Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)

11/22/2015 10:24:00 PM |

E não é que um candidato à filme Oscar de Filme Estrangeiro apareceu por aqui bem antes da premiação! Coisa bem rara de acontecer! E que filme nos foi apresentado hoje na abertura da Itinerância da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pois "Labirinto de Mentiras" é daqueles que nos prendem na cadeira e ficamos desesperados para saber o final. Claro que muitos até devem saber boas partes do que aconteceu, afinal o longa é baseado livremente em fatos reais, e com isso alguns nomes conhecidos das investigações sabemos o rumo que tomou, e assim dá para ficar com menos indagações, mas como é algo que não é muito lembrado nas aulas de História, ficando com a Alemanha só até o fim de Hitler, o longa apresentou fatos duríssimos de ver como todo o nazismo e os campos de concentração foram apagados da mente dos alemães, de modo que ao buscar justiça, o protagonista foi forte, impactante e trabalhou todas as perspectivas possíveis para que o longa não fosse uma simples investigação policial, mas sim um filme com toda uma nuance criativa de tirar o chapéu e aplaudir no final. Ou seja, só vi dois candidatos até agora, Alemanha e Brasil, e minha torcida para o Oscar de Filme Estrangeiro vai no ritmo do resultado do futebol.

O longa nos situa em Frankfurt em 1958, aonde o jovem promotor público Johann Radmann encontra documentos que ajudam a iniciar um processo contra alguns membros da SS que serviram em Auschwitz. No entanto, os horrores do passado e a hostilidade demonstrada em relação ao seu trabalho deixam Johann à beira de um colapso. Para ele, é quase impossível encontrar o seu caminho em um labirinto em que todos parecem estar envolvidos ou serem culpados.

Depois de atuar por muitos anos e dirigir alguns curtas, o italiano Giulio Ricciarelli estreia sua mão em um longa-metragem com muito louvor, pois além de dirigir esteve junto de Elisabeth Bartel para criar um roteiro originalíssimo com uma pegada incrível de nuances que vão se interligando, deixando o espectador curioso a cada nova cena e principalmente trabalhando em demasia junto do ator para que ele incorporasse todo o desespero de querer incriminar todos os possíveis "assassinos" de Auschwitz. E dessa maneira, trabalhando bem cada ponto da investigação, usando do estilo tradicional da escola alemã de cinema de não perder nenhuma cena, o diretor foi dando peças para que o jogo se completasse num fechamento único, que certamente não só incrementará o fato na História para que muitos conheçam o que foi e tudo que aconteceu, como ao dar perspectivas mais simbólicas e dinâmicas, ele conseguiu transformar seu filme quase que em uma obra americana tradicional, mas conhecendo um pouco como são nossos amigos hollywoodianos, em breve veremos essa mesma história com atores americanos e um diretor de renome, afinal todo estrangeiro que é muito bom, eles refilmam.

Talvez um único adendo para o filme não ser mais perfeito é o carisma do ator Alexander Fehling ser muito de aparecer, de modo que promotores geralmente são pessoas mais duronas e sem vida, e o jovem mesmo o personagem sendo um novato acabou dando felicidades demais para o personagem de Johann, claro que seu momento de surto foi incrível, mas ele poderia ter sido mais durão nas demais cenas e menos xerife como é citado em determinado momento do filme, mas nada que ande atrapalhando, pois nos festivais que concorreu, ganhou os prêmios de melhor ator, então rumo para novos e bons personagens. Não sei o motivo, mas Andre Szymanski possui um rosto tão familiar, porém olhando sua biografia não lembro de ter visto nenhum filme seu, mas a sagacidade impregnada no personagem Gnielka que ele conseguiu demonstrar e trabalhando muito bem nos diálogos junto do protagonista, nos levaram a ficar bem de olho em tudo o que fez, saindo bem no contexto geral. É engraçado que logo que vemos a personagem Marlene de Friederike Becht sabemos que vai dar liga, e isso poderia ser menos forçado, mas como é cinema não dá para ser singelo e tudo tem de ser rápido demais mesmo, mas a atriz não procurou dar à personagem uma simbologia mais forte, e mesmo tendo a família como parte da SS, o que era certeza de criar um conflito, seu melhor momento foi no diálogo de desculpas, e fora isso ela ficou bem apagadinha. Agora se teve alguém que a cada cena que aparecia você certamente queria acusar foi Gert Voss fazendo Fritz Bauer, claro que dando um leve spoiler o cara foi um dos grandes nomes do julgamento depois dito nos créditos finais, mas sua imponência e cara sempre fechada, além de muitos diálogos incriminadores, fizeram com que o ator sempre fosse um suspeito para quem gosta de tentar adivinhar os finais dos filmes, e certamente se o protagonista tivesse somente metade da postura de Voss, o filme seria um espetáculo ainda maior. Tivemos outros bons atores, mas sempre funcionando como conexões, então para que eu não me alongue muito no texto, apenas tenho de falar que todos foram bem corretos.

Cenograficamente o longa não tem furos, é algo bem pautado, com elementos cênicos funcionais, mostrando que desde sempre fóruns, repartições públicas e arquivos são coisas do inferno, com papelada saindo pelo teto (o que está no pôster acima é apenas um enfeite perto de tudo que é mostrado) e com bons figurinos e locações escolhidas na medida, a equipe de arte mostrou que entende tudo de História e fez cada detalhe parecer super importante para a trama, ou seja, até situações bobas como uma comemoração num barquinho, passou a ser símbolo de algo maior que determinava o estilo dos personagens. A fotografia usou e abusou de tons puxados para o marrom para dar o teor de época e nas cenas menos tensas trabalhou bem com o céu bem azul e os verdes dos campos, para contrastar bem na simbologia fechada dos ternos e togas dos julgamentos, ou seja, um trabalho bem minucioso para realçar e dançar com o espectador durante toda a exibição.

Enfim, um longa muito bem feito e que a Alemanha acertou em cheio em indicar como candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro, pois a academia está lotada de judeus, o filme tem toda uma cara bem clássica que eles gostam, e é baseado em fatos reais, ou seja, certamente deve chegar nas cabeças, isso se não entrar no top 5 de possíveis ganhadores, aí pra ganhar precisamos ver os demais. Bem é isso pessoal, o longa estreia no Brasil somente dia 17 de Dezembro, mas nas cidades que estão com a Itinerância da Mostra Internacional poderão ver mais cedo, e recomendo demais que todos assistam, pois é um excelente filme. Fico por aqui hoje, mas volto na terça com mais um filme da Mostra, então abraços e até breve.

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