Até O Último Homem (Hacksaw Ridge)

1/28/2017 03:05:00 AM |

Sempre me questiono em filmes de guerra, não o motivo que levam diretores, produtores e roteiristas a contar essas histórias reais, mas sim o motivo que levava (e ainda leva) milhares de homens a se alistar voluntariamente para matar e ser morto durante essas loucuras que os presidentes/comandantes dos países acabavam metendo seus países! Isso não vem ao caso na qualidade do filme, mas é algo que talvez um dia poderia alguém fazer um filme sobre isso que muito me atrairia para conseguir entender melhor a mente humana. Mas vamos falar do que merece ser falado, e temos muito o que falar sobre "Até O Último Homem", a começar pelas diversas pessoas que andam queimando o filme, falando diversos absurdos simplesmente por não gostar do diretor e já ir pronto pro ataque, pois o longa até possui alguns defeitos, foca muito no conceito da religião, e trabalha bastante com o ato de fé, mas muito mais do que uma pessoa muito religiosa que vai para a guerra sem encostar a mão em uma arma, a trama trabalha tão bem atuações, coloca um tema forte novamente em pauta, e principalmente, volta a mostrar que filmes de guerra são filmes fortes, que mostram muito sangue, corpos dilacerados, tiros e bombas para todo lado, e embora seja um lugar aonde o ódio domine, a trama tenta mostrar que sempre haverá alguém de bom coração que vai ajudar até mesmo quem está do outro lado tentando lhe matar. Ou seja, é daqueles dignos de arrepiar, sentir a sala tremer com tudo o que acontece em cena, e ainda vibrar com todos os salvamentos, e claro também ver os personagens principais reais bem velhinhos dando depoimentos no final.

A sinopse do filme nos conta que durante a Segunda Guerra Mundial, o médico do exército Desmond T. Doss se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, porém, durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva mais de 75 homens, sendo condecorado. O que faz de Doss o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso.

Muitos podem não gostar do que Mel Gibson fala fora de gravações, pelas suas atitudes e tudo mais, mas temos de convir que por já ter trabalhado em todo estilo de filme, ele tem um olhar incrível para dirigir atores, e principalmente sabe como moldar uma trama para que ela fique incrível de ser assistida. É fato que o longa pode chocar por algumas cenas fortes, mas a conjuntura completa da obra acaba tendo nuances tão emocionantes com o trabalho que acabou sendo desenvolvido, que ficamos abismados com cada cena, com cada ângulo escolhido, criando algo tão completo que sim, podemos classificar o longa como um dos melhores filmes de guerra já feitos (não estou falando em hipótese alguma que é o melhor, mas está lá no topo). Além disso, o diretor soube dar vivência para que cada ator entrasse bem no clima e desenvolvesse sua desenvoltura própria para que em cena não ficassem personagens artificiais, mas sim homens de guerra lutando pelo objetivo que deseja em sua mente, e no caso do protagonista, mesmo sendo um opositor de guerra (ou melhor um pacifista religioso), estava ali para salvar vidas, e fez isso muito bem. Ou seja, um trabalho de direção impecável que lhe garantiu a indicação para o Oscar de forma bem merecida, e que claro junto com ele levou também seu filme para a maior briga da noite. Outro grande fator merecido e que levou uma indicação ao Oscar também, ficou a cargo da edição da trama, pois o filme possui 139 minutos e em momento algum temos enrolação, e sem precisar ficar fazendo memórias, ou cenas repetidas, o filme se desenrola sem cansar e prende o espectador na poltrona do começo ao fim, ou seja, algo bem montado de um trabalho de 14 anos de pré-produção e 59 dias de filmagem.

