O Vendedor de Sonhos

11/29/2016 02:31:00 AM |

Cada dia mais tenho esperanças de que o cinema nacional vai me deixar orgulhoso, e a prova disso é a quantidade de boas produções que tivemos em 2016! Confesso que não conhecia a história do livro, que não vi o trailer antes de ir para a sessão e menos ainda li a sinopse do que se tratava a história, apenas recebi o convite para a exibição especial de pré-estreia de "O Vendedor de Sonhos" e a surpresa que tive além de um maravilhoso filme, foi ver uma bela história sendo contada na telona, com uma produção digna de grandes filmes, uma direção perfeita que foge de qualquer estereótipo do nosso cinema (de transformar tudo em formato de novela ou série para ser exibida como especial em alguns meses depois), e principalmente transmitir uma ótima mensagem para todos, que com certeza já estava impregnada na obra do escritor Augusto Cury, no qual o longa foi adaptado. Ou seja, um filme que antes mesmo de falar qualquer coisa já deixo a recomendação para todos, pois não diria como a equipe do filme acabou falando na coletiva de imprensa, que estamos criando um novo gênero dentro do cinema nacional, mas sim que estamos entrando realmente dentro da qualidade de um bom drama, que há muito tempo nosso cinema nacional estava devendo.

O longa nos mostra que Júlio César, um psicólogo decepcionado com a vida em geral, tenta o suicídio, mas é impedido de cometer o ato final por intermédio de um mendigo, o "Mestre". Uma amizade peculiar surge entre os dois e, logo, a dupla passa a tentar salvar pessoas ao apresentar um novo caminho para se viver.

Outro fato bem interessante sobre a produção, é que diferente do que costuma acontecer com algumas adaptações literárias, não sentimos o filme como um livro folheado, com desenvolvimento linear e quebras pontuais, mas sim um trabalho mais completo para que o tema que se desenvolva sozinho, ou seja, o roteirista L.G. Bayão conseguiu fazer a transmissão da palavra que tanto o escritor Augusto Cury preza, num formato bem consciente e com boas nuances. Como bem sabemos a obra literária é grandiosa e possui mais do que um livro, e claro que muitos irão desejar todos os livros adaptados em diversos formatos, porém aqui a ideia presente neles é retirada dentro da essência completa e desenvolvida num único filme, ou seja, até pode ser que façam mais continuações em outros meios, porém aqui o resultado em suma já foi bem concebido para agradar dentro de um conteúdo macro por parte do roteirista. Também fui informado por uma amiga que nos livros possuem diversas outras histórias, com outros personagens, e aqui ao trabalhar bem apenas com um elemento, o diretor Jayme Monjardim pode criar uma perspectiva sólida e desenvolver bem a estrutura de um filme, pois muitos outros acabariam criando diversas subtramas, colocando muitas vertentes, e o resultado já conhecemos bem, pois viraria uma grande novela, e não teria o mesmo impacto que aqui tivemos. Ou seja, somos surpreendidos com a direção impecável do começo ao fim, que principalmente quem não tiver lido o livro conseguirá captar toda a essência e até se chocar com o motivo que levou o protagonista à chegar no ponto que nos é mostrado. Com o resultado da boa estruturação do roteiro, e a escolha eficaz de uma direção direta ao ponto, o grande feitio caiu por base com as boas interpretações do elenco, que sem muitas firulas expressivas conseguiram ser singelos e objetivos para causar emoção e carisma durante todo o filme.

Já que comecei a falar dos atores, é fato dizer que Dan Stulbach voltou a boa forma interpretativa que tanto gostávamos de ver, após um período digamos estranho na bancada de um programa de TV, e com um semblante mais fechado e introvertido, ele conseguiu criar boas cenas para seu Júlio César, sem que passasse por cima do outro protagonista e nem ficasse em segundo plano também, e a cada nova lição aprendida, tanto o personagem quanto o ator acabam criando mais intimidade para com o público, o que faz querermos ver mais de sua história. Agora sem dúvida alguma o grande nome do longa ficou a cargo dos olhares precisos do uruguaio César Troncoso, que captou magistralmente a forma viva do Mestre e ao desenvolver o personagem foi sublime com uma expressividade única e que a cada desenvolvimento tanto de seu Mestre quanto do executivo que nos é mostrada também a história, ou seja, "dois" personagens para o mesmo ator, que ao desenvolver a essência contida nos ensinamentos conseguiu mostrar muito mais do que um simples ator conseguiria mostrar. Dos demais atores, o desenvolvimento nem é tão simbólico como poderia acontecer, mas é fato que Thiago Mendonça deu uma ótima personalidade para seu Boquinha de Mel e agradou como o ponto cômico da trama, e Leonardo Medeiros conseguiu fazer um Roger bem próximo de um vilão ou antagonista com a força certa para remeter à diversas pessoas obstáculos que temos em nossa vida normal.

Rodado praticamente inteiro em São Paulo, o trabalho do produtor LG Tubaldini Jr. junto da equipe de arte foi escolher muito bem as diversas locações por onde os personagens passariam, sem precisar incorporar detalhes de determinado local, e ainda assim junto com uma fotografia impecável fazer dos diversos tons de cada momento um visual mais incrível que o outro, seja nos trabalhos vertiginosos em cima do prédio, ou até mesmo na simplicidade artística bem colocada na favela embaixo da ponte, ou até mesmo nas luzes ofuscantes da apresentação na TV, ou seja, com pequenos detalhes, mas muito bem incorporados na trama, volto a frisar a palavra essência foi colocada à prova e muito bem usada para representar cada momento do longa.

Enfim, um filme belíssimo, que até possui defeitos, o principal na falta de um desenvolvimento maior da relação familiar de Júlio César que acabou meio que cortada até do filme, ou não tão bem mostrada para que incorporássemos melhor seus problemas e claro o grande motivo de querer se matar, mas tirando esse detalhe o filme é tão gostoso de assistir, que nem parece ter quase duas horas, e fluindo bem dentro de uma perspectiva doce, ele acaba emocionando, inserindo uma vírgula bem colocada em nossa vida, e comovendo bastante para ser indicado para todo tipo de pessoa, desde a simples dona de casa até um grande líder de empresas, que com toda certeza irão tirar lições de cada momento do filme. Portanto, a partir do dia 8 de dezembro o longa estreia em rede nacional, e com toda certeza recomendo que você vá assistir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas como de praxe, volto em breve com mais textos das estreias do cinema, então abraços e até logo mais.

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Loucas de Alegria (La Pazza Gioia)

11/28/2016 01:09:00 AM |

A escola de cinema italiano é daquelas que o diretor sempre fica na dúvida se vai fazer uma comédia dramática ou um drama cômico, e nessa dúvida ele acaba levando o público para um estilo de diversão diferenciado que geralmente gostamos do que vemos na telona, mas saímos exaustos com a quantidade de enrolação que fazem para atravessar apenas uma rua (não que isso ocorra nesse filme, mas geralmente para atravessar o ator pensa cinco vezes volta para três bares e conversa com dez pessoas antes de realmente desistir de atravessar), ou seja, não digo que "Loucas de Alegria" seja um filme ruim, nem tão pouco algo sensacional de assistir, mas consegue trabalhar bem a dinâmica de amizade mais maluca que alguém poderia imaginar.

O longa nos mostra que Beatrice é uma mulher rica e extravagante, que dá ordens a todos ao redor e não para de falar em momento algum. Donatella é tímida e misteriosa, evitando o contato das outras pessoas. Elas possuem personalidades completamente distintas, mas têm uma coisa em comum: as duas estão internadas em um hospital psiquiátrico. Aos poucos, tornam-se grandes amigas e decidem fugir da instituição para resolver uma questão do passado de Donatella.

É interessante ver que ao chegarmos no fim do longa, conseguimos observar que não só a história é completamente maluca, como as atrizes chegaram ao limite da loucura junto com o diretor, pois o resultado acaba brincando com o público, mostra bem a vontade de ambas protagonistas retomar o seu real mundo nem que seja por alguns minutos, e com isso o filme flui bem, só é uma pena a falta de ritmo na trama para que o filme fosse mais fluído e não cansasse tanto, pois o resultado é bacana, mas acaba parecendo que passamos no mínimo umas três horas dentro da sala do cinema, sendo que o longa não tem nem duas.

No conceito interpretativo, temos de ser honestos e dizer que Valeria Bruni Tedeschi deu um show com sua Beatrice, claro que de forma meio caricata ela consegue nos prender pelo estilo arrogante e cheio de classe que tanto sabemos que mulheres ricas costumam fazer, e segurando bem o estilo do começo ao fim (dando apenas uma desabada emocional na cena necessária) ela conseguiu dominar o filme e por bem pouco não ficamos olhando para os demais personagens com tudo o que ela faz em cena. Por um outro lado, Micaela Ramazzotti fez de sua Donatella uma pessoa delicada, com muitos problemas (que só vamos sabendo aos poucos) e que acabamos conectados com sua tentativa de alcançar os seus dois sonhos, mas sua loucura é mais intrusiva e destrutiva, de tal maneira que o humor flui para baixo, e com isso cada momento seu leva mais tempo para atingir o público, porém a atriz fez isso tão bem que acabamos indo junto com seu ar até o fim, e até emocionando no melhor momento do longa. Agora estou pensando se dou destaque para mais alguém, pois quase esquecemos que existem outros personagens na trama, pois somente as duas atrizes dominaram tudo de forma tão bem feita que o longa fluiria facilmente sem aparecer mais ninguém (por exemplo numa peça de teatro com três a quatro cenários espalhados, e apenas as duas atrizes), portanto é melhor nem citar mais ninguém.

