Sabor da Vida (An)

11/30/2015 01:29:00 AM |

Tudo bem que a comida feita no longa não tem cara de ser algo gostoso, mas certamente o preconceito de ver uma senhora cozinhando com uma mão não muito bonita vai ser algo que vai dominar as discussões frente ao sabor do doce estranho de feijão. E é bem isso a proposta do longa "Sabor da Vida", discutir todo tipo de preconceito e trabalhar bem mostrando de uma forma meiga que o preconceito por qualquer coisa só amarga o sabor da nossa vida. E a cada novo dia que é passado na trama, ficamos mais cativados com tudo, e mais conectados com a velhinha da trama, e mesmo que por algum momento você saia preconceituoso com algo do longa, você certamente vai se emocionar com o final da trama.

O longa nos mostra que Sentaro dirige uma pequena padaria que serve dorayakis - panquecas recheadas com pasta de feijão vermelho doce. Quando uma senhora de idade, Tokue, se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas Tokue prova ter um toque de mágica quando se trata de fazer “an”. Graças à sua receita secreta, o pequeno negócio logo floresce e com o tempo, Sentaro e Tokue abrem seus corações para revelar velhas feridas.

Se praticamente um ano atrás eu estava somente reclamando do que a diretora Naomi Kawase tinha feito com "O Segredo das Águas", hoje sinceramente ela conseguiu meu respeito por seu trabalho, pois certamente o livro de Durian Sukegawa deve ser duríssimo ao inserir todo o preconceito que pessoas com hanseníase sofre e para impactar isso em um texto a dureza tem de vir com tudo, e ela pegou o livro e adaptou em algo tão simbólico e lindo que qualquer elemento mostrado acaba tendo um simbolismo tão mágico que é difícil você não emocionar e se prender a trama. A diretora foi concisa em todos os momentos, deixando os detalhes para cada olhar e sentimento expressado pelos personagens, de modo que ficamos comovidos e apaixonados pelo estilo de sua câmera com ângulos bem fechados, afinal as locações são pequenas, mas quando tem oportunidade para mostrar a vida da natureza (algo que ela adora retratar em todos os seus longas), ela abre a lente e a beleza das cerejeiras dominam o ambiente e agradam demais.

Falar das atuações de japoneses é algo sempre muito difícil, pois eles são muito centrados e seu estilo de expressão é algo completamente diferente do que estamos acostumados, mas isso não impede de ver a comoção de todos em cena. Masatoshi Nagase entrega um Sentaro que logo de cara vemos que tem muitos problemas e mesmo que demore para nos ser falado qual o seu real problema, já ficamos com a pulga atrás da orelha pela forma que conduz tudo, e seu jeito bem rígido frente às emoções, quando desabrocha é algo que não temos como não cair junto com ele, ou seja, um ator que mostrou muito bem quem é e o que sabe fazer. Kirin Kiki é uma graça total, e sua Tokue é incrível de modo que ela não foi falsa em momento algum, envolvendo cada espectador com sua singela e calma forma de atuar, e a cada cena mais estávamos conectados com sua presença, e mesmo depois de saber seu problema, ficamos ainda do seu lado, e quando desaparece de cena é algo triste demais de se pensar, ou seja, incrível. A personagem Wakana de Kyara Uchida inicialmente parece meio fora da proposta do longa, mas ela vai trabalhando bem e acabamos nos afeiçoando a ela para que no encerramento da trama seu trabalho seja bem visto, ou seja, é daqueles atores que são jogados metade do filme para que feche bem a trama, e ela agradou dessa forma.

No conceito artístico, a trama trabalhou bem tanto nos elementos cênicos mais simples e que foram colocados para representar cada situação e cada reviravolta, como na cenografia completa ao mostrar o ambiente todo em que tanto os leprosos estão separados e vivem sua vida, como a beleza dos parques da cidade com suas árvores extremamente floridas, ou seja, boas escolhas para simbolizar tudo. A equipe de fotografia trabalhou com poucas sombras, e deu um ar mais duro para a maioria das cenas, liberando somente algumas cores fora do tom escuro nas cenas com árvores, e isso é algo estranho de olhar, pois mesmo o ambiente da padaria sendo forte, poderiam ter amenizado em algumas cenas, mas no geral agrada bem.

Enfim, é um filme que vai agradar bastante, mas que muitos podem estranhar, afinal o estilo japonês de fazer dramas não é algo comum de vermos por aqui. O longa trabalha um tema duro de maneira bem sútil, então deve comover à todos que forem dispostos a embarcar na trama, e dessa maneira acabo recomendando ele para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, praticamente encerrando a semana cinematográfica, mas nesta segunda mesmo já começo com as prés da próxima semana, então abraços e até breve.


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Visita ou Memórias e Confissões

11/29/2015 09:50:00 PM |

Vou ser curto no texto não pelo filme ser ruim, muito pelo contrário, "Visita ou Memórias e Confissões" é excelente, mas não há palavras que possa descrever esse misto de documentário com literatura. Digo isso, pois é quase como se estivéssemos lendo um livro sobre a casa que Manoel de Oliveira viveu por mais de 40 anos, e contado de uma maneira tão cheia de referências ao desaparecimento do personagem, no caso do próprio diretor, o longa acaba funcionando como um biografia póstuma criada por ele ainda em vida. E com uma grande expertise por parte dele, filmou em 84, e pediu que fosse lançado somente após sua morte, o que ocorreu neste ano, e facilmente seria um filme feito de homenagem para com todo seu estilo, trabalhando bem referências simbólicas da casa, no melhor estilo literário possível.

O longa nos mostra que um casal encontra uma casa aparentemente vazia no campo e, ao entrar nela, passa a explorar os cômodos do local. Em determinados momentos surge em cena o próprio diretor, Manoel de Oliveira, que explica o porquê de estar se mudando daquela casa, onde viveu por mais de 40 anos, e ainda faz um retrato de sua vida e carreira.

Logo de cara o diretor fala em off para a belíssima cenografia que o que veremos é um filme de Manoel de Oliveira sobre Manoel de Oliveira, ou melhor, sobre uma casa, e que até poderia ser considerado como algo egocêntrico demais, mas logo vemos que após atenderem seu pedido de lançar o filme somente após sua morte, o resultado é incrível, pois através da arquitetura maravilhosa da casa, junto com o texto magistral que é contado durante toda a exibição, com as devidas pausas para que o diretor fale também, tudo acaba se conectando e ficando incrível de conhecer um pouco da vida desse diretor que produziu até a beira de sua morte com 106 anos, e isso não é para qualquer um.

Então podemos dizer que foi uma grande sacada, de não precisar que outros fizessem um filme sobre sua vida, e muito menos contasse coisas que ele não quisesse contar, e para isso fez tudo com uma leveza ímpar e cenograficamente cada momento é tão bem decorado que ao juntar com a literatura do texto, se torna quase que uma leitura fantasiosa aonde o próprio expectador vai criando as nuances do quadro que a câmera nos emoldura, ou seja, um trabalho realmente lindo de se ver e sentir.

Enfim, é um documentário diferenciado que vai muito além do que poderíamos esperar, e principalmente funciona por agradar tanto aos fãs do diretor, quanto quem não gostava de suas obras, e ainda mais quem nunca viu nada dele, ou seja, vale para todos conhecerem mais seu estilo. E o principal, mesmo o ritmo sendo um pouco lento, acabamos não cansando de ver o que é mostrado, então é quase como um deslize poético. Fico por aqui agora, mas ainda hoje confiro outro longa da Mostra Internacional, então abraços e até breve.

PS: Infelizmente desse longa não foi feito trailer, então só quem for conferir mesmo saberá a beleza de tudo.



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A Visita (The Visit)

11/29/2015 02:28:00 AM |

Todos sabem que se existe um gênero que gosto muito de assistir é o tal do terror, mais ainda quando envolve suspense do que filmes de matança em si, então a proposta de algo novo de Shyamalan que já fez grandes suspenses e é considerado um dos mestres do terror, certamente caberia bem para uma sessão noturna de Sábado não é mesmo? Pois a resposta é não, fuja pras colinas e não passe sequer na porta de uma sessão do longa "A Visita", pois como diria o melhor do filme personificado como um garotinho rapper, "fiquei cego" após as visões horrendas de velhos nus, aonde nada assusta e principalmente NADA (em letras maiúsculas mesmo) consegue ter um sentido interessante para que o gênero qualifique o longa como terror. Tudo bem que a proposta do bom uso da câmera na mão foi excelente, as crianças atuaram muito bem, a reviravolta é interessante (e que nem diria um rapaz que conversava atrás de mim com a família, "agora que o bicho vai pegar"), mas nada acontece nem assim, ou seja, um filme morno que você irá mais rir do que assustar e só, não dá vontade nem de continuar o texto, mas vou ser perseverante e colocarei mais algumas linhas.

A base da história é bem simples e nos mostra que dois irmãos pequenos vão passar uma semana na fazenda dos avós na Pensilvânia. O que era para uma visita divertida e tranquila se transforma numa experiência aterradora quando eles descobrem que os idosos estão envolvidos numa situação perturbadora, que faz as crianças se tornarem prisioneiras na propriedade.

Volto a afirmar que a proposta do roteiro não é ruim, e se fosse usada de uma maneira mais densa (a qual o diretor sabe fazer muito bem), ainda continuaria sendo um longa de baixíssimo orçamento e acabaria deixando as pessoas aterrorizadas com tudo o que os velhinhos fizeram. Mas para isso o diretor teria de ter usado menos as crianças e mais os velhos, criando perspectivas e histórias que ligassem mais eles com a clínica psiquiátrica, e dessa maneira tudo acabaria ficando de uma forma completamente diferente e bem mais tensa. Mas o diretor infelizmente não anda na boa forma que lhe concedeu o título de Mestre do Terror, e não vai voltar enquanto ficar fazendo besteiras do estilo desse filme, aonde a cena mais forte preferiram somente simbolizar, e nada além disso. A proposta do found-footage foi muito bem utilizada, uma das melhores que já vi inclusive, pois não quiseram colocar efeitos bobos nas cenas, nem as crianças correndo desenfreadas balançando tudo, e dessa forma até tivemos um ar mais clássico para tudo o que estava sendo mostrado, mas como eles fizeram um "documentário" bem leve para "curar" a mãe dos jovens, o resultado foi quase um longa natalino de tão leve que ficou tudo.

