Orgulho e Preconceito e Zumbis (Pride and Prejudice and Zombies)

2/28/2016 08:39:00 PM |

É estranho quando fazem uma montagem em cima de um clássico, pois o livro de Jane Austen é uma obra de vários anos, diversas vezes adaptada para as telas do cinema e da TV, com diferentes nomes e perspectivas, mas sempre mantendo a essência amorosa numa época conturbada, daí quando outro escritor resolve incorporar nessa situação os seres da moda, zumbis, e ao acharmos que viraria algo improvável de gostarmos, é aí que acabamos nos enganando, pois o livro foi um dos mais vendidos da atualidade, e o filme baseado nele "Orgulho e Preconceito e Zumbis" ficou algo muito interessante de acompanhar e se divertir, de modo que com um pós-crédito dando a intenção de um segundo filme, poderemos com certeza torcer para que façam, pois será sucesso também.

A sinopse do filme nos conta que um surto de zumbis se abateu sobre a Terra nesta releitura do conto clássico de Jane Austen que trata das relações e enlaces amorosos entre amantes de diferentes classes sociais na Inglaterra do século XIX. A resoluta heroína Elizabeth Bennet é mestre em armas e artes marciais; e o belo Mr. Darcy é um feroz assassino de zumbis e símbolo máximo do preconceito inerente às classes superiores. Mas à medida que o surto zumbi se intensifica, os dois devem deixar o orgulho de lado e unir forças no campo de batalha encharcado de sangue, a fim de acabar com o exército morto-vivo de uma vez por todas.

Confesso que não sou o maior aficionado por longas e séries de zumbis, mas com toda certeza é um nicho que possui um público bem cativo e que gosta de sangue espirrando para todo lado, e o acerto do filme é não ficar com mesquinharia frente a isso, pois temos boas cenas de monstros que são facilmente fatiados pelas lindas mulheres armadas do longa. O diretor e roteirista Burr Steers ("17 Outra Vez", "A Morte e Vida de Charlie") conseguiu pegar os bons elementos do livro de Seth Grahame-Smith e transformar numa aventura bem produzida e cheia de gags cômicas que empolgam e divertem na medida certa o espectador. Claro que pra isso ele necessitou usar de artifícios tradicionais do estilo, então não espere ver muita novidade na tela, mas sim um apanhado costumeiro de outros filmes, adaptados para o gênero de zumbis (se é que já podemos classificar como um novo gênero, já que tem saído tantos filmes com a temática), e você deve estar perguntando se isso funciona bem, e por mais estranho que possa parecer a resposta é sim, funciona e bem, pois temos quase que uma sociedade pré-disposta a combater os mortos-vivos e que está preparada para isso, então tudo o que ocorre no formato casual é que acaba parecendo estranho dentro do contexto, mas que trabalhados em sincronia acabaram tendo uma agradável e singela montagem, e de certo modo empolgam todo o andamento.

No quesito interpretativo, ficou algo meio que embaraçoso, pois em determinados momentos, o longa fica parecendo uma paródia com atores caricatos, mas em outros aparentam estar fazendo algo realmente sério e bem feito, então apenas essa dúvida poderia ser melhor dirigida para agradar mais, pois o restante é bem interessante de ver. O estilo de Lily James é algo interessante de ser observado, pois como é uma atriz que varia bastante de gêneros e personagens, ela consegue incorporar bem a essência que cada personagem pede com sua personalidade própria, e aqui sua Elizabeth Bennet é daquelas mulheres fortes que pro cara namorar com ela vai precisar ser um guerreiro de primeira linha, senão vai apanhar em casa, e a atriz trabalhou com olhares, e claro, com muita ação cada momento do filme, chamando a atenção em tudo o que fazia. Embora tenham tentado colocar Sam Riley como um galã arrogante no papel de Darcy, talvez falharam na escolha, pois o jovem ator não é alguém bonito de se ver, mas encarou bem a personalidade imposta e até agrada no estilo que fez com boas interpretações e tudo mais, mas certamente outro ator chamaria mais atenção. Matt Smith foi o responsável pelo personagem mais caricato da trama, e embora seu pastor Parson Collins se encaixe bem no contexto, ficou abusivo a personalidade que ele quis fazer. É engraçado ver o personagem Wickham, interpretado por Jack Huston, pois ideologicamente vamos torcer por ele e quando se dá o ponto de virada, ainda continuamos torcendo pelo estilo que o ator consegue mostrar, mas ele muda completamente sua força na entonação e por bem pouco não vira o protagonista da trama, quem sabe no segundo filme. Os demais atores até fizeram bem seus papeis, mas sem muito destaque acabaram bagunçando mais do que servindo de algo para chamar atenção.

Agora um bom filme de zumbis tem de ser bem trabalhado no visual, e aqui ao juntar com uma trama de época, com toda certeza capricharam bem nos figurinos e na cenografia, colocando uma Inglaterra clássica e florestas/cemitérios recheados de mortos-vivos bem caracterizados com maquiagens carregadas e sem ficar falso demais. Ou seja, um trabalho minucioso para que cada cena ficasse oscilando entre o clássico da trama tão conhecida com o estilo dos monstros, e assim criando seu próprio ambiente. No conceito fotográfico, a trama trabalhou bem com cenas escuras, usando bastante o artifício de luzes falsas da lua, e muito uso de velas para dar o clima pesado da trama, também é visto o exagero no tom cinza para dar contexto e isso agrada com toda certeza.

Enfim, é um filme bem non-sense que ou você vai amar, ou vai odiar tudo o que é mostrado, mas com toda certeza chama a atenção por trabalhar dois estilos se complementando ao mesmo tempo na tela, e por incrível que pareça deu química. Na minha concepção recomendo ele para todos, mas alguns podem estranhar um pouco, principalmente pelo estilo de zumbis que não é algo que todos gostam. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já que agora é sentar na poltrona e aguardar a premiação do Oscar, mas amanhã estou de volta com mais posts das estreias, então abraços e até lá.

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A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl)

2/28/2016 03:00:00 AM |

Alguns filmes conseguem concentrar toda sua beleza artística em suaves movimentos, de modo que certa vez ouvi alguém dizer que o cinema sendo a sétima arte, acabaria tendo vestígios de todas as demais em sua essência, e claramente ao ver "A Garota Dinamarquesa" podemos quase que olhar o diretor pintando um quadro em tempo real, com os atores funcionando como os pincéis e o texto como a tinta escorrendo pela tela, formando o que podemos ver como arte. Para alguns o resultado final da pintura vai agradar e envolver, mas para outros será algo tão sem sentido que passará batido, mas ainda assim continua sendo uma obra artística. Digo isso do filme, pois assim como um belo quadro demora para ser finalizado, o longa em questão é belíssimo também, mas possui um ritmo tão lento, que quem não estiver focado para assistir as belas atuações dos protagonistas, irá acabar cansando e desistindo de ir até o final, e embora isso agrade muitas pessoas que gostam de filmes mais reflexivos e até mesmo introspectivos, a sensação notória para a maioria que prefere filmes dinâmicos é de algo que parece que não terá um final.

O filme nos mostra que o pintor dinamarquês Einar Mogens Wegeneré casado com Gerda e sempre se identificou com o universo feminino, mesmo de forma velada. Mas seu instinto fala mais alto e ele decide fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Einar passa a usar o nome Lili Elbe e entra para história como a primeira pessoa a se submeter a esse tipo de procedimento.

Não posso dizer que Tom Hooper trabalhou de forma correta para com o seu filme, pois ele ficou mais dependente dos atores do que o costume. Claro que isso é uma marca sua, de deixar que os atores dominem a cena, e raramente conseguimos observar sua influência na tela, foi assim em "O Discurso do Rei", e em "Os Miseráveis", porém aqui a história precisava ser mais influenciada pelo diretor, pois embora as personagens Lili Elbe e Gerda Wegener sejam fortes e chamativas, Einar Wegener não possui dinâmica suficiente para manter suas cenas, e isso faz do filme algo que é notável a falta de direção, de mostrar o que fazer para impressionar na cena. Ou seja, temos um roteiro marcante, com uma presença ímpar de atores, mas o filme acaba pecando aonde ele mais funciona na beleza do momento quase parar para analisar a perspectiva do eu interior do protagonista. Quem sabe algum dia leia o livro para saber se o excesso de respiros também é algo marcante ali, mas o filme poderia impactar, causar e chamar toda a atenção que quisesse com a temática, mas optaram por algo leve demais, que cansa para passar e que dificilmente chamaria atenção se não fosse por dois excelentes atores à frente do projeto.

Falar da atuação de Eddie Redmayne é algo que não dá para explicar, pois o ator incorpora tão bem seus personagens, que não conseguimos distinguir quem é ele realmente e quem é Einar/Lili, de modo que se ele não tivesse feito um Einar tão perdido como disse acima devido à falta de direção, certamente sua chance de vitória em todas as premiações que concorreu seriam bem maiores, pois quando virava Lili, era praticamente outra pessoa em cena, com nuances expressivas, determinação na forma de falar, e consciente de cada momento que a câmera estava em seu rosto para que a pose saísse melhor em cada ângulo possível, ou seja, perfeito. Quanto a Alicia Vikander, que ano foi 2015 para a jovem, pois pegou dois excelentes papeis, que além de muitos prêmios certamente lhe abrirão diversas outras portas profissionais, pois finalmente atingiram seu potencial dramático, e sua Gerda mostrou sentimentalismo, boa postura, determinação frente à tudo o que lhe foi imposto, e a cada expressão da jovem embarcávamos junto com ela, ou seja, incrível de ver. Dos demais atores, praticamente todos possuem poucas cenas para se expressar realmente, de modo que acabamos nem conhecendo muito sobre eles, tirando Matthias Schoenaerts que trabalhou bem seu Hans e com compostura perfeita mostrou ser um lorde e tanto.

Quando falamos que um filme é bonito, a principal essência que fica além das boas expressões é a cenografia escolhida. E ao representar Copenhague e Paris dos anos 20, a equipe de arte trabalhou todo o figurino de época, locações bem marcantes, porém mais fechadas para não ocorrer erros temporais e claro que ao sair para a rua, escolheram bem os pontos para que o filme ficasse clássico e bem feito, ou seja, um deslumbre cênico com diversos elementos para ficar reparando, mas principalmente o conceito de figurino de época é o que mais vai chamar a atenção de quem for conferir. A fotografia trabalhou muito bem as sombras, dando um tom levemente acinzentado para trabalhar a dramaticidade, mas abusando de tons pasteis na coloração para que o filme ficasse gostoso visualmente, sem que nada fosse forçado e nem impactasse como poderia.