A equipe artística escolheu locações de cair o queixo, a começar pela vila psiquiátrica aonde diversos malucos estão trabalhando e vivendo muito bem em meio à natureza, mas como todo hospital, ao ir para os quartos as acomodações e o estilo de tratamento deixa a desejar, e isso já foi muito bem mostrado no longa, passando para uma cidadela bem montada e cheia de possibilidades para as protagonistas doidas, indo até a maravilhosa mansão do ex-marido e advogado da protagonista, com todo um charme característico, passa por um manicômio judicial mais intenso, e encaixa numa propriedade cinematográfica com filmagens acontecendo inclusive, para finalizar a praia com todo o charme da orla e claro explicando o começo conturbado da outra protagonista. Ou seja, a equipe se preocupou mais com lugares do que realmente em montar um cenário próprio e esse acerto fez com que o filme fosse quase um road-movie, que montado de forma diferente até iria agradar bem mais. A fotografia italiana, assim como ocorre na dúvida entre drama ou comédia, ficamos com tons variando nos dois gêneros, e isso não é ruim, pois dá boas nuances, mas o foco em um estilo só seria bem mais interessante de ver.

Enfim, é um filme maluco, dramático e divertido, que poderia ser visto e produzido de diversas maneiras, mas que nesse formato acabou deixando muitas situações abertas que se encaixariam melhor num molde mais apropriado. Portanto, é um filme com um estilo próprio que muitos vão amar, e muitos vão odiar, principalmente pela forma lenta que tudo ocorre, e que acaba cansando um pouco, mas no geral é algo bem divertido de assistir, e com esses leves desvios, até recomendo ele. Bem fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até mais galera.

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O Quarto dos Esquecidos (The Disappointments Room)

11/27/2016 02:35:00 AM |

Sabe aqueles filmes que ficam o limite do aceitável para não ficar ruim, mas que se fosse melhorado em pequenas pontas seria um filme para ficar na história do gênero? Com toda certeza "O Quarto dos Esquecidos" se enquadra perfeitamente como um bom exemplo desse grupo de filmes, pois se analisarmos a fundo o horror de uma mãe que perdeu o filho pequeno, e para se curar do trauma acaba descobrindo outras histórias parecidas, o lado psicológico pode até aflorar e desenvolver diversas possibilidades com as ideias de doenças possíveis de se enquadrar na mente de uma pessoa assim, porém o filme desejou ficar preso somente em sustos (ruins) e não deixou que aflorasse o teor psíquico que a trama poderia alcançar, e nessa fuga de estilo, acabou deixando tantas pontas soltas quanto clichês inimagináveis espalhados a cada virada de câmera do longa. Ou seja, um filme razoável que até poderia empolgar, mas que assim como quase ocorreu com minha sessão hoje, o filme muito em breve será como seu nome, esquecido.

O longa nos mostra que Dana e David formam um casal marcado por um trauma recente. Eles decidem sair da cidade grande e mudar-se para uma área rural junto do filho Lucas. Dana pretende usar seus conhecimentos como arquiteta para reformar a nova casa e superar as dores passadas, até que ela percebe a existência de um quarto escondido, que não constava na planta. Perguntando para moradores locais, descobre que muitas casas da região tinham um cômodo destinado a ocultar segredos de família.

Chega a ser divertido a oscilação de temas que o diretor D.J. Caruso trabalha, pois faz um longa de ação, depois pula para um drama, daí vai para uma ficção científica, e agora até tentar as vezes no terror anda atirando. Não digo que isso seja ruim, mas acaba soando estranho e até difícil de ver o acerto acontecer, tanto que os erros mais pertinentes da trama soaram pelo estilo clássico de não inovar em nada e abusar de cenas clichês, filmadas prontamente para dar sustos, ou seja, o diretor pegou um roteiro básico de Wentworth Miller, deu uma ajustada para filmar e fez o básico na tela também, pois as cenas até soam de certa forma tensas pela tentativa de um espírito ficar preso em uma casa, mas a ideia é muito frouxa para ser crível e interessante de assistir. Ou seja, um filme cru perto da possibilidade aonde a ideia original poderia atingir.

Acostumei tanto a ver Kate Beckinsale como vampira (aliás semana que vem ela volta a seu papel mais icônico), que vê-la de forma comum, claro que mentalmente perturbada com sua Dana é algo meio incomum de assimilar, mas a atriz sabe criar trejeitos, segurar a dramaticidade da personagem e até mesmo parecer aflita com a ideia completa, mas faltou incorporar mais momentos iguais teve dentro do quarto na sua primeira entrada e juntar com o momento da mesa com os amigos nas demais cenas, pois aí sim ela teria dado um show de interpretação. Mel Raido entregou um David mais fraco que já vi na vida, pois um pai de família que apenas brinca com os filhos sem trabalhar chega até ser chocante para a mulher do mercadinho e também mostra um certo teor de tentativa de mostrar algo diferente do usual, mas ele é tão enfeite de cena no filme inteiro que por bem pouco não esquecemos dele. O jovem Duncan Joiner caiu bem na personalidade de Lucas, mas o garoto é tão mal aproveitado que chega a dar dó de suas cenas espalhadas. Ainda estou me perguntando o motivo das cenas de Lucas Till como Ben, pois aparece para ajudar na construção, faz alguns serviços e soa tão fraco que ficamos nos perguntando apenas se na cena que a protagonista some, se foi sair com ele, pois é a única explicação plausível para colocarem o ator no longa. Dos fantasmas, vale apenas pontuar realmente a interpretação séria de Gerald McRaney como Judge Blacker, pois seus semblantes foram bem interessantes, mas faltou um pouco mais de dinâmica para agradar nas suas cenas.

A ideia visual assim como o conteúdo é básica, pois arrumaram uma casa abandonada no meio do nada (ainda fico me perguntando que ser iria após um trauma morar mais isolado do mundo possível numa casa assim), cômodos de madeira rangente, espelhos, quadros estranhos, roupas de época e claro muitos objetos anormais espalhados por todo o lado, parecendo que a pessoa se mudou e continuou sem arrumar a casa. Ou seja, o trivial de um terror, porém o quartinho foi bem interessante de ver a concepção, que por mais simples que seja, funcionou bem para mostrar a situação sofrida das pessoas/crianças indesejadas numa época atrás, e isso sim foi feita uma pesquisa interessante, que mostrada através de documentos e livros, deu um certo charme para a trama. Embora seja clichê, achei falta de um tom mais escuro já que o filme se tratava de um terror, pois o longa foi trabalhado com bastante claridade, diversas cenas durante o dia e até trabalhando num tom bem tênue para acalmar os ânimos, e assim sendo, diria que o diretor de fotografia acabou se perdendo com o que desejava fazer, ou lhe passaram coordenadas bem erradas.

Enfim, um filme que não é ruim, mas está anos luz de ser bom, porém a ideia original é interessante, e como disse bem horrível de se pensar, portanto um diretor melhor, de terror realmente, teria feito esse filme algo para sair da sala arrepiado com o que seria mostrado. Portanto diria que não recomendo a trama, mas que certamente quem ver e analisar os pontos positivos irá dar a mesma nota que a minha. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até mais.

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A Chegada (Arrival)

11/26/2016 02:43:00 AM |

Assim como tenho certeza que verei pessoas dizendo se tratar do melhor filme do ano, também tenho total convicção de que meus amigos que trabalham nas portarias dos cinemas irão ver diversos clientes saindo da sessão de "A Chegada" falando que não entenderam nada e acharam o longa um lixo. Felizmente não irei para nenhuma das duas pontas, pois gostei bastante do que vi, mas achei um pouco alongado demais, e claro que assim como diversos outros filmes se rever o longa terei uma visão completamente diferente da trama sabendo o final, pois tudo é muito jogado na tela se pararmos para pensar e refletir um pouco mais sobre todas as ideias dúbias e desconexas que vamos reclamando o longa todo de serem cansativas e não dizerem nada, mas se analisarmos todo o longa a partir da frase que Amy Adams diz para Jeremy Renner praticamente na sua última cena (a qual não vou colocar aqui por ser o spoiler máximo do longa, mas que diz muito sobre nossa vida e sobre o longa inteiro), e juntarmos à isso a ideia completa da trama, o filme acaba sendo singelo e até bonito de se pensar, porém confesso que sem esses detalhes bem refletidos, o filme é tão cansativo que chega a ser difícil se conectar e envolver durante toda a projeção com o que nos está sendo mostrado. Portanto confira o filme, e tire suas conclusões, mas friso para aguentar até o final, e se for possível rever com a ideia completa, pois mesmo não indo fazer isso, em minha mente o longa se formou completamente diferente após saber do grande detalhe.

Naves alienígenas pousaram na Terra e estão incomunicáveis com os humanos. Quem pode ser capaz de fazer essa intermediação é uma linguista, que tenta descobrir se eles vieram em paz ou são ameaças aos humanos. Nessa comunicação, ela começa a ter flashbacks que servem para que descobrir o real motivo da vinda dos extraterrestres ao planeta.

Que o cinema de Denis Villeneuve não é dos mais simples de se entender de cara, isso não precisamos nem comentar, mas geralmente seus filmes possuem um ritmo mais ditado e trabalhado, o que acaba condicionando o espectador mais ávido a ir preparando o desenrolar em sua mente, e que acaba não cansando tanto como o que acabou fazendo aqui, pois o filme vai nos conduzindo de uma forma tão bagunçada, que até o excesso de flashbacks parece começar a incomodar, depois ficamos nervosos com o excesso de símbolos (que até metade do filme ninguém entende nada, e de repente a moça já sabe conversar fluentemente com os aliens em códigos), e por diversas vezes nos vemos irritadiços em nada ser desvendado a fundo (praticamente as vontades que temos são as mesmas dos militares, já querendo explodir tudo pelos ares e que voltem pra suas casas pegando fogo, aliens, quem mandou vir mexer com a gente). Porém quando o desfecho é mostrado (sim na cara dura, sem dó nem piedade, sem que você possa pensar nada diferente depois de refletir por quase duas horas) tudo muda, você mesmo que não se revolte e pague para ver a próxima sessão para confirmar suas conclusões, irá filosofar e compreender cada ato, cada flashback, cada ponto da história e irá falar: "nossa, que filme profundo!". E sendo assim, podemos dizer que tanto o diretor fez um acerto incrível, difícil de ser digerido, mas maravilhoso para se pensar, quanto o roteirista Eric Heisserer trabalhou com minúcias para adaptar o livro de Ted Chiang, que digo mais, foram extremamente felizes em mudar o nome do longa, pois se ficasse o mesmo do livro, metade do caminho já teria sido entregue.

