Victor Frankenstein

11/27/2015 02:54:00 AM |

É engraçado que alguns filmes já chegam ao Brasil rechaçados pela crítica internacional, mas quando vamos ver o pessoal esquece de avaliar a parte da produção e foca só na história, sempre querendo algo próximo da história que conhecem. Mas convenhamos, se já conhecemos a história original, para que queremos ver ela de novo? Não seria melhor ver algo novo muito bem produzido? Pois bem, o que posso adiantar é que o miolo de "Victor Frankenstein" é bem lento e parece que vai virar uma série imensa que não temos ideia de como pode acabar, mas tirando esse detalhe, o longa possui uma energia (quase que podem considerar isso uma piada mista com spoiler) tão grande e interessante que junto de uma produção incrível acabamos ficando bastante entretidos com tudo o que é mostrado. E como já disse isso uma vez aqui no site, se o filme é bem feito no conceito produtivo e me segura com tudo o que ocorre, com toda certeza acabo gostando bem mais do que os amigos críticos que só procuram boas histórias. Então se você quer rever o conto de Frankenstein pela milésima vez no cinema, esse não é o seu filme, mas se for com a cabeça aberta para todo o restante em algo muito bem feito, pode ir pro cinema que vai sair bem contente com o início incrível e o final muito interessante e cativante.

Ao visitar um circo, o cientista Victor Frankenstein encontra um jovem corcunda que lá trabalha como palhaço. Após a bela Lorelei (Jessica Brown Findlay) cair do trapézio, o corcunda sem nome consegue salvar sua vida graças aos conhecimentos de anatomia humana que possui. Impressionado com o feito, Victor o resgata do circo e o leva para sua própria casa. Lá lhe dá um nome, Igor, e também uma vida que jamais sonhou, de forma que possa ajudá-lo no grande objetivo de sua vida: criar vida após a morte.

Quando um diretor trabalha muito com séries, quando retorna ao cinema costuma trabalhar mais os personagens principais, e certamente Paul McGuigan fez isso ao praticamente dar vida à Igor com muita expressividade, e pode trabalhar a boa história criada por Max Landis de modo que volto a repetir o que disse no começo, é algo totalmente novo, pois Igor nem aparece no conto original de Mary Shelley de longa data e que já gerou diversos filmes. Claro que para isso, ele precisou gastar muita narração e até mesmo alguns momentos mais simbólicos que acabam cansando um pouco, mas isso comparado à todo o restante criativo e bem dinâmico da história acaba ficando bem de lado para quem gosta de ver um longa de ação dentro de determinada época. Além disso toda a criatividade para com os termos médicos junto da química entre os dois protagonistas para fazer seus monstros foi algo muito bacana de ver na tela. Outro fato bem interessante de ver na tela foram os ângulos escolhidos de filmagem, pois naturalmente os diretores optam por câmeras retas aonde o público veja toda a abertura cênica, e aqui ao trabalhar mais de lado, tivemos uma perspectiva de profundidade mais vertiginosa e que sempre procurava aumentar o cenário incrível que a direção de arte criou.

Quanto da atuação, Harry Potter, ops, digo Daniel Radcliffe vem mostrando uma evolução imensa no seu estilo de interpretar, e suas cenas iniciais como Igor (claro que principalmente antes de ter um nome) foram algo que pode se dizer que ele definitivamente abandonou suas magias, caras e bocas, e botou todo o corpo para jogo, trabalhando pernas, tronco e principalmente toda a face para não ficar um corcunda caricato, mas sim um personagem bem dramático e cheio de ações, e conseguiu ficar muito bem em tudo, além disso no desenrolar da trama tivemos outras boas cenas em que trabalhou expressões amorosas e até momentos mais fortes, ou seja, foi completo do início ao fim. James McAvoy é daqueles atores que já ouvimos falar muito e que cada vez nos impressiona mais e mais, e seu Frankenstein é muito mais do que o médico louco que estávamos acostumados a ver nas outras adaptações da história, claro que ainda continua bem louco, mas tivemos dinâmicas interessantes para que sua história não fosse jogada, e o ator como sempre agradou em cada ato. Andrew Scott também fez cenas interessantes com seu Inspetor Turpin, mas ficou meio que forçado demais na vertente religiosa sem que isso fosse explicado na história, e isso para um policial acabou ficando meio que jogado de lado e atrapalhando um pouco com as frases colocadas para seu personagem, mas no geral seu estilo de atuar não atrapalhou tanto, porém ajudou o miolo à ficar lento demais. Outra personagem completamente jogada e que não serviu para nada foi Lorelei, que foi interpretada por Jessica Brown Findlay, pois se desejavam um interesse amoroso mais forte poderiam ter usado ela para ser pega pelos vilões e tudo mais, mas não, ficou bem aéreo o interesse do jovem, claro que era sua referência no circo, e sua queda deu toda uma química, mas acabou aparecendo pouco e sempre com caras e bocas demais para alguém que não é tão importante para a trama.

No conceito visual, certamente é notável que muita coisa digital foi colocada na trama, afinal conceber uma cidade épica com casarões, faculdades sombrias, castelos e todo um laboratório incrível cheio de peças não é algo que sairia muito barato, então em alguns momentos até conseguimos notar o encaixe do digital com o real (o que é algo defeituoso para muitos, mas prefiro opinar como a maioria vê, então não vai ser tão fácil assim), e tirando esse detalhe, temos muitos objetos cênicos importantes que trabalhados com toda a ambientação acabou resultando em um filme com um design de produção digno de concorrer à muitos prêmios, e isso volto a repetir, é algo que me agrada demais quando vou conferir um longa, e certamente deu muito trabalho à toda equipe artística para arrumar e criar cada cena do longa. A fotografia da trama também foi bem elaborada com nuances mais sombrias e diversos tons puxados para cores inusitadas como roxo e até laranja na cena final, o que mostra que alguns diretores de fotografia andam ousando para criar coisas novas, o que é legal, mas sempre temos de lembrar se a utilidade vai caber com a cena, e aqui poderiam ter usado mais cinza e azul que agradaria mais.

Enfim, o longa possui defeitos? Sim, muitos! Mas o conteúdo novo junto com a dinâmica dos protagonistas é tão bom que os defeitos acabam passando em branco e certamente quem não ficar preso à olhar detalhes vai gostar muito do que verá. Claro que o miolo poderia ser menor ou ter ao menos explicado diversas histórias como a do inspetor ou até mesmo criado mais romance com a garota, mas isso não era bem o que importava para o roteirista e para o diretor, então certamente quem ver em casa vai acelerar isso e continuará com um excelente filme, e quem for no cinema vai comer sua pipoca tranquila enquanto passa alguns minutos, porém volto a afirmar que o começo e o fim empolgam tanto que o resultado final vai agradar muito. Portanto recomendo ele para quem gosta do estilo e principalmente estiver disposto à ver algo novo e criativo, e assim a garantia de gostar é maior. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro longa dessa semana que terá muitos posts aqui no site, então abraços e até breve.


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