Presságios de Um Crime (Solace)

3/01/2016 01:19:00 AM |

Se quando vi "Dois Coelhos" já apostei todas minhas fichas que o diretor iria bem longe, já posso começar a escolher meus números dos sorteios, pois acertei na mosca. Claro que antes de mais nada, o jovem diretor Afonso Poyart chegou aonde chegou por seu próprio suor, e "Presságios de um Crime", seu primeiro longa nos EUA, posso dizer com uma felicidade imensa, que é um filmaço com todas as letras. Claro que possui defeitos, assim como a maioria dos thrillers policiais, aonde falhas costumam servir de base para que críticos esculachem os filmes, mas ao trabalhar acertadamente com o que deu certo em seu longa de estreia (flashes rápidos misturados com cenas em slow) com a premissa de um serial killer que se acha correto com o que está fazendo (quase uma lembrança da minha saga predileta "Jogos Mortais", claro que aqui com uma ideologia um pouco diferenciada, não sendo vingativa como era Jigsaw) ficou tão perfeita, que para esse Coelho que adora esse estilo de filme, certamente vou falar bem quando me pedirem indicação, e digo mais, esse é o modelo de sucesso de um filme policial bem feito. Portanto Parabéns Poyart pela ótima estreia em Hollywood, e que venha com mais projetos do estilo, abaixo vou falar mais de cada detalhe bom do longa.

O filme nos mostra que dois detetives do FBI, Joe Merriwether e Katherine Cowles perseguem um serial killer conhecido por matar suas vítimas com um objeto perfurante na nuca, sem deixar vestígios na cena do crime. Diante da ausência de provas, Joe pede ajuda ao seu amigo pessoal, o Doutor John Clancy, um poderoso vidente que vive isolado desde a morte de sua filha. Aos poucos, este novo investigador ajuda os policiais a entender a mente do assassino, até fazer uma descoberta importante: o homem responsável pelas mortes também é um vidente, ainda mais esperto que John. Pior do que isso, ele está sempre um passo à frente nas investigações.

Você deve ter lido a sinopse e pensado: "nossa, já contaram tudo aqui", mas não, tudo isso já estava no trailer, e o longa é mais trabalhado do que apenas isso. Embora seja um roteiro não muito elaborado, o filme foi extremamente bem dirigido por Afonso Poyart e montado com uma precisão cirúrgica pelo também brasileiro Lucas Gonzaga, parceiro de Poyart em "Dois Coelhos". E a dupla conseguiu trabalhar de uma forma bem determinada tanto para criar o clima de suspense que a trama pedia, quanto para não usar do estilo óbvio sequencial tranquilo que estamos acostumados a ver. Claro que ao trabalhar algumas polêmicas na trama, e não colocar uma linguagem mais difícil fez com que algumas pessoas reclamassem muito do que viram no filme, mas para quem gosta de ver em detalhes cada peça do mistério sendo colocada na sua frente em close maior, é um prato cheio para se degustar, e particularmente, me empolga tanto ver isso que por sorte a sala não estava tão cheia, porque eu ria, chacoalhava as mãos e tudo mais juntamente conforme o longa ia me mostrando mais detalhes, e isso com toda certeza é um acerto perfeito para quem gosta de bons filmes, quando você se conecta com a trama.

Um bom thriller policial, pede um elenco que saiba segurar a trama, e isso o filme não nos negou em momento algum, pois Anthony Hopkins pode estar com 200 anos que ainda vai ser uma pessoa mega-misteriosa, e aqui seu Clancy é daqueles que ao mesmo tempo ajuda a investigação, mas que também ficamos com os dois pés atrás de sua índole, e o ator trabalhou muito bem, colocando suas expressões na medida certa para que o impacto fosse lentamente incorporado no decorrer do filme, ou seja, entregou tudo que sabe fazer bem nas mãos do diretor, e o resultado agrada bastante. Abbie Cornish é uma mulher muito bonita, e que soube trabalhar a petulância da detetive Cowles como ninguém, até ser derrubada em uma sequência textual de Hopkins que se fosse num teatro brasileiro com certeza algum fanfarrão gritaria nóhhh e o público aplaudiria, mas a moça se manteve bem, e principalmente, trabalhou suas expressões em três boas fases, o que agrada bastante de ver num único filme. Collin Farrell entregou para o público o assassino Charles como alguém que podemos até torcer de certa forma, e digo mais, uma série com o personagem agradaria e muito no estilo de outras existentes, pois o ator foi bem nas expressões, e não decepcionou em nada, mesmo com poucas aparições. E para fechar o quarteto principal, claro que não esqueceria de falar de Jeffrey Dean Morgan que incorporou o detetive Joe com um certo ar mais leve do que o comum, pois geralmente o estilo de policiais que fazem esse trabalho são mais estourados e aqui trabalhou de forma tão calma que chega a ser até estranho de ver, mas soube comover bem nos momentos mais dramáticos e agradou também.

O conceito visual foi bem trabalhado por inserir elementos chaves do mistério completo da trama, pois se você observar determinado elemento botado em detalhe em alguma cena, pode crer que em breve ele será apresentado em close para a explicação completa do próximo crime ou de como foi o crime, e com toda certeza a equipe artística sofreu e muito para que não houvesse furos nas cenas, já que muitas das cenas são repetidas várias vezes, e para ocorrer problemas nesse estilo é um pulo. Mas cada cena foi bem trabalhada, com muitos elementos, sempre procurando variar bem as cores para que a assimilação fosse mais fácil, e com o decorrer da história já vamos matando todos os detalhes, o que é algo legal de acontecer, portanto, agradou bastante tanto as locações da trama, quanto a boa cenografia desenvolvida para incorporar cada momento. A fotografia poderia ter trabalhado mais com sombras, e mesmo na cena aonde é citado uma sombra, acabou falhando um pouco e quase não é percebido o detalhe, mas várias cenas noturnas e internas trabalharam bem os tons para envolver o público e dar conexão sempre com a cena seguinte.

Enfim, é um ótimo filme que como disse, até possui alguns defeitos, mas a maior reclamação que posso fazer é ele ser um pouco simples demais, já que daria para trabalhar de forma mais elaborada e ainda agradar o público em geral também, porém tirando esse detalhe, é um daqueles filmes que você fica preso do começo ao fim e nem vê a hora passar. E dessa forma com toda certeza recomendo o filme tanto pela qualidade, quanto por ser mais um brasileiro se dando bem lá fora. Ficarei na torcida por uma boa bilheteria para que o diretor volte com mais longas, afinal dois filmes, dois acertos, não é para qualquer um. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam duas estreias para conferir nessa semana, e a próxima já vem aí com muitas estreias também, então abraços e até breve.

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