Dentro das atuações, é fato que o longa necessitou demais dos protagonistas, pois os secundários acabam sendo meros enfeites cênicos que pouco ajudam no desenrolar da trama, e sendo assim, Amy Adams precisou mostrar em diversas cenas um ar mais sério e introspectivo para sua Louise e trabalhando bem os trejeitos da personagem juntamente com um intrigante modo de dicção acabamos vendo uma personalidade mais pontual e certeira dela, pois já fez grandes papeis, mas reparávamos mais na sua beleza do que no seu jeito de atuar, e aqui é exatamente o inverso. Brincadeiras a parte, alguém poderia dar um papel de destaque em algum filme para Jeremy Renner, pois o ator sempre fica dependente dos demais atores e acaba não deslanchando como deveria, de tal maneira que seu Ian faz boas piadinhas, tem boas ideias, mas é quase um suporte com maior peso para a protagonista, claro que vai tendo uma participação maior até o final, mas poderiam ter dado mais responsabilidade para seu papel com toda certeza, e acredito que o ator se sairia bem. Forest Whitaker é sempre incisivo nos papeis que lhe entregam, e é raro ver ele com um ar mais sereno em cena, o que aqui para seu Coronel Weber é algo mais impossível ainda de ver, porém o ator soube dosar as poucas mais boas cenas com os demais, trabalhando de forma clara e coerente com o estilo proposto. Tivemos 3 garotinhas interpretando Hannah no longa, e de certa forma, todas foram bem interessantes para a proposta, então temos de dar o devido destaque para todos os momentos de Abigail Priowski, Jadyn Malone e Juliet Scarlett Dan. Os demais atores acabam tendo menos cenas ainda para aparecerem e isso é algo ruim, pois quando precisam mostrar algum serviço, por exemplo Mark O'Brien como Capitão Marks ficamos nos perguntando de onde veio esse cidadão na trama, mas mesmo com poucas cenas, o trabalho de Tzi Ma como General Chang podemos dizer que foi perfeito pela cena completa do clímax.

Um fator bem interessante de pontuar é que mesmo o filme sendo uma ficção bem trabalhada, tirando as cenas da grande nave (que acredito que dificilmente tenham construído algo para ficar voando), o restante da trama foi bem trabalhado para não ser feito de forma computacional, com locações bem pontuais como a maravilhosa casa de vidro da protagonista, uma faculdade bem charmosa, um acampamento de exército cheio de aparatos interessantes como diversos objetos cênicos para cada cena ser bem representada, como computadores, áreas de descontaminação, diversos vestuários tecnológicos, e claro que até mesmo a sala de comunicação dos humanos com os heptapods foi incrivelmente pensada para ser simbólica e agradar bastante dentro do contexto completo. E até mesmo a forma que os alienígenas foram mostrados ficou interessante, pois não forçaram a barra com coisas esquisitas e que trabalharam muito bem com os códigos de escrita elaborado. A fotografia da trama foi bem pensada para termos diversas nuances, tais como o contraste preto/branco na sala de comunicação com os aliens, aonde o tom laranja forte das roupas tiveram um contraste bem impactante para a cena aonde a protagonista decide se despir, o grande campo verde aonde a nave se instalou, mostrando a ideologia deles para com o mundo terreno, e claro, os flashbacks quase todos num tom mais avermelhado que diferentemente do tradicional branco acabou tendo um significado bem coerente e mais completo.

Enfim, um filme muito bem feito que acabou saindo do nada, nos deixou no nada quase que toda a projeção e chegou num final conclusivo incrível e bem colocado. Portanto, recomendo a todos que vá conferir o longa, discuta comigo em off (para não colocarmos spoilers nem nos comentários) e reflitam bastante sobre a frase final, e claro sobre a mensagem que o longa deixa, pois esta com toda certeza foi a ideia do diretor. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos sobre os diversos longas que apareceram no interior, então abraços e até mais galera.

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Elis

11/25/2016 12:42:00 AM |

Se tem um gênero que fica interessante de qualquer forma no cinema é o tal do biográfico musical, pois funciona bem tanto para quem nunca soube da história do cantor, quanto para quem quer apenas curtir mais as músicas do astro de uma maneira diferenciada para lembrar da sua juventude ou algo que lhe remetem as canções. Digo isso principalmente aqui em "Elis", por não abusarem da nossa ideia colocando a atriz para cantar com o vozeirão que a cantora tinha, deixando apenas que dublasse nos momentos cantados e que interpretasse com a melhor entonação possível para que parecesse nas demais cenas, o que é um ponto muito positivo. E o filme ao trabalhar bem o período do despontamento da cantora até sua morte é bem interessante, e até bem feito, porém abusaram demais das épocas certinhas bem divididas até com leves fades de mudança (o que provavelmente vai facilitar os cortes quando o longa for exibido como série) e isso acaba incomodando um pouco, mas nada que chegue a ser inconveniente. Ou seja, vale bem pela boa incorporação que a atriz dá para a personagem, para ouvir boas músicas e para conhecer mais sobre a vida tumultuada que teve.

O longa nos mostra que cantora desde a infância, Elis Regina Carvalho Costa entra na vida adulta deixando o Rio Grande do Sul para espalhar seu talento pelo Brasil a partir do Rio de Janeiro. Em rápida ascensão, ela logo conquista uma legião de fãs, entre eles o famoso compositor e produtor Ronaldo Bôscoli, com quem acaba se casando. Estrela de TV, polêmica, intensa e briguenta, a "Pimentinha" não tarda a ser reconhecida como a maior voz do Brasil, em carreira marcada por altos e baixos.

Estreando na direção de longas, Hugo Prata que já dirigiu dois DVDs da filha de Elis, Maria Rita, soube trabalhar bem os momentos mais icônicos da vida da cantora, mostrando com dinâmica sua chegada ao Rio de Janeiro, suas brigas iniciais com o produtor Ronaldo Bôscoli, seus momentos na TV, a apresentação de grandes shows, alguns relacionamentos e claro também seus momentos de baixa como na ditadura tendo de cantar para os militares e sendo crucificada por outros artistas, seus momentos com bebidas e drogas e por aí vai, ou seja, um material bem pesquisado e que aprovado pelos filhos o resultado que o roteirista Nelson Motta entregou ficou fácil e interessante de ver, que com boa caracterização cênica souberam entregar um filme simples e bem feito. Como disse acima o maior defeito do longa foi o dele já ter sido feito pensado como série, pois é fácil notar as divisões na trama para mostrar as várias fases da cantora, e isso em filme seria bem diferente de acompanhar, mas não acredito como sendo um erro, pois o resultado funciona bem, e mostra que o diretor teve um carinho correto com a produção para que cada momento fosse encaixado corretamente, principalmente nas dublagens para que não soasse falso.

Nunca tinha colocado reparo em Andreia Horta, mas seu trabalho aqui como Elis foi tão bem trabalhado, cheio de trejeitos clássicos que vimos já em documentários e vídeos antigos da TV que por vários momentos sentimos a presença da cantora na tela, e sem forçar muito para dar vida à personagem, a atriz conseguiu ter diversos momentos envolventes e que fizeram (ao menos para mim) parecer alguém que merece muitos bons papeis na carreira, pois tem carisma e boa interpretação. Muitos vão falar das boas nuances de Gustavo Machado como Ronaldo Bôscoli, que até caiu bem dentro da personalidade malandra do produtor, outros vão comentar o jeito dócil e interessante que Caco Ciocler entregou para Cesar Camargo Mariano, que somente no final acabou exagerando nos trejeitos forçados de explosão, mas sem dúvida alguma temos de dar um parabéns monstruoso para a caracterização que fizeram com Lúcio Mauro Filho para que ele sendo um ótimo ator com uma interpretação incrível fizesse de seu Mièle algo que pensássemos numa possível reencarnação do produtor musical, e sem dúvida alguma o jovem ator mostrou uma personalidade tão boa que em um possível filme ou documentário sobre a vida dele certamente será convocado novamente. Vale também pontuar a boa caracterização e a ótima interpretação de Julio Andrade com seu Lennie Dale, que praticamente ensinou a cantora como ser mais expressiva, e o ator deu um show de trejeitos e movimentações,

Sobre o visual da trama é fato falarmos que escolheram muito bem as locações, primeiro para conseguir representar os velhos ambientes dos anos 60/70/80, e depois já que mostram programas de TV e shows que muitos viram, tiveram de ser críveis na exemplificação dos momentos para que nada saísse do detalhamento. Não sei se as casas que Elis morou realmente foram utilizadas para representar a produção, mas arrumaram bem a decoração para que o ambiente representasse bem as duas épocas de sua vida. Além da representação cênica, outro grande acerto da trama ficou a cargo do desenvolvimento artístico para caracterizar os personagens, pois todos atores ficaram muito parecidos com os personagens originais, e isso é algo bem legal de ver o trabalho de uma equipe brasileira encarregada disso. Outro grande ponto positivo ficou a cargo da equipe de fotografia, pois trabalharam muito com luzes em contraplanos para criar ambientes intimistas tanto nas cenas de diálogos, quanto nos shows, o que deu um visual incrível de observar.

Enfim, um filme que vale a pena ser visto, mas que infelizmente por contrato, é capaz de nem ficar muito tempo em cartaz já indo para a TV como minissérie, ou seja, quem quiser ver a forma original deve correr. Recomendo ele mais para conhecer a cantora do que como um grande filme do cinema nacional, pelos pequenos defeitos na formatação que poderia ser mais envolvente. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias, então abraços e até logo mais.

