Até Que a Sorte Nos Separe 3: A Falência Final

12/27/2015 11:59:00 PM |

Sempre costumo sair bravo das comédias de final de ano que nos são jogadas nos cinemas, pois ou falham demais em técnica ou falham demais no roteiro, claro que as que não possuem história sempre são as piores, mas algumas vezes a falta de técnica também atrapalha. Tivemos apenas um ano separando "Até Que a Sorte Nos Separe" de sua continuação, e já havia comentado todo o desastre de criatividade na história que acabou ocorrendo, mesmo que toda a técnica e produção acabasse agradando, e agora com o espaçamento de dois anos, "Até Que a Sorte Nos Separe 3", volta mais maduro para as confusões de Tino, e claro que dando bom espaço para todos os coadjuvantes, não ficamos presos somente às improvisações de Leandro Hassum, e ainda de quebra conseguiram incluir a piada master de nosso país que são os nossos governantes e a economia baseada em processos energéticos, ou seja, nem precisaria de nenhum comediante para que o brasileiro assistisse ao filme e risse para não chorar, mas souberam colocar bons momentos risíveis para divertir e agradar, ou seja, ainda não é uma obra-prima da comédia, mas faz a plateia rir muito com a maioria das cenas, mesmo que pra isso necessite apelar em alguns momentos.

O longa nos mostra que depois de perder a herança da família em Las Vegas, Tino se vira como pode para ganhar um trocado. Sua sorte muda quando ele é atropelado pelo filho do homem mais rico do Brasil e descobre que sua filha Teté e o rapaz se apaixonaram. Tino ganha um emprego na corretora do milionário, mas consegue quebrar a empresa e provocar a desvalorização de ações brasileiras na Bolsa, levando a economia do país ao colapso. Agora, ele precisa administrar uma crise nacional, além de realizar um casamento digno para a filha.

Se tem um diretor que não tira férias é Roberto Santucci, pois estamos praticamente acabando 2015 com um filme seu(27/12 - "Até Que a Sorte Nos Separe 3"), começamos o ano com um filme seu(01/01 - "Loucas Pra Casar") e ainda tivemos outro no meio do ano(06/06 - "Qualquer Gato Vira Lata 2") para mostrar o tanto que trabalha. E felizmente se em outros anos eu apedrejei seus longas, nesse ano posso dizer que ele encontrou um jeito de aliar comédias com trejeitos novelescos, mas com boas pitadas interessantes para que seus filmes tivessem vida própria. Claro que no longa de hoje, uma boa parcela de culpa pelo bom resultado cômico ficou a cargo do novo roteirista da trama, Leo Luz, que trouxe para o longa uma forte pegada do que fez na série "Parafernalha", e essa acidez interessante, acabou dando uma vertente mais politizada para a trama, sem que perdesse o conteúdo familiar que a serie feita tanto se prendeu. E essa parceria do roteirista original Paulo Cursino só resultou em coisas boas, que certamente agrada no que foi feito. Ou seja, ainda é um filme que procura manter a essência da família junta, mesmo após perder todo o dinheiro, só que agora puderam brincar mais com outra temática que está tão na moda, que é a crise econômica nacional, e todos os filmes que fizerem piada com isso, certamente vão fazer o público rir da própria desgraça. No geral, o resultado da história toda foi bem amarrado e agrada, poderiam ter economizado o desenvolvimento de algumas pontas, como a da analista vivida por Silvia Pfeifer com Kiko Mascarenhas, e até mesmo do fazendeiro Daniel Filho, mas como passaram bem rapidamente, o vértice novelesco de incorporar diversas sub-histórias acabou não atrapalhando tanto.