Além de ter atuado muito bem no filme, um dos fatos que fez com que Andrew Garfield fosse indicado a diversos prêmios está na personalidade que deu para seu Desmond, pois ao vermos no final trejeitos do senhorzinho de quase 90 anos conseguimos imaginar como seria seus movimentos quando jovem, e Andrew fez isso com uma perfeição única, trabalhando olhares, sorrisos e com uma determinação cênica tão bem colocada que acabamos nos conectando de uma forma incrível tanto com o personagem, quanto com o ator, e se o criticamos tanto por outros filmes que aparentou não ter expressão, aqui mostrou que estávamos bem errados, e que veremos muito ele brilhar ainda, pois com a feição jovial que tem, ainda vai fazer muitos papeis antes de começar a entrar pro time dos mais velhos. Hugo Weaving mostrou bem como ficam os sobreviventes de guerra, que tanto vemos em diversos filmes, e de uma maneira bem dura e crua, acabou desenvolvendo um Tom Doss bem colocado na trama, que acabou sendo até mais usado do que imaginaria na história, e claro que o ator foi bem em tudo o que fez em cena. Vince Vaughn costuma fazer muito mais comédias do que dramas, e por um motivo óbvio: sua feição caricata, mas aqui soube adotar um ar bem mais sério como Sargento Howell, ou Sarge apenas como ouvimos mais no filme, e conseguiu criar um bom clima em torno do personagem, agradando muito no resultado final. O mesmo podemos dizer de Sam Worthington com seu Capitão Glover, que com cenas bem determinantes, e uma postura clássica que vemos em muitos filmes de guerra acabou fluindo bem e chamando a responsabilidade quando precisou chamar. Teresa Palmer é daquelas atrizes que topam todo tipo de projeto, e como é uma bela moça, acaba sempre bem encaixada nos papeis que lhe dão, claro que ainda está bem longe de chamar atenção pela interpretação que dá à suas personagens, mas aqui sua Dorothy ao menos teve um carisma interessante de ver, que certamente criaria uma paixão instantânea como mostrada no filme. Dos demais atores, temos de ser sinceros e dizer que a maioria caiu muito bem nos papeis e demonstrou muita atitude em cena, claro que boa parte das grandiosas cenas de ação foram feitas por dublês, já que temos muita gente voando, pulando e tudo mais que atores comuns não fazem, mas temos de dar destaque para dois atores que agradaram também pela personalidade interessante dos papeis, que foram Luke Pegler com seu desinibido Hollywood e o nervosinho Luke Bracey com seu Smitty, e claro que temos de pontuar, mesmo que de relance a estreia de Milo Gibson (filho de Mel) nas telonas como Lucky Ford.

Agora sem dúvida alguma faltou uma indicação para o filme, o de design de produção, pois é um filme aonde a equipe de arte trabalhou tão bem junto com a equipe de maquiagem e efeitos especiais, que chega a ser nojento as cenas com pedaços humanos espalhados e voando pela tela afora, ratos andando entre corpos, muitas explosões, tiros e armas cênicas soltando cartuchos e mais cartuchos de munição, personagens com figurinos bem trabalhados, e claro uma locação na Austrália muito bem montada para parecer a colina de guerra aonde tudo acontece, ou seja, algo tão incrível de ver que merecia ser aplaudida pelo belíssimo trabalho feito. A fotografia trabalhou bem com os tons vermelhos, marrons e cinzas, criando boas perspectivas com muita fumaça e claro tiros, mas poderiam ter trabalhado melhor no desenvolvimento dramático de algumas cenas, pois se faltou algo no filme para ficar perfeito foi esse tom melancólico que a guerra traz, e esse ar que ficou falho se deve ao uso de muitas cenas chapadas por parte do diretor de fotografia sem muita ambição cênica.

Enfim, um filme incrível, que beirou muito a perfeição e que vale ser conferido na sala que tiver melhor capacidade sonora, pois as outras duas indicações do filme no Oscar são mixagem e edição de som, e que realmente está incrível, deixando o público quase surdo nas cenas iniciais da guerra com o tanto de explosões para todo lado. Como pontuei, temos alguns defeitos que acabaram não deixando o longa perfeito, mas volto a frisar que certamente é um dos melhores longas de guerra já feito, e que só por isso já vale assistir, mas a emoção que é passada é tão grande em algumas cenas, que muitos vão se apaixonar pelo longa mesmo a guerra sendo algo sem muito cabimento. Também teremos os que vão odiar o longa, mas principalmente por serem anti-Mel Gibson, e isso é algo que o pessoal precisa parar de fazer, pois temos de analisar o filme e a direção do cara, e não seu caráter e palavreado que sai falando por aí, senão não veríamos muitos filmes de diversos diretores. Bem é isso pessoal, recomendo demais a trama para todos, e fico por aqui agora, pois nesse final de semana irei conferir muitas outras estreias, então abraços e até breve.

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