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Jack Reacher: Sem Retorno (Jack Reacher: Never Go Back)

11/24/2016 02:02:00 AM |

Filmes de ação policial geralmente possuem um molde bem definido que você acaba até se divertindo por saber exatamente em que ponto da trama irá acontecer cada coisa. Não digo que isso seja algo completamente ruim, mas como gostamos de um pouco mais de originalidade, pedimos ao menos que os diretores coloquem algum detalhe diferenciado em algum momento, ou que nos surpreenda em algo para podermos falar bem daquilo, ou até mesmo que não fique tanto em cima do muro com as situações, mas pedir tudo isso é quase um sonho, então "Jack Reacher - Sem Retorno" não só não mostra novidade alguma, como abusa de todos os trejeitos possíveis do gênero, e pra ajudar ainda fica bem morninho dentro da dinâmica toda que poderia alcançar. Não digo que é um filme que dê sono, muito menos que não seja bacana de assistir, afinal diria que é até um pouco melhor que o primeiro filme "O Último Tiro", mas ainda assim como falei ao fechar o texto dele, vai ser daqueles filmes que vão passar uma tonelada de vezes na última sessão do domingo na TV, e deitado no sofá você irá decidir se vai continuar curtindo ou irá dormir, o que no cinema não é algo interessante de se fazer.

Jack Reacher retorna à base militar onde serviu na Virgínia, onde pretende levar uma major local, Susan Turner, para jantar. Só que, logo ao chegar, descobre que ela está presa, acusada de ter vazado informações confidenciais do exército. Estranhando a situação, Reacher resolve iniciar uma investigação por conta própria e logo descobre que o caso é bem mais pessoal do que imaginava.

O fato do longa ser bem calmo é fácil de observar pelos demais longas que o diretor Edward Zwick dirigiu, como "Lendas da Paixão", "Amor e Outras Drogas", e até mesmo em "O Último Samurai" e "Um Ato de Liberdade" são menos agitados do que se esperam de longas de guerra/ação, mas aqui ele trabalhou com uma síntese bem própria ao pegar o roteiro de Richard Wenk ("O Protetor") e dar uma nova roupagem quase que com a mesma história, apenas invertendo o pano de fundo, e isso é interessante de observar, pois geralmente o primeiro tratamento de um roteiro costuma sofrer muitas mudanças quando caem em outras mãos, e aqui vemos quase a mesma história que Wenk entregou alguns anos atrás. Volto a frisar que não é ruim se amparar em outros longas, desde que a criatividade de um diretor/roteirista consiga mostrar serviço e adequar para que seu filme flua e agrade (de preferência mais que o longa baseado) a todos. Mas relevando esse ponto da cópia exagerada que foi entregue, o que podemos ver em suma é que o diretor foi direto ao ponto, trabalhando bem com a dinâmica protagonista aparece, secundários ficam bem para trás, pois é raro não estar em cena Tom Cruise, e mesmo nas cenas mais tranquilas que não precisaria aparecer sua figura, algum elemento dele acaba aparecendo, ou seja, se a história literária é baseada no personagem, não vamos precisar apresentar mais ninguém e muito menos que esse alguém desponte, e assim sendo, o resultado para Cruise (que é também o produtor do longa) é satisfatório por marcar sua imagem e voltar para quem sabe um papel icônico quase de um super-herói da vida real (se é que ele é real pelo tanto que apanha e continua bem!)

Sobre as atuações, como já disse acima o filme focou completamente no personagem título, e com isso Tom Cruise com seus 54 anos mostrou disposição para lutar, correr e claro ser bem pensativo nas cenas mais cadenciadas de seu Jack Reacher, claro que o ator começa a mostrar que não tem mais o grande pique de sua juventude, mas ainda trabalha bem na expressividade e agrada pelo seu jeito canastrão menos forçado que outros atores da sua época. Cobie Smulders é uma atriz interessante que colocaram compostura demais na personalidade de sua Major Turner, de tal maneira que (dando um leve spoiler) você vai aguardar o longa inteiro por um romance mais afetuoso e irá embora decepcionado por não ver nada muito a fundo entre os dois protagonistas, o que mostra um acerto por parte do diretor de querer que a atriz ficasse bem mais próxima de um elo militar do que um romance cheio de doçuras. Danika Yarosh fez bem sua Sam e deu um ar mais fraternal na trama, colocando em xeque sempre a pergunta "é ou não filha do protagonista?", e claro que dentro do clichê máximo do estilo, sempre estava apta para fazer cagadas nas cenas mais calmas para que os vilões voltassem a seguir eles, ou seja, fez bem o dever de casa para manter a trama sempre ocupada. Patrick Heusinger fez um caçador daqueles que chegam a ser inconvenientes de tanto perseguir os protagonistas, e claro que vamos torcer pro mocinho socar ele ao máximo no fim, pois esse estilo de personagem só serve para duas coisas: incomodar o público com sacadas forçadas e apanhar do protagonista, mesmo que possa dar um tiro fácil é claro que vai partir pra porrada. Dos demais personagens todos aparecem bem pouco e acabam tendo ligações leves dentro da trama, mas poderiam ter dado mais importância tanto para o papel de Aldis Hodge com seu Espin que caiu bem nos momentos certos, como para Robert Knepper como general Harkness, pois ao final ele é o mais importante da trama e acaba sendo quase um enfeite durante o longa quase inteiro.

Um fato claro que diferencia esse longa do anterior é a economia artística, pois se no primeiro desenvolveram a ação em mais lugares e trabalharam as locações com maior dinâmica, aqui focaram poucos momentos, em lugares menores (vou preferir dizer que o Carnaval/Halloween de Nova Orleans é algo tradicional que nem conto como um cenário) e com perspectivas mais fechadas para desenvolver um clima mais cadenciado do que uma aventura forte característica de outros filmes de Cruise, mas ainda assim tivemos boas cenas, e isso é o que faz de uma direção de arte um trabalho efetivo. Detalhe que as paredes poderiam ser mais rígidas, pois ficou claro o efeito isopor quebrando na cena de pancadaria. No conceito fotográfico a trama trabalhou bem com locações escuras para criar um clima mais tenso em algumas cenas, mas nada que seja um deslumbre visual de tons, o que acabou faltando para termos cenas mais quentes e impactantes como uma boa ação pediria.

Enfim, é um filme razoável que vai agradar quem gosta de ver Tom Cruise e claro curte um longa bem levinho de ação policial. Claro que não posso dizer que vou recomendar ele para todos, pois certamente os amantes de um longa dinâmico, cheio de pegadas e explosões vai sair da sessão rindo ou bravo por ter cansado com tudo o que é mostrado, mas vale um tempinho assistindo em casa, ou até mesmo no cinema se não tiver outra boa opção passando, para rir dos clichês tradicionais, e principalmente quem gostou do primeiro filme vai achar esse bem melhor. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro filme da semana, que vi antes graças ao pessoal da Difusora FM 91,3MHz que trouxe para nós essa sessão antecipada, então valeu galera, estamos juntos sempre pra divulgar e curtir o som rock'n roll, e volto em breve com as demais estreias da semana, então abraços e até mais galera.

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O Amor de Catarina

11/22/2016 01:10:00 AM |

Chega a ser difícil falar algo de "O Amor de Catarina", pois chamar de cinema amador um projeto desse estilo chega a ser uma ofensa tanto para a palavra cinema (pois temos quiçá uma tentativa frustrada de ter uma paródia de novela mexicana), quanto para os profissionais que buscam com criatividade e pouco orçamento fazer algo que faça jus ao cinema independente e que com boas propostas até conseguem agradar em alguns momentos. Digo isso com um grande pesar, pois ultimamente tenho somente falado bem de boas produções nacionais que vinham numa grande crescente, mas hoje ao estar sozinho na sessão do longa (ainda bem que mais ninguém gastou dinheiro vendo isso, somente eu) me vi reclamando em alto e bom som a cada nova cena desnecessária, a cada câmera chacoalhante sem nenhuma linguagem proposital, a cada expressão exagerada numa tentativa de fazer os carões das novelas mexicanas, a cada tentativa de reviravolta sem conseguir atingir ao menos a sequência correta, ou seja, falei o filme inteiro, e se tivesse mais alguém na sessão faria ao menos um debate, pois esse é daqueles filmes que se a pessoa assistir quieta demais, ela dorme de marasmo ou por não conseguir assistir até o fim com tanta coisa ruim, acaba indo embora da sessão.

A sinopse nos mostra que Rose é uma dona de casa que sempre idealizou sua vida com uma família perfeita. A realidade, no entanto, é muito diferente. Seu casamento está em completo descompasso e sua filha lhe nega qualquer tipo de atenção. Em meio a essa situação nada ideal, Rose encontra alento em lembranças que cultiva em uma caixa de sapatos e na companhia de sua vizinha e melhor amiga, Dolores. Ambas acompanham assiduamente a telenovela “O Amor de Catarina”, sucesso nacional, que retrata a história de Catarina, que vive um turbulento relacionamento com um marido possessivo e que a cada episódio assume mais o controle de sua vida graças a sua personalidade forte e independente.

Fiquei pensando um motivo de o longa ser tão bagunçado, e ao ver que foi escrito por 5 pessoas, chego à conclusão que o diretor Gil Baroni pegou todas as ideias, jogou num liquidificador, fez os diversos storyboards e saiu para filmar, pois a ideia se levarmos em conta toda a perspectiva, o baixo orçamento e tudo o que poderia ter virado num resultado final mais satisfatório, até poderia ter um rumo mais coeso, mas a cada 5 a 10 minutos, um novo relance era revirado sem muito nexo e jogado literalmente na tela, sem se preocupar com nada, nem atingindo lugar algum. Ou seja, a velha história de lapidar um roteiro até chegar realmente numa proposta condizente geralmente é relevada por alguns diretores, e muitos apenas pegam os textos que lhe são entregues e filmam, o que acaba sendo um grande fracasso, e este aqui é um dos maiores exemplos de como é fácil errar, mesmo trabalhando bem no restante da produção.