Enfim, é um filme muito bem feito, que talvez fosse melhor se arrumado leves detalhes que citei acima na direção e na atuação de Eddie como Einar, mas que tranquilamente passam despercebidos de quem gostar de longas mais alongados e sem ritmo. No contexto geral agrada e certamente merece ser recomendado, deixando claro que o filme não possui uma dinâmica convencional, trabalhando sempre numa velocidade abaixo do que o público está acostumado, então relaxe bem, descanse e não vá conferir a trama após um longo dia de trabalho, senão a chance de apagar é alta. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas ainda faltam muitos filmes para conferir, então abraços e até breve com mais posts.

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Como Ser Solteira (How To Be Single)

2/27/2016 07:57:00 PM |

Acho interessante quando a proposta de uma comédia romântica funciona sem ficar necessariamente focada na melação exagerada, pois isso vive se repetindo filme após filme. E no longa "Como Ser Solteira", a ideologia até trabalha com o estilo visto em diversos outros longas, mas consegue deixar no ar a mensagem de que para vivermos uma vida melhor sozinho ou até mesmo acompanhado de alguém, precisamos antes nos conhecer melhor e saber o que realmente queremos. E claro que pra isso, o longa trabalhou bem quatro dinâmicas diferentes, usando como base cada uma das protagonistas que se intercalam mostrando cada vértice, passando desde a que ama ser solteira e vai viver sua vida sempre na gandaia, a que prefere o estilo profissional e tem medo de não ser 100% independente, a que quer a qualquer custo um romance completo para casar usando de tecnologias para isso, e a que não sabe o que quer, e tenta de tudo um pouco. Com isso temos bons estilos de pensamento, e claro, muita diversão pelas situações que acabam ocorrendo.

O filme nos mostra que existe um jeito certo e um jeito errado de ser solteiro, além disso... existe Alice, Robin, Lucy, Meg, Tom e David. A cidade de Nova York está cheia de corações solitários que buscam o par ideal, seja ele uma conexão de amor, uma ficada, ou alguma coisa no meio disso. E em algum lugar entre essas mensagens provocantes e saídas de uma noite só, o que todos esses solitários têm em comum é a necessidade de aprender a ser solteiro em um mundo cheio de constantes evoluções sobre a definição do amor. Badalar na cidade que nunca dorme nunca foi tão divertido.

Alguns diretores parecem ter um talento nato para comédias românticas, e após dois filmes bem feitos, posso dizer que Christian Ditter é um deles, pois embora trabalhe com situações, de certo modo clichês, ele consegue dar uma vida diferenciada para sua obra e agradar mostrando algumas verdades ilusórias que não foquem tanto no conto de fadas que outros filmes tanto procuram mostrar. Claro que para isso ele sempre vai precisar ironizar outros estilos, no caso, os romances bobinhos que estamos acostumados a ver, e desse modo o acerto acaba ocorrendo com bastante fluidez, agradando tanto quem estiver disposto a ser solteiro para sempre, e também quem busca um romance para a vida eterna (se é que existe isso). O roteiro embasado no livro de mesmo nome foi bem desenvolvido para criar as situações, mas o que temos de ficar mais de olho é na forma que a edição acabou montando o longa tanto para ter dinâmica quanto para que cada situação fosse bem vivida, mesmo que para isso todas estivessem quase sempre nos mesmos ambientes, o que é algo que seria difícil de ocorrer numa trama comum.

As atuações foram bem marcadas pelo ar cômico, e mesmo as atrizes que costumam fazer trabalhos mais dramáticos, acabaram saindo bem no estilo e divertindo ao trabalhar bem os seus diálogos. Dakota Johnson é uma atriz que possui potencial, mas sempre faz expressões de coitadinha demais, e mesmo quando recai para o lado mais humorístico, ela sempre faz olhares de cachorro que caiu da mudança, claro que sua personagem Alice é daquelas mulheres que não sabem o que querem da vida e acabam misturando muito romance e amizade, e sempre com os erros a cara tradicional é a que ela mais sabe fazer, e assim sendo a jovem até saiu bem com o papel, mas poderia ter feito algumas cenas de forma mais empolgada para mostrar outras facetas suas. Rebel Wilson não tem jeito, qualquer filme que ela entrar vai ser de modo bem escrachado, pois se fizer algo sério é capaz de nem reconhecerem a moça, e aqui sua Robin é daquelas que se atiram para todo lado por uma boa noitada regada a bebidas e sexo, e com muito humor ela fez isso melhor que qualquer outra atriz que já tenha feito algum papel desse estilo, a surpresa do final com ela foi ótima. Leslie Mann é daquelas atrizes que conseguem sempre chamar atenção para o personagem que faz, e aqui não foi diferente com sua Meg, que se mostrou bem forte, mas acabou derrotada na melhor cena fofa do filme, e daí pra frente todas as situações que vive são bem divertidas, de forma que quase apagou o protagonismo de Dakota. O elenco feminino fecha com Alison Brie que acabou conseguindo com sua Lucy, as duas cenas mais dialogadas e interessantes de acompanhar, a primeira no bar explicando as estatísticas com amendoins, e a segunda ao se mostrar rebelde na frente das crianças, e mesmo sendo a que menos apareceu na trama, agradou bastante chamando atenção sempre. No lado masculino, tivemos quatro bons atores fazendo papeis bem distintos, o que mais esteve em cena, por ser o dono do bar aonde todas as informações se cruzam, Anders Holm mostra com seu Tom, que mesmo o mais sedutor dos homens possui também vontades diferenciadas para um futuro quando se apaixona, só foi completamente desnecessária sua cena inicial, mas do resto fez bem seu papel. Damon Wayans Jr. diferentemente do que seu pai que é um grande humorista, aqui foi colocado para ser um personagem mais introspectivo, e saiu-se muito bem na pele de David, um pai solteiro protetor. Jake Lacy fez o papel que as garotas amam, e a cena final de seu Ken, fez todas as menininhas da sala suspirarem e falarem "esse é pra casar" (ri demais ao ouvir isso), pois o jovem ator trabalhou bem na perspectiva contrária da maioria e abraçou a causa daqueles que mesmo jogados para o canto, ainda vão atrás da amada. E deixei para o fim, Nicholas Braun que até trabalhou bem suas cenas, mas assim como a protagonista fez umas expressões tão sem nexo com seu Josh, que na cena da festa todos sabiam quem era Josh pelo estilo, e certamente todos conhecemos um Josh por aí.

No contexto visual, a trama trabalhou pouco o desenvolvimento das locações, optando mais por simbologias nas personagens e menos nos objetos cênicos, mas claro que foram bem feitas as escolhas de locações para que cada personagem tivesse o seu biótipo bem determinado e chamasse a atenção para o contexto de sua personalidade, o que raramente vemos em comédias, mas ainda assim poderiam ter trabalhado mais alguns detalhes. Claro que como toda comédia, o excesso de cores na fotografia é algo bem comum de ver, então algo que já é visto no trailer, a personagem de Rebel Wilson usa até leds nas roupas e se isso não é exagerar para chamar atenção e divertir, não sei mais o que é uso de cores, mas temos de dizer algo bom, e na maioria das cenas aonde as personagens param para pensar, a equipe usou muito a favor luzes diferenciadas da cidade piscando por fora da janela para dar preenchimento, e isso é algo bem legal de ver.

Com boas escolhas musicais, o filme também tomou forma e agrada nossos ouvidos, pois certamente poderiam apelar para músicas mais fortes, já que é uma trama com um certo apelo sexual, mas foram coerentes nas escolhas e certamente isso levou o longa a ter um ritmo gostoso de acompanhar.

Enfim, é um bom filme que diverte e agrada, passando bem o contexto que escolheu mostrar. Claro que está longe de ser um excelente filme, e pelo cunho apelativo em alguns momentos isso mostra que a preocupação era divertir sem se preocupar muito. Ou seja, uma comédia para passar um tempo livre e rir das situações que vemos diariamente ao nosso redor, e dessa maneira com certeza recomendo o filme para quem gosta desse estilo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda hoje confiro outro lançamento que chegou no interior, então abraços e até breve.


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Boa Noite, Mamãe (Goodnight Mommy) (Ich seh ich seh)

2/27/2016 01:45:00 AM |

Quem me conhece sabe que minha preferência de gêneros é o terror, mas confesso que prefiro aqueles que assustam ou causam algum tipo de terror psicológico mais trabalhado, do que filmes artísticos que tentam trabalhar situações (até que psicológicas, mas que forçam a amizade para com o público). E infelizmente, se tiver alguma câmera no cinema pegando o público, com toda certeza o pessoal irá rir muito das minhas expressões ao assistir "Boa Noite, Mamãe", pois não me conformava com o óbvio logo de cara que é enxergado pelo público, e a trama tentando durante toda a duração nos convencer que não era aquilo, além de falhar demais no conceito de causar qualquer choque no público, no máximo algum asco pelas cenas bizarras, e dessa maneira a cada nova cena, mais inconformado com a trama ficava, para que ao final, fosse mostrado exatamente o que todo mundo já sabia.

O filme nos mostra que uma família vive em uma residência isolada em meio a árvores e plantações de milho. Após dias afastada por conta de cirurgias plásticas, a mãe volta para casa e não é reconhecida pelos filhos gêmeos. As crianças, de nove anos, duvidam que a mulher de rosto coberto seja realmente sua mãe e a partir de então nada será como antes.

Em suma, a ideia do filme não é ser um longa de terror, mas por trabalhar a ideia de aterrorizar alguém e causar suspense em determinados momentos, é claro que a distribuidora não iria perder a chance de vender o filme como terror. Há portanto duas formas em que o filme pode ser analisado, como um drama trágico, o qual fica claro logo de cara, mas que só é revelado realmente para quem não pegou a ideia no final, e certamente foi vendido para o Oscar dessa forma, e até agradaria vê-lo assim, mas como está sendo vendido como um thriller misterioso (inclusive na página do IMDB dele), irei analisá-lo como fui ao cinema ver, e se em algum momento os diretores e roteiristas Severin Fiala e Veronika Franz pensaram que por mostrar algumas cenas de tortura, alguns sonhos estranhos com bichos estranhos, e garotinhos com feições psicologicamente desestabilizadas causam medo em alguém, realmente eles que estão com problemas, pois a trama em si teria tudo para causar espanto se não fosse simples demais, mas tudo acontece de forma tão fácil que não causa espanto em nada, pelo contrário só causa asco e desconforto. Mas certamente haverá aqueles que vão se apaixonar pela história como aconteceu com "Corrente do Mal", então tem gosto para tudo.

