Amores Urbanos

8/22/2016 12:58:00 AM |

Alguns filmes trabalham o cotidiano de maneira a dar novas vertentes de possibilidades, e no mundo atual temos de assumir que existem diversas formas de encarar dramas amorosos e também de "maquiar" a realidade pela qual cada pessoa está passando, ou seja, inibir uma dor que você sabe que tem, mas que não deseja demonstrar por ser forte o suficiente. Dessa forma, o longa "Amores Urbanos" até possui uma certa eloquência e consegue passar através de boas dinâmicas uma vivência interessante por trás dos três protagonistas, mas o âmbito geral da história acaba sendo fechado demais e a diversão/curtição do momento pelos três acaba sendo mais importante do que realmente os seus problemas, e não que isso atrapalhe o fluxo do longa, mas que poderia ter ido por outros rumos e chegar facilmente para uma conexão maior com quem não esteja 100% disposto à ver um mundo de festas e bebedeiras como a possibilidade para esquecer de seus problemas. Ou seja, um filme bacana, mas que poderia ser ainda maior se desejassem alcançar algo a mais.

O longa nos mostra que três amigos, Diego, Júlia e Micaela estão no auge de suas vidas, revelando suas personalidades, experimentando desilusões amorosas e procurando a carreira ideal. Eles moram no mesmo prédio de São Paulo e compartilham diariamente suas experiências, fracassos e conquistas. Rindo ou chorando, eles estarão juntos.

De certa forma o trabalho da diretora e roteirista Vera Egito é bem coerente em todas as cenas, pois não temos nenhuma cena aonde a dramaticidade chega a chocar o público e em outra a comicidade rolando solta, e isso é algo que certamente fez com que o longa fluísse bem com a proposta. A história em si, é bem fechada e trabalhada para que cada momento seja resolvido, claro que dentro das perspectivas moldadas pelos protagonistas, e isso acabou soando bem interessante de ver. Felizmente mesmo classificado como uma comédia dramática, o longa fugiu dos estereótipos novelescos que o gênero costuma ter, e assim sendo o resultado acaba agradável de ver, bem simbólico e com nuances interessantes. Claro que como ainda temos muitos preconceituosos que não gostam de filmes que envolvam questões de gêneros, o longa acabou sendo evitado por muitos, mas tirando o exagero do protagonista gay, o filme acaba não sendo tão cheio de efervescências. Ou seja, em seu primeiro longa metragem como diretora, Vera conseguiu ser simples e efetiva no que desejava mostrar, mas ainda está longe dos bons roteiros que já fez e dos demais filmes que trabalhou.

Sobre as atuações, é factível falarmos que todos são iniciantes no cinema, e mesmo que tenham atuado em peças, cantado em shows e tudo mais, o estilo frente às câmeras precisam ser menos exagerados e mais do que isso, precisam passar um carisma expressivo maior nos seus próximos trabalhos, pois não digo que foram ruins no contexto completo, mas em algumas cenas pareciam perdidos quanto ao que fazer sem estar curtindo a festa entre amigos que o longa mais parece ter sido para os protagonistas. Maria Laura Nogueira foi a principal perdida em alguns momentos com sua Julia, pois de certa forma ela é a que mais deu a cara para bater chamando a responsabilidade para si em diversas cenas, e em vários momentos sua expressão não condizia com o momento, parecendo estar confusa (o que claro tem a ver com a personalidade da personagem, mas que deveria ser menos forçada), ou seja, até saiu-se bem, mas longe de ser algo memorável. Thiago Pethit é músico e possui um perfil completamente marcante para com a ideologia de Diego, o que é algo difícil de encontrar, e certamente a diretora acabou escrevendo o personagem para ele, mas acabou usando tantos clichês em sua expressividade e alguns até exagerados demais, que ao mesmo tempo que rimos com suas cenas, acabamos incomodados pelo escândalo completo que acaba fazendo, ou seja, poderia ter sido mais sútil que ainda chamaria a mesma atenção. Do trio principal, Renata Gaspar é a que mais se deu bem na forma expressiva de sua Micaela, pois demonstrou temores, foi coerente na forma de agir e subverteu bem as suas cenas para que não ficassem jogadas ao vento, de tal maneira que sentimos tudo o que a atriz quis passar em cada ato e talvez a virada de protagonismo para cima de sua história seria um fato incrível de acompanhar. Embora tenha atuado pouco, a cantora Ana Cañas foi icônica no papel de Duda, mais pela simbologia de muitas pessoas que não assumem seus romances do que pela forma que deu para a personagens, mas ainda assim se mostrou completamente do alicerce interessante que o tipo pedia.

Sobre o contexto visual é digno que assim como o título do filme mostra todo o estilo urbano que vivem hoje muitos jovens, que entre desilusões amorosas, sem saber muito o rumo que tomar nos empregos e por aí vai, a equipe foi consciente ao trabalhar com espaços mais compactos mas que demonstrassem bem todo o conteúdo urbano e fechado de uma São Paulo que muitos sabem existir, mas desconhecem, e isso trabalhado com bons elementos cênicos simples até de serem vistos, mas que deram charmes especiais para os apartamentos dos protagonistas acabou dando um tom diferenciado e carismático para se envolver nas histórias deles (de certo modo embora o filme não trabalhe na mesma perspectiva acaba lembrando um pouco "Confissões de Adolescente", porém com uma pegada mais forte). A fotografia também foi bem correta ao trabalhar com diversos tons, usando iluminações artificiais bem encaixadas para cada momento, mas sempre segurando a linha tênue para que o longa não fugisse da proposta.

Enfim, é um filme correto, bem feito e que mostra uma perspectiva de futuro para o estilo que a diretora pretende seguir, claro que ainda não é um filme perfeito por ter muitos clichês artísticos que com o tempo ela irá acabar limpando e agradando mais quando usar, mas é algo que vale um tempo assistindo. E assim fica minha recomendação para quem quiser ver, afinal já está nos meios digitais para ser conferido. Fico por aqui hoje, mas volto na quinta com mais estreias, então abraços e até lá pessoal.

2 comentários:

Yupaqui disse...

O filmes superou minhas expectativas. Dialogos interessantes e inteligentes. Um filme bem atual sobre o comportamento dos jovens. Isto prova que não é necessário milhões em recursos para produzir um bom filme.

Fernando Coelho disse...

Bem isso Yupaqui, um filme com diálogos interessantes e inteligentes, mas achei que faltou um conflito mais trabalhado para chocar mais! Mas foi além do que esperava também! Abraços!!

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