Para falarmos das atuações podemos ir por dois caminhos, a que mostra bons atores que possuem futuro, no caso as crianças, ou falar que todos estavam passeando num filme que era pra ser de terror e não souberam nem o que fizeram. Irei preferir a primeira opção para não ser um Coelho tão malvado. Para uma jovem atriz em seu primeiro longa, Olivia DeJonge soube muito bem tanto como mostrar-se como diretora de documentários, quanto como uma jovem interessante que é bem curiosa, mas caso houvesse mais cenas assustadoras, ela poderia se espantar mais, sua cena no forno que já está no trailer abaixo é deprimente, e ela faz duas vezes no filme, uma pessoa em sã consciência não faria nem meia, muito menos com a cara de boba que ela faz com sua personagem Becca. Ed Oxenbould definitivamente ganhou meu respeito, o garoto é muito bom, e já havia elogiado ele no filme "Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso" e aqui o seu personagem Tyler é uma figura, cantor de rap, e mostrando uma curiosidade sem limites de jovens de 13 anos dispostos a explorar tudo, claro que suas cenas com medo de germes é algo ridículo demais, mas ainda assim quero muito um longa mais denso para o jovem protagonizar e arrasar, pois ele pode tudo e certamente vai fazer muito bem tudo, já que aqui, mesmo não tendo nada aterrorizador, seu jeito estático para com sua cena densa foi ótima de ver. Deanna Dunagan e Peter McRobbie até fizeram boas expressões aterrorizadoras, mas foi simples demais para que alguém ficasse realmente com medo de seus personagens Nana e Papa, mas nas entrevistas foram bem interessantes e agradaram na medida do possível. Agora por sorte, ou melhor, para que o filme não ficasse pior, Kathryn Hahn apareceu bem pouco na trama como a mãe dos garotos, pois não tem expressão alguma, fazendo a mesma cara nas três cenas que apareceu, e até mesmo para dar a notícia da reviravolta continuou com a mesma expressão, ou seja, era melhor ter cortado suas partes.

No conceito artístico, o diretor foi esperto, e para economizar filmou dentro de sua casa na Pensilvânia, que já é bem antiga e com isso possui locais estranhos para funcionar como longa de terror, mas faltou algo a mais, pois a casa em si não é daquelas que olhamos e já ficamos tensos, e nem tiveram o trabalho de incluir objetos amedrontadores, e dessa forma o filme fluiu leve demais, parecendo ser realmente uma visita à casa dos avós, mas tendo alguns probleminhas no percurso, e isso é errar demais. Se temos de destacar mais um ponto positivo, não tanto para o lado do terror, é com o pessoal da fotografia, pois é muito fácil errar a iluminação com câmera na mão em movimento, e aqui em momento algum tivemos luzes estranhas ou que falhassem para estragar o ambiente que vieram conquistando, claro que na cena do quarto com a velha poderiam ter dado uma densidade dramática melhor, mas ainda assim não atrapalharam tanto.

Enfim, um filme que não recomendo para ninguém que goste de filmes de terror e nem mesmo para quem não goste, pois não serve nem para passar algumas horas curtindo um ar condicionado e uma poltrona boa, portanto, passe bem longe das salas que estiverem exibindo esse filme, pois será gastar dinheiro a toa. Nem para ao menos colocarem umas trilhas mais sombrias serviram, ou seja, nada mesmo salva. Bem é isso pessoal, darei a nota pontuando os dois pontos positivos que enumerei acima no texto completo, e fico por aqui agora, mas nesse Domingo irei conferir dois longas da Itinerância da Mostra Internacional de São Paulo, de modo voltarei para casa com dois textos para postar para vocês, então abraços e até breve.

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Chatô: O Rei do Brasil

11/28/2015 08:50:00 PM |

Pois bem, enfim a lenda saiu da produção e apareceu na telona! Digo isso, pois quem não conhece a história do filme, não a que se passa na telona, mas a que rolou durante 20 anos desde que Guilherme Fontes começou a captar dinheiro para o seu longa "Chatô: O Rei do Brasil", teve suas glórias despedaçadas no auge da carreira de ator, precisou provar que não deu sumiço em dinheiro para um governo que roubou bem mais que acusavam ele, e tudo mais, finalmente apareceu nos cinemas! Muitos diziam ser apenas uma lenda a existência do filme, que nunca iria passar, muitos atores morreram desde quando atuou no longa, diretores assistentes se tornaram grandes nomes do cinema nacional, e se ficarmos falando de tudo vai horas. Mas vou ignorar todo o problema que o jovem diretor teve, e vou focar no que deve ser focado: o filme! E vos digo, se o longa tivesse estreado na época em que estava previsto hoje não teríamos tanto desses filmes nacionais novelescos que pintam todo mês nos cinemas do Brasil, pois ele mostrou que com muita capacidade de edição, uma história que daria uma novela de muitos capítulos pode virar um filme incrível no formato clássico de cinema e ainda agradar com muita subjetividade apontando na cara que o governo depende da mídia, e a mídia depende do governo para existir, ou seja, um longa feito em 1995 que fala exatamente o que anda ocorrendo nos dias atuais.

O longa nos mostra que o magnata das comunicações Assis Chateaubriand é a estrela principal de um programa de TV chamado "O Julgamento do Século", realizado bem no dia de sua morte. É nele que Chatô relembra fatos marcantes de sua vida, como os casamentos com Maria Eudóxia e Lola, a paixão não-correspondida por Vivi Sampaio, como manipulava as notícias nos veículos de comunicação que comandava e a estreita e conturbada ligação com Getúlio Vargas, que teve início ainda antes dele se tornar presidente.

O mais interessante da produção é ver toda a dinâmica do programa funcionar com flashbacks sem que para isso precisassem ficar parando toda a situação, e dando agilidade no conceito todo, o diretor conseguiu trabalhar o livro biográfico que conta muita coisa real, num misto fantasioso e bem resolvido cheio de elaborações claras, mas que não incomoda ninguém. Claro que Fontes pecou em querer fazer algo gigantesco, usou co-produção com a empresa de Francis Ford Coppola, e cada cena que vemos é composta de tantos atores, tanta dinâmica, tantos elementos cênicos que certamente o valor captado foi pouco para fazer metade das cenas. Mas prometi não entrar nessa briga, então olhando pelo lado crítico, o filme ficou muito grande e bem feito, num misto de produção hollywoodiana de grande orçamento com algumas novelas mais dramatizadas, o que é bom, pois não ficou algo engessado, e ainda digo mais, se não tivesse ocorrido toda essa bagunça fiscal, certamente Fontes pegaria um longa atrás do outro, pois o que fez em seu primeiro trabalho frente à direção foi digno de num próximo longa colocar no pôster as frases malucas que tanto gostam de colocar: "do visionário diretor". Claro que há defeitos, e o principal se chama edição, pois com a quantidade de cenas que filmaram, volto a repetir que daria para fazer uma novela de muitos capítulos com toda a história, e acabaram pecando na concepção artística de uma montagem um pouco confusa, que quem realmente não grudar os olhos na tela, vai acabar se perdendo no meio de tanta bagunça, de atores novos, atores velhos e tudo mais, mas quem prestar bastante atenção vai montar na cabeça a trama certinha e vai ficar bem feliz com o resultado total.

No quesito atuação, vou me conter a falar dos que reconheci, pois certamente muitos atores mudaram em 20 anos, e eles também não foram tão protagonistas ao ponto de necessitarmos falar deles. Sempre achei Marco Ricca um ator que consegue prender nossa atenção, e seu Chatô ficou ao mesmo tempo caricato e impactante, cheio de trejeitos, mas que convencem pela dinâmica proposta e claro pelo ótimo ritmo que ele ditou ao personagem. Paulo Betti também conseguiu chamar bastante atenção para seu Getúlio, o engraçado é que usou um sotaque bem diferente do que vimos no Getúlio de Tony Ramos, mas ainda assim, conseguimos ver uma personalidade forte e que o ator sempre consegue mostrar alguém completamente diferente a cada papel, o que é ótimo. Andréa Beltrão parece que não envelheceu uma ruga nesses 20 anos, está do mesmo jeitinho, atuando maravilhosamente bem, incorporando seu lado sedutor no nível máximo e ainda fazendo caras e bocas no melhor estilo de atuar, sem ser artificial, ou seja, sua Vivi Sampaio foi perfeita. Outra que também não envelheceu nada é Letícia Sabatella, continuando maravilhosa, uma pena que seu papel seja de cenas bem breves, pois seu estilo de atuar é ainda um dos que mais gosto de ver na TV e no cinema, então ela certamente arrasaria no papel de Maria Eudóxia. Agora foi engraçado ver Leandra Leal bem mocinha, nos primórdios de seus trabalhos, claro que hoje ela é um mulherão, mas naquela época era apenas um rostinho bonito na tela, e infelizmente seu papel não era algo que chamasse tanta atenção, mas ainda assim ela representou bem Lola. Embora não seja um dos protagonistas do filme Gabriel Braga Nunes entregou para seu Carlos Rosemberg, uma personalidade tão forte e cheia de conotações, que por bem pouco ele não roubou o filme para esse personagem, claro que o ator já fez diversos outros bons papéis depois que gravou o filme, mas olha, ele foi melhor há 20 anos atrás do que é hoje.

Sobre o conceito visual, volto a repetir que o orçamento foi até pequeno pela quantidade de detalhes cênicos para recriar época com figurinos, muitas pessoas sempre em cena, ambientes com muitos objetos e tudo mais que uma produção comum nem pensaria em ter, e claro que com isso a equipe de arte sofreu deveras para criar cada cena, mas o trabalho final (mesmo que depois de 20 anos) certamente vai ser reconhecido. A fotografia trabalhou muito bem as nuances de sombra, desfoques interessantes e sempre procurando abstrair o visual cênico completo, o resultado das luzes usadas deram uma classe incomparável para a trama.