Sobre as atuações, podemos dizer que Lukas Schwarz e Elias Schwarz trabalharam muito bem, deixando suas pontas bem desatadas para tentar não ficar tão evidente o "mistério" que o filme vende, e claro que assim como ouvi outro espectador falar na sala, realmente treinaram muito o garoto para virar um psicopata desse estilo, pois as cenas de tortura são bem interessantes de ver. Susanne Wuest também trabalhou bem, fazendo diversos estilos de expressão, e na maioria deles de forma correta demonstrou desespero e desgaste frente as conversas com os garotos, mas também errou muito nos momentos de nervosismo pois soou bem falsa. Dos demais "atores" prefiro nem falar, pois o sacristão beira o amadorismo completo, e o pessoal da cruz-vermelha adentrando a casa e andando como se pudesse passear é algo que nem em sonho alguém faria.

No conceito visual, a escolha da locação foi algo bem interessante, pois deu o contexto de longas de terror (casas abandonadas no meio de plantações, paisagens misteriosas, e tudo mais), e esse acerto da equipe artística foi complementado pelos bons elementos cênicos voltados também para o estilo (animais estranhos, túmulos com caveiras), ou seja, teria tudo para ficar um longa bem interessante do gênero, mas infelizmente a história não ajudou muito. A fotografia também trabalhou bastante o gênero, usando bem pouca iluminação, com diversas cenas completamente escuras, ou apenas iluminadas por lanternas e abajures, e isso dá um certo clima sombrio para a trama, ou seja, tecnicamente, o filme estava perfeitamente ambientado para a situação.

Enfim, volto a frisar, que há duas formas de ver o longa, então quem quiser assistir ele como um drama poderá até gostar do que verá (não fui com esse clima e nem pretendo rever o filme, para ver se gosto assistindo assim), mas quem for ver esperando se assustar, ou ao menos ficar intrigado com o estilo, certamente sairá da sessão bem desapontado com tudo. Portanto, já vi a opinião de um amigo que assistiu vendo como drama minimalista e gostou, sendo recomendado assistir assim, mas quem não gostar do estilo e estiver querendo ver um terror bem feito, fuja que não será esse filme que vai lhe agradar. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho muitos longas para conferir, então abraços e até breve.

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Deuses do Egito em 3D (Gods of Egypt)

2/26/2016 11:55:00 PM |

O que esperar de um filme de ação? Que empolgue o público ao menos com bons efeitos, e tenha uma história coerente com o que deseja passar. Porém, "Deuses do Egito" é algo tão bagunçado e cheio de efeitos bizarros, que sequer conseguimos pensar ma possibilidade de existir algum filme ali, o desastre de coisas absurdas é tão grande, que a cada momento pensamos que nada mais pode piorar, e piora! Ou seja, um filme ruim que não vale nem chegar perto para empolgar com algum efeito 3D, pois nem isso conseguiram.

O longa nos mostra que Bek é um mortal pacato que se considera apenas mais um soldado, e que vive em um Egito ancestral dominado por deuses e forças ocultas. Quando o impiedoso Set, deus da escuridão, toma o trono da nação e mergulha a sociedade no caos, o jovem se unirá ao poderoso deus Horus, para formar uma expressiva resistência.

Chega a ser engraçado algumas perspectivas que alguns diretores tentam alcançar com seus blockbusters, pois trabalham efeitos, estilos, simbologias e até mesmo procuram colocar alguma história para tentar empolgar o público, de modo que eles acreditem ao menos no que é mostrado na tela. Porém Alex Proyas falhou feio em "Eu, Robô", não foi eficaz em "Presságio", e aqui conseguiu cometer ambos os erros e ainda gastar um orçamento fora de qualquer padrão, ou seja, acabou se perdendo demais na grandiosidade e colocou símbolos exagerados, que mesmo trabalhando algo bacana que é a mitologia egípcia, ele acabou bagunçando tanto a vida dos deuses que não conseguimos acreditar em nada do que nos é mostrado. Não digo que a culpa seja inteira sua, afinal o roteiro é de uma dupla que também costuma abusar de coisas malucas, Matt Sazama e Burk Sharpless, que já haviam deixado "Drácula - A História Não Contada" algo fora dos padrões de qualquer conto já visto, e aqui beberam em demasia para imaginar as loucuras dos deuses em briga para conquistar o poder do Egito. Claro que se você não ligar para toda a maluquice do filme, e gostar de muitas explosões sem que qualquer história seja contada, talvez até saia empolgado com alguns momentos bacanas do final, mas do contrário sairá da sala pensando: "o que foi mesmo que assisti?". Ou seja, é quase um jogo de videogame daqueles que você compra empolgado pelo trailer, mas que ao jogar 10 minutos, já quer devolver por saber que vai zerar ele sem nada para empolgar a jogar outra vez

Sobre as atuações, ao menos pensaram nos portes dos atores, pois arrumaram atores bem grandes para fazer os deuses, e eles ao menos se esforçaram para fazer expressões rudes dentro de suas personalidades. Nicolaj Coster-Waldau até incorporou bem o estilo de um Horus, deus do ar, de modo que com a prepotência de um filho de rei que herda apenas a coroa sem muito impacto e trabalho, não colocou garra em nada, e acaba sendo apenas alguém que luta bastante nas cenas, mas não chama a atenção, ou seja, um brucutu sem muita clareza para as cenas, que não agrada em nada além do que foi proposto para fazer. Gerard Butler está acostumado com papéis desse estilo, e seu Set até chama atenção pela arrogância que deu às suas expressões, então talvez se o roteiro fosse mais elaborado, seu personagem agradaria mais e acabaríamos envolvidos mais com a trama e com seu personagem, mas confesso que torci por ele, já que os "mocinhos" do filme foram fracos demais. Brenton Thwaites até consegue nos cativar com a insistência de seu Bek, mas faltou um pouco de dinâmica no seu texto para que chamasse o destaque para sua história e de sua namorada, de modo que eles apenas ficaram simples demais. É falando nas mulheres da trama, tanto Courtney Eaton quanto Elodie Yung, com suas Zaya e Hathor, mesmo sendo bem bonitas e interessantes visualmente, acabaram sendo apenas jogadas na tela, sem que explicassem em nada, ou seja, quase enfeites de cena. Chadwick Boseman conseguiu algo bizarro, transformar o deus da sabedoria em homossexual, e isso é algo que nem o mais maluco dos roteiristas conseguiria pensar em fazer. Ao menos podemos ficar felizes com o deus sol Ra, sendo bem interpretado por Geoffrey Rush que não decepcionou em momento algum e chamou a responsabilidade para si, nas suas cenas.

Sobre a cenografia até podemos dizer que o orçamento foi bem usado, afinal o Egito antigo e mitológico é algo bem difícil de ser feito com a quantidade de elementos alegóricos, e a equipe de arte não falhou tanto nesse quesito, mas são tantos efeitos visuais que o excesso de computação gráfica acaba incomodando demais, e isso não é algo que gostamos tanto de ver na tela do cinema. Então a reclamação maior fica pelo exagero de coisas absurdas colocadas, mas de certo modo, algumas locações fictícias chamam bastante atenção e até agradam. A fotografia usou bastante do tom amarelado para dar o ar desértico na trama, e isso agrada, mas cansa e poderiam ter misturado mais, ousando em outros momentos. Sobre o 3D, até temos alguns bons momentos de profundidade e coisas saindo da tela, mas de modo geral acaba soando fraco perto do que poderiam fazer.

Enfim, é um filme bem fraco que não empolga em momento algum, e desse modo não recomendo ele para ninguém. Ou seja, só vá ver se você realmente quiser gastar dinheiro e não se importa com uma história sem pé nem cabeça. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas hoje ainda confiei outro longa nessa semana bem cheia de estreias por aqui, então abraços e até breve.

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O Quarto de Jack (Room)

2/26/2016 01:06:00 AM |

É interessante quando um filme trabalha o sentimento de conhecer seu ambiente pelos olhos de uma criança, pois quando somos pequenos (e até mesmo ao longo da vida quando vamos conhecendo algo desconhecido), vamos nos habituando ao local, passamos a vivenciar a rotina e principalmente somos avessos ao desconhecido, mesmo que ele seja deslumbrante. E claro que isso pode ser visto de uma maneira maravilhosa, mas também pode ser inserido num meio duro e forte no caso de uma pessoa reclusa de sua liberdade de fazer o que quer, e com o filme "O Quarto de Jack" isso é posto de uma maneira tão aberta logo de cara, que ao ser trabalhado o questionamento, mesmo sabendo o peso da dramaticidade, ficamos perplexos para refletir a ideologia completa dentro da cabeça da protagonista. Então, ao mesmo tempo que o longa trabalha a ingenuidade da criança, o mito da caverna tão discutido nas aulas de sociologia, e o drama da reclusão da realidade por meios traumáticos, o filme também consegue incorporar doçura, sentimentalismo familiar e claro encorajamento para dificuldades, ou seja, um filme completo, se não fosse simples demais nos momentos que poderia travar discussões fortes, pois a trama tem pontadas fortes no seu primeiro momento de virada que deveriam ter sido mais abordadas, mas preferiram segurar o vértice em outro lado, o que também não é errado.

O longa conta a extraordinária história de Jack, um espirituoso menino de 5 anos que é cuidado por sua amada e devota Ma. Como toda boa mãe, Ma se dedica em manter Jack feliz e seguro, cuidando dele com bondade e amor, e fazendo coisas típicas como brincar e contar histórias. Sua vida, entretanto, é tudo menos normal – eles estão presos – confinados em um espaço de 10 m² sem janelas, o qual Ma chamou eufemisticamente de o Quarto. Ma criou todo um universo para Jack dentro do Quarto, e ela não parará por nada para garantir que, mesmo neste ambiente traiçoeiro, Jack seja capaz de viver uma vida completa e satisfatória. Mas, enquanto a curiosidade de Jack sobre a situação em que vivem cresce, e a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura, eles ensaiam um arriscado plano de escape, o que os leva a ficar face-a-face com o que pode ter se tornado a coisa mais assustadora: o mundo real.

