Carol

1/24/2016 11:14:00 PM |

Certa vez alguém me disse que a beleza estava na sutileza das coisas, mas se existe algo que me cansa em alguns filmes é quando um diretor toma como proposta um romance e faz ele de forma tão melosa que parecem sair borboletas em slow-motion da tela do cinema, e até mesmo o clímax ou momento de tensão da trama ainda é tratado por uma turma de hippies que nem espetando o dedo no 220V falariam que estão com dor. Claro que não esperava ver um Lars Von Trier dentro da proposta de "Carol", mas o filme é tão bonitinho, calminho e sem sal que o romance todo cansa, e a duração parece interminável. Em hipótese alguma a culpa se deve às atrizes, muito pelo contrário, vemos atuações impecáveis de ambas, que se doaram completamente com olhares e toques, a produção também está maravilhosa cenicamente criando uma ambiência de épica única, mas a direção faltou trabalhar de maneira mais determinada para agradar como filme.

O longa nos mostra que a jovem Therese Belivet tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird, uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha. Carol, que está se divorciando de Harge, também não está contente com a sua vida. As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos.

É interessante observarmos que a base do longa é até bem interessante, afinal é baseada em fatos reais, e acredito que até o livro possa ser mais quente e simbólico do que a versão 14 anos que foi entregue nos cinemas pelo diretor Todd Haynes. O diretor em si possui essa característica de ocultar suas opiniões nos filmes que faz, mas ao ser singelo em demasia aqui, acaba cansando o espectador que for procurando ver um drama mais denso. Claro que o filme possui alguns bons momentos, afinal o formato de road-movie no miolo chega até ser visualmente interessante, e alguns momentos de descoberta da jovem também são simbólicos e bem característicos de um início de paixão. Mas esses bons momentos se deveram mais à atuação das protagonistas do que do diretor, e assim sendo, vamos ficar na expectativa de que em seu próximo filme ele decida opinar mais.

Falando na atuação, Rooney Mara é conhecida por pegar papeis estranhos e incorporar neles uma beleza ímpar e ainda dar dinâmica para eles, e sua Therese é tão simbólica, cheia de perspectivas e que trabalhou tão bem uma gama de olhares, que é impossível não se conectar com a atriz e sua personagem, claro que se tivessem dado mais espontaneidade agradaria mais, mas ainda assim ela deu um show de atuação. E Cate Blanchett não deixou barato, indo no mesmo rumo de Mara, mas dando uma personalidade mais forte para sua Carol, de modo que ao mostrar seus sentimentos, mesmo que de uma forma não tão clara, consegue emocionar e comover a todos, talvez se tivessem trabalhado mais a dramaticidade da perca da guarda da filha, o filme teria um viés maravilhoso, afinal a atriz sabe muito bem como é usar o drama para comover. Kyle Chandler aparece pouco na trama com seu Harge, e quando aparece, ele transparece a falta de direção do diretor, aparentando estar perdido em cena, com olhares vazios de forma que não consegue se expressar para mostrar que ainda deseja aquela mulher e a quer como sua "propriedade", ficando bem vago sua presença, e se ele gravou mais cenas, certamente foram cortadas devido à essa falsidade aparente. Sarah Paulson até entra em bons momentos e seus olhares também possuem muita simbologia, mas sua Abby funcionaria mais se optassem por mostrar mais do passado de Carol do que o momento em si, pois apenas com uma frase dita em restaurante, fica muito fraco o envolvimento emocional que tentaram passar. Jake Lacy até trabalhou bem seu Richard e no seu momento de mais raiva mostrou uma dramaticidade impactante bem bacana de ver, porém mesmo seu personagem voltando em determinada cena, ele acaba não sendo algo tão forte na trama.

Agora algo que certamente chama muita atenção na trama é a representação dos anos 50, muito bem feita pela direção de arte, com muitos carros, restaurantes charmosos e até mesmo nos locais fechados tiveram todo o trabalho para dar uma representatividade bem interessante de ser vista, ou seja, algo que deu muito trabalho para a equipe, mas que certamente agrada e deve ser visto cuidadosamente em cada ângulo do que foi mostrado. Filmes gravados na época de neve nos EUA sempre possuem um charme a mais para a fotografia, e essa simbologia reflete bem na pegada romantizada que o longa tanto quis trabalhar, claro que as luzes em tom mais baixo também ajudaram para isso, mas é inegável que essa escolha de tom ajudou o filme a ter um ritmo mais lento, que tanto reclamei, e muitos reclamarão também.

Enfim, é um bom filme, possui uma boa produção, tem atuações impecáveis, mas cansa demais pelo não determinismo no rumo que o diretor acabou passando, ou seja, é daqueles filmes que quem tiver muita paciência pode até sair comovido com o que verá, mas quem for esperando uma dramaticidade mais forte e dinâmica, certamente vai sair desapontado. Dessa forma recomendo ele pelo visual e boas atuações, mas com a ressalva de não ver ele de forma alguma se estiver cansado após um longo dia de trabalho. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia dessa semana, então abraços e até breve.

2 comentários:

Raquel disse...

Olá. Boa nota, embora em não concorde em boa parte da escrita. O Diretor deixa a desejar de fato. Talvez tenha faltado, conforme mencionado por Sarah Marloff, do site After Ellen, 'uma mulher (queer) atrás da lente da câmera, para deixar a conexão entre Carol e Therese bater mais forte' (ver Why i wanted more from "Carol" em http://www.afterellen.com/movies/471057-wanted-carol), embora a presença de Phillys Nage tenha sido fundamental. E detalhe, o filme não é baseado em fatos reais. ;)

Fernando Coelho disse...

Obrigado pela dica de site Raquel... sobre o fato de ser fatos reais, em três sites falam isso: "O filme é baseado em fatos reais, narrados no livro The Price of Salt (1952), de Patricia Highsmith que usou o pseudônimo Claire Morga"... apenas me ative ao que passaram, não conheço nem o livro, nem a história! Abraços

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