Enfim, é mais um longa nacional que certamente vale o ingresso, claro que vai ter aqueles que não vão gostar do estilo, outros que vão ficar batendo na tecla do dinheiro público gasto, e todo o blábláblá que conhecemos, mas é inegável os esforços do diretor para que finalmente fosse lançado e dessa maneira torço para que todos assistam e com a bilheteria ele consiga apagar seu nome de todos os registros negros que acabou ficando. Portanto fica a dica para quem quiser conhecer um pouco mais duma época aonde a comunicação midiática praticamente inexistia e que foi revolucionada por um louco com apoio do governo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas hoje ainda confiro mais um longa, então volto em breve com mais posts no site, fiquem com meus abraços e até breve.

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American Ultra - Armados e Alucinados

11/28/2015 02:19:00 AM |

Há alguns filmes que sofremos para conseguir definir para o espectador sem entupir de spoilers, outros basta citar algum longa parecido e incrementar algum detalhe que o diferencie, e com "American Ultra - Armados e Alucinados" é tão fácil definir comparando com outro longa deste mesmo ano que nem é necessário gastar muito tempo. Portanto se você viu "Kingsman" adicione muitas drogas e tire todo o treinamento que com toda certeza você estará vendo o mesmo filme nos cinemas agora. Claro que isso é uma comparação bem superficial, mas para não ficarmos enrolando muito, é um filme de ação aonde literalmente o roteirista (que é o mesmo do filme de ontem) tomou algumas drogas a mais e escreveu um longa mais maluco impossível, aonde com um show de loucura de Jesse Eisenberg, o resultado vai além do que se pode esperar, ou seja, muita dinâmica, pancadaria, tiros, cenas de violência explícita e drogas, afinal o diretor não podia ficar sem colocar o que deu o ar da trama no papel na tela também.

O longa nos apresenta Mike Howell, que passa a maior parte de seu tempo se entorpecendo, trabalhando sentado atrás da caixa registradora da loja de conveniências Cash & Carry e escrevendo um gibi que jamais será publicado sobre um macaco super-herói. Ele gostaria de, um dia, levar sua namorada e companheira Phoebe, para o Havaí — se um dia ele conseguir superar os inexplicáveis ataques de pânico que experiência toda vez que tenta sair da cidade. Sem que ele tenha qualquer memória sobre o fato, Mike é, na verdade, um agente da CIA altamente treinado e mortal. Num piscar de olhos, enquanto seu passado secreto volta à tona, ele se vê em meio a uma operação mortal do governo e é forçado a convocar o herói de ação interior para sobreviver.

Se tem uma coisa que me intriga é como esse pessoal que faz roteiro é criativo, claro que alguns roteiros demoram anos pra sair do papel, virar um filme e dessa forma tem roteiristas que aparecem duas a três vezes no ano com novos filmes, e Max Landis no Brasil pelo menos acabou tendo dois dos seus cinco roteiros que estreiam em 2015 aparecendo na mesma semana. Claro que se no filme de ontem ele era mais puxado para o lado sombrio, no de hoje o que ficou mais evidente é a comicidade, mas em ambos podemos notar a presença de elementos bem malucos dando vazão à loucura e observando os outros filmes que fez, fica claro que o escritor tem uma forte presença de coisas insanas, e aqui nessa história funcionou mais do que nunca. Agora se o roteirista só deu umas leves fumadinhas de maconha, podemos dizer que o diretor Nima Nourizadeh vive completamente drogado, afinal seu longa de estreia foi "Projeto X" aonde a insanidade predomina a cada cena, e nesse ele se superou com cenas fortes e bem pautadas na força que um agente tem, junto claro com muita droga e ao trabalhar bem em sintonia com a história e o potencial dos atores, acabou escolhendo ângulos incríveis de filmagem junto de muitas explosões, tiros e até certas coisas nojentas, mas que cabem bem no filme, e assim sendo o resultado acaba sendo até melhor do que imaginado. É notável também muitas referências à quadrinhos e super-heróis, mas isso acaba funcionando de maneira menor sem que o foco seja todo em cima disso.

É fato que Jesse Eisenberg é um dos grandes nomes da atuação atualmente, e o trabalho que fez aqui é algo para pararmos e pensarmos até que ponto o ator pode ainda crescer mais, pois ele está num nível fora dos padrões, e mesmo em longas mais simples de dramaticidade, como é o caso desse, ele incorpora tanto seus personagens, trabalhando expressões (treinando muito para isso, nesse caso ele foi treinar com drogados, o jeito de andar e falar), e principalmente se jogando nas cenas mais fortes para que tudo pareça bem real, e dessa forma ficou mais do que perfeito como Mike. Já falei isso em outro texto, mas vale frisar novamente, se os homens de "Crepúsculo" que todo mundo apostava que ganharia o mundo com a quantidade de fãs que tinham, não conseguiram decolar, imagina Kristen Stewart que todo mundo só reclamava, mas ela foi lá, estudou,  e já ganhou diversos prêmios de atuação, e aqui mostra que está disposta a fazer de tudo com sua Phoebe, saindo bem tanto nas cenas dinâmicas, quanto nas que precisou expressar dramaticidade e com seu ponto de virada, ficamos pensando em tudo o que fez no longa todo para ver se não ouve furos, e olha que ela nos enganou muito bem, ou seja, tem muito futuro mesmo. Connie Briton acabou sendo a terceira opção do diretor para o papel de Victoria Lasseter, e acredito que por isso o personagem acabou ficando bem em segundo plano, aparecendo somente nas cenas que eram realmente necessárias para o encaixe da trama, não que a atriz tenha saído mal, mas estava bem longe de algo bem bacana como a produção pedia, e certamente o papel teria muito mais conexão com a trama se fossem as outras opções. Topher Grace ficou também razoável no papel de Yates, mas sempre que brincava com o medo de estar fazendo as coisas misturando a falsa coragem agradava demais, e deveriam ter explorado mais isso, pois foram os pontos mais divertidos do seu personagem. Agora quanto dos coadjuvantes tivemos inúmeros furos de personagens sumindo e aparecendo nas cenas, e certamente após o corte final quiseram enforcar o continuista por isso, a evidencia maior ficou com o personagem Laugher de Walton Goggins, pois nas duas cenas principais de briga, ele está com os protagonistas, e de repente não está mais, sumindo do enquadramento seguinte, claro que o ator forçou muito nos trejeitos para o personagem, mas esquecerem de colocar ele no plano seguinte de filmagem é apelar demais com o pobre.

No conceito visual tivemos muitos elementos cênicos bem colocados para representar tanto o estilo dos quadrinhos quanto o de heróis caricatos do cinema, e isso acabou caindo bem para o estilo de espionagem com toques de humor. A cada cena que passava, a equipe de arte precisava trabalhar com mais detalhes e objetos para que o filme se desenvolvesse, e isso é algo que dá muito trabalho, mas quando bem feito acaba agradando demais, e desse modo o acerto foi nítido. Claro que se não exagerassem tanto nas coisas nojentas, o filme seria bem melhor, mas como é o estilo do diretor, acabou servindo para a proposta. A fotografia trabalhou bem sempre com cenas mais noturnas ou locações fechadas para que as explosões tivessem uma maior funcionalidade, e isso ficou bem legal, pois mesmo se passando muito no escuro, não tivemos nenhuma cena que sumisse algo visualmente, e isso é um grande acerto e que acaba agradando bastante.

Enfim, um filme que agradará bastante quem gosta de longas de espionagem, misto com ação e claro muita zoeira na tela, afinal a comicidade é bem apelativa, mas que diverte bastante, então se você curtir esse estilo, certamente pode ir para a sessão que vai gostar bastante do que verá, mas se tem problemas com apelação ou comicidade de forma não tradicional, procure outros longas, pois esse vai acabar irritando mais do que agradando. Bem é isso, fico por aqui agora, mas ainda tenho muitos outros longas para conferir nessa semana, então abraços e até breve.



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Victor Frankenstein

11/27/2015 02:54:00 AM |

É engraçado que alguns filmes já chegam ao Brasil rechaçados pela crítica internacional, mas quando vamos ver o pessoal esquece de avaliar a parte da produção e foca só na história, sempre querendo algo próximo da história que conhecem. Mas convenhamos, se já conhecemos a história original, para que queremos ver ela de novo? Não seria melhor ver algo novo muito bem produzido? Pois bem, o que posso adiantar é que o miolo de "Victor Frankenstein" é bem lento e parece que vai virar uma série imensa que não temos ideia de como pode acabar, mas tirando esse detalhe, o longa possui uma energia (quase que podem considerar isso uma piada mista com spoiler) tão grande e interessante que junto de uma produção incrível acabamos ficando bastante entretidos com tudo o que é mostrado. E como já disse isso uma vez aqui no site, se o filme é bem feito no conceito produtivo e me segura com tudo o que ocorre, com toda certeza acabo gostando bem mais do que os amigos críticos que só procuram boas histórias. Então se você quer rever o conto de Frankenstein pela milésima vez no cinema, esse não é o seu filme, mas se for com a cabeça aberta para todo o restante em algo muito bem feito, pode ir pro cinema que vai sair bem contente com o início incrível e o final muito interessante e cativante.

Ao visitar um circo, o cientista Victor Frankenstein encontra um jovem corcunda que lá trabalha como palhaço. Após a bela Lorelei (Jessica Brown Findlay) cair do trapézio, o corcunda sem nome consegue salvar sua vida graças aos conhecimentos de anatomia humana que possui. Impressionado com o feito, Victor o resgata do circo e o leva para sua própria casa. Lá lhe dá um nome, Igor, e também uma vida que jamais sonhou, de forma que possa ajudá-lo no grande objetivo de sua vida: criar vida após a morte.

