O Cemitério do Esplendor (Cemetery of Splendour) (Rak ti Khon Kaen)

4/27/2016 01:22:00 AM |

Sem dúvida alguma, "Cemitério do Esplendor" é um longa bem poético e que de certa maneira até chega a fazer com que o público reflita durante suas longas 2 horas de exibição. Mas o envolvimento místico é tão grande e com cenas tão paradas que assim como fala de sonhos e de pessoas dormindo, é provável que se você não se conectar ao filme e ficar envolvido para saber mais aonde ele pode chegar, acabe dormindo junto com os soldados da trama. Mas quem aguentar, poderá se envolver bastante com o simbolismo do sono e de conexões entre vidas passadas, em um país que tem diversas crenças e misticismo para explicar de tudo um pouco.

O longa nos mostra que numa pequena cidade da Tailândia, vinte e sete soldados são vítimas de uma estranha doença do sono. Para tratá-los, uma escola abandonada serve como abrigo. Uma mulher tailandesa de meia-idade, casada com um soldado americano aposentado, trabalha como voluntária no tratamento dos pacientes. Ela cria um interesse especial por Itt, que nunca recebe visitas.

Nessa co-produção entre vários países,  Tailândia, Reino Unido, França, Alemanha, Malásia, Coréia do Sul, México, Estados Unidos e Noruega, o diretor e roteirista Apichatpong Weerasethakul trabalhou com uma ideia até que muito bem elaborada e amarrada para representar a simbologia de vidas passadas, com o sono exagerado de um determinado grupo de soldados, e pra isso, ele usou diversas formas de linguagem representativas que se observadas a fundo vão dizendo muita coisa, e até consegue amarrar bem o público para saber qual o deslanchar final da trama. O maior problema é que o público em geral (me incluo nesse grupo) prefere longas mais dinâmicos e que mesmo trabalhando com simbolismos, vá direto ao ponto, sem precisar de longas cenas quase estáticas de diversos minutos sem que quase nada aconteça, e aqui, o diretor chegou abusado colocando pelo menos que eu me lembre umas cinco cenas longuíssimas, que você acaba cansando, e nas últimas o público atrás de você já começa a viajar interpretando a cena, e conversando sobre ela, e isso acaba estragando um pouco a beleza do filme. E dessa maneira, se fosse um filme que passasse pela minha mão o corte final, certamente reduziria ele de 122 minutos para 92 com as mãos nas costas, e ainda teríamos o mesmo resultado sentimental envolvente.

Embora não estejamos tão acostumados com filmes tailandeses, os atores nos mostram que com simplicidade, eles conseguem fazer expressões simples e que acabam nos envolvendo, de modo que Jenjira Pongpas (que já vimos em "Tio Boonmee"), interpreta tão bem seus momentos, colocando graciosidade nas suas falas e sempre com olhares direcionados acabamos criando um certo vínculo com a protagonista da trama, claro que não é uma daquelas atrizes que vamos lembrar por um conteúdo vasto e dinâmico, mas ela fez bem o que deveria ser feito. Banlop Lomnoi até teve alguns momentos para que seu Itt se destacasse, mas o ator ficava melhor em suas cenas imóveis do que quando procurava se expressar, e assim sendo, não chamou a responsabilidade para nenhum dos seus momentos de diálogo. Em compensação, Jarinpattra Rueangram falou e gesticulou tanto com sua Keng, que de médium e vidente, ela já estava quase sendo promovida a vendedora de produtos e pegando diversas outras funções possíveis na trama, mostrando que para sua estreia no cinema, a jovem tem dinâmica corporal e facial para mostrar mais, e claro que como deram muito texto para ela, ela acabou dando algumas leves derrapadas, mas tem futuro mesmo assim.

Pode até ser uma questão de gosto pessoal, mas longas que usam a arte para mostrar coisas destruídas, usando quase que o conceito de natureza morta para simbolizar em demasia não costumam chamar muito a minha atenção, além de que todo o lance reflexivo e abstrato de ficar imaginando o que a outra pessoa está vendo é algo que infelizmente julgo como falta de orçamento e desejo de querer ser maior do que o que a pessoa tem para mostrar. Claro que isso é algo bem subjetivo, e que muitos vão julgar como algo brilhante, mas poderiam ter simbolizado menos que agradariam do mesmo jeito. Outra coisa simbólica demais é o fato do diretor de arte achar que pode usar todas as cores possíveis e imaginárias mudando os tons na mesma cena com um elemento cênico estranho que parecia um abajur diferente, quiseram usar isso de uma forma visual para chamar atenção, e mais cansaram a vista do que agradaram, de modo que poderiam ter optado por alguns tons apenas que teria o mesmo resultado e agradaria mais.

Enfim, é um filme diferente, porém bem interessante. Claro que se pararmos para pensar em tudo o que o diretor desejava mostrar e que estava em sua cabeça viajaríamos muito no texto e poderíamos ficar discutindo por horas sobre os simbolismos do sonhos, e toda a ligação com vidas passadas (para quem acredita nisso), e como costumo dizer, esse não é o objetivo do meu site. Portanto, recomendo o filme para quem gosta de refletir sobre esses lances, e principalmente, possui muita paciência para cenas alongadas, pois senão a chance de reclamar de tudo é bem alta. Bem é isso pessoal, encerro por aqui esse primeiro dia do Festival Indie do SESC, mas amanhã (ou melhor, hoje) teremos mais dois longas para conferir, então abraços e até breve.

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