Falar das atuações é algo que aqui temos de pontuar bem, pois faltou tanto uma atitude maior do diretor para controlar os momentos, quanto também temos de pontuar que todos sem exceção falharam por exagerarem em trejeitos. Para começar, Greice Barros ficou parecendo que foi escolhida aleatoriamente entre a primeira mulher que apareceu num shopping com cara de mulher triste para interpretar Rose que tinha esse perfil, pois posso estar criticando alguém que mais para frente irá deslanchar, porém aqui chegou a ficar num nível abaixo de ruim para ser a protagonista da trama. Ciliane Vendruscolo fez uma Dolores bem colocada dentro da proposta, mas parecia desesperada pelos seus momentos. Muitos ironizaram por ser mais um filme de Kéfera Buchmann, mas sua Catarina é o menor problema do longa, pois fazendo uma atriz de novela bem estilo das tradicionais forçadas mexicanas, ela soou bem e nos poucos momentos encaixou dentro do que poderia, e fez o certo, mas nada que seja ainda impressionante de esperar dela. Do grupo masculino Maicon Santini fez seu Gonzales da forma mais caricata possível, e embora isso possa parecer ruim, foi até engraçado de ver, enquanto |Rodrigo Ferrarini fez um Julio meio desorientado e estranho de ver, mas sem dúvida alguma Luiz Bertazzo foi o que mais se perdeu dentro da ideia do longa que o diretor desejava, e fez um Pedro completamente jogado e forçado.

Com certeza boa parte dos 180 mil reais gastos ficaram por conta da cenografia do longa, principalmente por montar todo um cenário grande de novela, outro lotado de elementos para as cenas do teatro, e mais diversos elementos para as duas casas e salão, ou seja, a equipe de arte teve um trabalho até bem desenvolvido, mas acabou se perdendo em excessos, o que nunca é bom para nenhum filme, pois talvez detalhes simples chamassem bem mais a atenção e acabaria resultando em algo menos enfeitado. Agora um dos pontos mais falhos do longa ficou a cargo do diretor de fotografia e claro do câmera, pois faltou iluminação na maioria das cenas, deixando o longa exageradamente escuro, e com tons errados para cada momento (tirando claro as cenas da novela que foram filmadas a parte), e o câmera certamente tinha Parkinson e não deveriam ter optado por tantas cenas com câmera na mão, pois não fluiu nenhum tipo de linguagem e destruiu os momentos razoáveis do longa com o tanto balançar que teve.

Enfim, um filme que não recomendo de forma alguma nem pro meu pior inimigo gastar dinheiro, pois o excesso de falhas é fora dos padrões aceitáveis em uma produção. Já disse que não gosto de falar mal de diretores/produtores brasileiros, pois posso certamente trabalhar com algum deles num futuro, mas espero sinceramente que em outras produções dos envolvidos técnicos desse longa eles melhorem muito, senão a chance de sumir do mapa é alta. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha semana cinematográfica, pois mudaram o horário de uma das estreias não sendo exibido mais nessa semana, então volto na próxima Quinta com mais textos, então abraços e até breve.

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Animais Fantásticos e Onde Habitam em Imax 3D (Fantastic Beasts and Where to Find Them)

11/19/2016 03:10:00 AM |

Falar que "Animais Fantásticos e Onde Habitam" é um filme mágico é ficar rodando para falar mais do mesmo, mas me fogem palavras para expressar o quão bom foi poder conferir o retorno do mundo fantástico da magia que tanto nos permeou durante diversos anos, e ainda saberem como fazer para que algo novo nos fosse mostrado com tanta emoção, criatividade e principalmente, com muitos efeitos para que o gostinho de felicidade ficasse ainda mais presente na sessão 3D. Ou seja, pode ser que numa revisão até encontre algum defeito maior dentro da proposta completa, mas são tantos bons personagens, animais realmente fantásticos e lindos/fofos, um roteiro bem trabalhado de emoções e um claro desenvolvimento de começo, meio e fim tradicionais que nem necessitaria outras continuações para tudo o que foi mostrado, mas é tão bom poder ver mais sobre as histórias que acontecerão no mundo bruxo antes de Harry Potter que por enquanto só consigo enxergar como defeito 2018 estar tão longe para vermos o que acontecerá em Paris. Portanto, sendo fã ou não das histórias de Harry Potter, vá para o cinema e embarque nessa aventura, de preferência na maior sala 3D de sua cidade (e se possível numa Imax), que com toda certeza irá gostar muito de toda a emoção que será mostrada na tela.

O longa nos conta que o excêntrico magizoologista Newt Scamander chega à cidade de Nova York levando com muito zelo sua preciosa maleta, um objeto mágico onde ele carrega fantásticos animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens. Em meio a comunidade bruxa norte-americana, que teme muito mais a exposição aos trouxas do que os ingleses, Newt precisará usar todas suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo.

Diferentemente do que ocorreu com todos seus outros livros no qual J.K. Rowling apenas entregou a história pronta para que outros roteiristas e produtores adaptassem da forma que desejasse, aqui a escritora fez questão de escrever diretamente para cinema o roteiro, e como já está bem renomada (e com muito dinheiro também) possuiu também os direitos criativos sobre toda a trama, ou seja, quem for fã da saga literária certamente não se desapontará com nada do que será mostrado na telona, pois tudo virá da mente que criou esse universo, e assim sendo é notável logo de cara essa presença mais mágica dentro do contexto do que nos demais filmes que já vimos abordando o assunto. Agora se é permitido colocar um defeito que nem podemos pontuar como gravíssimo, é o fato de que não temos quase que muita apresentação desse novo mundo, e muito menos de cada personagem, como ocorrerá antes, já sendo jogado logo de cara com tudo rolando, ou seja, não que seja algo obrigatório, mas pode ser que quem não for fã da saga, ao ir conferir o longa no cinema fique um pouco desconectado com quem é quem, mas nada que irá importar muito, pois com a desenvoltura completa da trama, tudo o que ocorre acaba sendo bem encaixado e funcional para o momento. Claro que essa boa dinâmica vem do estilo de outro membro da equipe que já conhece bem o universo mágico de Rowling, que é o diretor David Yates, que apenas teve uma leve fuga das histórias mágicas com "A Lenda de Tarzan" nesse ano, após ter filmado os 4 últimos Harry Potter desde 2007, ou seja, já estava completamente a par da situação para que tudo se encaixasse bem e mais do que isso, ainda teve apoio tecnológico nessa época para que tudo fosse melhorado no estilo de uso das câmeras, de tal modo que se antes um efeito tridimensional simples era algo absurdo de se fazer, hoje sua equipe fez com os pés nas costas, e assim sendo o resultado de seu trabalho, tanto pelo ritmo do filme, quanto pelo estilo que escolheu desenvolver a trama foi algo que merece todos os aplausos possíveis.

É claro que um bom filme sem um bom elenco dificilmente acaba agradando a todos, e sem dúvida alguma a escolha aqui foi precisa para que os personagens tivessem todo o carisma impregnado no jeito de atuar e assim acabar se desenvolvendo mais com bons trejeitos e colocações. E quem é um dos grandes nomes dos trejeitos e ainda consegue agradar pela leveza de sua atuação é Eddie Redmayne que incorporou em seu Newt uma personalidade bem clássica e gostosa de ver pela doçura impregnada na sua voz, pelos bons momentos dinâmicos e carismáticos que conseguiu trabalhar e principalmente por não entregar seu ouro de cara, deixando que cada momento fosse único e bem colocado dentro da simplicidade tradicional que costuma demonstrar em todos os longas que atua, agora é esperarmos para ver como irá se sair nos demais filmes, afinal contrato para mais um ele já assinou. Katherine Waterstone também fez de sua Tina uma personagem bem doce de acompanhar e que agrada pela forma leve que acaba agindo nos diversos momentos importantes da trama, porém poderiam ter colocado um pouco mais de sua história para conhecermos seus problemas, pois apenas são lances jogados para o público que estiver mais atento pegar tudo, mas ainda assim a jovem acabou saindo bem na sua interpretação. Agora sem dúvida alguma o grande nome que será lembrado do filme é o de Dan Fogler com seu Kowalski, pois o ator caiu como uma luva para dar toda a comicidade pertinente à trama, e sem atrapalhar os bons momentos mais sérios, o ator soube ser envolvente e bacana de acompanhar, fazendo com que um personagem que tecnicamente seria bem secundário na trama tivesse um destaque tão maior quanto qualquer um dentro do estúdio esperasse. Assim como Fogler, Alison Sudol acabou sendo tão agradável com sua Queenie que o romance secundário na trama trouxe paixão para todos os corações da sessão, fazendo algo tão agradável nesses momentos mais leves, que por bem pouco o público não irá pedir mais da história deles nos longas futuros, e assim sendo a atriz mostrou um bom trabalho. Muito se está esperando de Ezra Miller como o novo Flash, mas enquanto não vemos o jovem ator como um super-herói, aqui ele mostrou novamente que tem potencial para filmes que lhe exijam uma grande expressividade facial e corporal, pois seu Credence logo de cara já mostra a que veio, e dificilmente o público não irá pensar outra coisa dele, e claro que assim sendo o ator não desaponta em momento algum dando literalmente um show de facetas expressivas. Colin Farrel também trabalhou bem na trama toda com seu Graves e com um ar mais robusto, o experiente ator soube dinamizar suas cenas para que fossem fortes e clássicas, de tal maneira que não esconde muito bem seus atos, e com um fechamento incrível para quem deseja esperar mais dos próximos filmes. Carmen Ejogo mostrou pouco de sua personalidade como Presidente Picquery, mas com toda certeza será importante nos demais filmes. E claro para fechar a parte das atuações, muitos estão crucificando a escolha de Johnny Depp para o papel de Grindewald (que pelo que muitos fãs já contaram será o grande vilão dos demais filmes), mas o ator se mostrou tão bem encaixado mesmo que apenas em uma cena, que acredito muito no que acabará fazendo nos demais filmes, e claro que ainda é muito cedo para falar de sua excentricidade dentro da trama, mas acho que caiu muito bem no que foi feito.