Quando um diretor trabalha muito com séries, quando retorna ao cinema costuma trabalhar mais os personagens principais, e certamente Paul McGuigan fez isso ao praticamente dar vida à Igor com muita expressividade, e pode trabalhar a boa história criada por Max Landis de modo que volto a repetir o que disse no começo, é algo totalmente novo, pois Igor nem aparece no conto original de Mary Shelley de longa data e que já gerou diversos filmes. Claro que para isso, ele precisou gastar muita narração e até mesmo alguns momentos mais simbólicos que acabam cansando um pouco, mas isso comparado à todo o restante criativo e bem dinâmico da história acaba ficando bem de lado para quem gosta de ver um longa de ação dentro de determinada época. Além disso toda a criatividade para com os termos médicos junto da química entre os dois protagonistas para fazer seus monstros foi algo muito bacana de ver na tela. Outro fato bem interessante de ver na tela foram os ângulos escolhidos de filmagem, pois naturalmente os diretores optam por câmeras retas aonde o público veja toda a abertura cênica, e aqui ao trabalhar mais de lado, tivemos uma perspectiva de profundidade mais vertiginosa e que sempre procurava aumentar o cenário incrível que a direção de arte criou.

Quanto da atuação, Harry Potter, ops, digo Daniel Radcliffe vem mostrando uma evolução imensa no seu estilo de interpretar, e suas cenas iniciais como Igor (claro que principalmente antes de ter um nome) foram algo que pode se dizer que ele definitivamente abandonou suas magias, caras e bocas, e botou todo o corpo para jogo, trabalhando pernas, tronco e principalmente toda a face para não ficar um corcunda caricato, mas sim um personagem bem dramático e cheio de ações, e conseguiu ficar muito bem em tudo, além disso no desenrolar da trama tivemos outras boas cenas em que trabalhou expressões amorosas e até momentos mais fortes, ou seja, foi completo do início ao fim. James McAvoy é daqueles atores que já ouvimos falar muito e que cada vez nos impressiona mais e mais, e seu Frankenstein é muito mais do que o médico louco que estávamos acostumados a ver nas outras adaptações da história, claro que ainda continua bem louco, mas tivemos dinâmicas interessantes para que sua história não fosse jogada, e o ator como sempre agradou em cada ato. Andrew Scott também fez cenas interessantes com seu Inspetor Turpin, mas ficou meio que forçado demais na vertente religiosa sem que isso fosse explicado na história, e isso para um policial acabou ficando meio que jogado de lado e atrapalhando um pouco com as frases colocadas para seu personagem, mas no geral seu estilo de atuar não atrapalhou tanto, porém ajudou o miolo à ficar lento demais. Outra personagem completamente jogada e que não serviu para nada foi Lorelei, que foi interpretada por Jessica Brown Findlay, pois se desejavam um interesse amoroso mais forte poderiam ter usado ela para ser pega pelos vilões e tudo mais, mas não, ficou bem aéreo o interesse do jovem, claro que era sua referência no circo, e sua queda deu toda uma química, mas acabou aparecendo pouco e sempre com caras e bocas demais para alguém que não é tão importante para a trama.

No conceito visual, certamente é notável que muita coisa digital foi colocada na trama, afinal conceber uma cidade épica com casarões, faculdades sombrias, castelos e todo um laboratório incrível cheio de peças não é algo que sairia muito barato, então em alguns momentos até conseguimos notar o encaixe do digital com o real (o que é algo defeituoso para muitos, mas prefiro opinar como a maioria vê, então não vai ser tão fácil assim), e tirando esse detalhe, temos muitos objetos cênicos importantes que trabalhados com toda a ambientação acabou resultando em um filme com um design de produção digno de concorrer à muitos prêmios, e isso volto a repetir, é algo que me agrada demais quando vou conferir um longa, e certamente deu muito trabalho à toda equipe artística para arrumar e criar cada cena do longa. A fotografia da trama também foi bem elaborada com nuances mais sombrias e diversos tons puxados para cores inusitadas como roxo e até laranja na cena final, o que mostra que alguns diretores de fotografia andam ousando para criar coisas novas, o que é legal, mas sempre temos de lembrar se a utilidade vai caber com a cena, e aqui poderiam ter usado mais cinza e azul que agradaria mais.

Enfim, o longa possui defeitos? Sim, muitos! Mas o conteúdo novo junto com a dinâmica dos protagonistas é tão bom que os defeitos acabam passando em branco e certamente quem não ficar preso à olhar detalhes vai gostar muito do que verá. Claro que o miolo poderia ser menor ou ter ao menos explicado diversas histórias como a do inspetor ou até mesmo criado mais romance com a garota, mas isso não era bem o que importava para o roteirista e para o diretor, então certamente quem ver em casa vai acelerar isso e continuará com um excelente filme, e quem for no cinema vai comer sua pipoca tranquila enquanto passa alguns minutos, porém volto a afirmar que o começo e o fim empolgam tanto que o resultado final vai agradar muito. Portanto recomendo ele para quem gosta do estilo e principalmente estiver disposto à ver algo novo e criativo, e assim a garantia de gostar é maior. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro longa dessa semana que terá muitos posts aqui no site, então abraços e até breve.


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Três Lembranças da Minha Juventude (Trois Souvenirs de Ma Jeunesse)

11/25/2015 02:07:00 AM |

Ultimamente só tenho falado bem de longas franceses, por conseguirem dar nuances, viradas fenomenais e um tino cômico na medida certa, mas e quando entra em jogo um romance meio que shakespeariano aonde a dramaticidade é tão forçada que sem ritmo ainda consegue quase que praticamente dobrar a duração de um filme? Dá para falar bem dele? Até que dá, mas "Três Lembranças da Minha Juventude" que foi traduzido realmente ao pé da letra, não se preocupa em mostrar bem as três boas lembranças, e olha que as duas primeiras eram bem interessantes de se ver e dariam ótimas histórias, mas sim ficar quase que 90% em cima da última lembrança, claro a amorosa, e acaba cansando tanto e ficando tão monótono que sinceramente você vai achar que nunca o filme vai acabar. Ou seja, não veja esse filme a noite em poltronas confortáveis, pois a chance de dormir e ser acordado pelo pessoal da limpeza do cinema é altíssimo. Por sorte vimos em cadeiras no SESC então sem chance de dormir.

O longa nos mostra que Paul Dédalus se prepara para deixar o Tajiquistão. Ele se lembra da infância em Roubaix, do ataque de loucura da mãe, do laço que o unia ao irmão Ivan, uma criança devota e violenta. Lembra-se de fazer 16 anos, da viagem à URSS, onde, em uma missão clandestina, deu a própria identidade a um jovem russo. Lembra-se também de si mesmo aos 19 anos, da irmã Delphine, do primo Bob das festas com Pénelope, Mehdi e Kovalski, o amigo que ainda o trairia. Lembra-se dos anos como estudante em Paris e da vocação para a antropologia. Acima de tudo Paul se recorda de Esther, o coração da sua vida.

A proposta em si do longa é interessante, e se observarmos a sinopse se tivessem dividido exatamente como proposto seria genial e agradaria muito, mas o diretor Arnaud Desplechin preferiu focar no amor inesquecível do rapaz por Esther, e assim como aqueles dramas melodramáticos que estamos acostumados a ver em óperas, a trama não anda e acaba sendo desgostosa de ver, cansativa de acompanhar e sai de nada para lugar algum na condução total. Esse deslize fez do filme algo que teve uma produção impecável, boas atuações, criatividade no conteúdo total, mas o público certamente vai sair da sessão falando que foi chato demais de ver, isso para aqueles que ficarem até o final, pois mesmo sendo exibido em uma Mostra aonde o público tradicionalmente está acostumado com longas mais enrolados, ainda tivemos algumas fugas antes do final do longa, e isso diz muita coisa. Ou seja, é aquele doce maravilhoso que colocam na mesa, e ao comer você vê que não tem gosto de nada.

Na questão de atuação, podemos dizer que as várias versões do protagonista foram bem interpretadas, mas claro que o foco, por esquecerem que as outras também eram importantes, se deve ao garoto na fase dos 19 anos, que foi feito por Quentin Dolmaire, e ele manteve a responsabilidade que devia para que todos momentos fossem bem expressivos, mas todo mundo que me lê aqui já passou pela fase dos 19 anos, e sabe o quão chato é o romance nessa época, mesmo que cheio de aventuras, tudo é motivo para drama, novidades são até bem vindas, mas cansam, e ver isso na tela do cinema por quase duas horas sem nenhuma intempérie mais envolvente é algo que não temos como dar alguma premiação para o jovem por melhor que tenha feito tudo. E falando em melodrama, Lou Roy-Lecollinet fez de Esther algo que nem novela mexicana faria tão bem, tudo é vou morrer, todos me desejam, sou a tal, gente, tenho certeza que nem a atriz mais desejada do mundo se acha tanto quanto a personagem, e fazer isso foi ao mesmo tempo erro do roteiro, da direção e da jovem atriz em não tentar ser diferente. Mathieu Amalric apareceu numas cinco cenas como Paul mais velho, mas suas cenas sempre são bem rápidas e não teve tanta expressividade para falarmos que ele resolveu o problema todo do longa, valendo mais seu epílogo na boa cena do bar que todo o restante.

No conceito visual posso dizer que foram impecáveis, criando bem a época tanto em figurino quanto na boa escolha de cada locação para que tudo encaixasse na medida, deixando elementos à mostra para representar cada elo do filme, mostrando as diversas épocas e anseios dos jovens nas festas e principalmente mostrando tanto o mundo da capital e do interior da França na época, que eram bem distintos, ou seja, volto a repetir, que como produção o longa foi perfeito. Além disso, trabalharam bem as iluminações para criar climas, deram tons avermelhados nas cenas que envolviam paixão, amarelados quando queriam passar uma dramaticidade mais funcional e muito marrom para criar a época, ou seja, sem erros também na fotografia, claro que poderiam ter dado alguns tons mais pastéis não ficando tão forte e cansativo, mas isso com dinâmica no roteiro e na edição funcionaria bem mais do que na luz.

Enfim, é um filme ruim? Não, tem muita coisa boa para ver, mas cansa tanto que quem não tiver muita paciência para longas mais alongados vai sair no meio do filme com toda certeza, e digo mais, não vai perder nada, pois o final não foi mais interessante do que o conteúdo todo. Ou seja, um filme que mesmo tendo boas ideologias, não vale o tempo perdido, e garanto que vai parecer ter gasto bem mais do que duas horas. Portanto, só recomendo ele mesmo para quem não tiver nenhuma outra opção mesmo para ver, e ainda assim for bem paciente. Encerro aqui essa semana cinematográfica, que foi bem recheada, já me preparando para a próxima que vai ser mais agitada ainda, então abraços e até breve pessoal.