Se temos de ser justos, o filme em que mais podemos ver o trabalho de direção de elenco dos candidatos ao Oscar é esse, pois embora seja um filme simples no contexto geral, o trabalho do diretor Lenny Abrahamson é totalmente visto nos semblantes dos protagonistas, e ao mesmo tempo a construção/desconstrução dos personagens é algo que tem exatamente perspectivas claras frente ao que o roteiro quis passar. Claro que por ser um filme roteirizado pela própria escritora do livro, Emma Donoghue, a simbologia presente nas cenas podem ser vistas exatamente como acontece em um livro, aonde temos as falas sendo ditas e os elementos sendo mostrados, então se o garotinho falar "bom dia abajur, bom dia planta, bom dia pia" não espere ver nada mais do que um abajur, uma planta e uma pia, e isso não é algo ruim, pois conseguimos nos afeiçoar mais a cada elemento cênico, e embarcar na mesma onda que os personagens, coisas que acabam não acontecendo quando um livro não é bem adaptado. O filme em si, possui alguns defeitos de coesão e verossimilhança para com o momento, principalmente na cena da fuga, mas são detalhes tão pequenos, que quem acabar se comovendo com as situações vai acabar relevando e nem apontará o dedo para os erros. Outro ponto que temos muito o que observar é que embora o diretor pudesse colocar uma câmera mais dura e pontual, ele optou por uma leveza excessiva nos movimentos, e o filme pedia algo que o público ficasse engasgado com a situação, e isso não ocorre em momento algum.

Sobre a atuação, não sei se chegaram a tentar inscrever o jovem Jacob Tremblay, mas certamente o garotinho merece e vai ganhar vários prêmios (tanto que já levou 13 prêmios para a casa) pela maravilhosa interpretação que deu para seu Jack, pois basicamente o filme é dele, as narrações são dele, e o foco embora se desloque para a mãe em diversos momentos, é nele que a ideologia é atingida, ou seja, a equipe teve paciência para trabalhar no momento mais propício do garoto (que na realidade possui 9 anos), e com isso acertou em cheio as nuances que precisava, e  se seguir bem na carreira, quem sabe em breve já podemos apontar um futuro bem promissor. Brie Larson, mesmo já tendo feito diversos filmes em sua carreira, podemos dizer que até antes do seu estouro com esse filme era uma mera desconhecida de Hollywood, e ao incorporar bem a quebra da estrutura emocional nos seus diversos momentos de foco, a jovem não só comove, como dá a aflição correta que qualquer pessoa espera encontrar ao passar pela mesma situação de sua Ma/Joy, e dessa maneira, por trabalhar tão bem, tem colhido todos os louros possíveis com premiação em cima de premiação, e certamente é a aposta mais fácil do Oscar de Melhor Atriz, só vamos esperar que siga bem pelo rumo dramático, e em breve continue chamando atenção. Sean Bridgers aparece pouco como Velho Nick, mas mesmo que não fizesse nada, acabaria sendo odiado por todas as mulheres do planeta (e claro que vários homens também), pela situação em si, e ele não decepciona nos seus momentos expressivos, fazendo o trivial, mas sendo correto com o personagem. Agora o trio mais velho da trama é daqueles que certamente conseguiriam dominar a história totalmente para si caso fosse preciso, Joan Allen trabalha sempre com clareza no que faz, e nas duas cenas (na que precisou erguer seu tom de voz para a filha, e no momento do desejo de força do garotinho) ela simplesmente arrasou com sua Nancy, William H. Macy apareceu em uma única cena com seu Robert, mas trabalhou com a frieza clara do homem abalado da quebra familiar por algo, e claro da repulsa por estar presente com algo que não é o que deseja para a filha, e isso se fosse mais trabalhado no filme daria um show de drama, e para fechar não podia ter um ator simples, mas que encaixou nos momentos certos a expressão exata como foi Tom McCamus com seu Leo.

Como disse ao falar do roteiro, o longa é muito trabalhado na simbologia de cada elemento cênico presente, principalmente nas cenas dentro do quarto fechado, aonde um ambiente de 10m² acabou envolvendo mais do que uma casa de 100m², e esse trabalho da direção de arte, certamente mereceria ser mais valorizado, pois trabalhou detalhes simbólicos e cada nuance pode ser sentida pelo que víamos na tela, e claro que ao sair do quarto, tudo teve de ser trabalhado em proporções extremamente maiores, afinal a visão master era de uma criança que nunca saiu de onde nasceu. Com tons de aspectos mais sujos para as cenas do quarto, a inquietude até foi bem trabalhada e tivemos um pouco de angústia para ser vista, como disse talvez um pouco mais de movimentação aflitiva na câmera desse uma perspectiva melhorada, mas ainda assim foi um bom trabalho de iluminação, e claro que ao sair, o branco dominou cada aspecto para ressaltar a liberdade e o conhecimento do novo, o que nem precisaria ser dito, mas volto a frisar, símbolos falam mais do que muito texto.

Enfim, é um excelente filme, que se quisessem seria algo desolador e incrível, mas sem erro também, acertaram em tornar um longa mais leve, e que claro, tem chamado muito atenção do público que confere. Talvez para algumas pessoas, o longa acabe envolvendo mais, mas certamente, a fofura do garoto vai comover quem estiver disposto a se emocionar com ele. Ou seja, recomendo com toda certeza a trama, não é um dos filmes mais fortes na competição, mas ainda assim é algo muito bem feito. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o começo dessa semana que promete muitos posts, afinal finalmente surgiram diversos longas para conferir no interior, então abraços e até bem breve.


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As Sufragistas (Suffragette)

2/22/2016 01:30:00 AM |

Ainda hoje muitas mulheres brigam por maiores direitos e melhorias em assuntos relacionados à salários, melhores condições de empregos e tudo mais, porém como muitos sabem, elas já conseguiram melhorar muitas coisas, pois antigamente a situação era bem preta. E uma pequena amostra de como algumas mudanças começaram a acontecer é vista em "As Sufragistas", que baseado em fatos reais, consegue transmitir bem como o movimento funcionava e como as moças eram repreendidas, e até mal-vistas pela sociedade, incluindo familiares que eram contra as ideologias das mulheres que queriam direitos ao voto e mudanças nas leis de trabalho. O filme em si mostra de uma forma didática, e com um foco mais direcionado para a vida de uma mulher que nem era do movimento, e ao entrar perdeu seu bem principal, e ao tentar dramatizar isso, certamente foi o grande erro da equipe que poderia ter enfatizado mais o movimento e menos a vida da moça, porém se não tivesse essa dramaticidade o filme seria outro, então a mistura até funciona para quem curte mais ficção do que quem quisesse saber mais a realidade em si de como conseguiram chegar aonde estamos hoje.

O longa nos mostra que no início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não possuem o direito de voto no Reino Unido. Um grupo militante decide coordenar atos de insubordinação, quebrando vidraças e explodindo caixas de correio, para chamar a atenção dos políticos locais à causa. Maud Watts, sem formação política, descobre o movimento e passa a cooperar com as novas feministas. Ela enfrenta grande pressão da polícia e dos familiares para voltar ao lar e se sujeitar à opressão masculina, mas decide que o combate pela igualdade de direitos merece alguns sacrifícios.

O texto de Abi Morgan é bem trabalhado, e de uma forma simbólica conseguiu captar tanto o sentimentalismo da protagonista quanto a ideologia da causa, mas sem o impacto de uma direção de peso, como costuma ocorrer com seus textos, a trama sofre para comover ou incitar, que certamente eram as sensações que ela desejava ao escrever a trama. E mesmo com um elenco feminino de grande escalão, a diretora "estreante" Sarah Gavron não conseguiu trabalhar como deveria, deixando diversas pontas desamarradas e diversos momentos que poderiam engrenar em segundo plano, e isso é algo que não se faz quando trabalha com cinema de causa, então basicamente o longa até é bastante interessante e vai agradar muita gente, mas falha em princípios básicos que dariam à trama um rumo bem diferente e promissor, o que certamente era o esperado pela roteirista. Ou seja, se temos de culpar alguém aqui, é a diretora e quem fez a edição, pois aparentemente as cenas estão feitas, mas os cortes eliminaram boas possibilidades.

Como disse acima, o elenco é de primeiríssima classe, e todas conseguiram mostrar as personalidades fortes de cada uma, trabalhando suas personagens como elementos marcantes da revolução de maneiras bem interessantes, claro que poderiam ser mais destacadas pela diretora, mas no geral chamaram bem atenção cada uma do seu modo de atuar que tanto conhecemos. Carey Mulligan sempre faz personagens diferenciados, e consegue transformá-los em pessoas que queremos conhecer a fundo, e com sua Maud Watts não foi diferente, pois torcemos para ela ficar com o filho, emocionamos e chocamos nos momentos certos e até ficamos na torcida para que ela vire uma rebelde de mão cheia, porém nesse último detalhe, suas expressões ficaram um pouco aquém do que deveria fazer, não que tenha ficado ruim, mas esperava ver ela com mais determinação, o que pode ter ficado fora é que ela quis ser mais contida, tipo uma novata, mas não agradou tanto quanto deveria. Chega a ser estranho ver Helena Bonham Carter sem um milhão de maquiagem na cara, e diria que sua Edith é uma personagem visceral que mostra a mulher no ponto mais alto de atitudes, sendo farmacêutica, soldado de guerrilha e ainda disposta à trabalhar com expressões calmas em sua maioria, de modo que não lembro tantos filmes dramáticos da atriz, mas ela se daria bem melhor do que em algumas fantasias doidas. Anne-Marie Duff até trabalhou com síntese sua Violet, mas inicialmente até torcemos para a personagem, mas com o andar da carruagem, ela se desvirtua um pouco e mesmo com motivos claros acaba forçando expressões não muito trabalhadas, talvez um deslocamento de tempo resolvesse para mostrar mais dela, mas optaram por apenas falar seu motivo e sair de tela. Brendam Gleeson trabalhou bem como Inspetor Steed, e fez carões duros e interpretações claras e fortes de seus textos, mas sempre com um ar de dúvida na cabeça ficava estranho de ver suas atitudes, poderiam ter trabalhado um pouco mais o passado dele, ou ter colocado ele logo como carrasco de vez. Ben Whishaw é daqueles atores que podem funcionar como galã, mas que quando mal trabalhado fica tão deslocado na trama que não sabemos os rumos que pode levar, de modo que até teve umas três boas cenas de diálogo com a protagonista interpretando seu Sonny, mas acabou ficando quase que um enfeite cênico em outras cenas. Agora a grande decepção do filme foi não terem aproveitado Meryl Streep direito, não sei se pensavam em fazer um segundo filme, ou se cortaram demais suas cenas, mas para uma atriz do porte dela, com grandes perspectivas de interpretação, aparecer muito mal sequer 5 minutos de cena com uma texto só para a líder da revolução é um erro que se eu sou o produtor do longa mandava cortar a cabeça da diretora fácil, de modo que dava para trabalhar e muito com sua Pankhurst, mas deixaram apenas como uma fugitiva sumida que apareceu apenas para empolgar as mulheres.