Agora sem dúvida alguma o grande feito da trama ficou a cargo da equipe artística que trabalhou muito bem para criar uma Nova York clássica com uma boa cenografia pronta para aplicar os diversos efeitos computacionais com tudo sendo destruído, ótimos elementos cênicos nas casas e locais por onde os personagens acabam passando, e claro que o grande show mágico dentro da maleta do protagonista, aonde passamos por diversos sub-ambientes incríveis e maravilhosos que claro junto com os diversos animais criados com texturas incríveis nos levam a acreditar muito no mundo fantasioso de tal maneira que acabamos nos apaixonando por cada um, desde o mais feio até o mais fofo, e que com uma boa animação gráfica acabou criando ótimos momentos junto dos protagonistas divertindo e encantando na medida certa. A fotografia do longa ficou bem dentro de um tom mais puxado para o marrom, para criar um ar mais retrô e também dar uma certa seriedade nas cenas, sem que tudo ficasse um colorido fantasioso, e claro contrastasse com o brilho de cada ambiente dentro da maleta, mas esse tom foi mais acertado ainda por ser escuro e funcionar como contraste para os efeitos tridimensionais bem coloridos que saem da tela. E já que comecei a falar do 3D, mesmo o longa não tendo sido filmado com a tecnologia, a conversão foi tão boa que pros amantes de objetos saindo da tela, este é o nome da vez, pois temos diversas cenas com os bichos saindo do quadro de uma maneira tão mágica que acabou fazendo com que até os marmanjos mais velhos ficassem tentando pegar as coisas no ar do cinema, e além disso, o filme aparenta uma grande preocupação com camadas, fazendo com que a profundidade de câmera seja precisa tanto nos momentos que coisas saíssem da tela, quanto em cenas com diversos personagens que vemos tudo ocorrendo em vários âmbitos, ou seja, uma precisão incrível da tecnologia que vai agradar a todos, e digo até mais, todos devem ver nas salas 3D maiores de sua cidade.

Outro grande fator para toda a empolgação ficou a cargo da ótima trilha sonora composta para a trama por James Newton Howard, pois a cada passo dos protagonistas, a boa sonoridade da orquestra nos dava o ritmo e a postura de cada momento, fazendo com que o filme fluísse maravilhosamente bem.

Enfim, um filme incrível que marca apenas o começo de uma nova saga de 5 filmes, mas que quem conferir apenas esse poderá se encantar com tudo, mesmo com os pequenos defeitos que citei acima. Ou seja, entre no clima e vá conferir o longa com muita empolgação mesmo se não for fã de ficções fantasiosas, pois a chance de virar fã pelo trabalho mostrado aqui é bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho alguns longas para conferir durante a semana, então abraços e até breve.

PS: Muitos vão falar que fiquei maluco de dar 10 para um filme que possui defeitos, mas são tão pequenos perto da grande mágica e emoção criada, que no mínimo daria 9,5 para o longa, e como todos bem sabem, não tenho notas quebradas, então como sempre pedimos para nossos professores, vamos arredondar para cima.

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Através da Sombra

11/18/2016 01:14:00 AM |

Ainda sonho em um dia que o cinema brasileiro terá toda semana um novo filme de gêneros variados e de qualidade tão superior que vamos ficar esperando pelo lançamento como ocorre com longas de diretores internacionais renomados. E se você leu essa frase achando que o Coelho está maluco, e que isso jamais vai acontecer, digo que sei que não está tão perto, mas posso dizer que 2016 foi o ano que mais tivemos longas de gêneros variados em nossa filmografia nacional, e que a qualidade de muitos foram bem satisfatórias para que possamos começar a acreditar num futuro melhor. Digo isso claro com ressalvas, pois "Através da Sombra" é um excelente exemplar de filme de suspense, com uma tensão característica, uma excelente locação para trabalhar a história e atuações convincentes para agradar, porém o defeito tradicional de longas alternativos que tentam ir para o lado comercial voltou a atacar, com o diretor desenvolvendo todo o miolo quase que de forma literária para que todos entendam a ideia que deseja mostrar, mas quando chega no final deixa aberto demais para que você divague, ou seja, um filme interessantíssimo com uma ótima proposta, mas que falhou no fechamento para ser perfeito. Porém ainda assim recomendo muito o longa para todos que gostem de filmes com mistérios, para que com uma boa bilheteria, quem sabe em breve tenhamos outros desse estilo no país.

A sinopse nos mostra que a tímida Laura é contratada por um homem rico para cuidar de seus dois sobrinhos órfãos, que moram numa fazenda de plantação de café. Apesar de não se dar muito bem com o campo, ela aceita a tarefa, e logo estabelece uma amizade com a pequena Elisa, enquanto seu irmão é enviado a um internato, por razões desconhecidas. Aos poucos, com a presença dos escravos e da governanta Geraldina, Laura tem a impressão de que alguns segredos são escondidos naquela casa. Ela acredita inclusive ver algumas pessoas que ninguém mais vê.

Se você ao ler a sinopse e depois ver o trailer achou muita semelhança com diversos outros filmes internacionais("Lugares Escuros" de 2006, "Os Inocentes" de 1961, entre outros), você não ficou maluco, pois ambos os filmes são baseados no texto de "A Outra Volta do Parafuso"("The Turn of The Screw") de Henry James, mas aqui o diretor e roteirista Walter Lima Jr. optou por menos abstrações e mistérios e deixou tudo com um tom mais ligado com os espíritos mesmo, montando um mote mais simples, porém eficiente para que o filme funcionasse mais comercialmente também. Agora é inegável o grande trabalho cênico que o diretor conseguiu para sua produção, pois contando com trens de passageiros (algo que hoje praticamente inexiste no Brasil), um casarão de café gigantesco com escravos trabalhando na torra do grão, com muita fumaça e fogo, e claro tudo bem simbolizado para dar o tom de mistério que o filme necessitava. Claro, que poderia ter dado sua opinião pessoal no fechamento para não largar tão em aberto, e também poderia criar um mistério mais denso no desenvolvimento completo, mas nada que incomode tanto, pois a situação em si já é bem explicativa. Ou seja, a adaptação do livro foi bem transitada para nossos moldes, mas uma pitadinha a mais faria o longa ser algo de nível exemplar.

Sobre as atuações, Virginia Cavendish me enganou bonito no trailer, e até em diversas cenas do longa com sua Laura, pois jurava com todas as letras que era Glória Pires a protagonista do longa, pois a jovem possui a mesma entonação na voz, está bem semelhante visualmente e até saiu-se muito bem no estilo tão conhecido da famosa atriz, ou seja, mostrou também ter grandes qualidades, principalmente no papel que fez aqui, pois o longa exigiu dela expressões fortes, porém com simplicidade que foram dominadas e caracterizadas com perfeição e detalhamento, de tal maneira que só mudaria seus semblantes calmos demais em algumas cenas que exigiam mais nervosismo. Mel Maia é sem dúvida a nossa melhor atriz mirim, que com toda certeza terá um grande futuro se manter o estilo simples de atuar e incorporar bem os papeis que lhe são entregues, e claro que sua Elisa foi colocada pontualmente na trama, e a cada novo detalhe nos entregava migalhas para agradar e mostrar que tinha muito mais na manga para envolver e acertar. O jovem Xande Valois também fez bem o seu papel de Antônio, só soou forçado demais em algumas cenas que colocaram para ele uma personalidade de adulto, claro que isso é bem explicado no fim, mas o pequeno ator acabou exagerando nos trejeitos e por pouco não falhou. Ana Lúcia Torre caiu bem no papel da governanta Geraldine, e agradou tanto por segurar as cenas mais misteriosas quanto pela tonalidade da voz que deu boas nuances nas cenas mais densas, talvez mais cenas dela cairiam bem no longa. As aparições de Alexandre Varella como Bento foram bem pontuais e interessantes de ver pela expressividade misteriosa que conseguiu criar, mas poderia nas cenas finais ter deixado tudo um pouco mais tenso para que o filme decolasse realmente. Último filme de Domingos Montagner a ser exibido, aqui seu Afonso aparece apenas no começo e ficou sendo jogado demais para que fosse lembrado, de tal maneira que se não quisessem colocar suas cenas iniciais, até poderia passar tranquilamente, mas como fez bem acabaram usando e colocando com estilo e como forma de homenagem.

Já falei bem da cenografia no começo do texto, mas volto a ressaltar o ótimo trabalho da equipe de arte, que basicamente precisou arrumar duas boas locações, uma fazenda de café com uma casa aonde puderam decorar até de forma bem limpa e clássica para ter as nuances ali (talvez tenham ficado com medo de quebrar algo ou bagunçar demais a locação alugada), e uma estação de trem com um trem de passageiros em funcionamento, pois ali também acontecem algumas cenas, ou seja, um trabalho que com certeza foi bem árduo para ser preparado, mas que o resultado final acabou incrível de ver. Diria até mais, que a equipe foi precisa para simbolizar o tempo da escravidão e unir isso ao lado sombrio de um mistério com as escolhas feitas, de tal maneira que a equipe de fotografia só precisou de alguns efeitos de fumaça, algumas lentes mais escuras e claro trabalhar com muita iluminação de velas e lampiões para que o tom ficasse condizente tanto com a época como para criar o clima que um bom suspense exige, ou seja, tudo simples, mas impecável.

Ou seja, temos um filme que vale a pena ser assistido, e recomendo com certeza. Como disse até possui alguns defeitinhos, mas que são relevantes perante o tamanho da produção e o resultado que consegue atingir, valendo tanto como um bom exemplar fora dos moldes que tanto andamos vendo nos longas nacionais, como um bom suspense pela ideia passada, mesmo que já tenha sido vista interpretada por outras pessoas. Enfim, vá ao cinema e confira para que como disse, termos mais longas diferentes dentro do nosso cinema nacional. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com a grande estreia da semana, então abraços e até mais.

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Pequeno Segredo

11/13/2016 10:58:00 PM |

Alguns filmes conseguem ser doces e pontuais, para que possam trabalhar temas polêmicos, principalmente envolvendo crianças, sem denegrir nenhuma imagem, e claro deixando o tom agradável de assistir. E com certeza a ideologia de "Pequeno Segredo" é bem essa, e o diretor conseguiu transmitir bem a história de sua família com uma boa simbologia e adequando o sentimento dentro de algo aceitável, sem que precisasse ficar forçado, ou que o público lavasse a sala do cinema, mas sim pontuando através de bons recortes (alguns até em excesso) os desejos de uma criança e a formação difícil de uma família que passou por alguns grandes problemas. Ou seja, um longa interessante, e que marca uma escolha até que certeira para o Brasil tente voltar a ter sua participação no Oscar, pois o filme tem uma pegada clássica que a Academia gosta, a de trabalhar doenças, e por ser bem sutil consegue comover as plateias por onde é exibido.