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Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)

11/22/2015 10:24:00 PM |

E não é que um candidato à filme Oscar de Filme Estrangeiro apareceu por aqui bem antes da premiação! Coisa bem rara de acontecer! E que filme nos foi apresentado hoje na abertura da Itinerância da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pois "Labirinto de Mentiras" é daqueles que nos prendem na cadeira e ficamos desesperados para saber o final. Claro que muitos até devem saber boas partes do que aconteceu, afinal o longa é baseado livremente em fatos reais, e com isso alguns nomes conhecidos das investigações sabemos o rumo que tomou, e assim dá para ficar com menos indagações, mas como é algo que não é muito lembrado nas aulas de História, ficando com a Alemanha só até o fim de Hitler, o longa apresentou fatos duríssimos de ver como todo o nazismo e os campos de concentração foram apagados da mente dos alemães, de modo que ao buscar justiça, o protagonista foi forte, impactante e trabalhou todas as perspectivas possíveis para que o longa não fosse uma simples investigação policial, mas sim um filme com toda uma nuance criativa de tirar o chapéu e aplaudir no final. Ou seja, só vi dois candidatos até agora, Alemanha e Brasil, e minha torcida para o Oscar de Filme Estrangeiro vai no ritmo do resultado do futebol.

O longa nos situa em Frankfurt em 1958, aonde o jovem promotor público Johann Radmann encontra documentos que ajudam a iniciar um processo contra alguns membros da SS que serviram em Auschwitz. No entanto, os horrores do passado e a hostilidade demonstrada em relação ao seu trabalho deixam Johann à beira de um colapso. Para ele, é quase impossível encontrar o seu caminho em um labirinto em que todos parecem estar envolvidos ou serem culpados.

Depois de atuar por muitos anos e dirigir alguns curtas, o italiano Giulio Ricciarelli estreia sua mão em um longa-metragem com muito louvor, pois além de dirigir esteve junto de Elisabeth Bartel para criar um roteiro originalíssimo com uma pegada incrível de nuances que vão se interligando, deixando o espectador curioso a cada nova cena e principalmente trabalhando em demasia junto do ator para que ele incorporasse todo o desespero de querer incriminar todos os possíveis "assassinos" de Auschwitz. E dessa maneira, trabalhando bem cada ponto da investigação, usando do estilo tradicional da escola alemã de cinema de não perder nenhuma cena, o diretor foi dando peças para que o jogo se completasse num fechamento único, que certamente não só incrementará o fato na História para que muitos conheçam o que foi e tudo que aconteceu, como ao dar perspectivas mais simbólicas e dinâmicas, ele conseguiu transformar seu filme quase que em uma obra americana tradicional, mas conhecendo um pouco como são nossos amigos hollywoodianos, em breve veremos essa mesma história com atores americanos e um diretor de renome, afinal todo estrangeiro que é muito bom, eles refilmam.

Talvez um único adendo para o filme não ser mais perfeito é o carisma do ator Alexander Fehling ser muito de aparecer, de modo que promotores geralmente são pessoas mais duronas e sem vida, e o jovem mesmo o personagem sendo um novato acabou dando felicidades demais para o personagem de Johann, claro que seu momento de surto foi incrível, mas ele poderia ter sido mais durão nas demais cenas e menos xerife como é citado em determinado momento do filme, mas nada que ande atrapalhando, pois nos festivais que concorreu, ganhou os prêmios de melhor ator, então rumo para novos e bons personagens. Não sei o motivo, mas Andre Szymanski possui um rosto tão familiar, porém olhando sua biografia não lembro de ter visto nenhum filme seu, mas a sagacidade impregnada no personagem Gnielka que ele conseguiu demonstrar e trabalhando muito bem nos diálogos junto do protagonista, nos levaram a ficar bem de olho em tudo o que fez, saindo bem no contexto geral. É engraçado que logo que vemos a personagem Marlene de Friederike Becht sabemos que vai dar liga, e isso poderia ser menos forçado, mas como é cinema não dá para ser singelo e tudo tem de ser rápido demais mesmo, mas a atriz não procurou dar à personagem uma simbologia mais forte, e mesmo tendo a família como parte da SS, o que era certeza de criar um conflito, seu melhor momento foi no diálogo de desculpas, e fora isso ela ficou bem apagadinha. Agora se teve alguém que a cada cena que aparecia você certamente queria acusar foi Gert Voss fazendo Fritz Bauer, claro que dando um leve spoiler o cara foi um dos grandes nomes do julgamento depois dito nos créditos finais, mas sua imponência e cara sempre fechada, além de muitos diálogos incriminadores, fizeram com que o ator sempre fosse um suspeito para quem gosta de tentar adivinhar os finais dos filmes, e certamente se o protagonista tivesse somente metade da postura de Voss, o filme seria um espetáculo ainda maior. Tivemos outros bons atores, mas sempre funcionando como conexões, então para que eu não me alongue muito no texto, apenas tenho de falar que todos foram bem corretos.

Cenograficamente o longa não tem furos, é algo bem pautado, com elementos cênicos funcionais, mostrando que desde sempre fóruns, repartições públicas e arquivos são coisas do inferno, com papelada saindo pelo teto (o que está no pôster acima é apenas um enfeite perto de tudo que é mostrado) e com bons figurinos e locações escolhidas na medida, a equipe de arte mostrou que entende tudo de História e fez cada detalhe parecer super importante para a trama, ou seja, até situações bobas como uma comemoração num barquinho, passou a ser símbolo de algo maior que determinava o estilo dos personagens. A fotografia usou e abusou de tons puxados para o marrom para dar o teor de época e nas cenas menos tensas trabalhou bem com o céu bem azul e os verdes dos campos, para contrastar bem na simbologia fechada dos ternos e togas dos julgamentos, ou seja, um trabalho bem minucioso para realçar e dançar com o espectador durante toda a exibição.

Enfim, um longa muito bem feito e que a Alemanha acertou em cheio em indicar como candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro, pois a academia está lotada de judeus, o filme tem toda uma cara bem clássica que eles gostam, e é baseado em fatos reais, ou seja, certamente deve chegar nas cabeças, isso se não entrar no top 5 de possíveis ganhadores, aí pra ganhar precisamos ver os demais. Bem é isso pessoal, o longa estreia no Brasil somente dia 17 de Dezembro, mas nas cidades que estão com a Itinerância da Mostra Internacional poderão ver mais cedo, e recomendo demais que todos assistam, pois é um excelente filme. Fico por aqui hoje, mas volto na terça com mais um filme da Mostra, então abraços e até breve.

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Entre Umas e Outras

11/22/2015 12:54:00 AM |

Bem amigos, como a proposta do site é falar de todos os longas que vejo, é claro que não deixaria de lado novo filho de Alexandre Carlomagno que estreou hoje e deve permanecer no espaço onde foi exibido por mais algumas semanas para que o público confira. Embora se olharmos com estranheza para a sinopse de "Entre Umas e Outras", o documentário nos leva a perceber uma certa humanidade num lugar que muitos até torcem a cara, que é o tradicional boteco de esquina e suas figuras irreverentes. Pois se perguntar para qualquer um, o que podemos enxergar é que ali só tem pinguço ou gente que não tem nenhum conhecimento e vai afogar as mágoas tomando uma cerveja. Mas se você parar para conversar um pouco com cada um pode descobrir histórias e com isso até mesmo uma pessoa que você imaginaria ser uma simples tiazinha de esquina, já foi presa por um certo tempo, outros viajaram muito, muitos tem família mas não convive e através desse microcosmo pode ampliar toda a vertente para uma cidade que praticamente tem seus bares lotados os sete dias da semana, e claro, com muita gente disposta a bater um bom papo. Então fazendo uma analogia para com o título da trama, entre umas e outras podemos conhecer uns e outros com um olhar diferente e que pode ser bem interessante.

A sinopse do filme nos diz: Um boteco... Várias pessoas com nada em comum a não ser elas mesmas. A equipe invade um boteco e monta um retrato humano com as diversas vidas que ilustram os bares. Não tenha dúvidas: o Brasil acontece entre umas e outras.

A maior dificuldade de um documentário sempre será a de que os entrevistados tenham muito o que falar, e consigam com isso responder as perguntas bases criando o texto que o diretor deseja, e diferentemente do primeiro longa do diretor Alexandre Carlomagno, "Patrícia", aonde a personagem principal tinha muito o que falar, aqui alguns dos entrevistados apenas responderam às perguntas de maneira simples e objetiva, o que certamente acabou dando um trabalho monstruoso para a equipe de edição conseguir fazer uma história alongada sem necessidade de pausas para as perguntas, então esse pode ser citado como a maior diferença entre os dois trabalhos do diretor, e claro, o maior defeito desse novo filme, mas que quem der continuidade nas frases dos entrevistados, certamente vai entender qual foi a pergunta e completará o contexto em si. Talvez se cortassem alguns desses momentos, o filme ficasse mais enxuto e até daria uma dinâmica bacana, mas também correria o risco de ficar com pouco tempo, então volto a frisar que é apenas um detalhe técnico que incomoda um pouco, e facilmente quem não for muito atento não irá pegar. Porém tirando esse detalhe técnico, o filme se desenrola bem, tem bons "personagens" e uma boa dinâmica entre eles, o que fez com que o longa tivesse um ritmo interessante e não cansasse (afinal já disse isso uma vez aqui no site, e documentários com muita enrolação, dão sono demais). Portanto, o resultado que certamente era desejado de mostrar que a vida em um boteco qualquer que pode estar acontecendo bem ao lado de sua casa e você nunca parou para observar, ou até mesmo conhecer quem são aquelas pessoas que estão ali, foi passado e bem feita pela equipe.

