Travessia

3/24/2017 12:51:00 AM |

Cinema artístico já é algo complexo de se assistir, e no Brasil ainda alguns diretores procuram mostrar algo que só lendo o que falaram sobre seu filme é possível sair da sessão entendendo algo pelo menos, pois é tudo sempre abstrato demais, transmissão de sentimentos e alegorias que fluem bem, mas que jogadas de modo novelesco e apenas criando situações acabam rodando em círculos imaginários e não chegando a lugar algum, ou seja, acaba sendo chato para o público geral, e mais chato ainda quando o diretor fecha seu longa sem deixar sua opinião real. Portanto, usando dessa abertura posso dizer logo de cara que "Travessia" é daqueles filmes que não valem nem passar perto, e que quem for sairá da sessão rindo, pois é tão absurdo toda a situação, que acredito que nem quem tenha vivido todos os "traumas" mostrados no longa irá conseguir se conectar, ou seja, fraco demais para perder 90 minutos numa sala de cinema.

A sinopse nos situa em Salvador, Brasil, e conta que Roberto acabou de perder a esposa e está solitário e infeliz. Além disso, o relacionamento com seu único filho, Júlio, vai de mal a pior. Um dia, após se embebedar e fracassar ao tentar contratar uma prostituta, ele acaba atropelando um garoto. Desesperado, ele coloca o menino no carro e o leva ao hospital mais próximo. Apesar do socorro imediato, Roberto precisa prestar esclarecimentos na polícia e corre o risco de ser preso. Paralelamente, Júlio está apaixonado por uma moça ingênua e a sustenta através do tráfico de drogas em festas badaladas que ocorrem na cidade.

Se você leu a sinopse que coloquei acima, você já viu o filme inteiro, pois não acontece nada além do que está escrito aí, e esse é apenas um dos problemas do longa: ser singelo demais, e não fazer nada que possa instigar o espectador, que crie vertentes para se refletir, mas sim cenas e situações evasivas que apenas fluem dentro de algo quase novelesco, pelos vários vértices de cada personagem, e que vão rolando até o final com cenas variadas com pouca fluidez. O primeiro longa do diretor João Gabriel até funciona visualmente e traz boas situações dentro do contexto que diz querer mostrar: o fluxo do trânsito, da vida, etc, ou a travessia das pessoas por esses ambientes como o próprio nome do longa diz, mas nada que trabalhe algo maior que até talvez esteja dentro da ideia do roteiro, ou seja, ele faz a montagem completa de muitas cenas, mas que não chegam a lugar algum dentro da proposta do longa.

Dentro das atuações, podemos dizer que Chico Diaz traz toda a sua desenvoltura para que o seu Roberto ficasse impactante e bem reflexivo pelos seus atos, e com isso até chama a atenção em tudo o que está fazendo, mas não chega a chamar tanta atenção pelo fraco roteiro, além de que o longa é ambientado na Bahia, e sequer esforçou qualquer sotaque para agradar. Falando em sotaque, Caio Castro mostrou que trabalhou muito bem com a fonoaudióloga, e com bons trejeitos acaba agradando bem com seu Julio, mas como disse, faltou desenvolvimento da situação toda para contextualizar mais, então ele faz suas cenas soltas de forma interessante, chama a responsabilidade, mas apenas faz sem poder chamar a dinâmica em si e convergir para um filme mesmo. Camilla Camargo e Cyria Coentro até fizeram caras e bocas bem colocadas com sua Marina e Leila respectivamente, mas entraram na dinâmica aparentemente perdidas, apenas fazendo suas expressões, não tendo motivos para o que fazem, o que é bem errado e não diz nada. Se os protagonistas aparentavam perdidos, imagina o restante de enfeite, que apenas apareceram, disseram algumas palavras perdidas e sumiram em seguida, ou seja, meros enfeites cênicos.

No conceito visual, a trama mostra uma Salvador bem diferente do que costumam mostrar, e isso é muito bom, pois mostra algo mais real e menos carnavalesco, mas poderiam ter usado mais esse ar denso e tenso para que as situações acontecessem realmente, o que não ocorreu! Com boas locações em closes mais fechados, e trabalhando muito o visual dentro do carro, ou em cima da moto, o resultado acaba ficando fora do conteúdo cinematográfico, mostrando mais uma ideologia e menos material cênico realmente. A fotografia trabalhou sempre para criar tensão, ajudando a desenvolver os conflitos, mas nada que mostrasse um ponto mais forte como deveria.

Enfim, é um filme com mais erros do que acertos, e o que me deixa mais surpreso é ver a quantidade de prêmios que o longa ganhou, pois só quem for lendo realmente tudo o que desejavam passar conseguirá sentir um pouco mais do filme, senão a chance de acontecer como aconteceu com outros espectadores da sessão é sair rindo de ter visto algo mais absurdo do que coeso. Portanto só recomendo o filme caso não tenha mais nada para ver, e ainda assim com muitas ressalvas de reflexão, pois não tem como ver o filme sem pensar no contexto antes de assistir. Bem é isso pessoal, esse foi apenas a primeira estreia dessa semana, e volto amanhã com mais uma, então abraços e até breve.

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