O longa que é baseado em fatos reais, o filme gira em torno da família Schurmann, conhecida por seus cruzamentos marítimos. Por muito tempo, eles guardaram a comovente história da adoção de uma menina. Kat é uma jovem frágil, mas de muita personalidade. Ela vive com os pais, Heloísa e Vilfredo, que a adotaram de um casal de amigos. O filme centra sua história na infância da menina e na fase em que seus pais biológicos se conheceram.

Se no passado o roteiro de Marcos Bernstein de "Central do Brasil" chegou até o Oscar, por que não dizer que seu novo roteiro também chegará, e assim como no filme de 98 que trabalhou com um tema forte de maneira bem singela, aqui seu texto flui num emaranhado gostoso de acompanhar que nos leva a pensar nas diversas discriminações que várias crianças sofrem, e até mesmo adultos por serem de etnias diferentes, ou terem qualquer tipo de doença, ou até mesmo por serem de tamanhos fora dos padrões que muitos colocam na cabeça como sendo um molde, e o diretor David Schurmann lhe entregou o ótimo livro de sua mãe Heloísa Schurmann para que ao voltar para suas mãos tudo estivesse claro e bem montado, pois mesmo tendo vivenciado toda a história (mas não quis colocar tanto nenhum jovem ator para lhe interpretar), ele desejava com toda certeza para seu primeiro trabalho à frente de uma ficção, algo que fosse bem moldado e cheio de nuances, e isso fica claro desde a abertura (que por sinal é também o fechamento do filme) e se desenrola com boa desenvoltura agradando pela sutileza empregada tanto pela garotinha como por todos os personagens adultos, tirando claro a cena mais impactante no miolo que até poderiam ter feito de uma maneira menos forte e chocante, mas nada que tenha atrapalhado todo o restante. Em suma o resultado do texto e da direção podem ser vistos como algo simples, pois não temos nada que faça um grande salto ou coisa parecida, mas o resultado é bem bonito de ver, pois haveria diversas formas de se tratar o tema, e por ser algo que realmente aconteceu, foram singelos sem atacar nem colocar algo forte apenas para comover. O único defeito ao meu ver é o exagero de cortes entre as duas fases que poderiam ser menos secos, tanto que há cenas em que cortam a pessoa falando no meio e já pica para outra parte, o que não é algo muito legal de ver, mas são escolhas e gostos pessoais, que talvez de um modo linear não fosse tão forte.

Mais do que os grandes atores experientes, o destaque mesmo fica para o estilo doce da jovem Mariana Goulart, que fez boas expressões, colocou personalidade no seu jeito de interpretar e foi bem escolhida como a jovem que mais parecia com a Kat original, e olhando os vídeos originais no final vemos que até o jeito de falar da garotinha ela conseguiu assimilar para agradar bem, ou seja, tem futuro para a jovem atriz. Júlia Lemmertz como sempre arrasa no seu estilo expressivo, colocando leves nuances para cada momento de sua Heloísa e trabalhando com personalidade fronte aos diversos momentos impactantes que teve na produção, e com isso ela acertou sem forçar expressões e muito menos sendo algum tipo de heroína que tantas outras atrizes poderiam colocar na interpretação, e de sobra ainda ficou muito parecida com a real Heloísa. Maria Flor deu um show de interpretação, tanto nas cenas de afrontamento pela sogra preconceituosa em relação ao Brasil, a qual fez com sua Jeanne semblantes perfeitos para o momento, nos momentos amorosos foi bem delicada, mas seus dois grandes momentos foram sem dúvida alguma no acidente e na banheira, pois mostrou com um realismo incrível tudo o que qualquer um esperaria ver de uma boa atriz. Não conhecia o ator neozelandês Erroll Shand, e por isso talvez tenha me conectado muito à interpretação que deu para seu Robert, de tal maneira que o ator soube dosar bem as cenas mistas em português enrolando-se todo para falar, mas se esforçando bem para isso, e mostrando personalidade para as cenas mais fortes e impactantes, de tal modo que o encaixe foi bem feito. Já a irlandesa Fionnula Flanagan estamos acostumados com outras produções que fez, e claro que a experiente atriz não deixaria que sua personagem fosse mera coadjuvante sem dar expressividade e força para os momentos de sua Barbara, sendo impactante e até grosseira nos momentos mais tensos, mas trabalhando sempre boas expressões para que fosse encaixado de maneira certa sem abusos na tela. Já Marcelo Anthony acabou ficando meio que em segundo plano com seu Vilfredo, de tal maneira que não tivemos quase nenhum momento para que se destacasse, ou mostrasse os reais planos da grande vivência dos Schurmann, mas ao menos arrumaram alguém bem parecido com o patriarca da família navegadora.

Com boas locações em Santa Catarina, no Pará e até mesmo na Nova Zelândia, o longa trabalhou pequenos detalhes nos elementos cênicos, como o diário da jovem garotinha, os remédios que ela tomava e até mesmo o detalhe do colar foi colocado em pauta, para que tivessem objetos precisos para dar certos toques, mas a grande incidência realmente ficou em cima das atuações e com isso a equipe teve preocupação real apenas em segurar o tom. A fotografia trabalhou bem os tons clássicos que os Schurmann mais viram em suas vidas, o azul do mar, e claro o laranja mágico do pôr do sol, e com boas dinâmicas envolvendo esses tons, tiveram grandes acertos e também alguns errinhos em usar demais cenas com drones voando para dar um ar mais amplo, mas nada que funcione bem para esse uso dentro da linguagem.

Enfim, um filme bem bonito, e que comparado com os outros concorrentes do país, foi o mais acertado para tentar a vaga, ou seja, não digo que seja perfeito e que realmente vai chegar aos cinco escolhidos, mas que é um longa bem gostoso de assistir e que se encaixa bem no estilo que a Academia gosta de escolher certamente é essa a opção. Portanto vá aos cinemas e confira, pois quem sabe veremos ele na telona dourada, e pela ótima essência e sutileza também recomendo bem ele. Bem é isso pessoal, encerro por aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até breve.

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Invasão de Privacidade (I.T.)

11/13/2016 01:27:00 AM |

Existe uma lenda que pessoas que trabalham com informática não são normais, e geralmente precisam de tratamento psicológico para saber conviver com as demais pessoas. Claro que nem todos são assim, mas conheço muitos por aí que se enquadrariam facilmente nesse molde. Digo isso, pois a premissa de "Invasão de Privacidade" pode ser vista sob duas vertentes, a primeira do ego inflado de um ricaço que ama tecnologia e coloca aonde pensar coisas que funcionariam de um modo bem simples (como o abrir de uma torneira, por exemplo), mas que que para ele tudo tem de ser digital, então se aperta um botão, dá um comando de voz, ou apenas passa com o objeto perto e pronto tudo se executa automaticamente, e a outra vem bem nessa questão de sociopatia que muitos técnicos de informática possuem, de não se conectarem a ninguém, somente à seus próprios equipamentos, e que por vezes se sentem realmente necessitados de afeto/carinho, mas se você negar isso à eles, esteja preparado para o pior. Pois bem, se tudo fosse lindo é claro que não teríamos um filme com uma história para contar, apenas teríamos um documentário mostrando esses elos de forma separada, com lindas perguntas e tudo mais, mas é claro que ao misturar as duas vertentes, e o ricaço tecnológico ainda dar o pé na bunda de um pobre jovem que é um ás da informática, foi apenas a gota d'água para o mote do longa e toda a tecnologia se voltar contra a família e a empresa do ricaço, ou seja, um filme bem simples no conceito desenvolvimento, mas que agrada pela boa perspectiva, e se fosse menos forçado seria impactante demais.

A sinopse do longa nos conta que Mike é um bem sucedido empresário que tem tudo: um esposa maravilhosa, uma linda filha adolescente e mora em uma casa com tecnologia de última geração. Sua empresa está na iminência de mudar o negócio de aviação para sempre, quando Mike descobre que está em um perigoso jogo que ameaça tudo que ele conquistou. Em um mundo onde não há privacidade e segredos pessoais podem viralizar em um click, Mike passa a depender de suas antigas amizades.

O estilo da direção de John Moore é elétrico e bem pontuado, mas faltou ter pego o roteiro pouco desenvolvido em questão de tramas e colocado mais ênfase nos momentos de cada um dos personagens, pois a cada momento descobrimos algumas pontas soltas dos protagonistas, que certamente facilitariam bem mais a interatividade entre todas as pontas, por exemplo, a vida passada de Mike para ter contatos tão sinistros, um pouco mais sobre a loucura do jovem técnico de informática, afinal nos é contado um pouco pelo investigador, mas nada que mostre o nível de psicopatia que ele atinge, algum dos motivos do ricaço querer uma casa toda tecnológica, e muitas outras coisas, pois mostrar que o cara é um rei da aviação ficou muito subjetivo e sem grandes anseios, aliás o que vale no filme é o recheio, pois o começo apresentando a vontade dele de entrar no mercado de capitais abertos com sua companhia, e o fechamento no mesmo mote foi algo que em nada podemos dizer que vale a pena ver, tanto que se mais para frente você estiver vendo o filme em sua televisão e alguém parar para ver só o miolo irá entender tranquilamente tudo, e vai falar que não perdeu nada (o que não deixa de ser uma enorme verdade).