Um grande ponto positivo da trama, além claro das histórias (a qual sem dúvida alguma a melhor é de Silvia), é a fotografia do longa que trabalhou muito bem a luz natural e escolheu alguns ângulos de filmagem não muito usuais, evitando a centralização chata dos personagens, colocando-os meio que de lado e aproveitando o espaço rústico do bar, com as demais pessoas jogando baralho, bebendo e fazendo tudo atrás sem atrapalhar o desenvolver da história e muito menos chamando mais atenção do que o entrevistado que está na frente.

Enfim, é um filme gostoso de ver e que passa um tempo bem tranquilo acompanhando os diferentes tipos de pessoas que foram entrevistadas ali, e que certamente tem um lugar no mercado, desse modo o resultado da trama pode ser considerado bem eficiente. Citei outros defeitos técnicos para a equipe do filme, mas que podem ser facilmente melhorados para outras exibições, pois são detalhes da exibição mesmo e não do produto, e já que o longa vai continuar sendo exibido no Espaço Zavaglia em Ribeirão Preto e depois deve rodar por festivais afora, dá para darem uma melhoradinha para que todos gostem. Portanto recomendo que quem puder, vá conferir e se divertir com essas histórias que aconteceram entre umas e outras. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas neste Domingo já começa a Mostra Internacional de Cinema, então em breve volto com mais textos. Fiquem com meus abraços e até breve.

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Eu Nunca

11/20/2015 09:02:00 PM |

Não levantei bem os números, mas tenho certeza quase que absoluta que esse ano foi um dos que mais tivemos uma diversidade cinematográfica nos longas nacionais, e isso é muito bom, pois mostra que se quisermos podemos sair das comédias novelescas para algo que realmente seja cinema de qualidade. Só não posso dizer isso de uma forma tão feliz, pois as sessões dos bons filmes nacionais estiveram praticamente vazias, e isso não é legal de forma alguma, pois mostra que o público ainda tem medo de chegar na sala e ver algo completamente maluco como aconteceu há alguns anos atrás quando tentaram fugir das comédias e vieram com coisas bizarras que testavam a capacidade de até os próprios diretores entenderem. Pois bem, podemos dizer que "Eu Nunca" é um filme bem simples, mas é executado de uma maneira tão interessante que acabamos nos envolvendo com os personagens mesmo nas cenas mais escuras da fotografia escolhida, e olha que poucos filmes nacionais conseguem ter a coragem de mostrar filmes feitos apenas com uma câmera na mão sendo passada de pessoa por pessoa para tentar retratar a situação mais próxima do ocorrido. Vale com certeza conferir esse filme que acabou passando despercebido nas cidades que estreou em Setembro, e que bate um bolão em cima de outros que lotam salas.

O longa nos mostra que Guilherme e Thiago são dois primos que acabam de perder o avô. Sem saber como lidar com a dor desta perda, decidem fugir para o sítio da família, na companhia da amiga Priscila. Entre bebidas e brincadeiras, tudo registrado com uma câmera, eles começam a desenvolver jogos de sedução com a amiga.

A ideia original de Kauê Telloli que assumiu quase todas as funções do longa, passando de roteirista a diretor e inclusive atuando é algo que mostra que não é só em países com grandes faculdades de cinema que saem filmes simples aonde uma pessoa faz quase tudo e acaba ganhando as graças das grandes produtoras, pois ao trabalhar bem a ideia da câmera na mão (claro que depois de chegar no sitio, pois até chegar lá acontecem coisas bem bizarras de se ver em um filme) para controlar toda a dinâmica do filme, o jovem conseguiu agradar tanto a linha de história para criar drama e suspense quanto não deixar de lado uma linguagem bem condicionada para que seu filme ficasse bem interessante e não soasse estranho demais. É imprescindível dizer que a trama inteira usa do recurso da câmera sendo movida pelos personagens, então de repente estamos olhando a imagem, você vê eles pegando e muda o ângulo, dando uma falsa impressão de plano sequência, mas o que inicialmente incomoda, com o passar do tempo já estamos quase que pedindo para que eles coloquem a câmera em outra posição para podermos ver o que está acontecendo melhor, e isso é algo bem legal de acontecer. Um pequeno defeito da trama é o ritmo, pois o que inicialmente passa rápido, vai diminuindo de velocidade e cansando um pouco, e dessa maneira, o filme que tem 72 minutos parece ter no mínimo 100, e isso para quem prefere um longa mais agitado pode ser que não se empolgue com o que o diretor fez, mas é um mero detalhe de gosto.

Sobre as atuações, os três protagonistas conseguiram fazer uma dinâmica bem natural, quase que dando perspectivas de um reality show de jovens que gostam de filmar tudo, e isso é bacana, pois quanto mais natural pareciam, menos artificiais ficavam até os momentos em que interpretavam coisas que haviam ocorrido no sítio. Kauê até que saiu bem com seu papel de Guilherme, mas ainda não sou favorável à diretores atuarem em seus próprios filmes, prefiro que o comando de cena seja mais firme e que não se misture os dois lados da câmera, claro que ele não falhou em nada, mas também não deu o seu máximo, deixando algumas responsabilidades para os outros. Francisco Miguez já havia agradado bastante há 5 anos atrás no filme "As Melhores Coisas do Mundo", e agora caiu muito bem o papel de Thiago para ele, aonde pode trabalhar expressões e jogar a interpretação do personagem num nível incrível de ser visto, certamente ainda vamos ouvir falar muito dele. E para fechar o elenco Samya Pascotto deu todo um jeitinho sedutor para sua Priscila, segurando bem a onda entre os primos e com isso fazendo caras e bocas para desenvolver a personagem sem recair para um tom forçado, e isso mostra uma técnica bem bacana de ver já que a jovem ainda está bem no começo de sua carreira, ou seja, ainda tem muito o que aprender, mas tem futuro.

Sobre o conceito artístico da trama, até que a equipe de arte sofreu bastante para compôr o sítio, afinal são mostrado diversos elementos cênicos e muitos deles são usados nas histórias dos personagens, ou seja, tiveram de procurar muita coisa para remeter ao roteiro e isso funcionou bem. A fotografia usou bem pouca iluminação para deixar o tom rural do sitio sem muita tecnologia (ao menos até um telefone tocar e deixar um pouco confuso toda a história, que acabei ficando na dúvida de se tudo não passou de um golpe dos garotos ou se foi realmente um furo de roteiro, vou preferir ficar com a primeira impressão), e essa iluminação mais rústica deu um tom mais alaranjado para a trama, o que segura bastante um filme de suspense, mas o sentimento completo foi passado mesmo nos momentos em que tudo ficou preto, e isso foi certamente um grande trunfo da equipe.

Enfim, não vou dizer que é o melhor filme do gênero que já vi, mas confesso que fiquei muito feliz com a história, com o estilo escolhido pela direção e principalmente por conseguirem uma distribuição bacana, afinal sem ela o longa não chegaria ao interior. O longa claro que possui defeitos, afinal todo filme feito com câmera na mão fica estranho de ver, tem também a questão do ritmo, mas tirando esses, o resultado é incrível de ver. Torço agora com muita força para que junto de minha boa crítica, mais pessoas confiram o longa nos cinemas, afinal precisamos apoiar novos estilos dentro do cinema nacional, então fica aqui a dica para quem for de Ribeirão Preto e também nas demais cidades que estiverem passando, que vá e confira o trabalho bem bacana desse jovem diretor que quem sabe mais em breve ainda explodirá os cinemas nacionais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos no site, então abraços e até breve.

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Ninguém Ama Ninguém... (por mais de dois anos)

11/20/2015 12:37:00 AM |

Se algum dia você for roteirista de um filme, ou de uma peça da escola, ou até mesmo se for escrever um texto com determinado tema, por favor sigam uma dica do tio Coelho, não fique repetindo o título mil vezes pra enfatizar como o filme/peça/texto chama, é o absurdo máximo que muitas vezes vemos no cinema nacional, e com "Ninguém Ama Ninguém... (por mais de dois anos)", quando resolvi contar por já estar de saco cheio de ouvir os personagens falando isso, contei 5 vezes, mas acho que teve mais. Deixada essa dica, e ao mesmo tempo reclamação, o que posso adiantar sobre o longa é que longe do que pensava, não é um filme de todo ruim, tem boas lições, situações interessantes e até mesmo alguns bons diálogos dentro da história, mas basicamente a estrutura novelesca, aliada ao tradicionalismo(putaria pura) dos textos de Nelson Rodrigues, funcionaria bem mais numa minissérie ou algo do estilo do que propriamente no cinema, ou caso ainda quisessem realmente fazer um filme, que deixassem a preguiça de lado e adaptassem mesmo o texto para uma época mais atual com conflitos modernos, que aí sim, chamaria a atenção para o trabalho do diretor. Portanto, quem gosta desse estilo novelesco, certamente vai gostar do que verá com vários subtramas, muitos personagens e o contexto quase que único sobre traição.

O longa acompanha as histórias de cinco casais que vivem, paralelamente, no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 no Brasil. Em uma sociedade cheia de moralismo, os desejos de homens e mulheres se manifestam de maneiras diferentes, porém, com liberdade, em suas vidas íntimas.

A sinopse em si é bem básica, pois não temos muito o que falar sem revelar a história de cada personagem, mas quem leu os contos da coluna "A Vida Como Ela É" de Nelson Rodrigues publicadas entre 51 e 56 vai poder ver na telona o retrato daquilo que foi escrito com minúcias cênicas. Claro que você não precisou viver naquela época para ler, afinal a coluna já foi tema de diversas provas e até de algumas adaptações na TV, inclusive a história final que envolve Ernani Moraes tenho certeza de já ter visto adaptada, exatamente da mesma forma, mas não lembro aonde para citar, afinal a cabeça desse Coelho anda cada vez mais esquecida. O diretor Clovis Mello não quis também arriscar muito e ao trabalhar a época do filme foi bem seguro dos planos, usando ao mesmo tempo crítica aos trejeitos da sociedade e junto da sensualidade sem muito exagero para contrabalancear bem e não deixar o filme pesado para nenhum dos dois lados. Claro que os textos do Nelson sempre trabalharam muito com o erotismo, pontuam muitas tramas machistas e isso não foi deixado de lado, mas souberam dividir bem as cenas misturando as cinco histórias para que nada chocasse logo de cara o público, e sendo assim, o resultado da direção até que foi bem feita, mas volto a frisar, se ousassem mais com uma adaptação mais moderna, o longa seria genial.

