O Escaravelho do Diabo

4/18/2016 11:42:00 PM |

Se você estudou nos anos 80/90, certamente leu muitos livros da coleção Vagalume, e nos próximos anos deverá reviver essa época nos cinemas, pois diversas produtoras compraram os direitos de produção dos livros e devem criar esse mundo fantasioso, diferenciando bem o estilo tradicional das comédias novelescas que tanto aparecem nas produções nacionais. Claro que ainda estamos longe de termos algo que valha aplausos seguidos e que mostre que saíremos de uma era não muito boa para o cinema fantasioso no Brasil, mas os primeiros passos já podemos dizer que foram dados. A história de "O Escaravelho do Diabo" até é bem interessante e poderia ser um daqueles suspenses/mistérios que o público ficaria intrigado, curtiria bem a investigação mirim do garoto e se surpreenderia com o fechamento da história, mas ficar jogando o lance dos fantasminhas durante toda a projeção e mostrar em 30s uma referência fraca e não tão envolvente, juntamente com uma punição fajuta acabou deixando mais revolta do que expectativa de sucesso, e não é isso o que esperávamos ver na telona.

O longa nos mostra que a pequena cidade de Vale das Flores é marcada por um crime surpreendente: o jovem Hugo Maltese (Cirillo Luna) é encontrado morto com uma antiga espada encravada no peito. O detalhe é que, antes de morrer, ele recebeu uma estranha caixa com um escaravelho dentro. Logo outra vítima é morta, após receber uma caixa semelhante. O delegado Pimentel (Marcos Caruso) e o garoto Alberto Maltese (Thiago Rossetti) começam a buscar este assassino em série, que escolhe seu alvo com uma característica em particular: são todas pessoas ruivas legítimas.

Não posso apostar com toda certeza, mas diria que 90% do recheio do filme mesmo ficou na edição, primeiro por o filme ficar meio falho no desenvolvimento geral (longe de ser um filme ruim, pois agrada bastante em diversos outros aspectos), e mais ainda por ser o primeiro longa de Carlo Milani, que antes apenas trabalhou com novelas e séries, e certamente filmou mais coisa do que coube no fechamento do corte final. Não posso também dizer que lembro exatamente tudo o que tinha no livro, afinal li a história já faz mais de 20 anos, mas sei que era um livro bem envolvente (ao menos na época como era um jovem garotinho, fiquei bem preso com tudo o que ocorria), e aqui a história pareceu simples demais, não que seja algo de simples dedução, muito pelo contrário, se não jogassem um fim "meio" arbitrário para fechar a história, talvez ficasse um longa complexo e mais envolvente, mas optaram por algo, digamos meio abobado demais para crer e com isso, o filme até se desenrola bem, mas não fecha como deveria, ou seja, a velha história do precisava arrumar um jeito de fechar, mas não estou criativo o suficiente para fazer algo memorável, então vamos mostrar algo simples e tá valendo.

Devido o longa não segurar o mistério como deveria, as atuações acabaram ficando também um pouco abaixo do quão grandioso poderia ficar, mas de certo modo, os adultos conseguiram cativar mais do que os pequeninos da trama, e olha que no livro a visão do protagonista que é a mais trabalhada e certamente agradaria bastante se deixassem aqui toda a singela investigação a cargo do garoto. Agora não posso afirmar se essa ideia precedeu no roteiro mesmo ou se o jovem Thiago Rosseti não empolgou nas gravações com seu Alberto, pois o garoto até tinha um perfil bem interrogativo, mas foi ladeira abaixo com seus trejeitos e ao final já nem parecia o mesmo rapaz que começou o filme dinâmico e pronto para tudo. Marcos Caruso como sempre surpreende, e seu Pimentel até tentou fazer algumas piadas ruins, mas o grande feito de sua doença merecia ter sido melhor trabalhada, mesmo que não saísse do cargo da investigação, pois mostraria um trabalho melhorado e o ator já estava trabalhando bem no papel, além de que a outra atriz apareceu de enfeite e sequer apareceu na cena seguinte, então poderiam ter economizado um cachê. Jonas Bloch caiu bem no papel do padre, mas deveriam ter apresentado melhor sua história para convencer o final, pois o ator é bem dinâmico, mas em nada encaixou com o pestinha da foto mostrada. O papel de jardineiro de Lourenço Mutarelli até chama atenção mais ao final, mas mesmo que nas cenas iniciais não chamasse tanta atenção, poderiam ter colocado mais tensão em sua personalidade, pois soou artificial em diversos momentos. Cirillo Luna morre rapidamente com seu Hugo, e isso é um fato claro, mas o jovem até que saiu bem nas suas cenas, mostrando personalidade e bons olhares. E para fechar tenho de falar de Bruna Cavalieri, que foi bem meiga com sua Raquel, e embora não tenha trabalhado bem seus trejeitos, a jovem garotinha foi clara nos momentos que precisou atuar um pouco mais, vamos ver mais pra frente em algum papel mais contundente como se sairá.

Agora é inegável o bom trabalho que a equipe de arte desenvolveu, desde a ótima escolha de Holambra para representar Vila das Flores, como as cenas do "covil" do vilão, e passando no caminho a boa simbologia da cidade em si como algo bem simplório e interiorano, agradou bastante na concepção completa da trama, e além disso, embora seja praticamente o único detalhe, conseguiram arrumar bons escaravelhos para representar visualmente o elemento chave da trama, ou seja, fizeram bem o dever de casa, mas ainda assim poderiam ter melhorado junto da equipe de efeitos, para que as cenas com muitos escaravelhos não soassem tão falsas. A fotografia usou bem do recurso de sombras e até conseguiu segurar bem o mistério da trama, e claro que com muitos tons escuros, o filme quase sumiu, mas sempre intercalando com muitas flores coloridas, o tom sobrepunha de maneira correta e interessante, e voltando a falar mal dos efeitos especiais, para fazer uma boa cena de fogo, usem fogo mesmo, que os efeitos beiraram o amadorismo total.

Enfim, não é um filme ruim, mas está bem longe de ser algo exemplar de ser mostrado para nossos filhos quando apresentar os livros que líamos na idade deles. Recomendo ver apenas para lembrarmos a boa época da adolescência em que líamos mais livros infanto-juvenis e nos surpreendíamos com as provas de interpretação do texto que nunca caia a parte que havíamos gostado. O jeito agora é esperar o que irão fazer com os demais livros, pois tem muita história boa para ser contada. Fico por aqui hoje encerrando a semana, mas volto na próxima com mais estreias, então abraços e até breve.

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