Sobre o visual da trama, o que posso dizer é que foram bem corretos, trabalharam com locações bem clássicas da época, afinal o começo do século XX foi muito operacional, e aqui quiseram mostrar que a maioria das mulheres viviam de lavar e passar roupas, então trabalharam a lavanderia com classe, e colocaram como revolucionárias em sua maioria mulheres pobres, com casebres sem muitos detalhes e em um ou outro momento partiram para figurinos mais envolventes para os momentos de classe. Claro que se mostrassem os grandes nomes entraríamos em detalhe de mostrar altas damas da sociedade também na briga, mas nesse caso optaram por chegar apenas nas portas das casas delas, e isso é algo pertinente até para não arrumarem grandes brigas. Ou seja, a equipe artística foi bem contida, trabalhando exageradamente dois tons, cinzas e marrons, o que não faz um filme muito bonito de se ver na tela, mas sendo simples ao menos não erraram. E tendo apenas esses dois tons, a equipe de fotografia não pode nem inovar e chamar atenção nenhuma para seu serviço, apenas trabalhando de forma contida, e adequando os melhores filtros para que o longa não ficasse tão escuro.

Enfim, é um filme interessante para mostrar que quando algum grupo está bem determinado no que quer, ele consegue através das atitudes diretas, não fazendo passeatas e falando pelas beiradas, indo diretamente ao ponto que deve e assim conseguir atingir seus objetivos. Além disso mostra que as mulheres foram e sempre serão mais fortes que muitos homens por aí, e esse acerto é um fato claro na trama. Porém os erros da diretora principiante, fizeram com que o filme não decolasse como deveria, e isso é algo ruim de ver, pois certamente é uma causa que merecia um filme mais trabalhado e envolvente, mas ainda assim vale a pena ser visto, e dessa forma até recomendo ele. Para quem for de Ribeirão, o longa segue sendo exibido no Cine Clube Cauim, então é uma boa opção para conferir um longa diferente do tradicional. Bem é isso pessoal, encerro aqui então minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.


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Boneco do Mal (The Boy)

2/20/2016 07:18:00 PM |

Acho bastante interessante que um filme nos surpreenda com um fechamento diferenciado, mas quebrar completamente com toda a ideologia passada durante a maior parte do longa é algo que nos faz pensar se o roteirista esqueceu de deixar pistas para que o público crie uma realidade mais próxima do final, ou se quiseram realmente ir contra as ideias imaginando que o público esperaria por isso. Digo isso, pois "Boneco do Mal" é um filme até que bem feito, mas com uma premissa de assustar pouco e criar uma história maior (quem sabe para futuras continuações) e isso num filme de terror só funciona se o personagem principal for forte, o que não é o caso de Brahms. Não posso afirmar ser algo ruim, mas faltou aquele algo a mais para impressionar, embora se juntar todos as fichas da história com o fechamento, até podemos dizer que tudo se ligaria, afinal com os ricos tudo é possível. Ou seja, quem gosta de longas mais mornos, aonde não precisam ficar tão apreensivos com o que vai acontecer, podem ver tranquilamente, agora quem esperar algo mais forte, passe longe, pois a chance de reclamar é alta.

O longa nos mostra que Greta é uma jovem americana que aceita um trabalho como babá em uma pequena vila inglesa. Porém, o garoto de 8 anos de quem ela tem que cuidar é, na verdade, um boneco de quem o casal cuida como se fosse um menino de verdade, como uma forma de lidarem com a morte do filho, ocorrida 20 anos antes. Após violar uma lista de regras do garoto, uma série de eventos inexplicáveis transformam a vida dela em um pesadelo.

A ideia que o roteirista estreante Stacey Menear teve até pode ser considerada original por trabalhar com poucos clichês, e principalmente pela reviravolta colocada como algo mais impactante, porém sua ideologia era de algo mais forte, o que acabou não sendo criada como deveria, pois o diretor William Brent Bell ("A Filha do Mal") até usou de simbologias para criar uma tensão em determinadas cenas, mas se assistirmos à pegadinha que o Silvio Santos fez do filme, iremos ver algo até bem mais assustador do que o que acabamos vendo no filme em si. Claro que há momentos mais trabalhados, principalmente pela cenografia pesada em si, mas diria que se o que ocorre no final, acontecesse lá pela metade, teríamos um filme BEM mais tenso e impactante de acompanhar. Detalhe, aqui não dei spoiler algum, mas quem assistir à pegadinha verá um spoiler imenso do longa.

Sobre a atuação de Lauren Cohan, podemos dizer que sua Greta é uma personagem bacana, com um passado traumático e que até mostra boas expressividades frente aos momentos de maior tensão, pensando estar louca, e até sonhando com coisas piores, mas convenhamos, mesmo alguém que estivesse precisando mesmo de muito dinheiro não aceitaria um serviço estranho desse, então o esforço da jovem para mostrar isso nos momentos ao telefone acabam ficando forçados demais, e isso é um dos erros maiores do roteiro para com a jovem, porém assim como ocorreu com a jovem do filme "Pânico" que seus sustos acabaram ficados tão marcados e voltou diversas vezes para as continuações, quem sabe aqui não vire uma musa inspiradora para os próximos longas, caso venha a ocorrer. Rupert Evans até chama atenção com seu Malcolm, porém é um personagem estranho pois tem uma linha de galã e é apenas um entregador de mercadinho da vila (que nem vemos a existência), e de certa maneira acaba nos incomodando isso, pois poderia ser um serial killer, ou algo do tipo para ficar menos bobo que alguém que vem pagar a moça do meio no meio do nada e trazer legumes/frutas. Os demais atores e personagens aparecem bem pouco na trama, e nem convém falar muito, mas que é bem estranho as atitudes dos velhos é, e para isso arrumaram dois atores bem enigmáticos para que fizessem boas expressões, e assim foi Jim Norton e Diana Hardcastle.

Sem dúvida alguma, o maior mérito do filme pode ser entregue para o produtor de locações, pois arrumar uma casa como a do filme é algo que poucas vezes vemos nos cinemas, e certamente o estilo que desejavam já estava impregnado no roteiro, e quem conseguiu locar esse belo castelo que alguns chamarão de mansão foi bem premiado. E claro que com uma casa desse porte, se não veio acompanhada de todos os elementos cênicos do casarão, certamente a equipe de arte sofreu um bocado para deixar tudo perfeito para a gravação da trama, afinal embora se passe na atualidade, o ar dentro da casa é de uma época mais clássica e interessante. A fotografia trabalhou bem os tons mais sombrios para envolver, mas não deixou nenhum momento tenso o suficiente para que o público ficasse arrepiado com algo, e isso sem dúvida é uma falha bem grande.

Enfim, não posso dizer que é algo ruim, mas também não é algo bacana de ser, o que acaba sendo mais uma daquelas boas ideias que mal aproveitadas acabarão sendo esquecidas pelo público, e olha que tinha até bastante gente para uma sessão vespertina. Talvez daqui alguns anos, alguém faça uma refilmagem e coloque uma tensão maior, e aí sim o filme acabará caindo no gosto popular, mas por enquanto é apenas mais um tentando chamar atenção sem conseguir. Recomendo só para quem não tiver nenhum outro filme para ver, mesmo assim só agradando mesmo com a reviravolta final, pois quem gosta de longas de terror mesmo acabará só reclamando do que verá na tela. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda falta ver um outro longa que apareceu por aqui após bastante tempo da estreia, então volto em breve com a crítica dele. Por enquanto fiquem com meus abraços e até breve.

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Cinco Graças (Mustang)

2/20/2016 02:04:00 AM |

Existem alguns filmes que levantam tantas polêmicas que aqueles que gostam de polemizar em seus textos acabam viajando tanto que o foco no filme como cinema mesmo acaba desaparecendo, e com "Cinco Graças" poderíamos discutir imensamente toda a questão de mulheres sendo tratadas como objetos em diversos países, questões de culturas, e diversos outros temas possíveis que muitos julgam não existir mais, mas estão coexistindo em muitos lugares por aí nesse momento. Mas como essa não é a onda do Coelho de criar polêmicas e discussões acaloradas por aqui, vou focar somente na estrutura do filme, pois aí é que entra a parte que entendo bem e não vou falar besteiras para vocês, mas quem quiser brigar, fique a vontade lá embaixo nos comentários, só não garanto aprofundar tanto. Dito isso, o que posso dizer tecnicamente da trama do longa é que mesmo sendo um dos filmes indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro (confesso que fui assistir sem saber disso) e ter trabalhado belamente com cinco jovens bem dinâmicas, a trama é tão arrastada que seus 97 minutos parecem ter bem mais do que 3 horas. Claro que a beleza da história por mostrar a jovem Lale tentando de tudo para não seguir a linha tradicional e histórica das mulheres de seu país é algo bacana de ver, mas o restante do filme trabalha tanto a energia negativa em cima desse cunho que ao mesmo tempo que ficamos pasmos com tudo o que é mostrado, ficamos cansados com a falta de ritmo da trama, e assim sendo é um filme diferente que vai agradar bem poucos e deixar a turma feminista mais revoltada ainda com o que vai ver.

O filme nos mostra que no início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.

Confesso que não sou o maior conhecedor de longas turcos, mas gosto muito das tramas entregues pelos franceses, e esse aqui sendo o indicado da França para o Oscar, até consigo enxergar o motivo principal de chegar entre os cinco que irão disputar mesmo o prêmio, e claro que é pela polêmica forte que disse no começo do texto, pois se olharmos o trabalho à fundo do diretor e roteirista Deniz Gamze Ergüven, vamos chegar ao detalhamento de um longa bem simples, com nuances bonitas, interpretações bem colocadas, mas ainda assim sem muita expressão de cinema como arte, procurando trabalhar somente o lado polêmico e simbólico da relação feminina num país com duas frentes dominadas culturalmente por uma religião de muitas interpretações. Claro que temos planos perfeitos, aonde podemos filosofar aos montes sobre tudo o que está sendo mostrado (90% deles aparecem no trailer), mas e o que fazer com o restante? Essa questão sequer passou pela cabeça do diretor, mas como nossos velhinhos da Academia de Artes, e também alguns outros votantes de grandes prêmios gostam de polemizar, a escolha da ideologia do diretor caiu como uma luva, e mesmo sem ter visto os demais candidatos, diria que ficou no topo das votações.