Quanto das atuações, foram bem maldosos com os críticos vestindo as mulheres quase que com o mesmo figurino/cabelo e até mesmo a forma de interpretar foi bem semelhante, ou seja, quem não for acostumado com as atrizes é capaz de achar que a mesma mulher está traindo até mais vezes do que já vem acontecendo na história. Como são muitos personagens, vou destacar apenas alguns para que o texto não fique chato, afinal tudo foi bem trabalhado no conceito interpretativo e poucos cometeram alguma gafe. Gosto muito quando Ernani Moraes trabalha no misto drama/comédia com seus personagens, pois ele é um dos que sabe ser enfático e demonstra facilmente na cara o desespero da cena com seu Juventino, claro que teve também alguns momentos bobos dentro do bar, mas no geral agrada mais do que decepciona. Marcelo Faria deixou seu personagem Asdrubal bem mais mineiro do que carioca, pois sempre parecendo não querer fazer as coisas, mas fazendo pelos cantos resultou em algo bem dúbio de ver, porém o ator sempre entrega boas expressões nos personagens que faz, e aqui não foi diferente, então agrada também. Michel Melamed e Pedro Brício, respectivamente com seus Eusébio e Orozimbo ficaram bem em cima do muro com suas expressões, sendo que o primeiro inicialmente parecia que ia mostrar bastante serviço, mas foi acalmando bem e nem a cena clímax entre os dois conseguiu ser impactante, o que é uma pena, pois os personagens tinham potencial. Gabriela Duarte também aparentava ser a protagonista da trama toda com sua Elvira, mas ao trabalhar bem seu jeito fogoso deu mais boas nuances sensuais do que uma interpretação ativa para a personagem, ou seja, agrada sem chamar a responsabilidade e nem ter a atuação do ano. Agora falando em sensualidade Lidi Lisboa e Branca Messina deram um show nas suas cenas solo e se tivessem mais cenas levariam o longa no peito, literalmente.

A cenografia de época é algo que sempre souberam fazer bem no Brasil, e dessa maneira certamente a equipe de arte mesmo tendo grandes trabalhos souberam dosar cada cena dentro de suas proporções para que o filme convencesse e agradasse sem que o orçamento fosse esbanjado, claro que você não vai ver uma frota de carros antigos no estacionamento, mas um só sozinho foi apelar demais, e além disso outros momentos poderiam ser evitados para não cometer gafes simples que até com câmeras mais próximas dos personagens agradaria e simplificaria cada momento. No conceito fotográfico, algumas cenas ficaram iluminadas demais e outras estranhas para a ambiência que o diretor desejava, de modo que sem necessitar, usaram focos distorcidos que não tiveram linguagem alguma e até destoaram das cores que o filme estava seguindo, então de certo modo o filme saiu mal trabalhado na técnica, o que não chega a ser defeituoso, mas também não vai agradar tanto quem for mais exigente com a produção.

Enfim, não é um filme ruim, mas também não é nada que vamos sair comemorando como uma grande aposta nacional, volto a repetir que como série agradaria bem mais do jeito que foi feito, e se arriscassem mudanças do texto para um contexto mais moderno caberia bem como filme, então até posso recomendar a trama para quem gosta do estilo de texto do Nelson Rodrigues, mas deixo claro que quem não curtir situações machistas e símbolos de traição é melhor passar bem longe. Bem é isso pessoal, deixo dessa maneira minha recomendação do longa, mas ainda tenho muitos outros para conferir nessa semana, e olha que a maioria nacionais, então abraços e até breve.


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Jogos Vorazes: A Esperança - O Final em 3D (The Hunger Games: Mockingjay - Part 2)

11/19/2015 02:03:00 AM |

E lá se vai mais uma saga para apenas nossa memória cinematográfica, pois após quatro anos sempre sabendo que teríamos no final do ano, a série de jogos com invenções insanas, personagens caricatos e boas tensões, eis que como diz no segundo subtítulo O Final chega para "Jogos Vorazes: A Esperança". Não sou e nem nunca serei favorável à um longa ser dividido em duas partes, primeiro pela quebra da expectativa, segundo que é apenas para que os produtores ganhem mais dinheiro, terceiro que rever o anterior todo ano é algo que cansa demais, então vamos parar com essa putaria, pois se juntarmos os 123 minutos da parte 1 com os 137 minutos da parte dois e cortarmos as partes de enfeite, teríamos um longa com 150 minutos daqueles de cair o queixo a cada ponto de virada. Claro que para isso, mataríamos personagens importantes do livro, não teríamos todas as inflexões pensantes que dá para remeter ao mundo moderno e tudo mais, mas ainda assim os fãs vão continuar reclamando de coisas que faltaram, e o público mais exigente vai reclamar de momentos cansativos, então as próximas sagas que inventarem de vir para substituir o coração carente do público que gosta desse estilo, tratem de entregar algo conciso e mais bem feito, que certamente ainda venderão muitos ingressos. Porém, como já analisei o primeiro filme no ano passado, que você pode ler aqui, vamos à análise dessa nova parte, que já vi vários torcendo a cara, falando que não empolga e tudo mais, mas temos boas cenas de ação, artistas dando gás de interpretação no nível máximo (afinal acabou a boquinha da sequência), e felizmente alguns bons efeitos para valer o gasto de pagar pelo 3D (nada que vai falar ser impressionante, mas agrada nas cenas que tem), de modo que não vou dizer que foi o melhor da franquia (o segundo ainda é o que tira o maior fôlego e me deixou mais emputecido com o final), mas com a forma que encontraram para fechar de uma maneira bonita com o epílogo, e com diversos problemas que a produção teve, o resultado como produção é bem satisfatório tanto para os fãs, quanto para quem gosta de um longa dinâmico e interessante (com ressalvas à algumas cenas bem monótonas no miolo).

O longa nos mostra que ainda se recuperando do choque de ver Peeta contra si, Katniss Everdeen é enviada ao Distrito 2 pela presidente Coin. Lá ela ajuda a convencer os moradores locais a se rebelarem contra a Capital. Com todos os distritos unidos, tem início o ataque decisivo contra o presidente Snow. Só que Katniss tem seus próprios planos para o combate e, para levá-los adiante, precisa da ajuda de Gale, Finnick, Cressida, Pollux e do próprio Peeta, enviado para compôr sua equipe.

É fato que a mudança criativa tanto dos roteiristas quanto de diretor logo após o primeiro filme deu novos rumos para a produção, pois se antes tínhamos algo mais violento e próprio de uma competição que Gary Ross e equipe fizeram, logo tudo foi substituído por rumos políticos e dinâmicas próprias de cada personagem, não importando mais tanto o Jogo em si para Francis Lawrence e equipe de roteiro. Não digo que nenhuma das duas vertentes estava errada, e pelo que conversei com alguns leitores do livro (mais uma saga que não gastei tempo lendo), essa mudança do estilo de escrita também é vista nos textos de Suzanne Collins, então isso sem dúvida alguma é um ponto positivo monstruoso, e a cena de infiltração de Katniss na mansão (não vou dar mais spoilers, mas preciso colocar isso aqui) se tivesse sido filmada uma semana atrás não teria sido tão atual com os acontecimentos políticos do mundo moderno!!! Dito isso, posso afirmar com toda certeza que vamos ver o diretor ainda apresentar grandes feitos no futuro, afinal errou bem pouco a mão nos três longas da franquia e em seus longas anteriores, e todo o trabalho conceitual que procurou colocar ficou visivelmente satisfatório para agradar à todos. Volto a repetir, a trama em si poderia facilmente ser resumida em um filme só, que não teríamos os momentos de calma e apresentação de personagens (mesmo no último filme sem utilidade alguma), mas com toda certeza os amantes do livro iriam reclamar demais da falta de diversos elementos, então já que fizeram dois, vamos curtir como foi entregue e quando sair em mídia os dois, vemos juntos e ponto final.

Sobre as atuações, já vimos acontecer isso em "Harry Potter", em "Senhor dos Anéis" e até mesmo na saga "Crepúsculo", e aqui não foi diferente, os atores se entregam mais nos últimos filmes, pois como não terão a garantia de voltar mais uma vez no papel (alguns dão sorte, pois como a Terra Média voltou, alguns puderam retornar seus papéis), então procuram chamar atenção por suas cargas dramáticas e expressivas, e isso é bem legal de ver. Digo isso, pois Jennifer Lawrence após ganhar seu Oscar e muito dinheiro com a renovação do contrato de Katniss, acabou ficando mais desleixada no segundo filme, e em diversas outras produções que estrelou, não que não tenha saído muito bem no "Em Chamas", mas acabou sendo mais repetitiva nas expressões e não decolou como poderia, daí com esse novo filme já vimos a atriz dando a cara para bater, e com o que acabou sobrando nesse final foi algo bem dinâmico e com formatos incríveis de mostrar que a atriz ainda está em excelente forma interpretativa. A primeira parte focou mais em Josh Hutcherson e aqui ele ficou mais de coadjuvante com seu Peeta, mas ainda assim, o jovem fez algumas caras e bocas tão bem pontuadas que voltamos a gostar de sua personificação e até torcer para ele, mas é engraçado que mesmo sendo filmado junto as duas partes, o ator parece outro, e não chama tanto a atenção como fez no ano passado. Fico com dó de Liam Hemsworth, pois vai continuar sendo sempre o irmão do Thor, pois seu Gale não convence, nem mesmo nas suas duas cenas expressivas, que o diretor falou vai e faz, ele titubeou frente aos outros dois jovens atores, então realmente fico com medo de quando lhe derem algum longa para protagonizar, pois ele vai falhar. Sam Claflin teve seu momento no segundo filme com Finnick, e aqui virou figurante de luxo com meia dúzia de frases para dizer e que não servem para quase nada, então poderiam ter podado mais, ou o jovem resolver chamar atenção, mas ele vem com tantos outros filmes para os próximos anos que quem sabe apague fácil isso. Julianne Moore é daquelas atrizes versáteis que sempre podemos apostar que vai sair bem no que lhe for entregue e sua presidente Coin é ao mesmo tempo forte e misteriosa, e certamente muitos vão torcer a favor e contra ela na trama, poderia ter mais cenas suas que não incomodaria ninguém, afinal suas expressões são sempre ótimas. Donald Sutherland vai ficar marcado como presidente Snow demais, pois mesmo tendo outros grandes papéis, suas sacadas interpretativas foram tão boas e cheias de expressão que vamos lembrar de cada fechamento de suas cenas, e se já havia dado show nos três filmes anteriores, aqui mesmo com poucas cenas, mandou bem demais novamente. Como bem sabemos (ou ao menos a maioria) Philip Seymour Hoffman morreu antes de acabar as filmagens das duas partes com seu personagem Plutarch, e também sabemos que era peça principal dos três filmes, então assim como tivemos em "Velozes e Furiosos" novamente a computação gráfica entrou em ação, e diferente do que aconteceu na primeira parte que não é possível notar, aqui ficou muito claro de ver todos os momentos, pois reduziram luzes, colocaram personagens em primeiro plano jogando o personagem sempre para trás, e principalmente na sua última cena que certamente não foi gravada deram um jeitinho de vir uma carta ao invés do personagem falando com a protagonista, ou seja, não podemos dizer em momento algum que ele esteve presente nesse filme, mas sua alma foi em paz com as boas intenções que foram colocadas na trama. Como disse antes, tivemos muitos personagens com ao menos duas cenas para chamar atenção, afinal temos 260 minutos divididos em dois filmes, então precisou de muita gente, e já vi que meu texto está enorme, então vale apenas citar bons momentos tanto de Woody Harrelson com seu Haymitch, Elizabeth voltando com a corda toda para sua Effie, e principalmente as boas cenas de Mahershala Ali com seu Boggs.

