algo que vale muito a conferida. E esse Coelho que vos digita encerra aqui essa semana cinematográfica, voltando na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.

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