Não diria que é um dos pontos mais fortes do longa, mas a atuação principalmente colocada nas garotas foi de bom tom e acertou em cheio no estilo que a trama desejava. Claro que para isso foram espertos de pegar jovens talentos em testes e que aliado à uma boa direção de elenco, conseguiram trabalhar bem a desenvoltura das jovens. O destaque fica para a menor do grupo, Günes Sensoy que deu a sua Lale um vigor completamente diferente do que era esperado e em diversos momentos só ficamos esperando qual vai ser a nova que vai aprontar para não ter de seguir as regras impostas tanto pela sociedade quanto por sua família (que faz parte da sociedade, claro!), e dessa maneira, a jovem impressiona bastante com expressões marcadas, textos afiadíssimos e uma dinâmica bem fora dos padrões do filme todo. A beleza expressiva de Ilayda Akdogan e Tugba Sunguroglu fazendo Sonay e Selma respectivamente chamam mais atenção do que as expressões que trazem à tona quando vão se casar, claro que a noite de núpcias de Selma é o ponto marcante para um dos diálogos mais interessantes do filme, mas poderiam ter pedido uma cara mais de espanto da jovem do que a cara de paisagem que ela fez. Doga Zeynep Doguslu ficou sempre em segundo plano com sua Nur, e isso é estranho de ver em um filme mais colaborativo, talvez por ser a personagem com menor impacto e não ser nem a caçula, muito menos a mais velha, acabou ficando bem para escanteio até mesmo no texto da trama, claro que no momento impactante de seu casamento ficou bacana seus trejeitos pela janela fazendo tudo o que a menor mandava, mas ainda assim não chamou atenção como as demais. E claro que Elit Iscan entregou uma Ece bem trabalhada, principalmente quando entra em choque para com seu casamento, e claro o estilo que resolve para fechar tudo, mas foi o momento mais clichê da trama, embora choque alguns. Agora dos adultos é difícil citar algum que tenha ficado bem na tela, pois o tio interpretado por Ayberk Pekcan ficou caricato e forçado, embora suas saidinhas noturnas choquem a maioria, ficou algo bem sutil de ser notado, e a\ avó interpretada por Nihal G. Koldas também só consegue envolver nas cenas iniciais aonde seu desespero floresce mais interpretação, pois depois é quase um enfeite cênico. Temos de dar um leve destaque para as cenas mais leves e gostosas do filme que foram protagonizadas por Yasin, bem interpretado por Burak Yigit, pois o jovem ator conseguiu agradar bastante em seus momentos e trabalhando um estilo mais descolado chama a atenção em todas as cenas que aparece.

A direção de arte colocou em suma todo os meios possíveis da avó e do tio acabarem com a liberdade das moças, então o filme se desloca sempre para mostrar uma casa simples que vai tomando ares de prisão, com muitas grades por todos os lados, e no entremeio diversas receitas para que as jovens virem esposas prendadas, e com essas cenas pudemos conhecer mais da cultura do país através principalmente dos elementos cênicos, o que é um fator que embora polêmico, mereça uma boa atenção. Ou seja, de uma maneira simples, mas bem feita nos adereços e figurinos, a trama conseguiu atingir seus objetivos. A fotografia pecou um pouco em ser dura demais, não trabalhando quase com sombras, o filme ficou quase que 100% num único tom pastel, e mesmo com uma cena de abertura belíssima na praia, e depois algumas nas florestas, o tom sempre voltava para o marcante que desejavam para limitar a cena.

Enfim, não diria que é um filme genial, mas também não é um filme que mereça ser jogado de escanteio, talvez ocorra mais discussões sobre a temática do longa do que seu contexto artístico, então isso é uma pena, pois filmes polêmicos até são interessantes para boas discussões desde que tenham um viés artístico também, mas quando servem apenas para causar, acaba se tornando um pouco chato demais (e como acaba sempre ocorrendo nesses filmes, ao sair você já vê um tiozinho dentro da sala mesmo, perguntando o que achou do filme com a cara confusa, o fato é que não é um longa para todos). Ou seja, recomendo o filme para quem goste do estilo de longas mais distópicos, pois quem prefere dramas clássicos, acabará achando tedioso demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda faltam duas estreias que vieram para o interior, então abraços e até breve.

Semi-spoiler: Muito se fala que feministas estarão em peso para ver o filme, mas posso até estar enganado quanto ao final, mas não acredito que tenha sido uma coisa boa o que ocorreu, aonde elas entram.


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Horas Decisivas em 3D (The Finest Hours)

2/19/2016 01:23:00 AM |

É interessante quando algum filme possui uma temática forte baseada na sobrevivência frente à fúria da natureza, e alguns profissionais tentam verter o longa para um rumo diferente. Em "Horas Decisivas", certamente a ideia principal do filme é a sobrevivência dos homens no imenso barco tanque, e dos homens no barquinho que vai tentar salvar os sobreviventes do barcão, mas por algum motivo (talvez o selo Disney) acham que o romance fraco entre um casal que se conheceu de maneira inusitada, se apresentam em duas cenas romantizadas, mas com nada demais para ter uma química monstruosa, é algo mais importante para ser mostrado. E dessa maneira o filme até cria uma tensão bem bacana, mas não envolve como poderia, e nem cria uma dramaticidade impactante para que o público torça pela salvação dos diversos personagens (que até aparentam ter boas histórias, e no livro devem ser contadas, mas aqui foram cortadas), e assim o filme passa de uma forma que até a comoção final acontece, mas com muita pena iremos esquecer dele em breve.

O filme nos mostra que em 1952, uma grande nevasca uma tempestade atinge dois navios petroleiros, lançando 84 tripulantes ao mar. Enquanto a tempestade dificulta a sobrevivência do grupo, uma equipe de guardas costeiros tenta resgatar as vítimas.

Embora o filme não possua grandes nomes na equipe técnica, o filme pode ser considerado uma obra bem interessante no conceito produtivo, pois trabalha bem a cenografia, e claro muitos efeitos digitais, além de muita água aonde foi gravado (é daqueles que certamente ver o making of vai ser interessante, e pra isso irão vender bem as mídias depois) para que o realismo funcionasse. O diretor Craig Gillespie ("A Hora do Espanto", "Arremesso de Ouro") trabalhou bem o contexto geral, mas o grande problema da trama ficou por conta do roteiro adaptado de livro embasado em fatos reais, mas que certamente contém muitas histórias paralelas (para mostrar a vida de cada membro importante, o que ele está fazendo ali, porque faz tais atitudes, o que ocorreu no passado com ele para ser assim) e no filme isso não cabe ser colocado, pois viraria uma fraca série, já que alguns personagens não vão ser importantes e nem são atores famosos contratados para desenvolver isso. Então o resultado não avança nem para um romance aonde alguém deseja incomensuravelmente voltar para os braços da amada, já que tiveram uma ótima noite romântica, e nem se prende tanto ao drama que as pessoas estão jogadas em alto mar no meio de ondas imensas, prestes a morrer nas horas seguintes, e isso acaba dando o mote fraco para a trama, e o diretor apenas seguiu calmamente o que estava escrito nos papeis.

Sobre a atuação, temos também um erro de escolha diria, pois Chris Pine é bem mais acostumado à fazer heróis e mocinhos, mas com uma perspectiva bem menos dramatizada, e claro que sem mostrar à fundo os motivos que deram tanta insegurança para seu Bernie, ele acabou ficando com expressões não tão boas frente às câmeras, claro que trabalhou muito bem, mas confesso que outros atores dariam mais impacto para o personagem e chamaria mais atenção, mas como a velha história de que precisam sempre de um mocinho bonito para chamar público, acabaram escolhendo o bonito errado. Da mesma forma Cassey Affleck até combinou com o seu personagem de alguém sem família e determinado à comandar um navio que ele conhece como ninguém, mas seu Sybert acaba ficando sem dinâmica aparente na história, e valeria demais aprofundar sua história no navio, e tudo o que fez ali com mais tempo, pois ele tiraria de letra e chamaria muito mais atenção, não que tenha feito algo errado, mas seria um filmaço com ele como um protagonista mais forte. Eric Bana literalmente estava perdido em cena como um comandante perdido da guarda costeira, nas duas cenas em que aparece, os demais tomam praticamente as decisões que querem, e ele simplesmente faz algumas caras e bocas, não sei se no livro mostrava o capitão Cluff dessa forma, mas ficou um personagem bem aquém do que estamos acostumados a ver ele interpretando. Holliday Grainger com toda certeza atrapalhou e muito o andamento do filme, não pelas expressões fortes de sua Miriam, mas pela personagem não ter conexão forte alguma com o protagonista, tudo bem que ela pediu ele em casamento, e no final é dito mais coisas importantes sobre a história deles, mas no trecho selecionado para a tela, é algo que não necessitava aparecer de forma alguma, e ficou ruim todas suas cenas para o contexto geral da trama. Os demais possuem poucas cenas importantes, e fica evidente que no livro eles são importantes, pois estão em cena quase que no tempo integral, mas sem falar muito, ou cortaram tudo na edição final, ou apenas quiseram ter as pessoas ali.

O conceito artístico da trama foi muito bem trabalhado para que o navio tivesse muitos elementos cênicos representativos, o quartel da guarda costeira fosse simples, mas bem feito, as casas e bares aonde tivessem alguma cena sempre contando com objetos chamativos para dar close (no livro a foto do marido morto certamente foi algo bem marcante, senão não dariam 3 closes no quadro), ou seja, tudo bem feitinho para manter o tom da época dos anos 50, principalmente com os veículos que aparecem bastante, e claro com os figurinos interessantes puderam ter um charme a mais dentro do contexto geral do filme. Uma coisa que funcionou muito bem, principalmente utilizando a tecnologia 3D foi a neve e a água, pois mesmo o longa não tendo sido filmado com a tecnologia, souberam dosar os momentos impregnando bem os efeitos, e em diversos momentos, essa ideologia acaba ficando sufocante como pensaram na criação do roteiro. E dito isso, a fotografia foi bem trabalhada usando muito alguns tons mais escuros como marrom e preto nas cenas com excesso de branco da neve (que sempre arrasa em qualquer filme rodado na época de muita neve), e mesmo nos momentos quase sem iluminação alguma procuraram utilizar iluminações falsas para não apagar completamente os personagens da tela, e embora soe falso, alguns elementos cênicos foram bem trabalhados para dar a condição favorável no meio de tanta chuva. Ainda sobre o 3D, tiveram alguns momentos em que a perspectiva de câmera funcionou melhor, mas é um filme que poderia abusar mais do âmbito claustrofóbico com a tecnologia, e são poucas cenas em que gastaram um pouco mais na conversão, e duas cenas que trabalharam algo vindo em direção ao público, o que não vai empolgar tanto quem gosta de filmes 3D.