No conceito artístico, voltamos a ter boas invenções para dar dinâmica aos jogos insanos que os personagens precisaram passar para chegar até à mansão de Snow, e dessa maneira a equipe gráfica teve muito trabalho para criar cada cena, e principalmente desenvolver bem a Capital, pois diferente dos demais longas que tudo se passava mais em florestas e lugares estranhos, aqui temos uma cidade com tudo para ser mostrado, então as boas sacadas subterrâneas foram inteligentes e bem bacanas de ver, os bestantes ficaram bem legais, mas sem uma definição clara do que seriam, os figurinos novamente deram um show e souberam trabalhar muito bem com elementos chaves para cada cena, destacando o Holo, as flores em dois momentos, e até mesmo às filmagens que já haviam dominado no último filme. A equipe de fotografia trabalhou muito bem com cores mais escuras para dar o clima tenso que a trama pedia, e claro para resolver os problemas que a equipe de efeitos especiais necessitava, como já citei no caso de Hoffman e claro nos diversos momentos que a dinâmica fluía e necessitavam de explosões e tudo mais, então mais uma vez acertaram a mão. Falando mais especificamente dos efeitos, e juntando com a parte da conversão para 3D (que não será exibida em todos os países), tivemos grandes momentos que valem bem o ingresso mais caro, dando realce nas cenas com muitos personagens, ou principalmente na cena em que enfrentam diversas armadilhas, destaque na estação do metrô e na super metralhadora, então quem for conferir com a tecnologia pode até ser que reclame um pouco por serem cenas espaçadas, mas no geral funcionou melhor que muita conversão feita nos últimos anos, mas ainda longe dos longas que são realmente filmados na tecnologia.

Enfim, o texto ficou bem grande, mas o longa vale a pena dizer tudo sobre ele, pois vão ter os que vão reclamar com toda certeza, porém os fãs mesmo da saga irão chorar com o fechamento, vão ver diversas vezes, e dessa maneira volto com a frase que introduzi o primeiro longa no site, de uma forma modificada, mas com a mesma essência: "o longa foi feito para um determinado público, assim como muitos acabam sendo feitos, e certamente esse público ele vai atingir, que são os fãs dos livros e de longas de ação teen", e dessa maneira o resultado é de um bom fechamento que me agradou e vai agradar muitos também, portanto recomendo ele com certeza. E assim sendo é mais uma saga completada nos cinemas, o jeito agora é aguardar alguma que substitua ela na mesma altura, pois já temos duas outras rolando que até tem agradado, mas que não conquistou a mesma quantidade de fãs. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas nessa semana terei muitos posts no site, então abraços e até breve.


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O Reino Gelado 2 em 3D

11/14/2015 01:52:00 AM |

Até que podemos dizer que a nobre Rússia se engajou no ramo das animações, pois passados pouco mais de 2 anos já estamos com a continuação de um filme que falei bem quando vi em 2013, mas claro que assim como reclamamos da falta de criatividade para inovar no lado de cá do mundo, por lá não é muito diferente, e com bem menos emoções e como a tentativa de enriquecer o carisma do personagem secundário no primeiro filme, promovendo ele para protagonista no novo não deu muito certo, acredito que "O Reino Gelado 2" até tenha passado bem a mensagem de que mentir não é legal para as crianças, mas deixar aberto ele para o terceiro filme que já estão gravando foi exagero demais da equipe criativa, pois a história já ficou bem em segundo plano dessa vez. Mas tirando esse detalhe, o filme vai levar a criançada aos cinemas, pois os bichinhos até são bem chamativos, porém não espere que saiam empolgados da sessão.

O filme nos mostra que após a queda da Rainha da Neve, o troll Orm precisa refazer sua vida em meio aos seres de sua espécie. Para tanto, ele passa a trabalhar como mineiro e morar com a avó. Apesar da vida regrada que leva, sempre dentro da lei, ainda assim Orm enfrenta dificuldades em pagar as prestações da casa. Desta forma, resolve se candidatar a um torneio onde o vencedor terá a mão da princesa e o direito de morar no palácio real. Entretanto, Orm esconde o fato de já ter trabalhado para a Rainha da Neve e, aos poucos, fica tentado a dar vazão ao lado malvado que possuía quando era lacaio dela.

Quem ler a sinopse e não tiver conferido o primeiro filme pode até achar que não vai entender nada da continuação, mas pode ir conferir tranquilamente, pois mesmo a história tendo um rumo bem semelhante e continuado, os protagonistas meio que mudaram e logo de cara no início é feito um resumão completo de praticamente tudo o que ocorreu no outro filme. Basicamente, a equipe completa foi substituída após o primeiro filme, sobrando apenas os produtores (claro afinal são pessoas que querem mais dinheiro do que história) que acabaram virando roteiristas também e novamente entregaram para um novato na direção trabalhar seu lado interpretativo de um bicho que não conseguimos identificar gênero nem nada que é o troll Orm e todos do seu gênero que são rapidamente apresentados antes do desenvolvimento da trama. Porém, o jovem Aleksey Tsitsilin não teve o mesmo currículo anterior que Vladen Barbe, de passar por desenvolvimentos artísticos e criativos antes de chegar a uma direção de animações, e isso fica claro no longa, pois o diretor quer mostrar tecnologia e ação e tudo na tela de uma vez só sem se preocupar com motivos, deixando apenas o mote da mentira flutuando a todo momento sendo repetido à exaustão e todos os demais personagens ficaram correndo em cena sem muito o que fazer, e isso não foi legal de ver.

Claro que de cara Orm é um personagem legal e que de certo modo teve um carisma bacana junto da gatinha, lontra ou sei lá o que é branco que corre junto com ele no primeiro filme, e aqui tentam ter a mesma química logo no começo, mas suas trapalhadas não se desenvolvem e nem ficam engraçadas para puxar o riso das crianças, então ficam apenas bem feitas visualmente e o resultado fica solto. João Côrtes até trabalhou bem sua dublagem impostando a voz e dando tons representativos para as diversas emoções do personagem, mas foi pouco perto da história toda que faltou, vamos ver o que ocorrerá no terceiro filme (que teoricamente já estreia no ano que vem) para ver se decola melhor. Gerda que foi dublada pela incansável Larissa Manoela apareceu bem pouco na trama, caindo de protagonista no primeiro filme, para quase figurante de luxo nesse novo longa, mas pela história do terceiro filme, volta a protagonizar a trama e deve trazer mais emoção para o filme, pois nesse não conseguiu fazer nem que a nossa jovem atriz suasse para a quantidade de falas que teve de gravar. Os demais trolls até que são engraçadinhos, destaque para o general e para a avó, os demais possuem até que boas simbologias para a trama, mas acabam no estilo dos Smurfs ficando mais como apoio dos grandes nomes.

A modelagem dos personagens praticamente se manteve intacta, não tendo muita evolução de texturas, mas cenograficamente conseguiram deixar a cidade dos trolls bem bacana de ver, com um colorido legal e que lembrou bastante jogos de videogame, aliás se fizerem o jogo do filme seria algo no estilo de Rayman com Donkey Kong, então acredito que seria bem vendável (fica a dica para os produtores). E junto com esse bom desenvolvimento, até foram colocadas boas cenas 3D na trama, nada que você saia falando que foi o melhor 3D que já viu, mas nos momentos em que valem a pena estar de óculos, pedras voam em sua direção e algumas perspectivas são bem exploradas, porém assim como no primeiro filme, a maioria do longa dá para ver sem óculos, então mais um daqueles que se quiser economizar é possível.

Enfim, posso até ser muito repetitivo com essa reclamação de animações não americanizadas, mas o pessoal precisa aprender que canções seguram a garotada, e que apenas lições de moral sem carisma e sem algo que acabe chamando para outros produtos, acabam passando e logo mais ninguém acaba lembrando do filme, mas ainda assim, na atual época de crise que não se tem nada para a garotada ver nos cinemas, essa é uma opção até que interessante. Portanto recomendo para levar os mais pequenos para que se divirtam com os bichos esquisitos, mas sem criar muita expectativa de que eles vão sair felizes e sorridentes da sessão. Bem é isso pessoal, fico por aqui nessa semana cinematográfica bem curta, mas volto na Quinta com mais textos no site, então abraços e até breve.


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