Sobre as atuações, chega a ser engraçado que tirando os dois protagonistas e as duas mulheres, quase mais ninguém fala no longa inteiro, e isso é de assustar demais, não por querer que figurantes fiquem falando, mas praticamente tiraram todos os personagens secundários de cena e esqueceram eles perdidos pela trama. Dito isso, é fato que mesmo Pierce Brosnan estando bem velho, ainda mantém o estilo galã e sempre irá se encaixar bem em papeis de milionários, e aqui seu Mike caiu como uma luva para que ele fizesse caras e bocas do estilo e ainda pudesse dar umas porradas, ou seja, mesmo estando um pouco fora de forma, o grande astro mostrou que ainda tem fôlego para filmes que envolvam ação. Em compensação James Frecheville foi uma contratação bem arriscada, mas que acertaram no ponto de colocar alguém completamente desconhecido (não me lembro de ter visto nenhum dos longas que fez) para fazer um personagem que passa como completo desconhecido, e isso é algo comum de se ver no pessoal que trabalha com tecnologia, pois apenas chamamos pelo rapaz da computação, e sequer sabemos quem ele é, ou seja, seu Ed é interessante e ao mesmo tempo estranho, e claro que nessa ótima jogada, o ator ganhou diversos pontos com as boas expressões que acabou fazendo. As mulheres até fizeram boas expressões, mas soaram um pouco estranhas na produção, fazendo com que ficassem bem de canto, mesmo nas cenas mais importantes delas, como a do banho de Stefanie Scott com sua Kaitlyn que na sequência era certeza do que ocorreria, e com a cena também totalmente previsível que já está no trailer do câncer de Anna Friel com sua Rose, ou seja, elas tiveram bons momentos, mas faltou muito para chamar atenção realmente. E para fechar o elenco tivemos Michael Nyqvist fazendo o "limpador" Henrik que até chegou a soar engraçado com seu estilo, mas nada de muito empolgante também.

Após ver o longa fiquei pensando na construção do set de filmagens, ou até mesmo nas locações escolhidas, para termos uma empresa tão cheia de detalhes e uma casa tão tecnológica no nível que foi mostrado, pois tudo ficou tão bonito de ver, mas tão imparcial de uso que com toda certeza fizeram tudo do modo mais falso possível para apenas aparentar ser daquele modo, e sendo assim o filme mostra que a equipe de arte precisou pesquisar bastante para que a criatividade tecnológica fluísse bem, ou seja, um trabalho na medida correta para mostrar uma possibilidade futurista, que se alguém tiver um pouco de receio também por tecnologias perigosas vai pensar 2x antes de ter tanta quebra de privacidade. O apartamento de Ed também foi bem planejado tanto para as cenas de voyeur, quanto nos momentos finais, e fizeram sem muitos erros, o que é bem bacana de ver. Sobre a fotografia da trama, ousaram trabalhar com filtros esverdeados para dar um tom mais tecnológico e em algumas cenas acabou ficando um pouco estranho, mas na maior parte do tempo acabou ficando interessante de ver a proposta funcionando, e claro que a boa inserção das conversas na tela funcionaram com os ângulos escolhidos.

Enfim, um filme interessante, mas mediano no que propunha atingir, pois poderia verter tanto mais para o suspense psicológico ou focar mais na dramaticidade mesmo, o que é uma pena. Mas quem for assistir, e até coloco ele como uma recomendação razoável, não irá perder o seu tempo, pois de modo geral é um filme que consegue agradar sendo bem pontual nos diversos momentos. Ou seja, veja se não tiver outros para conferir, mas se for não irá perder o dinheiro, pois temos bons momentos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última crítica da semana, então abraços e até lá.

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Horizonte Profundo - Desastre no Golfo (Deepwater Horizon)

11/12/2016 02:44:00 AM |

Sabe aqueles filmes que conseguem tirar todo tipo de emoção de uma pessoa? Pode acrescentar nessa lista "Horizonte Profundo - Desastre no Golfo", ou melhor o nome real da plataforma petrolífera e original do filme "Deepwater Horizon", pois já de cara somos informados que é baseado em um acontecimento real, logo em seguida vemos o romance gostoso da família do protagonista, para na sequência rirmos um pouco das superstições do comandante, e assim que os protagonistas embarcam no helicóptero a emoção já toma conta para irmos direto à um filme bem tenso do começo ao fim, tendo nuances de raiva com as ordens erradas dos chefes (que sempre pensam mais no lucro do que na forma certa de fazer as coisas), e voltamos para mais cenas tensas de roer todas as unhas, para ao final sermos comovidos com a tradicional música melancólica de homenagem que faz o público sair da sala com anseio de emoção tanto feliz quanto triste nos olhares. Ou seja, um filme completo que agrada com muita ação e que não tem como não sair da sessão se perguntando como filmaram tudo aquilo, e pasmem, o cenário praticamente completo foi construído somente para o filme e foi destruído ao final, mostrando um trabalho de produção artística de nível insano!

O longa nos mostra que em 20 de abril de 2010 a plataforma de petróleo Deepwater Horizon, no Golfo do México, explode, matando 11 operários. A corrida contra o tempo começa quando o derramamento de óleo se espalha pelo oceano. A pressa também é por parte de outros operários que precisam encontrar forças para escapar antes do petroleiro afundar.

É interessante observarmos o quão visceral o diretor Peter Berg quis fazer de seu filme, pois poderíamos ter apenas um drama bem feito que mostrasse toda a situação que as pessoas passaram na plataforma, mas não contemplaria bem a ação, e muito menos funcionaria tanto para demonstrar os atos inescrupulosos dos grandes empresários que não pensam duas vezes em perder mais tempo planejando do que ir direto para a ação, e também não colocaria a trama, que possui no contexto geral uma ideia bem simbólica e simples (mas que ocorreu realmente), como um blockbuster empolgante que fizesse o público se prender nas poltronas do começo ao fim (tem sido raro os filmes que o pessoal não fica indo para banheiro e saindo a todo momento da sala), e principalmente sair comovido com toda a situação contada por diversos olhares. Ou seja, o diretor poderia ter feito um drama simples, poderia ter feito um longa completamente computacional que seria falso, mas agradaria também, poderia ter trabalhado de diversos modos, mas escolheu o mais próximo da realidade, encomendando uma plataforma (que aparentemente nem foi para o mar, mas que acabou sendo um dos maiores cenários já construídos no cinema) e botando tudo para ser destruído da melhor forma com os protagonistas e dublês brincando realmente com o fogo em cena, e assim de maluco (afinal que ator aceitaria entrar num set pegando fogo), ele acabou passando para mágico, e com certeza terá o grande reconhecimento que merece pela ótima homenagem que fez à praticamente todos que morreram ou que sofreram diversas escoriações no acontecimento real.

Embora o filme tenha seus protagonistas estrelados, o diretor foi esperto o suficiente em não focar tanto a história neles, para não precisar ficar explicando quem é quem, e muito menos ficar enrolando com cenas melancólicas (embora tenha uma leve colocação no começo para o protagonista maior, e ao final o cunho familiar volta a atacar, afinal o lado psicológico de todos ficaram bem abalados com tudo o que ocorreu). Mark Wahlberg soube dosar bem suas cenas para que seu Mike não chamasse tanta atenção e ainda agradasse bem, e com uma cena bem colocada no começo com a filha mostrando o que é a função do pai, o acerto foi incrível para que tanto o público entendesse o funcionamento de uma plataforma de petróleo do modo mais subjetivo possível (e claro tudo de ruim que pode acontecer) quanto para mostrar o elo familiar bem encontrado que o personagem possui, e com sua boa dinâmica aliada à trejeitos fortes, o ator acabou saindo muito bem em tudo. Kurt Russel também entrou com tudo no filme, fazendo de seu Jimmy um personagem amado e bem colocado na trama, de tal maneira que fica até estranho voltarem para buscar alguém enquanto o mundo está pegando fogo, mas certamente você voltaria para buscar ele, por merecimento, e claro que com uma boa maquiagem, suas cenas fortes ficaram incríveis tanto pelo que fez, quanto pela ação em si. John Malkovich acabou caindo como o grande "vilão" da trama, e logo de cara já não vamos com sua cara, e claro que o ator que já fez tantos bons filmes não ia desapontar em fazer trejeitos pontuais para ser aquele que ninguém quer ver perto na empresa, mas sabemos que seu Vidrine é apenas um dos muitos personagens bons que iremos lembrar dele. As mulheres da trama tiveram uma participação menor, mas não menos importante e tanto Gina Rodriguez com sua Andrea quanto Kate Hudson com sua Felicia fizeram boas expressões e se encaixaram bem nos momentos que precisavam aparecer, e isso não é um desmerecimento, mas sim uma boa colocação de personalidade. Agora se tem alguém que ficou oculto demais na trama foi Dylan O'Brien que muitos estão perguntando se já melhorou da grande pancada que levou em "Maze Runner" para voltar a filmar, e aqui se não foi filmado com dublês, também teria levado uma grande pancada com seu Holloway, mas longe de sua cena principal, o jovem ator quase ficou despercebido tanto pelo visual, quanto pelos poucos diálogos que teve, mas ainda assim saiu-se bem.

Agora sem dúvida alguma o ponto máximo do filme, com toda certeza, ficou a cargo da equipe artística, pois não tem quem não vá elogiar o ótimo trabalho cênico, a começar da enorme plataforma que arrumaram para as filmagens, depois os diversos elementos cênicos, e principalmente depois toda a equipe de efeitos especiais práticos que saiu tacando fogo em tudo, destruindo o cenário, juntando com o pessoal da computação para arremessar peças e muita fuligem para todo lado, fazendo com que o filme tivesse detalhes onde quer que se olhasse, ou seja, um primor único que poucas vezes vimos em um filme dramático. Aliado à boa cenografia, tivemos uma fotografia impressionante, dominada pelo grande mar nas cenas abertas iniciais, e na hora do vamos ver mesmo, deixando o alaranjado dominar sem que nada destoasse e desagradasse, ou seja, um filme marcado e bem colocado pelas boas cenas individuais, mas sem menosprezar o grande lance completo que a direção tanto desejou.

 A trilha sonora ficou mais pontuada por músicas melodramáticas, claro para dar um tom mais comovente ao filme, e mesmo nas cenas de mais ação, o tom era meio de impactação lenta, para principalmente dar uma amenizada no ritmo frenético não destoar do tom dramático.

Enfim, um filme que vale muito a pena ser visto e que por acertar em cheio segura na tensão, e como disse no começo conseguiu aflorar diversos sentimentos nas expressões do público, ou seja, um filmaço que vamos lembrar por um bom tempo. Ou seja, vá já para a sala de cinema conferir, pois não irá se arrepender do que verá na telona. Bem é isso, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais algum post das estreias da semana, então abraços e até mais pessoal.

PS: Ao invés de colocar apenas o trailer, dessa vez coloquei um com depoimentos e também mostrando como foram feitas algumas cenas para mostrar a grandiosidade da produção.

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