Enfim, é um filme bacana, que certamente vai emocionar o público com o final, mas você vai acabar comovendo com os personagens nessa cena, irá sair da sessão, verá alguma outra coisa, e se perguntarem pra você que filme viu, é capaz de nem lembrar mais nada. De uma certa maneira recomendo ele, mas que vejam sem muita empolgação, pois não é um filmaço como poderia ser, e claro quem não gosta de água, passe longe, pois a fobia é possível. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho mais alguns longas para conferir nesse final de semana, então abraços e até breve.

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13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi (13 Hours - The Secret Soldiers of Benghazi)

2/17/2016 02:24:00 AM |

Um dos gêneros que mais deixam as pessoas perplexas é o tal de guerra, pois a maioria das pessoas nunca participou de uma guerra, e só viram as imagens cedidas por jornais e afins, ou seja, não temos como falar que algo realmente aconteceu daquele jeito, ou a pessoa que escreveu a história floreou tudo para que ficasse do jeito que lhe assombrou os pensamentos por muito tempo. Digo isso, pois "13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi" foi escrito com base no livro bestseller que narra a história real de alguém que esteve no meio de toda a confusão que é mostrada, mas se olharmos as letrinhas minúsculas e também no trailer, temos quatro pequenas palavras que nos fazem quase não acreditar em nada "um filme de Michael Bay", ou seja, vai ter explosão pra tudo quanto é lado, independente se tacaram um morteiro (como aparece na cena do trailer) ou se foi apenas um buscapé desses de festa junina. Porém tenho de me redimir, pois fui conferir o longa esperando algo bem pior, e o que foi mostrado por incrível que pareça, eliminando o excesso patriótico, é um filme bem condizente e interessante de ver, que nos mostra uma certa melhoria do diretor para com suas ideologias. Claro que está longe de ser um filme perfeito, mas agrada bastante pelo conteúdo e visual mostrado, só removeria algumas cenas desnecessárias que foram inseridas para criar mais tensão, e aumentaria a tensão de alguma outra forma que prendesse mesmo nossa atenção.

O longa conta a história de um grupo de seis soldados privados que trabalham num complexo da CIA em Benghazi, na Líbia, em 2012. Em um aniversário dos atentados de 11 de setembro, eles precisaram defender um posto diplomático que recebe a visita de um embaixador americano, e que, obviamente, será um alvo de terroristas.

Sei que muita gente não gosta de qualquer filme proveniente da mente explosiva de Michael Bay, e até usa como referência se for um filme dele passar bem longe, mas uma coisa temos de ser completamente conivente com sua ideologia de não economizar em efeitos especiais, pois pode ser a história mais simples que lhe for entregue, ele vai colocar muita explosão em cena. Isso pode ser considerado algo falho, mas que deixa uma impressão maioral num longa, certamente deixa. Aqui a história do livro certamente foi forte também, mas provavelmente trabalhou mais a dramaticidade da mente dos 6 homens que lutaram contra centenas do que as toneladas de tiros que rolou ali. um fato bacana, ao menos, é que os envolvidos da história trabalharam como consultores do filme, portanto puderam atestar algo mais factível e próximo da verdade, mas um filme sem floreios não vira ficção, e sim documentário, então o que acaba empolgando no estilo maluco de direção, junto com o conteúdo completo da história, é que esse pessoal que faz as teóricas "guerras religiosas" não estão nem ligando se sabem ou não atirar, ou se vão ou não morrer dando apenas dois passos com uma arma na mão, então pegam qualquer coisa que estiver pela frente e vai pra luta, e assim sendo o grande lance da história é vermos isso, que a tocaia completa que acabou virando os dois centros de reclusão dos americanos no país. Outra coisa para observarmos é o quanto os americanos foram "burros e ingênuos" de achar que uma milícia local vestida igualmente os inimigos seria útil no momento de guerra que o país estava vivendo. Ou seja, um filme duro, forte por diversas cenas sangrentas, e que faz diversas críticas para ambos os lados, e isso mesmo que tenha de inserir bandeira para todo lado, "heróis" dispostos a morrer pelo país, e tudo mais que estamos acostumados, o diretor sabe fazer bem quando quer criticar.

Não temos um longa com muitos atores conhecidos, e dessa forma, quem for ao cinema não fique procurando tentar lembrar de algum rosto, pois será algo bem difícil, mas o que posso falar de todos em cena, é que a maioria se esforçou para parecer engajado com o acontecimento, principalmente os soldados, pois o pessoal da CIA mesmo com o mundo caindo na cabeça deles, pareciam estar no meio de um supermercado com a moça falando nas caixas de som que iria fechar apenas. Dito isso, o foco principal é em cima de dois ou três soldados, e John Krasinski, James Badge Dale e Max Martini não decepcionaram com seus Jack, Rone e Oz, respectivamente, dando a cara para bater com muitos tiros vindo em sua direção, correndo, suando e empolgando até mesmo nos momentos em que precisaram falar um pouco mais e mostrar que são bons em diálogos, trabalhando expressões nos momentos de conversas com as famílias (um pouco desnecessário, que daria para diminuir o tempo de filme), e assim sendo agradaram bastante no quesito. No lado mais civil, Alexia Barlier e David Costabile, fazendo Sona e Bob (que por nomes não vão ser reconhecidos, mas na tela é fácil de lembrar, pois só os dois aparecem mesmo no filme) até tentaram fazer algumas expressões de desespero e trabalharam alguns momentos mais impactantes, mas sem muito agradar. Peyman Moaadi foi um ator interessante mais para rirmos nos momentos de tiro, pois o pobre, literalmente, foi jogado aos leões em cena com seu Amahal, e isso fez com que o jovem ficasse desesperado e representasse bem a cena. Do restante, poderiam ter matado todos ali na sala, que ninguém faria diferença.

No conceito visual, embora sejam poucas locações, ambos os "QGs" tanto a base da CIA quanto a "embaixada" ficaram muito bem trabalhadas dentro do contexto do filme, mostrando uma riqueza cênica impressionante, e claro que todo o redor ficou bem próximo do que foi mostrado em diversos jornais na época que retrataram a Líbia como um país pobre e "abandonado". Dessa forma podemos parabenizar a equipe artística por reproduzir bem o ambiente, e principalmente por arrumar muitas armas semelhantes à usadas nas guerras, que certamente foram bem usadas pelo diretor com muitos closes e detalhes para serem vistos. Destaque cênico para as cenas na Zumbilandia, que ao misturar o contexto de pastoreio com o abandono ficou muito bem representado, e os panos voando sempre deram um tom diferenciado, principalmente nas cenas finais. A fotografia usou recursos comuns de filmes de guerra, como tons puxados para o marrom para dar o contexto, várias cenas usando o tom esverdeado para câmeras de visão noturna, e em alguns momentos até abaixaram o tom para algo mais pastel para representar a calmaria, mas em seguida, tudo voltava ao tradicional de cena, que era o contexto mais sujo possível.

Enfim, é um bom filme, e que entrega bem o que promete ser, um longa de guerra com muitos efeitos visuais, que certamente forçam um pouco a barra, mas agradam pela situação de deixar o filme num âmbito maior, ou seja, quem não ligar para explosões cheias de fagulhas para todos os lados, muitos tiros dados à esmo, e claro que algumas amputações fortes sendo mostradas em detalhe, vai sair vibrante com o que verá na tela, mas se você tiver problemas com algo disso,, talvez não seja um longa recomendado para você. No geral recomendo bastante o resultado do filme para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, agradecendo claro a parceria com o pessoal da Difusora FM 91,3Mhz por trazerem essa super pré-estreia para os ouvintes, pois novamente foi show de bola. Então abraços e até breve pessoal.

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Brooklin (Brooklyn)

2/14/2016 01:32:00 AM |

Já vimos inúmeros filmes sobre imigração, sobre a saída da casa dos pais, sobre romances inesperados, e sempre acabamos nos surpreendendo com algo diferenciado que alguns diretores conseguem nos mostrar, e com "Brooklin" não foi diferente, pois inicialmente temos um filme tão simples, que é capaz que muitos que não virem num cinema até desistam de continuar vendo, mas acabamos nos apegando tanto à personagem principal, com seu jeito singelo de ser, e sua beleza não apenas exterior, mas com fortes e respeitosos gestos, que lá pela metade ficamos presos querendo saber se o rumo de suas ideias vão mudar, e o filme que era simples e doce demais acaba dramatizando, porém sem queimar a beleza de um ótimo romance. Ou seja, é um filme bonito, que não diria ser um forte concorrente aos prêmios, mas que não fica fora da lembrança e lições que pode nos ensinar.

O longa nos mostra que a jovem irlandesa Eilis Lacey se muda de sua terra natal e vai morar em Brooklyn para tentar realizar seus sonhos. No ínicio de sua jornada nos Estados Unidos, ela sente falta de sua casa, mas ela vai tentando se ajustar aos poucos até que conhece e se apaixona por Tony, um bombeiro italiano. Logo, ela se encontra dividida entre dois países, entre o amor e o dever.

Sei que muita gente não curte, mas acho bacana quando um diretor tenta mostrar algo de seu país ou de sua cultura. E John Crowley foi totalmente severo ao mostrar a cultura de cidades pequenas, aonde todos são influenciados por todos, todos ficam sabendo da vida alheia e muitos acabam nem saindo daquele mundinho pelo resto da vida, querendo apenas casar com alguém dali, ir ao clube tomar chá, jogar algum jogo, e o choque com a realidade de uma cidade grande pesa, mas faz com que a vida da pessoa mude também. Com essa ideologia, e ainda incorporando todo ar romântico da década de 50, com a imigração nos EUA em um dos pontos máximos de diversas culturas, o diretor conseguiu captar bem a essência de um livro premiadíssimo e criou uma história que agrada pela simplicidade de não querer levantar grandes voos, mas também não deixa uma pontinha de vergonha para ideologias ruins de cidades pequenas. Ou seja, é um filme bonito que pode até não ter nada demais no seu conteúdo, mas que marca na lembrança e aliado à maravilhosas interpretações acaba agradando e emocionando na medida certa.