Sobre a atuação de Leandro Hassum, ainda acho forçada demais, mas já disse isso no "Candidato Honesto" e volto a afirmar que ele tem trabalhado cada vez menos com piadas de mal gosto e com isso está passando a agradar mais, e junto de sua grande perca de peso, o ator achou também semblantes mais leves para as expressões de seu Tino, funcionando de forma engraçada a cada ato, e tendo destaque perfeito na melhor cena do longa com suas alucinações no carro. Também volto a afirmar que Camila Morgado não é uma atriz engraçada, e precisa voltar urgentemente para a boa dramaticidade que tanto lhe rendeu prêmios e elogios, não que sua Jane não tenha melhorado 100% do que fez no segundo filme, aonde foi metralhada pela substituição mais do que estranha feita no papel de Danielle Winits, mas ainda não tivemos mais do que duas cenas dinâmicas bem engraçadas com sua presença. Kiko Mascarenhas volta pela terceira vez como Amauri, e até consegue lidar bem com cenas que necessitavam segurar ao mesmo tempo um semblante sério e não deixar a comicidade da cena ruim, mas isso até vermos nos créditos os erros de gravação, pois ele sofreu muito, é um bom ator que tem trabalhado pouco no cinema, e que poderia agradar mais em algo mais sério mesmo. Julia Dalávia cresceu bem nesses 3 anos e sua química com Bruno Gissoni ficou bem romanceada, dentro da perspectiva que o longa pedia para seus papeis de Tete e Tom, mas nada que impressionasse muito. Leonardo Franco caiu como uma luva para o papel de Rique e claramente tenta chamar atenção para tudo o que aconteceu com Eike Batista nesses últimos tempos, e o ator não nos desapontou mesmo tendo grandes momentos de chiliques forçados. Mila Ribeiro mostrou agora nos cinemas o papel da nossa presidenta que já vem fazendo há tempos no espetáculo Terça Insana, e o tom cômico que deram aos seus diálogos ficaram realmente bem divertidos de ver. Ailton Graça voltou com o seu Adelson/Jaques e agrada bastante com seus trejeitos e de certa forma foi bem sacaneado pelo roteiro, que usou de outras facetas de outros personagens que já fez.

Agora se no segundo filme da franquia, a produção gastou muito com viagens, locações caras e toda uma técnica impressionante para chamar atenção no filme, aqui foram mais singelos e usaram basicamente apenas três locais, que mesmo tendo uma grandiosidade externa, e alguns cenários internos bem trabalhados pela direção artística, ainda pecou pela falta de apelo na cenografia, de modo que a cena da ida a Brasília ficou bem mal feita, com um gabinete que nem prefeito de cidadezinha minúscula teria, quanto mais um presidente; o escritório da empresa e a casa do bilionário ficaram incríveis por fora, algo luxuoso ao extremo, e dentro sempre tomadas mais fechadas para não mostrar a mesma grandiosidade, ou seja, recursos totais de novelas, ou seja, foram bem contidos nos gastos. Além disso, sempre com uma iluminação chapada, a trama não desenvolveu grandes perspectivas, aliás, em algumas cenas aparentou demais até ter sido gravado em chroma-key, o que se realmente foi feito isso, como já vimos em um dos trailers da trama, que foi pessimamente recortado, precisam voltar para os cursos de iluminação quem trabalhou no longa. Ou seja, poderiam ter se gabado da excelente abertura, aonde mostraram coisas clássicas que pobres fazem e tanto são tiradas piadas em textos, com visuais, efeitos e elementos incríveis, mas pecaram ao querer ser grandes no restante.

Enfim, é sem dúvida o melhor da franquia no quesito história e certamente vai divertir muito quem for assistir, mas poderiam ter pecado menos nos quesitos técnicos que agradaria muito mais ao público mais exigente de um bom contexto completo. Vale pela ironia politizada e pelos arranjos interessantes de comicidade que foram trabalhados, mas quem não gosta de longas que apelem um pouco para fazer rir, talvez saia em desagrado com todo o conteúdo. Bem é isso pessoal, acabo recomendando ele, com a ressalva acima, e fico por aqui agora, ainda falta mais um longa nesse miolo de feriados, então abraços e até breve pessoal.


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