As Sufragistas (Suffragette)

2/22/2016 01:30:00 AM |

Ainda hoje muitas mulheres brigam por maiores direitos e melhorias em assuntos relacionados à salários, melhores condições de empregos e tudo mais, porém como muitos sabem, elas já conseguiram melhorar muitas coisas, pois antigamente a situação era bem preta. E uma pequena amostra de como algumas mudanças começaram a acontecer é vista em "As Sufragistas", que baseado em fatos reais, consegue transmitir bem como o movimento funcionava e como as moças eram repreendidas, e até mal-vistas pela sociedade, incluindo familiares que eram contra as ideologias das mulheres que queriam direitos ao voto e mudanças nas leis de trabalho. O filme em si mostra de uma forma didática, e com um foco mais direcionado para a vida de uma mulher que nem era do movimento, e ao entrar perdeu seu bem principal, e ao tentar dramatizar isso, certamente foi o grande erro da equipe que poderia ter enfatizado mais o movimento e menos a vida da moça, porém se não tivesse essa dramaticidade o filme seria outro, então a mistura até funciona para quem curte mais ficção do que quem quisesse saber mais a realidade em si de como conseguiram chegar aonde estamos hoje.

O longa nos mostra que no início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não possuem o direito de voto no Reino Unido. Um grupo militante decide coordenar atos de insubordinação, quebrando vidraças e explodindo caixas de correio, para chamar a atenção dos políticos locais à causa. Maud Watts, sem formação política, descobre o movimento e passa a cooperar com as novas feministas. Ela enfrenta grande pressão da polícia e dos familiares para voltar ao lar e se sujeitar à opressão masculina, mas decide que o combate pela igualdade de direitos merece alguns sacrifícios.

O texto de Abi Morgan é bem trabalhado, e de uma forma simbólica conseguiu captar tanto o sentimentalismo da protagonista quanto a ideologia da causa, mas sem o impacto de uma direção de peso, como costuma ocorrer com seus textos, a trama sofre para comover ou incitar, que certamente eram as sensações que ela desejava ao escrever a trama. E mesmo com um elenco feminino de grande escalão, a diretora "estreante" Sarah Gavron não conseguiu trabalhar como deveria, deixando diversas pontas desamarradas e diversos momentos que poderiam engrenar em segundo plano, e isso é algo que não se faz quando trabalha com cinema de causa, então basicamente o longa até é bastante interessante e vai agradar muita gente, mas falha em princípios básicos que dariam à trama um rumo bem diferente e promissor, o que certamente era o esperado pela roteirista. Ou seja, se temos de culpar alguém aqui, é a diretora e quem fez a edição, pois aparentemente as cenas estão feitas, mas os cortes eliminaram boas possibilidades.

Como disse acima, o elenco é de primeiríssima classe, e todas conseguiram mostrar as personalidades fortes de cada uma, trabalhando suas personagens como elementos marcantes da revolução de maneiras bem interessantes, claro que poderiam ser mais destacadas pela diretora, mas no geral chamaram bem atenção cada uma do seu modo de atuar que tanto conhecemos. Carey Mulligan sempre faz personagens diferenciados, e consegue transformá-los em pessoas que queremos conhecer a fundo, e com sua Maud Watts não foi diferente, pois torcemos para ela ficar com o filho, emocionamos e chocamos nos momentos certos e até ficamos na torcida para que ela vire uma rebelde de mão cheia, porém nesse último detalhe, suas expressões ficaram um pouco aquém do que deveria fazer, não que tenha ficado ruim, mas esperava ver ela com mais determinação, o que pode ter ficado fora é que ela quis ser mais contida, tipo uma novata, mas não agradou tanto quanto deveria. Chega a ser estranho ver Helena Bonham Carter sem um milhão de maquiagem na cara, e diria que sua Edith é uma personagem visceral que mostra a mulher no ponto mais alto de atitudes, sendo farmacêutica, soldado de guerrilha e ainda disposta à trabalhar com expressões calmas em sua maioria, de modo que não lembro tantos filmes dramáticos da atriz, mas ela se daria bem melhor do que em algumas fantasias doidas. Anne-Marie Duff até trabalhou com síntese sua Violet, mas inicialmente até torcemos para a personagem, mas com o andar da carruagem, ela se desvirtua um pouco e mesmo com motivos claros acaba forçando expressões não muito trabalhadas, talvez um deslocamento de tempo resolvesse para mostrar mais dela, mas optaram por apenas falar seu motivo e sair de tela. Brendam Gleeson trabalhou bem como Inspetor Steed, e fez carões duros e interpretações claras e fortes de seus textos, mas sempre com um ar de dúvida na cabeça ficava estranho de ver suas atitudes, poderiam ter trabalhado um pouco mais o passado dele, ou ter colocado ele logo como carrasco de vez. Ben Whishaw é daqueles atores que podem funcionar como galã, mas que quando mal trabalhado fica tão deslocado na trama que não sabemos os rumos que pode levar, de modo que até teve umas três boas cenas de diálogo com a protagonista interpretando seu Sonny, mas acabou ficando quase que um enfeite cênico em outras cenas. Agora a grande decepção do filme foi não terem aproveitado Meryl Streep direito, não sei se pensavam em fazer um segundo filme, ou se cortaram demais suas cenas, mas para uma atriz do porte dela, com grandes perspectivas de interpretação, aparecer muito mal sequer 5 minutos de cena com uma texto só para a líder da revolução é um erro que se eu sou o produtor do longa mandava cortar a cabeça da diretora fácil, de modo que dava para trabalhar e muito com sua Pankhurst, mas deixaram apenas como uma fugitiva sumida que apareceu apenas para empolgar as mulheres.

Sobre o visual da trama, o que posso dizer é que foram bem corretos, trabalharam com locações bem clássicas da época, afinal o começo do século XX foi muito operacional, e aqui quiseram mostrar que a maioria das mulheres viviam de lavar e passar roupas, então trabalharam a lavanderia com classe, e colocaram como revolucionárias em sua maioria mulheres pobres, com casebres sem muitos detalhes e em um ou outro momento partiram para figurinos mais envolventes para os momentos de classe. Claro que se mostrassem os grandes nomes entraríamos em detalhe de mostrar altas damas da sociedade também na briga, mas nesse caso optaram por chegar apenas nas portas das casas delas, e isso é algo pertinente até para não arrumarem grandes brigas. Ou seja, a equipe artística foi bem contida, trabalhando exageradamente dois tons, cinzas e marrons, o que não faz um filme muito bonito de se ver na tela, mas sendo simples ao menos não erraram. E tendo apenas esses dois tons, a equipe de fotografia não pode nem inovar e chamar atenção nenhuma para seu serviço, apenas trabalhando de forma contida, e adequando os melhores filtros para que o longa não ficasse tão escuro.

Enfim, é um filme interessante para mostrar que quando algum grupo está bem determinado no que quer, ele consegue através das atitudes diretas, não fazendo passeatas e falando pelas beiradas, indo diretamente ao ponto que deve e assim conseguir atingir seus objetivos. Além disso mostra que as mulheres foram e sempre serão mais fortes que muitos homens por aí, e esse acerto é um fato claro na trama. Porém os erros da diretora principiante, fizeram com que o filme não decolasse como deveria, e isso é algo ruim de ver, pois certamente é uma causa que merecia um filme mais trabalhado e envolvente, mas ainda assim vale a pena ser visto, e dessa forma até recomendo ele. Para quem for de Ribeirão, o longa segue sendo exibido no Cine Clube Cauim, então é uma boa opção para conferir um longa diferente do tradicional. Bem é isso pessoal, encerro aqui então minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.


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