Como já disse acima, a interpretação que Saoirse Ronan dá para sua Eilis é algo lindo de se ver, e tanto sua beleza, como seu jeito simples de atuar acaba envolvendo aos poucos e agradando bem lentamente, conseguindo uma conexão diferenciada com o público. Emory Cohen é nascido nos EUA, não possui qualquer ancestral italiano, mas transmitiu toda a ginga e carisma italiana para seu personagem Tony que acaba nos conquistando da mesma forma que conquista a protagonista do filme, e claro que como qualquer família italiana, a bagunça é completa e a diversão ocorre em qualquer momento. Será que vou ter de citar Domhnall Gleeson em mais algum texto nesse ano? Estamos em Fevereiro e já vi quatro filmes com ele, e felizmente o ator se sai bem em todos, mas claro que aqui como seu lance acaba sendo somente na segunda parte do filme, seu Jim não possui um impacto tão forte na trama, e ele trabalha mais com a ideia de quebra do roteiro do que mostrar trejeitos expressivos, ainda que agrade por ser sempre um ator que trabalha bem a expressão nos olhares. Tivemos também outras boas interpretações femininas na trama, mas sempre com pontuais momentos, e isso não dá grandes destaques, mas ainda vale a pena falarmos um pouco de cada Julie Walters foi singela com sua Mrs. Keough que sempre tinha bons momentos na mesa de jantar com suas pensionistas, Fiona Glascott deu em seus poucos suspiros como Rose, uma beleza de amizade entre irmãs de muito tempo, e isso marca também, e para finalizar Jane Brennan soube fazer aquela mãe possessiva pelas filhas com olhares fortes e bem carismáticos.

Se existe uma época que os diretores de arte gostam de trabalhar é os anos 50/60, pois são figurinos incríveis de mesclar, locações com muita classe e claro objetos cênicos perfeitos para representar cada ambiente, então aqui não se vê falha alguma, aliás se existe uma categoria boa para o filme estar concorrendo à premiações é a de figurino, pois os tons escolhidos para as roupas da protagonista para que ela se destacasse dentre as demais, foi algo muito belo de ver nos enquadramentos, e sempre trabalhando um contexto maior, as locações sempre envolviam de uma forma única. Como já disse na arte, a fotografia também se compôs de muitas cores neutras nas laterais, dando vida somente aonde o diretor desejava realmente enquadrar, aí colocando tons mais fortes de cores vivas para chamar atenção, e mesmo nos momentos mais simples, o visual sempre dominava frente ao restante.

Enfim, não é um filme genial, cheio de nuances e surpresas que choquem o público, mas quem gostar de um romance gostoso e bonito de ver, com pitadas dramáticas para dar alguns pontos de virada, certamente vai gostar do que foi mostrado aqui. Não falei muito sobre os prêmios que está indicado ao Oscar, pois filme é algo injusto de estar no meio dos indicados com outros melhores concorrendo, roteiro adaptado ainda cabe bem, pois o livro é premiadíssimo, e ficou uma boa adaptação de se ver na tela, e quanto à atriz, fez mais do que jus à indicação, pois está incrível. Portanto essa é minha recomendação, se gostar do estilo, é algo que vale a pena acompanhar, se gosta de algo mais dramático e cheio de reviravoltas, esse não é o filme indicado. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha semana cinematográfica, afinal alguns longas ficaram fora de cartaz, mas volto em breve com mais posts na próxima quinta, então abraços e até breve.


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Deadpool

2/13/2016 03:13:00 PM |

Bem pessoal, muita gente esperava por "Deadpool" há anos, e sempre que via algum amigo falando milhares de elogios aos quadrinhos pelo alto teor de zoeira e claro muitos palavrões ficava com um pé atrás se realmente um filme assim mais escrachado de super-heróis funcionaria, e hoje após toda a polêmica de censura 18 anos ou 16 anos, finalmente fui conferir, e já que os palavrões estão liberados o que posso dizer logo de cara que é um filme do C@R@1h0. Claro que basicamente tivemos uma apresentação completa do personagem, e certamente vamos ter muitos outros longas dele, mas a coisa mais concreta que podemos falar é que finalmente Ryan Reynolds conseguiu fazer um personagem dos quadrinhos com muita classe e apagou os dois vergonhosos papéis anteriores que fez. Dito isso, pegue sua pipoca e corra pro cinema mais próximo para descobrir quem é Deadpool e como esse cara que já era a zoeira em pessoa se tornou um mutante maluco mais zoado ainda, e se divirta bastante com muita certeza. E sobre a censura, felizmente o longa veio sem cortes, e com uma legendagem perfeita para todos os palavrões possíveis que já pensamos em ouvir em um único filme, ou seja, como realmente queríamos ver, mas devem ter moderação com os menores, pois a violência é forte e tem bastante sexismo, mesmo para quem está acostumado.

O longa conta a história da origem do ex-agente das Forças Especiais que se tornou o mercenário Wade Wilson. Depois de ser submetido a um desonesto experimento que o deixa com poderes de cura acelerada, Wade adota o alter ego de Deadpool. Armado com suas novas habilidades e um senso de humor negro e distorcido, Deadpool persegue o homem que quase destruiu sua vida.

O diretor Tim Miller pode ser um estreante na direção de longas, mas já foi indicado ao Oscar por um de seus curtas-metragens e trabalhou com efeitos especiais de diversos outros filmes e jogos, o que deu uma perspectiva única para o estilo que escolheu trabalhar em seu primeiro longa. Outra grande sacada do filme é que eles tiveram total liberdade criativa para colocar um rumo bem diferenciado do que estamos acostumados a ver nos longas baseados em quadrinhos, e isso fez com que tivéssemos grandes perspectivas com um roteiro divertido e completamente aberto à polemicas e claro com muitas referências à diversos filmes do Universo Marvel, aonde claro que as piadas funcionam demais para todos os fãs do gênero. E desse modo, mesmo a trama tendo todo um peso de impacto, afinal era um dos filmes mais esperados à muito tempo, já que Reynolds havia aparecido como o personagem no filme do Wolverine, mas com um visual completamente bizarro, o resultado geral acaba sendo fluído e acabou tendo um contexto bem interessante de ver. E claro que para ser um bom longa baseado em HQs, tivemos diversos efeitos especiais, que foram bem colocados nos momentos certos de escolha da direção e ainda pudemos contar com a melhor abertura de todos os tempos de filmes de um filme, falando exatamente o que esperaríamos ver num longa de heróis e ele agradar muito fazendo praticamente todo o inverso como uma grande piada.

Sobre as atuações, um fato que temos de dizer com certeza é que Ryan Reynolds caiu como uma luva para a ideia do personagem ser alguém irreverente, e claro que depois de muito falhar e ser severamente criticado por fãs de quadrinhos, agora ele mostrou que pode ser amado também, e isso certamente vai pesar nas continuações, pois seu Wade/Deadpool funcionaram bem e agradaram tanto na entonação dos diálogos quanto no estilo descolado de interpretar, e isso é o que esperávamos de um personagem com a mesma ideologia. A brasileira Morena Baccarin também agradou bastante como Vanessa nas poucas cenas suas, e mostrou claro que a sua beleza vale bem mais do que seu estilo interpretativo, agora assustei um pouco com o que li que a personagem também é mutante, então estou curioso para ver o que vem pela frente. O "vilão" Ajax interpretado por Ed Skrein ficou forte em termos de expressões, mas acredito que poderia ter mais força também na vilania, pois ser apenas um maluco que cria mutantes ficou um pouco jogado na tela e não convence muito toda a busca que o personagem faz em cima dele. Colossus e a adolescente missil até foram bem colocados na trama, sendo interpretados por Stefan Kapicic e Brianna Hildebrand, mas assim como Deadpool disse: "ficou claro que faltou grana para colocar mais mutantes fortes no filme", e isso é um fato que deva ser arrumado nos próximos. Gina Carano até chama atenção com sua Angel, pela força bruta e estilo mais rude, o que diferencia ela das demais mulheres da produção, mas convenhamos que é uma mutante bem esquisita de ver. Outros personagens secundários como taxista Doopinder, interpretado por Karan Soni, Weasel bem feito por T.J. Miller e Blind Al interpretada por Leslie Uggams também caíram bem para a trama, mas não tiveram oportunidade de dar um show de expressão, afinal aqui tudo era em cima da apresentação do protagonista.

É interessante ver como uma cenografia pesada e agitada da cidade, ficou bacana na telona, e isso acaba nos remetendo muito aos filmes do Homem Aranha. Além disso os lugares mais tensos da cidade foram bem trabalhados visualmente para que soubéssemos o estilo do filme, e dessa maneira, não pecaram em nada, principalmente por escolherem bem os elementos cênicos de cada cena em grande exagero, de modo que para onde quer que olhássemos na tela víssemos algum objeto para servir de arma, de referência ou até mesmo de inclusão no contexto da trama. No geral todos os efeitos foram bem colocados, porém o cenário da luta final ficou meio fora de contexto com a trama toda, pois o que parecia estar inserido no meio da cidade, de repente ficou completamente destruído e estranho demais, mas funcionou bem para a luta, e é isso que importa em filmes de heróis, então agrada. No conceito da fotografia, trabalharam bem com os tons das cores vermelhas para que contrastassem bem com cada momento, e sempre puxando as demais cores mais para o lado sombrio com tons pretos, acabaram envolvendo e chamando bastante atenção.

Outro show a parte ficou por conta da trilha sonora, que sempre trabalhando com músicas mais antigas, mas de estremo bom gosto, acabaram agradando em todos momentos que foram ouvidas, de modo que criou-se um clima meio que retrô para com o filme e isso é raro de vermos em longas de ação. Realmente ótimas escolhas para simbolizar o estilo sonoro que o filme pedia e claro que você pode conferir todas as músicas por esse link.

Enfim, é um excelente filme, que até poderíamos reclamar de alguns detalhes, mas foram concisos em não alongar muito o filme para funcionar como apresentação, e isso já agrada em metade do caminho, e claro que sempre muita comicidade agrada mais do que filmes tensos de ação e assim sendo o resultado foi incrível. Portanto com toda certeza recomendo a trama para todos, mas principalmente para os fãs de HQs que sempre ficam receosos com o que vão encontrar nas adaptações de seus personagens. Agora é aguardar as continuações, inserções dele nos X-men e nos demais filmes da Marvel, afinal vem aí "Guerra Infinita", aonde todos os heróis devem aparecer. Fico por aqui agora, mas volto em breve com a outra estreia da semana, então abraços e até logo.

PS1: a nota não foi máxima devido à faltar mais impacto em relação ao vilão, o cara até era forte e tal, mas seu estilo faltou para que ficássemos com raiva dele.

PS2: Os créditos sobem bem rápido, então nem 7 minutos e já temos duas cenas pós-créditos bem rapidinhas e bacanas, portanto fiquem na sala.


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